UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE ENFERMAGEM



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Transcrição:

UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE ENFERMAGEM Alane Costa Lemes Anna Flávia Lima das Graças Daniele Venâncio Fontana Priscila Esteves Dias Sobrinho INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO RELACIONADA A CATETERIZAÇÃO VESICAL: revisão literária Governador Valadares 2009

ALANE COSTA LEMES ANNA FLÁVIA LIMA DAS GRAÇAS DANIELE VENÂNCIO FONTANA PRISCILA ESTEVES DIAS SOBRINHO INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO RELACIONADA A CATETERIZAÇÃO VESICAL: revisão literária Monografia para a obtenção do grau de bacharel em Enfermagem, apresentada a Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade do Vale do Rio Doce. Orientadora: Mônica Valadares Martins Governador Valadares 2009

ALANE COSTA LEMES ANNA FLÁVIA LIMA DAS GRAÇAS DANIELE VENÂNCIO FONTANA PRISCILA ESTEVES DIAS SOBRINHO INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO RELACIONADA A CATETERIZAÇÃO VESICAL: revisão literária Monografia para a obtenção do grau de bacharel em Enfermagem, apresentada a Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade do Vale do Rio Doce. Governador Valadares, 23 de junho de 2009. Banca Examinadora: Enfª. Mônica Valadares Martins - Orientadora Universidade Vale do Rio Doce Enfª. Elizabete Maria de Assis Godinho Universidade Vale do Rio Doce Enfª. Débora Moraes Coelho Universidade Vale do Rio Doce Profª. Enfª. Késia Salvador Pereira Universidade Vale do Rio Doce

Dedicamos aos nossos familiares, esposos e namorados pelo incentivo, apoio e força nos momentos difíceis e de superação. Amigos e colegas que compreenderam nossa ausência e silêncio. Aos mestres pelo conhecimento e experiências compartilhados.

AGRADECIMENTOS Agradecemos... A Deus, que nos proporcionou força, coragem, persistência e nos ter mostrado o caminho a percorrer. Aos nossos familiares, esposos, namorados e amigos pelo amor, paciência, incentivo, apoio e por acreditar nos nossos objetivos e capacidade. Aos colegas de faculdade que estiveram presentes nesses anos. Aos professores que fizeram parte importante para nosso crescimento científico e prático da profissão que escolhemos. A nossa orientadora, Mônica Valadares Martins, por ter nos conduzido e compartilhado o seu conhecimento, com competência e dedicação. A todos que, direta ou indiretamente, deixaram sua parcela de contribuição e se mostraram presentes nesse trabalho.

A vida não dá nem empresta; não se comove nem se apieda... Tudo quanto ela faz é retribuir e transferir... Tudo aquilo que nós lhe oferecemos. Albert Einstein

RESUMO Este estudo trata-se de uma revisão bibliográfica com objetivo de revelar as descrições encontradas na literatura acerca das complicações infecciosas relacionadas ao uso de cateter urinário, bem como a atuação da equipe de enfermagem na sua prevenção e controle. Para a realização do estudo utilizou a revisão bibliográfica referente ao período compreendido entre 1997 a 2008 optando trabalhar com o banco de dados da biblioteca virtual Bireme, base de dados Lilacs e Scielo, sites do Ministério da Saúde, livros, revistas e artigos com abordagem em infecção do trato urinário relacionada a cateterização vesical. A infecção hospitalar é toda a complicação infecciosa relacionada a assistência realizada no ambiente hospitalar, onde a de maior freqüência é a infecção do trato urinário, que compreende processos infecciosos que podem acometer desde a uretra até o tecido renal, sua maior incidência esta relacionada ao cateterismo vesical. Sendo o enfermeiro o profissional mais relevante e sua atuação voltada para a prevenção e controle das infecções hospitalares, cabe a esse adotar e implantar medidas profiláticas em parceria com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar. A pesquisa tornou-se ainda mais relevante pela alta ocorrência de complicações infecciosas associadas a manipulação do trato urinário através da cateterização vesical, tanto pela freqüência, quanto por serem as infecções nosocomiais com maior probabilidade de prevenção. Palavras-chaves: Infecção hospitalar. Infecção do trato urinário. Sondagem vesical. Assistência de enfermagem.

ABSTRACT This study is a bibliography review with the objective of reveal the descriptions found in the literature about the infectious complications related to the use of the urinary catheter, as well as the action of the team of nursing in its prevention and control. For the achievement of the study was utilized the bibliography review regarding the period understood between 1997 to 2008 by using the database from the virtual library like Bireme, Lilacs and Scielo, the Department of the Health website, books, magazines and articles with approach in infection of the urinary tract related to the use of vesical catheterization. The hospital infection is all the infectious complication related with the aid carried out in the hospital environment, where the major frequency is the urinary tract infection. This infectious process can occur since the urethra until the renal tissue, and the major incidence is related to the use of vesical catheterization. Being the nurse the most promitent professional acting to prevent and control the hospital infections, is her/his responsibility adopts and implants the prophilacts procedures in partnership with the Hospital Infection Control Commission. The research became more relevant by the high occurrence of infectious complications associated with the manipulation of the urinary tract through the use of vesical catheterization, as much by the frequency, as by be the nosocomial infections with major prevention probability. Keywords: hospital infection, urinary tract infection, sonda vesical, nursing assistency.

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...9 2 DESENVOLVIMENTO...13 2.1 REVISÃO DA LITERATURA...13 2.1.1 Infecção hospitalar...13 2.1.2 História das infecções hospitalares...15 2.1.2.1 Evolução e o controle das infecções hospitalares no Brasil...19 2.1.3 Critérios para diagnóstico de infecção hospitalar...21 2.1.4 Medidas gerais de prevenção das infecções hospitalares...22 2.1.4.1 Higiene das mãos...24 2.1.5 Principais sítios de infecção hospitalar...25 2.1.5.1 Infecção no sítio cirúrgico...25 2.1.5.2 Infecção no trato respiratório...27 2.1.5.3 Infecções relacionadas ao acesso vascular...28 2.1.5.4 Infecções relacionadas a dispositivos implantáveis...30 2.1.5.5 Infecções do trato urinário...300 2.2 SISTEMA URINÁRIO...311 2.2.1 Anatomia e fisiologia...311 2.2.2 Epidemiologia das infecções do trato urinário...34 2.2.3 Patogênese...355 2.2.4 Manifestações clínicas...366 2.2.5 Fatores de risco...377 2.2.6 Tipos de cateterismo vesical...38 2.2.7 Sistema de drenagem urinária...388 2.2.7.1 Sistema de drenagem de urina fechado...39 2.2.8 Tratamento...3939 2.2.9 Prevenção e controle das infecções do trato urinário...400 2.2.10 A atuação do enfermeiro no controle de infecções hospitalares e na prevenção das infecções do trato urinário...411 2.2.10.1 Cuidados de enfermagem ao portador de cateterismo vesical...43 2.3 METODOLOGIA...44 3 CONCLUSÃO...47 REFERÊNCIAS...48

9 1 INTRODUÇÃO Segundo Veiga e Padoveze (2003), infecção é uma doença que envolve microorganismos como fungos, bactérias, vírus e protozoários e que se inicia com a penetração do agente infeccioso no corpo do hospedeiro ocorrendo assim uma proliferação com conseqüente apresentação de sinais e sintomas que podem ser febre, dor local, alteração dos exames laboratoriais, debilidade entre outros. Podem acontecer em diversas localizações topográficas do indivíduo ou disseminar pela corrente sanguínea, porém, alguns patógenos têm preferência por determinadas regiões. Infecção é a resposta inflamatória provocada pela invasão ou presença de microorganismos em tecidos orgânicos (SEEGMÜLLER et al. apud SOUZA; MOZACHI, 2005, p.153). Geralmente, as infecções são provocadas pela própria microbiota bacteriana humana que se desequilibra com os mecanismos de defesa antiinfecciosa em decorrência da doença, dos procedimentos invasivos e do contato com os microorganismos hospitalares (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2005). Para que a infecção aconteça é necessária uma cadeia de eventos como organismo etiológico, reservatório, porta de saída do reservatório, modalidade de transmissão para o hospedeiro, hospedeiro suscetível e porta de entrada para o microorganismo. Os organismos etiológicos que provocam infecções são as bactérias, Rickettsiae, fungos, vírus, protozoários e helmintos (SMELTZER; BARE, 2005). Conforme cita Smeltzer e Bare (2005) a infecção pode ser transmitida de qualquer pessoa através do Trato Respiratório, Trato Gastrintestinal, Trato Geniturinário e pelo sangue. Para a infecção acontecer o hospedeiro deve ser suscetível, ou seja, não possuir imunidade para o patógeno, pois uma pessoa imunossuprimida apresenta suscetibilidade muito maior que o hospedeiro saudável. Segundo a Portaria 2.616, de 12 de maio de 1998, as infecções podem ser classificadas em comunitárias e hospitalares (BRASIL, 2005). Fernandes (2000) explica que infecção comunitária é aquela constatada ou em incubação no ato de admissão do paciente, desde que não relacionada com internação anterior no mesmo hospital. São também comunitárias: a infecção que está associada com complicação ou extensão da infecção já presente na admissão,

10 a menos que haja troca de microorganismos com sinais ou sintomas fortemente sugestivos da aquisição de nova infecção, a infecções em recém-nascido com bolsa rota superior a 24 horas, cuja aquisição por via transplacentária é conhecida ou foi comprovada e se tornou evidente logo após o nascimento como herpes simples, toxoplasmose, rubéola, citomegalovirose, sífilis e Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). A Infecção Hospitalar é um processo infeccioso que o indivíduo adquire após a sua hospitalização ou realização de procedimentos ambulatoriais como cateterismo cardíaco e a sua manifestação pode ocorrer após sua alta, conforme Veiga e Padoveze (2003). Outras infecções hospitalares poderão emergir em decorrência de procedimentos realizados durante a internação, podendo acometer distintos sítios vinculados a esta manipulação. Cosendey (2000) relata que a infecção hospitalar é um processo infeccioso que não estava presente ou evidente quando o paciente foi internado no hospital. Pode ser causada pela microbiota do próprio corpo do paciente ou por microorganismos encontrados no ambiente e instrumental do hospital. SILVA et al. (2007) relatam que atualmente no Brasil, 15% dos pacientes internados contraem algum tipo deste agravo infeccioso, existindo casos que podem ser evitados. A infecção hospitalar representa um dos principais problemas de qualidade da assistência a saúde, um problema econômico devido à importante incidência e letalidade significativa. A sua ocorrência amplia o prejuízo da instituição, do paciente e da sociedade como um todo (SILVA, R., 2003). O risco de adquirir infecção em um hospital é diretamente proporcional à gravidade da doença, às condições nutricionais do paciente, aos procedimentos necessários em seu tratamento, bem como ao tempo de internação (MOURA & SILVA, 2001). Sua incidência é maior em hospitais universitários do que em hospitais da comunidade devido a maior gravidade das doenças ou procedimentos mais complicados que são ali realizados. As internações mais longas e a interação mais efetiva dos pacientes com vários profissionais de saúde, além de estudantes e membros da equipe, contribuem para esse aumento (COSENDEY, 2000). Em revisão literária BRAGA et al. (2004) observaram que pacientes graves que requerem cuidados intensivos e prolongados estão mais expostos a riscos de adquirirem infecções nosocomiais. Nas Unidades de Terapia Intensiva esta ocorrência infecciosa é motivo de preocupação em virtude de maior exposição aos

11 procedimentos de risco, necessários aos pacientes gravemente acometidos para elucidação terapêutica e preservação dos parâmetros vitais. A infecção hospitalar irá prolongar o tempo de internação, gerando um aumento do consumo de medicamentos e elevação dos custos adicionais para a instituição, pacientes e famílias. O processo infeccioso irá retardar o retorno do indivíduo às suas atividades normais, muitas vezes, retorno com graves seqüelas. Representam grandes transtornos para a instituição e pacientes nela internados devido à letalidade significativa. É responsável, direta ou indiretamente, por elevação das taxas de morbidade e mortalidade (BRAGA et al., 2004). De acordo com Couto, Pedrosa e Nogueira (2003) e Oliveira (2005) a infecção do trato urinário, dentre todas as topografias, representa o principal sítio e corresponde a 35-45% do total. SILVA et al. (2007) e Oliveira (2005) relatam que as infecções do trato respiratório ocupam o 2º lugar e estimam que ocorram de 5-10 casos por 1000 admissões. A infecção do sítio cirúrgico, conforme cita Oliveira (2005), tem sido apontada como uma das mais temidas complicações do ato cirúrgico. Couto, Pedrosa e Nogueira (2003) afirmam que a infecção adquirida nesta topografia representa cerca de 20% das infecções nosocomiais. Cerca de 250.000 de 2 milhões de infecções hospitalares anuais estão vinculadas a corrente sanguínea, em decorrência do uso de algum dispositivo vascular, ressalta Oliveira (2005). Dentre as infecções hospitalares que acometem o trato urinário, cerca de 70 a 88% delas têm relação com a cateterização vesical. Nos grandes centros de terapia intensiva em clínicas médico-cirúrgicas dos Estados Unidos, a ocorrência de infecção do trato urinário é de cerca de 10 episódios/1.000 pacientes-dia, reduzindo em nosso meio para 7,8 episódios/1.000 pacientes-dia de acordo com Couto, Pedrosa e Nogueira (2003) Os fatores de risco para essa síndrome estão relacionados ao sexo feminino, alterações anatômicas e uso de cateterismo vesical (OLIVEIRA, 2005). Couto, Pedrosa e Nogueira (2003) consideram como principais fatores de risco para a infecção do trato urinário: o tipo de cuidado com o sistema de drenagem urinária, uso de sonda vesical de demora, tipo e qualidade do sistema de coleta de urina utilizado, sexo feminino, idade avançada, doença de base grave, insuficiência renal, diabetes melito e colonização meatal.

12 A prevenção e o controle das infecções do trato urinário no ambiente hospitalar baseiam-se em utilização de técnicas assépticas na inserção e manipulação do cateter vesical, lavagem adequada das mãos, eliminação do cateterismo desnecessário e manutenção da higiene perineal, asseveram COUTO et al. (2003), Couto, Pedrosa e Nogueira (2003) e Oliveira, (2005). Considerando a descrição de SILVA et al. (2007) de que a infecção do trato urinário pode disseminar-se para outros sítios, mais freqüentemente para o sitio cirúrgico e que, 50% dos casos são causados pela Escherichia coli, associado ao fato de ser a cateterização procedimento comum em todas as unidades de tratamento, notadamente mais expressivo nas unidades de tratamento intensivo e a vivência dos pesquisadores durante os estágios obrigatórios quanto ao tema, além da necessidade de intensificar a capacitação e treinamento para o cuidado com cateter vesical de demora, tanto para os profissionais quanto para os pacientes que os utilizam, foi realizada pesquisa de revisão literária para melhor compreensão desse agravo. Este estudo torna-se ainda mais relevante pela alta ocorrência de complicações infecciosas associadas à manipulação do trato urinário através da cateterização vesical, tanto pela frequência, quanto por serem as infecções nosocomiais com maior probabilidade de prevenção. Portanto, sendo o controle de infecção hospitalar um tema de extrema importância científica, social, cultural e econômica, além de ser esta ocorrência um grave problema de saúde pública e, considerando o relato de que a infecção do trato urinário atinge patamares de destaque no ranking das infecções nosocomiais brasileiras, este estudo visou revelar as descrições encontradas na literatura acerca das complicações infecciosas relacionadas ao uso de cateter urinário, bem como a atuação da equipe de enfermagem na sua prevenção e controle. Para a condução desse estudo de revisão bibliográfica utilizou-se o banco de dados do acervo da biblioteca da Universidade do Vale do Rio Doce, como artigos científicos da BIREME e revistas de enfermagem que retratam esse tema.

13 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 REVISÃO DA LITERATURA 2.1.1 Infecção hospitalar Infecção hospitalar é toda complicação infecciosa decorrente da assistência prestada em serviços de saúde e, quanto maior a complexidade dessa assistência, maior o risco para a sua aquisição (BRASIL, 2005). Conforme descreve Cosendey (2000) as pessoas que circulam pela instituição de serviço de saúde e em torno dos pacientes podem representar um fator de risco para a ocorrência de infecções hospitalares. Essas podem ser evitadas através de medidas educativas rigorosas quanto à imunização e comportamentos que minimizam a disseminação de doenças. O risco varia de acordo com o mecanismo de transmissão dos agentes. Segundo Turrini (2002) os avanços tecnológicos relacionados aos procedimentos invasivos, diagnósticos e terapêuticos e o aparecimento de microrganismos multirresistentes aos antimicrobianos usados rotineiramente na prática hospitalar tornaram a Infecção hospitalar um problema de saúde pública. As maiores taxas desses processos infecciosos são observadas em pacientes nos extremos da idade e nos serviços de oncologia, cirurgia e terapia intensiva. Um estudo retrospectivo de registro de óbitos em um hospital de São Paulo realizado por Turrini (2002) retratou que as Infecções hospitalares têm contribuído para o aumento do risco de morte entre os pacientes mais graves e imunocomprometidos. Pacientes nos extremos de idade são considerados como mais suscetíveis a esse agravo, sendo essa a causa principal de morbidade e mortalidade em recém nascido. Ainda nesse estudo, constatou-se que apesar de pessoas acometidas pela Infecção hospitalar terem maior probabilidade de morrer, as infecções tendem a ocorrer em indivíduos que já possuem um risco potencial de morte pela doença base e que o grau de morbidade relaciona-se à gravidade da doença base, bem como a qualidade de assistência prestada ao cliente.

14 O diagnóstico da presença e localização da Infecção hospitalar é confirmado pelo conjunto de dados clínicos e laboratoriais. O tempo de acompanhamento do paciente para que se defina a instalação de processo infeccioso de origem nosocomial será de 48 horas após a alta do Centro de Terapia Intensiva; 30 dias após cirurgia sem prótese; ou 01 ano após cirurgia com prótese. Qualquer infecção do neonato até 28º de vida é classificada como hospitalar, desde que a via de aquisição não seja transplacentária (SILVA et al., 2007). [...] Quando, na mesma topografia em que foi diagnosticada infecção comunitária, for isolado um germe diferente, seguido do agravamento das condições clínicas do paciente, o caso deverá ser considerado IH. [...] Quando se desconhecer o período de incubação do microorganismo e não houver evidência clínica e/ou dado laboratorial de infecção no momento da internação, convenciona-se como IH toda manifestação clínica de infecção que se apresentar a partir de 72horas após a admissão. (SEEGMÜLLER et al. apud SOUZA; MOZACHI, 2005, p.153). As Infecções hospitalares são perigosas para o cliente e profissionais de saúde, levam a sofrimentos e gastos excessivos e podem levar a processos judiciais quando há negligência comprovada. Prolongam as internações hospitalares e aumentam o risco de morrer, o diagnóstico e o tratamento custam bilhões de dólares anualmente e quanto mais tempo o cliente permanecer no hospital mais chance terá de desenvolver essa ocorrência (COSENDEY, 2000). É sabido que o índice de agravos infecciosos adquiridos nos serviços de saúde em decorrência de procedimentos é variável e tem relação direta com o tipo de atendimento prestado e complexidade de cada instituição hospitalar. É importante ressaltar que não existe uma taxa de Infecção hospitalar ideal, pois cada serviço tem a sua particularidade e todos devem almejar sua redução progressiva através da adoção das medidas de controle de infecção hospitalar preconizadas (WEY; DARRIGO apud VERONESI, 2002). A Infecção hospitalar tem-se tornado uma das principais preocupações na área da saúde e sua redução ainda é um desafio aos serviços, profissionais e gestores das instituições prestadoras de serviços. Coutinho (2006), baseado nos dados do Ministério da Saúde, refere que o Brasil apresenta um percentual de infecção nosocomial em torno dos 15% entre os pacientes internados. Brasil (2004) conta 5% na média mundial e 9% a 20% aceitos pela Organização Mundial de saúde (OMS).

15 No entanto, desde a promulgação da Lei Federal 6.431 de 1998, todos os hospitais brasileiros foram obrigados a constituir uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, que deve elaborar o Programa de Controle de Infecções Hospitalares, definido como um conjunto mínimo de ações para reduzir ao máximo possível a incidência e gravidade das infecções adquiridas em instituições e serviços de saúde. Assim, quem não tiver constituído sua comissão ou se ela não for atuante, elaborando um programa de controle eficaz, já incorre em um delito e pode sofrer as conseqüências legais decorrentes desse erro. O Estado já começa a se instrumentalizar para exercer seu papel de zelar pela saúde coletiva, elaborando um roteiro de vigilância para se avaliar as Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (FERNANDES, 2005). 2.1.2 História das infecções hospitalares Cavalcanti (2002) descreve que os microrganismos causadores das infecções, existem e convivem no meio ambiente muito antes do surgimento do ser humano. Couto, Pedrosa e Nogueira (2003) afirmam que a infecção hospitalar é tão antiga quanto a origem dos hospitais. Os doentes eram internados sem separação quanto à patologia que apresentavam. As doenças infecciosas se espalhavam rapidamente entre os hospitalizados. Não havia saneamento adequado, a origem da água não era conhecida, as camas eram partilhadas por mais de um paciente. O concílio de Nicéia há 325 anos d.c. (depois de Cristo) determinou que os hospitais fossem construídos ao lado das catedrais. Os pacientes em recuperação ou infectados conviviam em um mesmo ambiente. As doenças infecciosas se disseminavam com grande rapidez entre os internados e, não raro, o paciente era admitido no hospital com determinada doença e falecia de outra, especialmente de cólera ou febre tifóide (COUTO, PEDROSA e NOGUEIRA, 2003). Em 460 d.c. na Grécia, Hipócrates com suas observações e registros dos fenômenos biológicos, relatou a importância da lavação das mãos antes da cirurgia, o uso da água fervida e vinho na limpeza dos ferimentos contribuíam para cura das feridas (OLIVEIRA, 2005).

16 Ainda no século XVII, na Europa, época em que a famosa Peste Negra dizimou milhares de pessoas, mesmo sem os conhecer o modo de transmissão das doenças infecciosas, empiricamente era recomendado o uso de vestimentas protetoras. O médico particular do rei Luiz XIV, Charles Delorme, idealizou uma vestimenta de couro, completada por luvas e uma longa haste de madeira para evitar contato próximo e/ou direto com os enfermos (SCHREIBER, 1987). Em 15 de maio de 1847, Ignaz Philip Semmelweis, em Viena, introduziu a lavagem das mãos com água clorada antes de procedimentos cirúrgicos. Uma medida simples e eficiente que conseguiu reduzir a taxa de mortalidade materna puerperal (OLIVEIRA, 2005; SILVA et al., 2007). Figura 1 - Semmelweis e a lavagem das mãos, 1847. Fonte: Rodrigues et al., 1997. Semmelweis em 1847 determinou que a partir de hoje, 15 de maio de 1847, todo estudante ou médico, é obrigado, antes de entrar nas salas da clínica obstétrica, a lavar as mãos, com uma solução de ácido clórico, na bacia colocada na entrada. Esta disposição vigorará para todos, sem exceção (RODRIGUES et al., 1997). Mais tarde, Florence Nightingale (1863) descreveu uma série de cuidados de enfermagem com o objetivo de diminuir o risco de infecção hospitalar, dando ênfase às questões de higiene e limpeza nos hospitais (OLIVEIRA, 2005; SILVA et al., 2007). A base do conhecimento para a criação dos seus inúmeros princípios foi

17 construída em hospitais militares a partir de suas experiências na Guerra da Criméia. Propôs que as enfermeiras mantivessem um relato de óbitos hospitalares como forma de avaliação do próprio serviço. Essa é certamente a primeira referência a alguma forma de vigilância epidemiológica e retorno de informações aos executores das atividades hospitalares como critério de melhoria da qualidade da assistência (WENZEL apud COUTO, PEDROSA e NOGUEIRA, 2003). Figura 2 - Florence Nightingale e os feridos na guerra da Criméia Fonte: www.medicinaintensiva.com.br Entre 1940-1960 o Staphylococcus aureus, era o principal agente etiológico, mas o tratamento com antibióticos e os programas educativos diminuíram a infecção por esse microrganismo. Hoje se observa a incidência aumentada de Pseudomonas e outras bactérias gram negativas como Escherichia coli. O Staphylococcus aureus e Staphylococcus coagulase negativa têm adquirido resistência ao antibiótico e ressurgiram na década de 90 patógenos de perigosas cruzadas (COSENDEY, 2000). Na década de 50, de acordo com SILVA et al. (2007), surgiram as primeiras cepas de Staphylococcus resistentes à penicilina e na década de 60 o uso indiscriminado de antibiótico favoreceu a instalação de cepas resistentes de Pseudomonas e Enterobactérias. Em meados de 1950, os Estados Unidos eram assolados por uma pandemia de Staphylococcus cada vez mais resistentes aos antimicrobianos disponíveis.

18 Nessa época, o Centro de Doenças Comunicáveis dos Estados Unidos, mais tarde, Centro de Controle de Doenças (CDC- Center for Dease and Prevention Control), criou uma divisão para assessorar os hospitais americanos na investigação das epidemias. Em 1958, foram realizadas duas conferencias para a discussão de questões relacionadas a infecção hospitalar. Foram discutidas as bases de transmissão de doença infecciosas e definidas estratégias de sua prevenção centradas na lavagem das mãos (HALLEY et al., 1980 apud COUTO, PEDROSA e NOGUEIRA, 2003). Os primeiros relatos de processos infecciosos relacionados a procedimentos realizados durante a assistência a saúde parecem surgir quando Cristóvão em 1956 questionou sobre esterilização do material hospitalar e Francisconi no ano 1959 levantou dúvidas sobre o uso indiscriminado/inadequado de antibióticos (SILVA et al., 2007). Em 1867 Joseph Listes contribuiu para as práticas assépticas. Os bons resultados do tratamento com ácido carbólico de feridas infectadas incitaram o uso desse ácido como anti-séptico de pele. Levando em consideração o ar como veículo de disseminação de doenças, preconizou o uso desse ácido aspergido no ambiente para diminuir essa forma de contágio (COUTO; PEDROSA e NOGUEIRA, 2003). No início do século XIX, na Inglaterra, foi estabelecido formalmente o isolamento de pacientes com algumas doenças, como a varicela. A eficácia desse procedimento passou a ser frequentemente descrita (FINLAND et al., 1986 apud COUTO; PEDROSA e NOGUEIRA, 2003). O estudo da infecção hospitalar no Brasil surgiu no início da década de 70, partindo da iniciativa de algumas instituições e de pesquisadores que manifestaram suas preocupações com advento do problema. A infecção cruzada está inserida na historia da medicina que se inicia com a luta, tanto pela sobrevivência quanto pelo intento de conhecer o mundo por forças poderosas e ocultas, assim descreve Oliveira (2005). A década de 1970 foi aberta com a primeira conferência internacional sobre infecções hospitalares que discutiu a validade das diversas formas de vigilância epidemiológica. Nessa ocasião, menos de 10% dos hospitais tinham enfermeiras nesse controle, adotavam o sistema de drenagem fechada de urina ou faziam troca regular de cânula venosa periférica a cada 72 horas. Em 1972 foi criada a Association for Practitioners in Infection Control (APIC) (HALEY et al., 1980 apud

19 COUTO; PEDROSA e NOGUEIRA, 2003). Nessa visão, ressaltam que, ainda na década de 1970, teve Início o National Nosocomial Infection Surveillance System (NNISS), que traduzido para o português significa sistema de vigilância nacional de infecções hospitalares, congregava 70 hospitais americanos com objetivo inicial de estabelecer uma visão panorâmica desse agravo infeccioso nos Estados Unidos. De acordo com Oliveira (2005), em 1860 James Young Simpson introduziu o termo Hospitalismo, referindo-se os riscos inerentes à assistência hospitalar; 1881 Robert Koch descreveu a esterilização a vapor; 1876 a 1882 Joseph Lister publicou trabalho sobre assepsia e anti-sepsia, introduziu conceito de cirurgia asséptica e 1928 a 1942 Fleming descobre a penicilina que reduz as infecções estreptocócicas nos pacientes hospitalizados. Segundo Gross (1991) apud Couto, Pedrosa e Nogueira (2003) a década de 1990 se caracterizou pela expansão cada vez maior do campo da epidemiologia hospitalar. O sistema de saúde norte-americano vem tendo sua relação custo benefício duramente questionada. Os epidemiologistas passam a ser considerados motores desse movimento para melhoria de qualidade que se espera repercutir em melhores serviços com menor custo. As ferramentas da epidemiologia e da estatística, já usadas a muito em amplas áreas da ciência, passam a ser de fundamental importância no entendimento dos vários problemas hospitalares. 2.1.2.1 Evolução e o controle das infecções hospitalares no Brasil No Brasil, o problema da infecção hospitalar só foi assumido pelo estado em 1983, com a Portaria nº196, de 24 de junho de 1983, quando tornou obrigatória a implantação da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar em todos os hospitais. Foram também criadas atribuições dessas comissões como: vigilância epidemiológica com coleta passiva de dados, notificação feita pelo médico ou enfermeira, treinamento em serviço, elaboração de normas técnicas, precauções para pacientes com alguma infecção, controle do uso de antimicrobianos, normas de seleção de germicidas e preenchimento de relatórios (BRASIL, 1983). A primeira Comissão de Controle de Infecção Hospitalar relatada no Brasil foi na década de 60 no Hospital Ernesto Dornelles, em 1963, no Rio Grande do Sul. As

20 primeiras comissões multidisciplinares foram criadas nos anos 70 em hospitais públicos e privados, principalmente aqueles ligados a escolas médicas (MARTINS, 2005 apud OLIVEIRA, 2005). No estado de Minas Gerais foi criada a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar no Hospital das Clínicas em 1 de agosto de 1978 pela Universidade Federal de Minas Gerais. Em 1993 houve a publicação da Lei n 11.053 em 30 de março de 1993, em que os hospitais públicos e privados ficariam submetidos à condição de envio de relatórios anuais de situação da infecção hospitalar na instituição, prática indispensável para liberação de alvará de funcionamento (BRAGA et al., 2006). Lacerda (2002) em estudo de produção científica observou que na década de 60 os enfermeiros quase não discutem sobre as infecções cruzadas, mas contribuem referindo-se a higiene, anti-sepsia, desinfecção e esterilização. Já na década de 70 o país entra na era das infecções nosocomiais modernas endógenas e multirresistentes. A assistência médica e a tecnologia são introduzidas, o termo infecção hospitalar e as publicações sobre sua problemática geral intensificam-se, escreve-se sobre a necessidade desse controle em todos os hospitais. Ainda nessa década surge a principal alternativa para administrar o problema de forma sistematizada e, através das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar foi publicada pela primeira vez, a necessidade de uma enfermeira na comissão, reconhecendo-a como um dos agentes principais. Na década de 80 o Centro de Controle de Doenças recomendava um enfermeiro em tempo integral para 250 leitos no hospital a fim de alterar o controle de infecção. Nos anos 90 houve a implantação das precauções universais, hoje precauções padrão, que implicam o uso de Equipamento de Proteção Individual na assistência a todo e qualquer paciente, independente do seu estado infeccioso. Em 27 de Agosto de 1992, o Ministério da Saúde expediu na forma de anexos as normas para o controle das infecções hospitalares, revogando a Portaria 196, de 24 de Junho de 1983, editando a atual e vigente de nº. 930 onde todos os hospitais do país deverão manter Programas de Controle de Infecção Hospitalar, independentemente da entidade mantenedora e constituiu a comissão responsável pela normatização e pelo Serviço de Controle de Infecção Hospitalar, encarregado do exercício das ações programadas pela comissão, estabelecendo um médico e uma enfermeira para cada 200 leitos. A implantação e a fiscalização dessas comissões são de competência das Secretarias de Saúde dos Estados sendo

21 amparadas pela Lei Federal 9.431/97 que dispõe sobre a obrigatoriedade da manutenção de programas de controle destes agravos pelos hospitais do país (NOGUEIRA, 2003 apud COUTO; PEDROSA e NOGUEIRA, 2003). Em 2002, de acordo com Oliveira (2005) a Unidade de Controle de Infecção Hospitalar é denominada Gerência de Investigação e Prevenção das Infecções e Efeitos Adversos. Em 2003 a resolução RDC nº. 33 da ANVISA, de 5 de março de 2003 revogada por RDC nº. 306, de 07 dezembro de 2004 modifica alguns conceitos da regulamentação anterior, estabelece Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde. Os resíduos de serviços de saúde foram reclassificados e divididos nos seguintes em grupos: A (resíduos potencialmente infectados), B (Químicos), C (Radioativos), D (Comuns) e E (Pérfuro-cortantes). Em 2004 foi desenvolvido um software Sistema Nacional de Informação para Controle de Infecção em Serviço de Saúde, de domínio público (SINAIS) que é uma ferramenta para o aprimoramento das ações de prevenção e controle das infecções relacionadas à assistência de saúde, possibilitando a consolidação do sistema de monitoramento da qualidade da assistência dos serviços de saúde no Brasil. O sistema permite a entrada de dados e emissão de relatórios em uma rotina de trabalho que acompanha as atividades já desenvolvidas pelas comissões de controle de infecção (OLIVEIRA, 2005). 2.1.3 Critérios para diagnóstico de infecção hospitalar A Portaria nº. 2.616, de 12 de Maio de 1.998 dispõe sobre os princípios para os critérios de diagnóstico de infecção hospitalar: a) o diagnóstico das infecções hospitalares deverá valorizar informações colhidas através de evidência clínica derivada da observação direta do paciente ou da análise de seu prontuário, resultados de exames de laboratório, ressaltando-se os exames microbiológicos, pesquisa de antígenos, anticorpos e métodos de visualização realizados, evidências de estudos com métodos de imagem, endoscopia, biópsia e outros; b) quando na mesma topografia em que foi diagnosticada infecção comunitária, foi isolado um germe diferente, seguido do agravamento das

22 condições clínicas do paciente, o caso deverá ser considerado como infecção hospitalar; c) quando se desconhecer o período de incubação do patógeno e não houver evidência clínica e/ou dado laboratorial de infecção no momento da internação, convenciona-se infecção hospitalar toda manifestação clínica de infecção que se apresentar a partir de 72 (setenta e duas) horas após a admissão; d) são também convencionadas infecções hospitalares aquelas manifestadas antes de 72 (setenta e duas) horas da internação, quando associadas a procedimentos diagnósticos e/ou terapêuticos, realizados durante esse período; e) as infecções de recém-nascidos são hospitalares, com exceção das transmitidas de forma transplacentária e aquelas associadas a bolsa rota superior a 24 (vinte e quatro) horas; f) pacientes provenientes de outro hospital que se internam com infecção são considerados portadores de infecção hospitalar da instituição de origem. Nesses casos, a Coordenação Estadual, Distrital, Municipal e/ou o hospital de origem deverão ser informados para computar o episódio como infecção naquele serviço de saúde (BRASIL, 2005). 2.1.4 Medidas gerais de prevenção das infecções hospitalares Smeltzer e Bare (2005) estimam que aproximadamente um terço de todas as infecções nosocomiais poderia ser evitado através do Programa de Controle de Infecção Hospitalar efetivo que inclui: a) programa de vigilância para infecção hospitalar e esforços de controle vigorosos; b) pelo menos um profissional de controle de infecção para cada 250 leitos hospitalares; c) um epidemiologista treinado; d) retroalimentação para cirurgia em risco de infecção de sítio cirúrgico.

23 Muitos hospitais não constituíram todos os quatro aspectos exigidos para Comissão de Controle de Infecção Hospitalar e estima-se que apenas 9% das infecções esperadas sejam evitas (SMELTZER; BARE, 2005). O Programa de Controle de Infecção Hospitalar é responsável pela coleta de dados e identificação dos pacientes com infecção cruzada, determinando e notificando a incidência mensal à CCIH da instituição com o objetivo principal de reduzir o risco de infecções hospitalares dos pacientes, funcionários e visitantes, por isso, deve-se realizar vigilância metódica desses agravos infecciosos, estabelecer normas e recomendações processuais por escrito para evitar e controlar essas infecções, orientar os membros da equipe quanto aos métodos usados para evitá-las e controlá-las e avaliar periodicamente o programa para verificar sua eficiência. Também deve refletir as práticas de assistência aos pacientes e as recomendações processuais, baseados na epidemiologia e para ter eficácia na assistência ao cliente, este programa deve ser ajustado à população de pacientes com vários tipos de necessidade de atendimento, às práticas e aos recursos específicos de cada instituição (COSENDEY, 2000). Cosendey (2000) também afirma que algumas infecções hospitalares são inevitáveis, mas, alguns estudos calcularam que 30% delas poderiam ser evitadas se os profissionais de saúde lavassem as mãos cuidadosamente antes e depois de entrarem em contato com líquidos corporais, utilizando as técnicas assépticas rigorosas durante a introdução de cateter e durante a cirurgia, além de tomar precauções especiais quando manusear dispositivos respiratórios. O controle de infecção hospitalar, além de atender às exigências legais e éticas, tornou-se, também, uma necessidade econômica. A infecção adquirida dentro dos serviços de saúde passou a ser vista como um epifenômeno que serve como importante índice da qualidade de assistência a saúde, assim como o serviço de prevenção passou a ser considerado programa prioritário de garantia de qualidade na assistência (SILVA, R., 2003). Segundo Veiga e Padoveze (2003) a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar tem a função de: a) detectar casos de infecção hospitalar seguindo critérios de diagnósticos; b) conhecer as principais infecções hospitalares detectadas e definir sua ocorrência;

24 c) elaborar normas de padronização para que os procedimentos sigam técnica asséptica, diminuindo o risco do paciente adquirir infecções; d) colaborar no treinamento de todos profissionais de saúde no que se refere a prevenção e controle das infecções hospitalares; e) realizar controle da prescrição de antibióticos, evitando que sejam utilizados de maneira descontrolada; f) recomendar medidas de isolamento e precauções em casos de doenças transmissíveis quando se trata de pacientes internados; g) oferecer apoio técnico a administração hospitalar para aquisição correta de materiais e equipamentos para o planejamento adequado da área física das unidades de saúde. Para Cosendey (2000), hoje, a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar tem suas próprias organizações e as instituições que prestam serviços de saúde investem em recursos significativos nas atividades de controle. Podendo assim, afirmar que os hospitais que implantam e mantém programa para controle destes agravos são capazes de reduzir em quase um terço os seus índices de infecções cruzadas. O profissional especializado em controle de infecção, geralmente tem formação em enfermagem, tecnologia médica ou microbiológica e recebeu treinamento em cursos aplicados pelas organizações regionais e/ou nacionais e instituições acadêmicas e deve participar do desenvolvimento das políticas e procedimentos de educação, do controle de qualidade, aperfeiçoamento, da consultoria e investigações sobre possíveis surtos de infecção, além de poder colher, organizar e analisar dados (COSENDEY, 2000). 2.1.4.1 Higiene das mãos Oliveira e Armond apud Oliveira (2005, p.289) relatam que as mãos são a principal via de transmissão de microrganismos no ambiente hospitalar, portanto, higienizar as mãos é um dos principais procedimentos na rotina dos profissionais de saúde e uma maior adesão a essa prática é um desafio para as equipes de Comissão de Controle de Infecção Hospitalar. Além de proteger o paciente, a

25 lavagem das mãos representa uma importante barreira de biossegurança contra a disseminação de microrganismos entre pacientes, artigos e superfícies hospitalares. As mãos são os condutores para praticamente toda transferência de patógenos potenciais de um cliente para outro, de um objeto contaminado para o cliente, ou de um membro da equipe de saúde para o cliente. Assim, a lavagem das mãos é, isoladamente, o processo mais importante para a prevenção da infecção. Para proteger clientes de Infecções Hospitalares, a lavagem das mãos deve ser realizada rotineiramente e de modo completo. Com efeito, com as mãos limpas e saudáveis, pele intacta, unhas aparadas e sem anéis reduz-se ao mínimo o risco de contaminação. Unhas artificiais podem funcionar como reservatórios de microrganismos, e é mais difícil a remoção de microrganismos de mãos ásperas ou rachadas (ARCHER et al., 2005, p.77). A higienização das mãos irá depender do processo escolhido, podendo variar desde uma lavagem simples das mãos com água e sabão até a degermação ou antisepsia pré-operatória dos profissionais da equipe cirúrgica. Há mais de um século e meio que Semmelweis descobriu a importância da lavagem das mãos e ainda existe uma grande dificuldade desse procedimento ser implementado entre as equipes (OLIVEIRA; ARMOND apud OLIVEIRA, 2005, p.293). Cabe lembrar que as mãos dos profissionais da saúde são consideradas fatores de riscos em potencial na transmissão de patógenos, sendo a manobra mais fácil, barata e de melhor rendimento para a prevenção de qualquer infecção hospitalar (AMARANTE apud RODRIGUES et al., 1997). 2.1.5 Principais sítios de infecção hospitalar 2.1.5.1 Infecção no sítio cirúrgico De acordo com Smeltzer e Bare (2005) a pele é composta por três camadas: epiderme, derme e tecido subcutâneo que forma uma barreira entre os órgãos internos e o ambiente externo além de participar de várias funções vitais. Uma das funções é a proteção, apesar de não possuir mais de 1mm de espessura, proporciona proteção efetiva quanto a invasão por bactérias e outros materiais não próprios do corpo humano.

26 Seegmüller (2005) afirma que quando se realiza um procedimento cirúrgico haverá um rompimento da pele e que as infecções pós-cirúrgicas devem ser analisadas de acordo com o potencial de contaminação da ferida cirúrgica, este potencial se define com o número de microrganismos presentes no tecido a ser operado. O cirurgião deve classificar a cirurgia no final de seu ato seguindo a indicação de cirurgia limpa, potencialmente contaminada ou infectada. Apesar de grandes avanços na medicina em campo cirúrgico, a Infecção de Sítio Cirúrgico ainda é um grande desafio e continua a ser uma das mais temidas complicações decorrentes do ato cirúrgico, ressalta Fernandes; Filho; Oliveira apud Oliveira (2005, p.93). Oliviera, A.; Ciosak (2007) relatou que dentre as infecções hospitalares, essas têm sido apontadas como um dos mais importantes sítios de infecção, sendo a causa mais comum de complicações pós-operatórias. De acordo com Couto, Pedrosa e Nogueira (2003) a infecção pós cirurgia representa cerca de 24% de todas aquelas que se instalam no pós-operatório e Cosendey (2000) registra que ela prolonga as internações do paciente cerca de 6 dias. De acordo com Fernandes, Filho e Oliveira apud Oliveira (2005, p.93), o Centro de Controle de Doenças nos EUA, calcula um risco de infecção de 2,7% por procedimento, ocorrendo assim, aproximadamente 486.000 episódios anuais de ISC, onde se realiza mais de 2 milhões de cirurgias todos os meses e a média de internação é de 1-3 dias. A infecção de sítio cirúrgico apresenta uma mortalidade de 4,3% e representa 14% de todos os efeitos adversos da hospitalização. Pode ser diagnosticada em 4 ou 5 dias após a realização da cirurgia, em casos de implante de prótese em até um ano após (COSENDEY, 2000). Fernandes, Filho e Oliveira apud Oliveira (2005, p.94) acreditam que a microbiota do paciente seja a principal origem da infecção de sítio cirúrgico e que microrganismos originados dos membros da equipe e um instrumental podem veicular indiretamente um agente infeccioso e que aproximadamente 40% dos profissionais que participam do procedimento cirúrgico são portadores do Staphylococcus aureus, assim quanto mais pessoas estiverem envolvidas na cirurgia, maior será o número de agentes patológicos no ar e quanto maior a movimentação da equipe, maior será a contagem bacteriana. SILVA et al. (2007) relatam que os agentes mais frequentes em infecções de sítio cirúrgico são aqueles comumente encontrados na pele do indivíduo sadio: Staphylococcus aureus e Staphylococcus coagulase negativo. Este agravo poderá

27 ser causado por patógenos que atingem a incisão durante o ato cirúrgico na exposição de tecido interno ao meio ambiente. Quando não há o fechamento primário da ferida cirúrgica, na deiscência, dreno ou manipulação excessiva, poderá ocorrer a contaminação no período pós-operatório, o que permite, ocasionalmente, o implante secundário de patógenos por via hematogênica. Em estudo, o levantamento do banco de dados de uma instituição de saúde evidenciou a probabilidade de que infecções em ferida operatória são diretamente afetadas pelo potencial de classificação da cirurgia e que fatores como o tempo de duração do procedimento e classificação do índice podem estar relacionados ao risco do processo infeccioso. Observou-se ainda que essa instituição possui um elevado percentual de procedimentos cirúrgicos eletivos e demonstrou que 54% dos agravos infecciosos em pós operados ocorreram em cirurgias limpas, seguidas das potencialmente contaminadas (SILVA et al., 2007). 2.1.5.2 Infecção no trato respiratório Como citado por Smeltzer e Bare (2005) o sistema respiratório é composto pelos tratos respiratórios superior e inferior que, em conjunto, são responsáveis pela ventilação. O superior é constituído pelo nariz, seios paranasais, passagens nasais, faringe, tonsilas, adenóides, laringe e traquéia e tem função de aquecer e filtrar o ar respirado. O inferior consiste nos pulmões que contêm as estruturas brônquicas e alveolares e sua função é realizar as trocas gasosas. Conforme SILVA et al. (2007) as infecções nesta topografia ocupam o 2º lugar nas doenças infecciosas em ambiente hospitalar, perdendo somente para as infecções do trato urinário. Essa incidência é causada pelos avanços tecnológicos na medicina, que utiliza cada vez mais os instrumentos invasivos de suporte de vida na assistência a pacientes críticos. Estes pacientes vulneráveis diferem e desestruturam os mecanismos naturais de defesa do organismo, favorecendo a ocorrência de infecções hospitalares e prolongando a internação dos pacientes em 4-9 dias (COSENDEY, 2000). Corrêa apud Oliveira (2005, p.133) diz que a pneumonia hospitalar é aquela adquirida no ambiente hospitalar, após 48 horas ou mais de internação. Estima-se

28 que ocorram de 5-10 casos para cada 1.000 admissões, cujo risco aumenta de 1-3% por dia de pacientes intubados na Unidade de Terapia Intensiva. A incidência varia de 8-28% de acordo com o tipo e complexidade do tratamento intensivo, tempo de permanência, duração da ventilação mecânica e com a metodologia empregada. Carrilho (1999) em estudo realizado em um hospital no norte do Paraná identificou os seguintes fatores de risco para pneumonia hospitalar: rebaixamento do nível de consciência, craniotomia, uso prévio de antibióticos, ventilação mecânica, uso de sonda gástrica, dieta enteral, aspiração de conteúdo gástrico, presença de cateter venoso central e tempo de internação. As taxas de morbidade e letalidade são elevadas, especialmente quando os agentes etiológicos apresentam grande potencial de resistência antimicrobiana. A pneumonia associada à ventilação mecânica aumenta o tempo de permanência na Unidade de Terapia Intensiva, elevando os custos hospitalares (CORRÊA apud OLIVEIRA, 2005, p.133). Os bastonetes gram negativos são os precursores da pneumonia em pacientes gravemente enfermos, relata Couto et al. (2003). A pneumonia é a infecção do trato respiratório em ambiente hospitalar mais estudada devido a sua importância na epidemiologia das infecções nosocomiais e por representar o agravo infeccioso relacionado a procedimentos realizados durante a assistência a saúde com maior dificuldade de controle por suas características fisiopatogênicas e pela maior morbimortalidade (VERONESI, 2002). As pneumonias hospitalares ocorrem com maior freqüência em pacientes submetidos a tratamento intensivo, sujeitos a assistência respiratória com ventilação mecânica e ao uso de cânulas traqueais (CORRÊA apud OLIVEIRA, 2005, p.133). 2.1.5.3 Infecções relacionadas ao acesso vascular De acordo com Fernandes, Fernandes M. e Filho apud Oliveira (2005, p.189) mais da metade dos pacientes internados na Europa e nos Estados Unidos fazem uso de algum tipo de dispositivo vascular. Cerca de 250.000 de 2 milhões de episódios anuais de complicações infecciosas adquiridas durante a hospitalização

29 têm como topografia a corrente sanguínea, causando 370.500 óbitos anuais e, 87% dos casos de Infecção na Corrente Sanguínea relacionam-se ao acesso vascular. Segundo SILVA et al. (2007) cerca de 60% dos pacientes utilizam cateter endovenoso, contudo, desde o seu surgimento, em 1945, tornam-se consideráveis os riscos de infecção associada ao seu uso. Geralmente os cateteres vasculares tornam-se colonizados no decorrer de tempo após sua instalação, ocorrendo crescimento de colônias de microrganismos na sua superfície endoluminal ou externa, na interface com a pele e no tecido subcutâneo. A colonização do cateter é, em sua maioria, assintomática, sendo a infecção local manifestada pela presença de sinais flogísticos como rubor, calor, dor, edema e secreção purulenta no trajeto do dispositivo (FERNANDES; FERNANDES M.; FILHO apud OLIVEIRA, 2005, p.192). Consideram-se infecções nosocomiais primárias da corrente sanguínea, toda infecção em parte que tenha hemocultura positiva para bactéria ou fungo, colhida 48 horas após a hospitalização e que caracterize importância clínica (SILVA et al., 2007). As Infecções primárias da corrente sanguínea têm grande importância no contexto das infecções hospitalares pelo seu alto custo e, principalmente, pela alta taxa de mortalidade a ela atribuída, cerca de 14-38%. O risco global de adquirir infecções primárias da corrente sangüínea relacionadas ao cateter intravascular corresponde a 1%, sendo maior nos pacientes internados em unidades de terapia intensiva, onde são submetidos a intensa manipulação vascular e a vários procedimentos invasivos imprescindíveis ao tratamento (SILVA et al., 2007). Os fatores de risco relacionados à infecção do acesso vascular, de acordo com Franck (2005) são a colonização cutânea, colonização da conexão do cateter, infusão contaminada, cateterização prolongada, manipulação frequente do sistema, tipo de material do cateter, gravidade da doença de base e local de inserção do cateter. A mais grave complicação associada à inserção e manutenção de cateter vascular central é a sepse apresentando como patógeno principal o Staphylococcus coagulase negativo (SILVA et al., 2007).