Turma e Ano: Flex A (2014) Matéria / Aula: Civil (Parte Geral) / Aula 12 Professor: Rafael da Motta Mendonça Conteúdo: Negócio Jurídico: Elementos; Planos; Teoria das Nulidades. 3. NEGÓCIO JURÍDICO: 3.4 Elementos: Elementos do Negócio Jurídico: a) Essenciais b) Acidentais: - Partes - Condição - Objeto - Termo - Consentimento - Encargo - Forma Essenciais: São aqueles que devem estar presentes em todo e qualquer negócio jurídico: partes, objeto, consentimento e forma. Acidentais: São aqueles que vão estar presentes no negócio jurídico quando as partes convencionarem: condição, termo e encargo. 3.5 Planos: Muito embora o CC não trate expressamente do plano da existência, toda a doutrina (desde Pontes de Miranda - "Escada Ponteana") identifica o plano da existência implícito no plano de validade (art.104 CC). a) Plano da Existência - o negócio jurídico existe sempre que estiverem presentes os elementos essenciais, independentemente de estarem ou não em conformidade com o ordenamento jurídico. Ex1. Contrato sem assinatura - inexistente pela ausência de consentimento; Ex2. Compra e venda de coisa futura emptio rei speratae (ex. compra e venda da safra) - o comprador assume o risco em relação à quantidade do objeto. No entanto, o STJ vem
entendendo que se a quantidade for ínfima o contrato será considerado inexistente por ausência de objeto, dada a desproporção (inclusive os contratos aleatórios). Obs: A inexistência e a nulidade absoluta do negócio jurídico produzem os mesmos efeitos. b) Plano da Validade - o negócio jurídico será válido quando todos os elementos essenciais estiverem presentes e de acordo com as exigências do ordenamento jurídico (ausência de qualquer vício). Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei. c) Plano de Eficácia - elementos acidentais: condição, termo e encargo.
Plano da Validade: a) Invalidade do Negócio Jurídico: Negócio jurídico inválido é aquele que possui vícios nos elementos essenciais. O legislador dispôs uma gradação de vícios (Teoria das Nulidades): Nulidade absoluta = negócio nulo (arts. 166 e 167 CC) violação de questões de ordem pública (vício de maior gravidade); Nulidade relativa = negócio anulável (art. 171 CC) violação de interesses particulares (vício de menor gravidade). b) Nulidade Absoluta x Nulidade Relativa: Diferenças Nulidade Absoluta Nulidade Relativa Legitimados Sanabilidade do vício Qualquer interessado, inclusive o MP (art. 168 CC) Vício insanável (art. 169 CC) Somente as partes (art. 177 CC) Vício sanável (art. 172 CC) - Ratificação - expressa ou tácita (arts. 173, 174 e 175) Prazos para requerimento A qualquer tempo Prazo decadencial - 2 ou 4 anos (arts. 178 e 179 CC) Reconhecimento de ofício pelo magistrado Natureza jurídica da sentença Efeitos da sentença De ofício (art. 168, p. único CC) Sentença Declaratória Ex tunc - retroagem à data da celebração do negócio Depende de alegação das partes (art. 177 CC) Sentença Constitutiva Ex tunc (art. 182 CC) c) Hipóteses de Nulidade Absoluta: Art. 166 CC: Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; Causa ilícita - o objeto não é ilícito, mas tão somente a causa. Será nulo desde que esta seja a razão determinante para a celebração do negócio. IV - não revestir a forma prescrita em lei; Art. 107 CC - Princípio da liberdade das formas - a regra geral é o informalismo e a atipicidade, salvo quando a lei impuser uma forma específica (ex. art. 108 CC - Negócio jurídico envolvendo bem imóvel com valor superior a 30 salários mínimos exige instrumento público) V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; Forma # solenidade - a forma diz respeito ao instrumento (expresso, verbal, público, privado), enquanto a solenidade está associada ao procedimento. VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; Ex. Cláusula penal - nas relações civis, o limite é o valor da obrigação principal (art. 412 CC). Se o contrato dispuser valor superior ao limite legal, haverá violação de lei imperativa, caracterizando a nulidade absoluta da cláusula. VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. Simulação (art. 167 CC) Obs1: O rol do art. 166 é meramente exemplificativo. Ex1. Art. 485 CC - será nula a compra e venda quando o preço for estipulado por apenas uma das partes; Ex2. Art. 548 CC - doação universal é nula - somente o excesso que violou o mínimo existencial será considerado nulo Ex3. Doação inoficiosa (toca a legítima) é nula Obs2: Se a lei proibir a prática sem cominar sanção, a nulidade será absoluta. Ex. Proibida a venda e cessão de crédito de herança de pessoa viva (art. 426 CC) - nulidade absoluta. O CC de 1916 tratava a simulação como um vício social, hipótese de nulidade relativa. No CC/02, a simulação deixa de ser um vício social passando a constituir hipótese de nulidade absoluta.
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. O art. 167 traz duas hipóteses de negócio jurídico: Negócio Jurídico Simulado - é o falso negócio jurídico. Será nulo. Negócio Jurídico Dissimulado - é o verdadeiro negócio, aquele que se tentou esconder. Será válido. O art. 167 não admite que um vício de nulidade absoluta seja sanado, visto que estes são insanáveis (negócio jurídico simulado = nulo). d) Hipóteses de Nulidade Relativa (art. 171 CC): O rol do art. 171 é exemplificativo (ex: art. 496 CC - compra e venda de ascendente para descendentes; art. 550 CC - doação em favor de concubino. Nelson Rosenvald critica a nulidade neste caso porque o adultério não constitui mais crime). Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente; II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. Vícios do consentimento = estado de perigo, lesão, erro, dolo e coação. Vício social = Fraude contra credores (atinge terceiro) Defeitos do negócio jurídico: 1) Estado de Perigo (art. 156 CC): Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias. Exemplo clássico de estado de perigo Cheque caução - lei estadual do RJ permite exigir a devolução em dobro.
Requisitos do Estado de Perigo: Perigo de vida (real e imediato) do próprio contratante, de um familiar ou amigo íntimo. Dolo de aproveitamento - o perigo de vida tem que ser conhecido pelo beneficiário. Obrigação excessivamente onerosa O estado de perigo é possível tanto em contratos unilaterais quanto bilaterais. Entretanto, somente estará presente em contratos comutativos, haja vista que o contrato aleatório já é excessivamente oneroso para uma das partes por sua própria natureza. Obs1: Tereza Ancona - o estado de perigo é uma espécie do gênero estado de necessidade. 2) Lesão (art. 157 CC): Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. 1 o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico. 2 o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. Requisitos da Lesão: Extrema necessidade de celebrar um contrato ou celebrá-lo por inexperiência. Aproveitamento - não é exigido dolo de aproveitamento, bastando que a outra parte se aproveite da necessidade. Desproporção entre as prestações ( 1º do art. 157) Obs: A lesão somente poderá estar presente em contratos bilaterais e comutativos, que são aqueles que geram obrigações para ambas as partes ("desproporção entre as prestações").
Enunciado 150 CJF: Art. 157: A lesão de que trata o art. 157 do Código Civil não exige dolo de aproveitamento. Enunciado 290 CJF: Art. 157. A lesão acarretará a anulação do negócio jurídico quando verificada, na formação deste, a desproporção manifesta entre as prestações assumidas pelas partes, não se presumindo a premente necessidade ou a inexperiência do lesado.