PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA - FORO CENTRAL DE CURITIBA 9ª VARA CÍVEL DE CURITIBA - PROJUDI Rua Cândido de Abreu, 535 - Centro Cívico - Curitiba/PR Autos nº. 0046037-13.2013.8.16.0001 Tratam os autos de Ação Declaratória de Nulidade de Cláusulas Contratuais c/c Indenização por Perdas e Danos promovida por JOSÉ BOBKO JÚNIOR em face de PDG-LN 7 INCORPORAÇÃO E EMPREENDIMENTOS S/A e LN EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS S/A. Aduz que adquiriu da ré a unidade 81, da Torre 3, do empreendimento Bella Vita Sole Fase 01, nesta capital. Alega que a ré se comprometeu a entregar o apartamento em setembro de 2011, com um prazo de tolerância de 180 (cento e oitenta) dias. Afirma que as requeridas atrasaram a conclusão do empreendimento, sendo que a expedição do Habite-se somente ocorreu em março de 2013. Aduz que, mesmo estando em mora, as requeridas corrigiram o valor da parcela para além da data prevista para a entrega do imóvel e que estas vêm condicionando a entrega das chaves ao pagamento do valor corrigido. Requer liminarmente o congelamento do saldo devedor, remetendo seu pagamento à data da entrega prevista no contrato (setembro de 2011) ou, alternativamente, até a data prevista com o prazo de tolerância (março de 2012). Ainda, requer a liberação da hipoteca e a entrega das chaves por parte das requeridas, mediante o depósito dos valores incontroversos. Por fim, pleiteia a suspensão da cobrança das taxas condominiais, enquanto a autora não estiver na posse efetiva do bem. É o breve relatório. Decido. Primeiramente se faz necessário distinguir a liminar de tutela antecipatória da liminar de ação cautelar. Em grosso modo, na primeira hipótese o que se visa é a antecipação dos efeitos de uma provável sentença favorável ao autor. Assim, estando presentes os requisitos insertos no artigo 273 do Código de Processo Civil, pode o Juiz, antecipar os efeitos da sentença. Já no segundo caso, o que se busca é salvaguardar um direito ameaçado ou que possa vir a perecer, no decorrer do processo, até que se julgue em definitivo o mérito da ação. Feitas estas considerações, e em análise ao contido no caso em tela, o que
pretende o autor não é a antecipação dos efeitos de uma sentença favorável, mas o que busca é o deferimento de uma liminar que determine à requerida que proceda ao congelamento do saldo devedor, ou seja, o Autor confundiu os institutos processuais, pois pretendem uma liminar de obrigação de fazer, enquanto que o pedido principal se refere à indenização. Contudo, a alteração legislativa que acrescentou o 7º, do art. 273, autoriza o juiz conhecer como cautelar o pedido feito em sede de antecipação dos efeitos da tutela, uma vez preenchidos os requisitos e for efetivamente a providência perseguida de cunho cautelar. Assim, cumpre verificar, se no presente caso, estão ou não, presentes os requisitos que autorizam a concessão da tutela cautelar, quais sejam, o fumus boni juris e o periculum in mora. Segundo a lição do insigne HUMBERTO THEODORO JÚNIOR: I - Um dano potencial, um risco que corre o processo principal de não ser útil ao interesse demonstrado pela parte, em razão do periculum in mora, risco esse que deve ser objetivamente apurável; II - A plausibilidade do direito substancial invocado por quem pretenda segurança, ou seja, o fumus boni juris" (Curso de Direito Processual Civil, Rio de Janeiro: Forense, 33ª ed., 2002, p. 343). Assevera, ainda, o acatado processualista que "não se pode, bem se vê, tutelar qualquer interesse, mas tão-somente aqueles que, pela aparência, se mostram plausíveis de tutela no processo principal" (op. cit., p. 345) No presente caso, vislumbro a presença do periculum in mora, consubstanciado nos prejuízos que poderão advir ao autor com a atualização do saldo devedor na forma e a partir das datas contratadas, na medida em que, mesmo estando o requerente privados da utilização do imóvel, o crédito da ré está sendo atualizado até data indefinida da entrega do bem. Do mesmo modo, quanto ao fumus boni iuris, vislumbra-se que o autor possui o direito material de ação, além de ter adquirido o referido imóvel, conforme os contratos acostados aos autos. É este o entendimento do Egrégio Tribunal de Justiça do Paraná: AGRAVO DE INSTRUMENTO - ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA - ATRASO NA ENTREGA DA OBRA - CONGELAMENTO
DA CORREÇÃO MONETÁRIA NA DATA PREVISTA PARA ENTREGA DO EMPREENDIMENTO - ALTERAÇÃO DO DECISUM PRIMEVO PARA VIGORAR A PARALIZAÇÃO APÓS O PRAZO DE PRORROGAÇÃO DE NOVENTA DIAS PREVISTO NO CONTRATO - TERMO FINAL DO CONGELAMENTO NA DATA DA AVERBAÇÃO NA MATRÍCULA DO IMÓVEL DO CVCO OU HABITE-SE - LICITUDE DE UTILIZAÇÃO DO CUB-PR NO PERÍODO DE CONSTRUÇÃO - REDUÇÃO DA MULTA COERCITIVA DIÁRIA DE R$ 100.000,00 PARA R$20.000,00 DIANTE DO VALOR DO IMÓVEL - RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO(TJPR - 7ª C.Cível - AI - 984179-8 - Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Luiz Sérgio Neiva de Lima Vieira - Unânime - - J. 11.06.2013)(grifo nosso) 1. Contudo, considerando que o contrato assegura uma tolerância de até 180 (cento e oitenta dias) para além do prazo de entrega do empreendimento, o congelamento da correção do saldo devedor deverá incidir em março de 2012 (180 dias após o prazo de entrega previsto), nos termos do item c1 da petição inicial. 2. Passo à análise dos demais pedidos. Pretende a autora a antecipação dos efeitos da tutela a fim de determinar às requeridas que não haja cobranças relativas às taxas de condomínio enquanto não houver a entrega das chaves. Ante a alegada cobrança de condomínio sem a entrega do imóvel, verifico que há verossimilhança nas alegações da parte. Além disso, restou comprovado o receio de dano, tendo em vista que a cobrança das taxas poderá implicar no protesto dos títulos referentes às parcelas de condomínios não pagas. Portanto, defiro a suspensão da cobrança das taxas de condomínio enquanto as chaves não forem entregues à parte autora. 3. Por fim, ante o deferimento do congelamento da correção do saldo devedor até a data prevista para a entrega do imóvel, já computado o prazo de tolerância (março de 2012), defiro a antecipação de tutela a fim de obrigar as requeridas a liberarem a hipoteca existente no imóvel e entregarem as chaves do bem. Contudo, condiciono a efetivação da liminar ao depósito, em juízo, do valor incontroverso, sob pena de revogação. 4. Diante de todo o exposto, DEFIRO o pedido liminar, a fim de: a) determinar o congelamento do valor relativo à correção do saldo devedor até o
início de março de 2012, mês previsto para a entrega do imóvel, já computada a tolerância prevista, considerada a variação do INCC; b) determinar a suspensão da cobrança das taxas de condomínio enquanto as chaves não forem entregues à parte autora; c) determinar a liberação da hipoteca e a entrega das chaves do imóvel, condicionada ao depósito, em juízo, do valor incontroverso, nos termos da presente decisão; 5. Cite-se a ré para responder, no prazo de quinze dias, sob advertência de se presumirem aceitos como verdadeiros os fatos articulados pelos autores (CPC, art. 285 e 319). Ainda, intime-se a parte ré da liminar ora concedida, sob pena de multa diária de R$ 100,00 (cem reais) em caso de descumprimento. Fica o Cartório autorizado a proceder da seguinte forma, independente de despacho: a. Caso a carta de citação retorne com a observação ausente ou não atendido, reexpeça-se a carta postal destinada à citação. b. Caso a carta de citação retorne com a observação recusado, expeça-se mandado de citação; c.caso a carta de citação retorne a observação mudou-se, desconhecido, endereço insuficiente, endereço inexistente, não existe o número ou outras, Autora para manifestação em 05 (cinco) dias. intime-se a parte d.não sendo o caso de nenhum dos itens acima (citação válida) e transcorrendo o prazo sem a apresentação de contestação, certifique-se e intime-se a parte Autora para se manifestar no prazo de 05 (cinco) dias. e. Caso seja apresentada contestação dentro do prazo, intime-se a parte Autora para manifestação (réplica) sobre a contestação, questões preliminares e eventuais documentos juntados, em 10 (dez) dias. f.se com a réplica forem juntados novos documentos (exceto procuração, cópia de acórdãos, decisões e sentenças), intime-se a parte Ré para, no prazo de 05 (cinco) dias, apresentar manifestação sobre documentos juntados pela parte adversa, em cumprimento ao Código de Processo Civil, art. 398. g. Na sequência, intimem-se as partes para, no prazo comum de 10 (dez) dias, manifestarem acerca de interesse na designação de audiência para tentativa de conciliação prevista no Código de Processo Civil, art. 331, caput, ou especificarem as partes as provas que efetivamente pretendem produzir, indicando, desde logo, a relevância e a pertinência das que forem requeridas, sob pena de indeferimento (Código de Processo Civil, art. 130) ou se manifestarem pelo julgamento antecipado da lide, sendo que na hipótese de haver
requerimento de prova pericial, no prazo assinalado acima, devem as partes declinar sua importância, alcance e finalidade para o deslinde da questão, sob pena de indeferimento. 6. Intimações e diligências necessárias. Curitiba, 14 de Outubro de 2013. Fabiano Jabur Cecy Juiz de Direito Substituto