TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRÁTICA REGISTRADO(A) SOB N '03072718* PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação n 990.10.030284-1, da Comarca de Tupã, em que é apelante ARMANDO HARUGI HIRAISHI sendo apelado MARIA APARECIDA MACHADO DOS SANTOS HIRAISHI. ACORDAM, em 7 a Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "POR MAIORIA, DERAM PROVIMENTO AO RECURSO, VENCIDO O REVISOR QUE FARÁ DECLARAÇÃO DE VOTO.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores LUIZ ANTÔNIO COSTA (Presidente) e ÁLVARO PASSOS. São Paulo, 30 de junho de 2010.._> " GILBERTO DE SOUZA MOREIRA RELATOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PA ULO APELAÇÃO COMREVISÃON 990.10.030284-1 COMARCA DE TUPÃ APELANTE(S) : ARMANDO HARUGIHIRAISHI APELADO(S) : MARIA APARECIDA MACHADO DOS SANTOS HIRAISHI EMENTA: ANULAÇÃO DE ADOÇÃO - Adoção extremamente incomum. RECURSO PROVIDO. VOTO N 13.868 Ação movida por herdeiro que pretendeu a anulação de adoção feita por seu pai falecido. A adotada era pessoa maior e desconhecida da família e o ato, por força dessas circunstâncias, representaria mera simulação. A r. sentença de fls. 190 e seguintes julgou improcedente o pedido, mas foi atingida por recurso de apelo do autor (fls. 205), onde se alega, primeiramente, o cerceamento da atuação do advogado pelo impedimento de produção de provas, negado o requerimento de oitiva de testemunha importante no processo. No mérito, recolocaram-se os mesmos argumentos da inicial que demonstram a simulação daquele ato. Fls.l
V 2 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PA ULO APELAÇÃO COM REVISÃO N 990.10.030284-1 Contrarrazões a fls. 254 e seguintes. O Ministério Público manifestou-se preliminarmente pela conversão do julgamento em diligências, mas adiantando-se no mérito, inclinou-se pela procedência. É o relatório. Decido. Para se obter uma conclusão segura sobre a procedência do pedido inicial, basta a leitura do depoimento da própria ré, a pessoa que fora adotada, a fls. 95/98. Ela absolutamente não convence da autenticidade da estranhíssima adoção. Mostra-se extremamente confusa, nada explica, não sabe sequer dizer quando teria começado seu relacionamento com o falecido, no que é extraordinariamente contraditória (o relacionamento "era esporádico"), não sabe dizer dos motivos que levaram a tão esquisita filiação, não explica a também muito estranha falta de maior contato com ele, (sequer foi no seu enterro, jamais visitou seu túmulo), não tem e não teve o mínimo contato com a família dele. É tudo muito incomum, nebuloso, incompreensível. Ela foi adotada quando já tinha mais de 40 anos de idade, já era casada e casada então há muito tempo. Ele também era casado à época e estranhamente só ele adotou sua esposa não. Ela tem pais biológicos vivos. O único motivo que traz para justificar a adoção é que satisfazia-lhe seu desejo de ter uma filha, já que só tinha filhos homens. De novo a estranheza: quem quer uma filha, quer para criar, ter consigo, partilhar a vida. Não há. / Fls.2
3 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PA ULO APELAÇÃO COM REVISÃO N 990.10.030284-1 sentido em querer uma filha com quase cinqüenta anos, sem afinidades. Nenhuma das testemunhas ouvidas - e todas elas aparentam firmeza e seriedade, a conheciam, ele, o adotante, jamais comentou com seus amigos, mesmo os íntimos, sobre a filha adotada. Há ao menos um início de prova - que não foi completada pela intransigência judicial - dando notícias de que ele já apresentava demência senil e por isso fora reprovado no exame de habilitação de motorista (fls. 118). Aí, talvez, resida toda a explicação para o misterioso processo. A negação do prosseguimento da prova, que objetivava a oitiva de seu médico, foi motivo de reiteração de agravo retido, que não se conhece porque naturalmente inócuo a esta altura. Enfim, não se percebe nenhum vínculo, nenhum liame afetivo, nenhuma demonstração de convivência, nada. Não se explica a estranhíssima adoção, não há como deixar de acompanhar-se a tese do autor que se acolhe. invertidos os ônus da sucumbjêneiar" - "" - Pelo exposto, dou provimento ao recurso, "~ ~~yf~~... Gilberto de Souza Moreira Relatoh^-S Fls.3
VOTO N 10/6706 Apelação Cível n 990.10.030284-1 Comarca: Tupã Juiz Prolator: Luís Eduardo Medeiros Grisolia Apelante: Armando Harugi Hiraishi Apelada: Maria Aparecida Machado dos Santos Hiraishi DECLARAÇÃO DE VOTO DIVERGENTE Em Recurso de Apelação interposto contra sentença que julgou improcedente Ação de Anulação de Adoção (anulação de ato jurídico consubstanciado em escritura pública), propõe o I. Relato voto pelo provimento do recurso. Ouso discordar de S. Exa., com a devida vênia. O juízo a quo entendeu que "a escritura pública preenche todos os requisitos formais e legais" e que o Apelante não produziu provas de que "os atos formalmente perfeitos tivessem sido realizados em desconformidade com a lei ou que contenham vícios". Preliminarmente, o Apelante requer a apreciação^éaseu agravo retido, no qual argúi que o indeferimento da oitiva de medico, que Apelação Cível n" 994.10.030284-1 - Tupã - voto n" 10/6706
confirmaria a incapacidade do adotante, representa cerceamento de defesa e, no mérito, alega, em síntese, que: (1) seu genitor era incapaz ao tempo da adoção da Recorrida; (2) que a adoção foi simulada, pois "a adoção só é válida quando há a efetiva vontade de adotar, sendo ainda necessária a comprovação da relação sócio-afetiva entre Adotado com o Adotante", que não teria ficado demonstrada (fl. 226). A Apelada, por sua vez, diz que (1) a incapacidade do adotante "não faz parte do pedido iniciar-, (2) inexiste prova de simulação, restando a adoção completamente regular. A d. Procuradoria de Justiça manifestou-se pelo provimento do agravo retido, para que se converta o julgamento em diligência e o médico indicado pela Apelante seja ouvido. O I. Relator deixou de apreciar o Recurso de Agravo Retido que foi expressamente reiterado, talvez diante de sua manifesta intempestividade, que aqui reconheço. O agravo ataca a r. decisão de fl. 150, publicada em 09.06.2009 no diário eletrônico; o prazo iniciou-se em 11.06.2009, quinta-feira, e expirou em 20.06.2009, sábado, prorrogando-se ao dia útil seguinte, 22.06.2009, segunda-feira. O recurso foi interposto em 24.06.2009, sendo intempestivo, e, por isso não pode ser conhecido. '^^'^4 1 Apelação Cível n" 994.10.030284-1 - Tupã - voto n" 10/6706 2
Em relação ao recurso principal, entendo que o Apelante não tem razão. As Razões vêm fundamentadas em dois pontos: a capacidade do adotante e a simulação. Quanto ao primeiro, bem decidida a questão pois, como foi apontado pela Apelada em suas Contrarrazões e reconhecido pelo prolator da sentença: a "a questão da sanidade mental do Sr. Hiruo Hiraishi não é fundamento do pedido". O próprio Apelante confirma em suas razões que a questão da incapacidade civil de seu pai "de fato surgiu somente no transcorrer do processo" (fl. 211), mais especificamente em audiência. A matéria não foi aduzida como fundamento do pedido na petição inicial e foi trazida posteriormente ao saneamento do processo, último momento para o acréscimo de causa de pedir, nos termos dos artigos 294 e 264 do Código de Processo Civil. Concluo, portanto, que a questão não faz ou pode fazer parte da presente Ação, devendo ensejar outra, caso assim entenda conveniente o Apelante. Quanto à simulação, não tem melhor sorte o Recurso, y / Apelação Cível n" 994.10.030284-1 - Tupã - voto n" 10/6706 ' 3
A adoção foi realizada em 03.05.2000 e seus eventuais vícios são regidos pelo antigo Código Civil. Das três hipóteses elencadas pelo artigo 102 do Código Beviláqua, o Apelante parece tentar subsumir o caso sob análise à do inciso II ^Haverá simulação nos atos jurídicos em geral quando contiverem declaração, confissão, condição, ou cláusula não verdadeira"). A verdade referida pelo dispositivo, porém, não se refere à afetividade entre pai e filho, mas apenas à vontade das partes em realizar o ato; nesse aspecto, nenhum vício foi indicado. Os precedentes trazidos pelo Apelante foram julgados com base no atual Código Civil e não são análogos às circunstâncias deste caso. Ademais, a pretensão de anular ato por simulação extinguia-se em quatro anos, por força do artigo 178, parágrafo 9 o, inciso V, alínea "b" do Código de 1916. Tendo a adoção sido realizada em 03.05.2000, verifica-se que a prescrição ocorreu enr03.05.2004, muito antes da proposição da ação, em 18.10.2007. ^C \\ Apelação Cível n"994.10.030284-1 - Tupã - voto n" 10/6706 4
Isto posto, pelo meu voto, nego provimento ao recurso. Luiz Antônio Costa Relator Apelação Cível n" 994.10.030284-1 - Tupã-voto n" 10/6706