Ano VI Número 11 Julho de 2008 Periódicos Semestral HISTOMONOSE. BORALLI, Igor Camargo ALVES, Rafael Massei NETO, Elizeu Coelho

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Transcrição:

HISTOMONOSE BORALLI, Igor Camargo ALVES, Rafael Massei NETO, Elizeu Coelho Acadêmicos da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia de Garça FAMED/ ACEG NEVES, Maria Francisca Docente da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia de Garça FAMED/ ACEG RESUMO A histomonose, mais conhecida por êntero-hepatite, é uma parasitose muito comum nas criações de perus, podendo afetar galinhas e outras aves. Os perus são, particularmente, susceptíveis ao Histomonas meleagridis e a mortalidade pode atingir de 50 a 100%. O que caracteriza a doença são lesões muito grave nos cecos e áreas de necrose circular no fígado. Palavras chave: galinha, histomonose, Histomonas meleagridis, peru. ABSTRACT The histomonosis, better known by enterepatitis, is a very common infection in the creations of turkeys, which may affect chickens and other birds. What characterizes the disease is an serious injuries in cecos and areas of necrosis in the liver. Key word: chicken; histomonosis, Histomonas meleagridis; turkey. 1. INTRODUÇÃO A Histomonose é uma doença causada por um protozoário o Histomonas meleagridis. Este protozoário parasita os cecos e o fígado de aves, sendo dos perus o animal mais susceptível à doença podendo ocorre alta mortalidade. O H. meleadridis para completar seu ciclo evolutivo precisa de um hospedeiro paratênico o Heterakis gallinarum. Os adultos ou os ovos deste nematóide carregam os protozoários, protegendo os trofozoítos das condições ambientais e do ph ácido do papo, da moela e do intestino.

O objetivo do presente trabalho foi fazer uma revisão de literatura sobre este parasita e a doença que causa nas aves. 2. REVISÃO DE LITERATURA O Histomonas meleagridis é um protozoário amebóide, às vezes de forma redonda ou alongada com um único flagelo. Este protozoário parasita os cecos e fígado de perus, galinhas, pavão e aves silvestres (FORTES, 2004). Os hospedeiros adoecem espontaneamente pela ingestão de material contaminado pelas formas infestantes do agente causal, eliminado pelas fezes das aves portadoras. Essas são representadas por aves que se recuperam de um ataque da doença, as quais eliminam pelas fezes uma grande quantidade de microrganismo, diariamente. Os perus adultos são mais resistentes do que os peruzinhos. A doença ocorre sempre que animais novos soltos em terrenos infetados, junto aos animais adultos portadores. Os surtos mais graves acorrem nos perus entre 1 a 2 meses de idade, e nos pintos de 1 a 2 semanas. As galinhas são muito menos suscetíveis que os perus, elas são portadoras do protozoário e do nematóide Heterakis gallinarum mais freqüentemente que os perus, daí se considerar estas como as principais disseminadoras da enterepatite (FREITAS e FREITAS, 1983). Experiências demonstraram a incapacidade da transmissão da doença através dos ovos de aves doentes. A transmissão experimental da histomonose pela ingestão de fígado e ceco doentes não teve resultado positivo em todas as tentativas. A reprodução da doença, mesmo após a desinfecção do ovo por agentes químicos, parece indicar a existência de formas de resistência no interior da casca. Surtos esporádicos da doença podem ser explicados pela ingestão dos ovos destes nematóides disseminados no solo (AQUINO, 2005). Os parasitas invadem o organismo dos hospedeiros através das paredes dos cecos, que são as primeiras partes lesadas. Durante o período de incubação e após a convalescença da ave, os protozoários vivem e se multiplicam no conteúdo cecal.

Eles também invadem o tecido conjuntivo da mucosa cecal e chegando a circulação sanguínea os parasitas são transportados para o fígado onde formam focos de multiplicação. Possivelmente, a penetração dos parasitos nas paredes dos cecos é facilitada por lesões da mucosa (FOREYT, 2005). As principais lesões são observadas nos cecos e no fígado. Um ou ambos os cecos podem se apresentar lesados. Em conseqüência da invasão da mucosa cecal e multiplicação dos parasitos há uma acentuada reação inflamatória e ulcerações. Os cecos aparentemente se apresentam hipertrofiados, com espessamento e ulceração das paredes envolvendo uma massa semi-caseosa, de odor desagradável e de coloração verde-amarelada, formada de detritos celulares e exsudatos. Às vezes, o conteúdo cecal se apresenta seco, duro e com aspecto de leite coagulado enchendo toda a luz do órgão. O fígado apresenta uma aparência muito característica da doença, mostrando áreas de necrose e degeneração dos tecidos na superfície. Estas lesões profundas nos tecidos hepáticos são patognomônicas, apresentando contorno mais ou menos circular e coloração amarela ou verdeamarelada. Ocasionalmente, outros órgãos podem ser afetados (FOREYT, 2005). As aves doentes, principalmente perus novos, apresentam sonolência, enfraquecidos geral, asas e cauda caídas, cabeças baixas, pernas arrepiadas, diarréia amarela. As aves adultas são mais resistentes, mas as mais novas têm uma doença de caráter mais agudo, morrendo logo após o aparecimento dos sintomas. A mais alta mortalidade é observada nos perus, nas primeiras 12 (doze) semanas de idade. Algumas vezes, a mortalidade atinge a ordem de 100% mas a média é de 50%. O período de incubação da doença varia de 15 a 21 dias apos contato com material infetante (SOBRAL, 2007). O diagnóstico clinico é difícil, já que a sintomatologia é semelhante a outras doenças. A necropsia de animais que vierem a óbito é o melhor método de diagnostico. As lesões típicas do fígado e cecos não deixam duvidas. Deve-se fazer o diagnostico diferencial, onde as lesões cecais, principalmente de pintos, podem confundir-se com a eimeriose, mas o exame microscópico do conteúdo cecal revela, com facilidade, a presença de oocistos (FOREYT, 2005; SOBRAL, 2007).

Vários medicamentos já foram experimentados no tratamento da entêrohepatite sem, entretanto, apresentarem resultado satisfatório. Além disso, a erradicação completa da enterepatite das aves é um problema de solução difícil, pois somente medidas radicais dão resultados satisfatórios, tais como o extermínio de toda a criação e abandono do local, pelo menos durante um ano (FOREYT, 2005; SOBRAL, 2007). Alguns cuidados devem ser tomados para evitar a entrada do protozoário na criação como: não introduzir aves novas; empregar a incubação artificial; evitar promiscuidade de perus com galinhas; manter os peruzinhos de 2 a 3 semanas nas baterias de criação e os de até 12 semanas separados dos adultos; tomar medidas de controle contra as helmintoses; manter as aves em terrenos não ocupados anteriormente por outras aves, pelo menos há um ano; criar os perus adultos em áreas espaçosas; proteger os comedouros e bebedouros, ao máximo, contra a contaminação pelas fezes (CARDOSO e YAMAMURA, 2004). 3. CONCLUSÃO Com o que foi descrito neste trabalho, conclui-se que o protozoário Histomonas meleagridis causa uma doença grave em perus podendo leva-los à óbito e que somente medidas profiláticas radicais podem resultar num controle satisfatório. 4. REFERÊNCIAS CARDOSO, S. P., YAMAMURA, M. H., Parasitas em produção de frangos no sistema de criação tipo colonial/caipira no Brasil. Londrina, Faculdade de Ciências Agrárias, 2004, p.63-74. FAQUINO, N. M., Guia de Vigilância Epidemiológica, 6ª ed., p. 12., Brasília, DF. FOREYT, W. J., Parasitologia veterinária, p.240., ed. Roca., São Paulo, 2005.

FORTES, E., PARASITOLOGIA VETERINÁRIA, 4ª ed., São Paulo, Editora Ícone, p- 67-70, 2004. HIPOLITO, O., FREITAS, M. G., Doenças Infecto-contagiosas dos animais domésticos, 3º ed., Minas Gerais, Melhoramentos, 1983, p.564. SOBRAL, M. H. N. R., Controle de doenças em aves, São Paulo, SP, Brasil, 10 Setembro 2005, [OnLine] Disponível em: < www.agrolink.com.br > acesso em 04 de Abril de 2008.