Turma e Ano: Regular/2015 Matéria / Aula: Direito Processual Penal Professora: Elisa Pitarro Monitor: Raphael Santana Aula 12 Conexão: Ocorre conexão quando há nexo entre dois ou mais delitos o que aconselha a unidade de processos e julgamento. Espécies de conexão: São cinco espécies de conexão e costumam cair frequentemente em questões objetivas: Conexão Intersubjetiva por simultaneidade: Ocorre quando dois ou mais crimes são cometidos por duas ou mais pessoas reunidas, porém sem qualquer ajuste prévio de vontade. Se houver acordo de vontades, a hipótese é de concurso de pessoas. Exemplo: Saque em um caminhão tombado. Quando um caminhão tomba e diversas pessoas se reúnem para saqueá-lo. Conexão intersubjetiva por concurso: Ocorre quando duas ou mais pessoas cometem dois ou mais crimes previamente ajustados, porém em locais e em momentos diferentes. Exemplo: Saques pré ajustados, em diversos pontos da cidade, por conta da morte de um bandido em um complexo prisional. Conexão intersubjetiva por reciprocidade: Ocorre quando dois ou mais crimes são cometidos por duas ou mais pessoas, umas contra as outras. Exemplo: Lesões corporais recíproca. OBS.: Na Rixa há um só crime, não sendo, portanto, hipótese de conexão. Conexão objetiva ou lógica: Ocorre quando um crime é cometido porque, de alguma forma, repercute da prática de outro. Exemplo: Agente mata o marido para estuprar a esposa. O homicídio foi cometido com o objetivo de facilitar a prática do crime sexual. Conexão instrumental ou probatória: Aquela onde a prova de um crime interessa a prova de outro. Exemplo: Receptação e o crime patrimonial anterior. Continência: Na continência uma causa está contida na outra, não sendo possível separação. Há duas espécies de continência:
Continência por cumulação subjetiva: Ocorre quando duas ou mais pessoas são acusadas da prática do mesmo crime. Engloba a hipótese de concurso de agentes. Pergunta-se: Qual a diferença entre a continência intersubjetiva por concurso e a continência por cumulação subjetiva? Na conexão duas ou mais pessoas são acusadas de dois ou mais crimes, na continência duas ou mais pessoas são acusadas do mesmo crime. Continência por cumulação objetiva: Ocorre nas hipóteses de concurso formal, erro na execução e resultado diverso do pretendido. Identificada uma das hipóteses de conexão ou continência, um crime exercerá juízo de atração sobre o outro, impondo unidade de processo e julgamento. A partir do art. 79 do CPP, o legislador começa a estabelecer onde os processos serão reunidos. Pergunta-se: Qual o órgão competente para o julgamento quando houver conexão entre um homicídio e um crime eleitoral? 1) Corrente: Polastri e Paulo Rangel: Como as duas competências estão na Constituição, não é possível estabelecer quem exercerá juízo de atração sobre quem, logo deve haver a separação dos processos. 2) Corrente: Tourinho: A Constituição fez menção de uma Lei Complementar para tratar da matéria eleitoral, que ainda não foi editada, razão pela qual devemos trabalhar como Código Eleitoral que foi integralmente recepcionado pela Constituição. O art. 35, II do Código Eleitoral manda os juízes eleitorais julgarem os crimes eleitorais e conexos, sem fazer qualquer ressalva ao Júri, logo o Juiz eleitoral julgaria os dois crimes. Art. 35. Compete aos juízes: II - processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe forem conexos, ressalvada a competência originária do Tribunal Superior e dos Tribunais Regionais. Pergunta-se: um juiz e seu secretário cometem crime de homicídio, qual o órgão competente para o julgamento 1) Corrente: Tourinho e Polastri: Como as duas competências estão na Constituição, deve haver separação dos processos 2) Corrente: Paulo Rangel: Apesar das duas competências estarem na Constituição, a competência do Tribunal de Justiça é de maior graduação, logo devemos aplicar o
art. 78, III do CPP e os dois serão julgados pelo TJ. Jurisdição da mesma categoria significa mesmo grau de poder jurisdicional, ou seja, todos os juízes estão no mesmo grau de jurisdição. Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes regras III - no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação Na hipótese de conexão entre crime de competência da Justiça Federal com crime da Justiça Estadual, a súmula 122 do STJ determina a reunião dos processos na Justiça Federal. Para Tourinho prevalece a Justiça Federal, pois ela é considerada comum, mas quando comparada a estadual, ela é especial. Para Pacelli, prevalece a Justiça Federal em razão de um critério constitucional de distribuição de competência, ou seja, toda a competência da Justiça Federal está na Constituição e o que sobre é dos estados. Súmula 122 do STJ: Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código de Processo Penal. Hipótese: Ocorreu duas receptações indébitas da comarca A, um roubo na comarca B, três furtos na comarca C e um estelionato na comarca D, todos os referidos crimes conexos, qual a comarca competente para julgar a demanda? Para determinar a competência, deve-se avaliar os seguintes requisitos em ordem: 1) Deve-se averiguar se há crime de competência do Júri Popular. 2) Averiguar se há algum acusado com foro por prerrogativa de função. 3) Deve-se averiguar se há crime de competência da Justiça Federal. Se nenhum dos critérios anterior for preenchido, 4) deve-se averiguar em qual foro ocorreu o crime mais grave isoladamente considerado, nos termos do art. 78, II, a do CPP. Na hipótese apresentada, o foro competente seria o da comarca B, em virtude do crime mais grave ser o roubo.
E quando não for possível determinar qual o crime mais grave? 5) Deve-se perquirir onde ocorreu mais crimes. E, se só for cometido um crime igual em todas as comarcar e todos os critérios de competência não forem preenchido? 6) O último critério a ser analisado é o da prevenção, conforme o art. 78, II, c do CPP. Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes regras: Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave; b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as respectivas penas forem de igual gravidade; c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos; Critérios: 1) Júri 2) Foro por Prerrogativa de Função 3) Competência Federal 4) Crimes mais grave, considerado isoladamente (art. 78, II, a do CPP) 5) Maior número de crimes (art. 78, II, b do CPP) 6) Prevenção (art. 78, II, c do CPP) Prevenção: Significa anterioridade de conhecimento, havendo dois ou mais juízes competentes, atuará no feito aquele que antecedeu os demais na prática de algum ato processual. É possível que surja prevenção durante o inquérito policial,
como na hipótese de o Juiz analisar pedido de medida cautelar, deferindo ou indeferindo. Se isso não ocorrer, o recebimento da denúncia o tornará prevento. Para que ocorra a prevenção. é necessário que antes tenha ocorrido a prévia distribuição, que é um critério objetivo de fixação de competência, caso contrário, a parte estaria escolhendo o juiz e assim violando o sistema acusatório. Desse modo, o despacho do Juiz plantonista não previne o Juízo. De acordo com a súmula 706 do STF, a violação a regra de prevenção é causa de nulidade relativa. Súmula 706 do STF: É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência penal por prevenção. Pergunta-se: Um desembargador, um juiz e um servidor cometeram peculato em concurso. Qual o órgão competente para o julgamento do feito? Todos deverão ser julgados pelo STJ, que é o órgão que possui maior graduação. De acordo com a súmula 704 do STF, essa reunião não viola a ampla defesa nem o devido processo legal. Conforme art. 69, IV do CPP, no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalece a especial. No processo penal, a palavra especial significa eleitoral. Dessa forma, se houver conexão entre um crime comum e um crime eleitoral, todos devem ser julgados na Justiça Eleitoral. A partir do art. 79 do CPP, o legislador começa a estabelecer hipóteses onde, apesar da conexão e da continência, os processos deverão ser separados. 1) Concurso entre a Justiça Comum e a Justiça Militar, conforme súmula 90 do STJ Súmula 90 do STJ: Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela prática do crime militar, e à Comum pela prática do crime comum simultâneo àquele. 2) Concurso entre a Justiça da Infância e Adolescência. Hipótese de um menor de idade e um maior de idade cometendo um crime em concurso.
3) Se um corréu apresentar sinais de doenças mentais. É uma hipótese específica de doença mental superveniente. O processo de quem tem o transtorno fica paralisado e o processo de quem não tem segue. Doença Mental: A doença mental pode surgir em momentos processuais distintos, gerando consequências processuais distintas. 1) Hipótese: Os peritos judiciais concluem que a doença mental surgiu antes da prática do crime. Nesses casos, conforme a art. 151 do CPP, a ação penal prosseguirá com a presença de um curador. Se, no final do processo, for reconhecida a autoria e materialidade do crime, ele será condenado com a aplicação de uma medida de segurança Art. 151. Se os peritos concluírem que o acusado era, ao tempo da infração, irresponsável nos termos do art. 22 do Código Penal, o processo prosseguirá, com a presença do curador. 2) Hipótese: Os peritos concluem que a doença surgiu após a prática do crime: De acordo com o art. 152 do CPP, a ação penal ficará suspensa aguardando o seu restabelecimento. Sem prejuízo, o parágrafo primeiro autoriza o juiz a interna-lo por prazo indeterminado enquanto aguarda sua recuperação. Se forem dois réus, o processo segue para o réu lúcido. Toda a doutrina critica esse dispositivo, pois além da suspensão do processo, o agente ficaria internado por prazo indeterminado, sem sequer tenha sido discutida sua culpabilidade. A solução será aplicarmos o art. 151 do CPP e a ação prossegue com um curador. Art. 151. Se os peritos concluírem que o acusado era, ao tempo da infração, irresponsável nos termos do art. 22 do Código Penal, o processo prosseguirá, com a presença do curador. Art. 152. Se se verificar que a doença mental sobreveio à infração o processo continuará suspenso até que o acusado se restabeleça, observado o 2 o do art. 149.
Questão da prova oral do Ministério Público: Sempre que o Código de Processo Penal determina a suspensão do processo sem suspender a prescrição, como no caso acima, surge para Polastri a chamada crise de instância. 3) Hipótese: A doença surgiu durante a execução penal: Após a pena ter sido fixada na sentença, durante o cumprimento da sentença é diagnosticada a doença mental. Nesse caso, o Juiz da VEP deverá converter a pena em medida de segurança. Se após iniciar o cumprimento da medida de segurança o agente recuperar a capacidade de autodeterminação, não há previsão legal de nova conversão de medida de segurança em pena, logo o agente deve ser posto em liberdade. Qual o prazo máximo de duração da medida de segurança nessa hipótese? 1) Corrente: TJRJ: Devemos aplicar o art. 682 do CPP e a medida de segurança durará no máximo o equivalente ao restante da pena. 2) Corrente: Mirabete: Não podemos aplicar o art. 682 do CPP porque ele foi revogado pela LEP que no art. 183 estabelece prazo indeterminado para internação 3) Corrente: Posição do STF: O prazo máximo de privação de liberdade individual compreendido entre a pena e medida de segurança não pode superar os 30 anos, com aplicação análoga do art. 75 do Código Penal. Art. 682. O sentenciado a que sobrevier doença mental, verificada por perícia médica, será internado em manicômio judiciário, ou, à falta, em outro estabelecimento adequado, onde Ihe seja assegurada a custódia. 2 o Se a internação se prolongar até o término do prazo restante da pena e não houver sido imposta medida de segurança detentiva, o indivíduo terá o destino aconselhado pela sua enfermidade, feita a devida comunicação ao juiz de incapazes. Art. 183. Quando, no curso da execução da pena privativa de liberdade, sobrevier doença mental ou perturbação da saúde mental, o Juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, da Defensoria Pública ou da autoridade administrativa, poderá determinar a substituição da pena por medida de segurança Art. 75 - O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos