Aula Extra: Filosofia Contemporânea Prof. Daniel Pansarelli Fenomenologia, Hermenêutica e Existencialismo INTRODUÇÕES Questão metodológica A HERMENÊUTICA contemporânea é uma das correntes filosóficas derivadas da Fenomenologia. Nesta aula, utilizaremos a Hermenêutica como método da análise filosófica. Mas o que é isso a hermenêutica filosófica? Sobre o existente Compreensões do ser humano a partir da modernidade: O cogito imediato (Descartes) Penso, logo existo A via longa / mediada (hermenêutica) 1
Postura Hermenêutica O diálogo sujeito-mundo pressupõe um enraizamento simbólico da subjetividade no seio do mundo. Longe de ser um dado imediato, este enraizamento implica uma permanente articulação entre o discurso humano e o próprio mundo. Na verdade, o discurso redimensiona-o, permanentemente, recria-o nos seus valores, na sua linguagem e no seu tempo. Por sua vez, o mundo, com a sua linguagem, o seu tempo e os seus valores, constitui o fundo sem o qual o discurso não poderia operar com eficácia. J. C. Correia. Ricoeur e a expressão simbólica do sentido Conceito de Discurso O discurso tem quatro características em especial: (1)ele é temporal, tem uma localização na história, e realiza-se no presente; (3)refere-se invariavelmente ao mundo, de maneira direta ou não; e (2)remete sempre a um locutor, o protagonista do discurso; (4)é o meio para a troca de mensagens, de experiências, de sentidos do mundo. Paul Ricoeur. Do texto à ação Conceito de Obra uma obra é uma seqüência mais longa que a frase que suscita um novo problema de compreensão relativo à totalidade finita e fechada que a obra como tal constitui. Em segundo lugar, a obra é submetida a uma forma de condição que se aplica à própria composição e que faz do discurso uma narração, ou um poema, ou um ensaio etc.; é esta codificação que é conhecida pelo nome de gênero literário [...]. Finalmente, uma obra recebe uma configuração única que a liga a um indivíduo e que se chama o estilo. Paul Ricoeur. Do texto à ação 2
Texto e mediação A obra fixada (pela escrita) ganha a especial característica de romper a unidade espaço-temporal que vincula os interlocutores. Possibilita as autonomias: do autor da obra do leitor Conquista de si A via longa de compreensão do sujeito implica na reconquista de si-mesmo, um ato cotidiano, que se faz pelo retorno obtido do ato de interpretar as obras do mundo: Não sou; construo-me. O que sou depende das possibilidades interpretativas que realizei. Intervalo Aproveite este tempo para rever os conceitos apresentados e compreendê-los bem. Discuta-os com seus colegas e anote possíveis dúvidas para enviar aos professores. 3
Fenomenologia, Hermenêutica, Existencialismo Aspectos gerais Contextos Crise das ciências modernas. Positivismo como desenvolvimento máximo do racionalismo cartesiano. Início do século XX (Edmund Husserl). Fenomenologia Hermenêutica Existencialismo Retomada histórica Racionalismo Empirismo Iluminismo Idealismo Positivismo Vitalismo (Dilthey) Materialismo (Marx) Fenomenologia (Husserl) Hermenêutica (Heidegger, Vattimo...) Existencialismo (Sartre, Arendt...) 4
Limites do conhecimento Descartes: Separou res cogitans de res extensa, rompendo a ligação entre sujeito e objetos e constituindo, assim, problema aos processos de conhecimento. Kant: Radicalizou a ruptura ao afirmar que não percebemos o objeto, mas apenas aquilo do objeto que se manifesta a nós o fenômeno. S O S Fen O Crise das ciências É a existência de ciências exatas e, dentre as mais exatas, das matemáticas e da física, que constitui o modelo ideal que se deve entender por ciência. Tudo se passa como se a racionalização científica só pudesse tematizar o objeto, negligenciando os sujeitos existentes, como se o estabelecimento das verdades objetivas deixasse a liberdade humana ainda mais desamparada nas suas escolhas e em suas condutas. André Dartigues. O que é a fenomenologia? Crise das ciências As ciências da natureza nada têm a dizer, já que elas, por método, tratam apenas dos corpos e excluem a subjetividade. Mas as próprias ciências do espírito, na medida em que querem ser objetivas, evitam toda tomada de posição normativa, contentando-se em constatar o que é, sem apreciá-lo e sem sugerir o que deve ser. Um mundo em que Auschwitz ia ser possível deu testemunho suficiente, pouco tempo após a morte de Husserl, da impotência e dos limites da racionalidade objetiva num século que, sendo o da ciência, deveria ser também o da Razão. André Dartigues. O que é a fenomenologia? 5
Crise das ciências Matemática: Afastando-se cada vez mais dos dados da intuição, procuram constituir sistemas formais que permitiriam unificar numa só suas diversas disciplinas, realizando assim o velho sonho dos Pitagóricos. Psicologia: Ela busca, de acordo com a tendência positivista em voga, constituir-se como ciência exata conforme o modelo das ciências da natureza, eliminando assim os aspectos subjetivos e, portanto, aparentemente não científicos. André Dartigues. O que é a fenomenologia? Intervalo Aproveite este tempo para rever os conceitos apresentados e compreendê-los bem. Você entendeu com clareza o sentido da crise das ciências? Anote suas dúvidas para enviar aos professores. Fenomenologia, Hermenêutica, Existencialismo Principais autores e problemas 6
Proposta fenomenológica Edmund Husserl propõe com a fenomenologia a des-cientifização do conhecimento, por meio de: Valorização da subjetividade. Assunção da impossibilidade da objetividade absoluta. Busca por uma postura de ingenuidade científica: voltar às coisas mesmas. Edmund Husserl (pt.wikipedia.org) Alguns pressupostos Não existe objeto sem consciência A coisa em si nunca é alcançável (Kant); apenas o seu fenômeno: aquilo da coisa que se mostra ao sujeito. Não existe consciência sem objeto Consciência é sempre consciência de algo. Esta compreensão está posta desde o cogito cartesiano, mas agora é aplicada em outra direção. Há uma pluralidade de mundos, transpassada pelo mundo da vida O Lebenswelt é o ponto de encontro e troca de experiências de todos os viventes. Re-significação ontológica A partir do pensamento fenomenológico husserliano, Martin Heidegger busca uma nova compreensão do ser humano, no movimento que chamou por hermenêutica do dasein. O ser é sempre ser-ai, ser-no-mundo (dasein). O mundo é o lugar onde o ser se constrói e se desvela. Martin Heidegger (www.heideggeriana.com.ar) 7
Compreensão existencial A concepção ontológica enraizada no mundo de Heidegger (consolidada na obra Ser e tempo), abre espaço para o desenvolvimento de uma nova filosofia, existencial. O existencialismo em boa parte com influência materialista marxista não se ocupa em localizar o ser-no-mundo (Heidegger já o fez), mas pensar as relações mundanas, que são as únicas possíveis no âmbito do ser. Principais referências Jean-Paul Sartre: Desenvolve uma ontologia existencial inspirado num viés interpretativo de Ser e tempo (viés desaprovado por Heidegger). Algumas obras: O ser e o nada O existencialismo é um humanismo Jean-Paul Sartre (www.wikipedia.org) Principais referências Hannah Arendt: Reflete a sociedade e a política de seu tempo; entendendo-se como ser-no-mundo faz filosofia acerca do mundo em que vive. Algumas obras: A condição humana Entre o passado e o futuro A dignidade da política Homens em tempos sombrios Hannah Arendt (www.libertarian.nl) 8
Referências utilizadas: ANDRADE, Abrahão Costa. Ricoeur e a formação do sujeito. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000. DARTIGUES, André. O que é a fenomenologia. 3.ed. São Paulo: Moraes, 1992 RICOEUR, Paul. Du texte à l action : essais d herméneutique II. Paris : Seuil, 1986. CORREIA, Carlos João. Ricoeur e a expressão simbólica do sentido. Braga: Calouste Gulbenkian; Fundação para a Ciência e Tecnologia, 1999. 9