II. Ambos os Senhores Advogados deveriam, pois, ter deixado de agir por conta dos respectivos clientes.

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PARECER Nº. 2/PP/2208-P CONCLUSÕES: I. Quer ao abrigo das disposições do actual Estatuto da Ordem dos Advogados (Lei nº. 15/2005, de 26 de Janeiro), entrado em vigor em 1.02.2005, quer das do revogado estatuto (Decreto-Lei nº. 84/84, de 16 de Março), existe conflito de interesses quando um Senhor Advogado representa o cabeça-de-casal, em processo de inventário, e outro Senhor Advogado, exercendo a actividade profissional no mesmo escritório do primeiro faça-o ou não em sociedade com aquele -, representa outro interessado, no mesmo inventário, com interesses antagónicos, relativamente aos do cabeça-de-casal. II. Ambos os Senhores Advogados deveriam, pois, ter deixado de agir por conta dos respectivos clientes. I. Por despacho do Exmo. Senhor Presidente do Conselho de Deontologia do Porto, de 28.01.2008, foi remetido a este Conselho Distrital, diverso expediente oriundo do Tribunal Judicial ( ), o qual havia sido enviado para o Conselho Distrital, em 26.10.2007, traduzido no que segue, tudo certificado e referente aos autos de inventário (herança) nº. ( ): a) Reclamação contra a relação de bens, apresentada em juízo a 24.06.2004, subscrita pelo interessado ( ), acompanhada de diversos documentos comprovativos de despesas efectuadas em bem da herança; b) Outra reclamação contra a mesma relação de bens, apresentada em juízo em data imperceptível, pela interessada ( ), subscrita pelo Advogado, Sr. Dr. ( ); c) Teor integral do depoimento de parte, ordenado oficiosamente, e prestado pelo interessado ( ), em 13.07.2007; d) Despacho da Senhora Juiz, da mesma data, sequente à interrupção do depoimento referido no parágrafo anterior até que este Conselho se pronuncie -, no qual se lê, textualmente, e entre mais, que:

- O Tribunal verifica, com alguma estranheza, que os dois interessados até agora ouvidos em depoimento de parte, reagem com surpresa quando lhes é dado a conhecer o teor das suas reclamações de fls. 146 e 98 (...); - O interessado ( ) afirmou, peremptoriamente, que entregou os documentos de fls. 100 e seguintes ao Mandatário do cabeça-de-casal; ou seja, aparentemente, a pessoa que apresenta a relação de bens (o Exmo. Mandatário do cabeça-de-casal), faz chegar aos autos uma reclamação referente à mesma; - A outra reclamação, a de fls. 146, foi apresentada por um Ilustre Advogado do mesmo escritório do Mandatário do cabeça-de-casal; - As reclamações de fls. 98 e 146 foram integralmente atendidas, sem intervenção do Tribunal; - (...) o Tribunal (...) entende que há aqui clara incompatibilidade de patrocínios, que faz com que os mesmos advogados reclamem das próprias peças que apresentam, para depois dar razão à reclamação. e) Despacho da Senhora Juiz, de 18.10.2007, ordenando a remessa da certidão para este Conselho Distrital, despacho que refere, também textualmente, e entre mais, que: - O Tribunal entende que dois Advogados do mesmo escritório não podem patrocinar o cabeça-de-casal num inventário e os reclamantes; - Nos presentes autos, um dos Ilustres Advogados apresenta a relação de bens e o seu colega de escritório reclama dela de imediato, o 1º. corrige a relação de bens; - Deontologicamente, parece-nos incorrecto há clara incompatibilidade num mesmo escritório. II. A primeira observação a fazer é que não decorre da documentação apresentada tudo o que consta dos despachos da Senhora Juiz. Com efeito, não se sabe, das menções insertas no depoimento do interessado ( ), não só quem é um dos Senhores Advogados (as referências ao Sr. Dr. ( ) e ao Sr. Dr. ( ), a fls. 8 da transcrição do depoimento, e ao Sr. Dr. ( ), a fls. 20 do mesmo

depoimento, são insuficientes para a identificação), como também se os dois Advogados em questão, exercem a actividade profissional no mesmo escritório. Por outro lado, a exercerem a actividade no mesmo escritório, desconhece-se, face aos elementos fornecidos, se a exercem, ou não, em sociedade. Dar-se-á, não obstante, por assente, a factualidade constante dos dois despachos da Senhora Juiz. E os factos transcritos já permitem emitir parecer. III. A questão não é, manifestamente, de incompatibilidade, que se traduziria na impossibilidade de exercer, em simultâneo, a actividade de advogado, com uma qualquer outra actividade, cargo ou função cfr. artigos 76º. e 77º. EOA. Será uma questão de eventual conflito de interesses, prevista no artigo 94º. EOA (Lei nº. 15/2005, de 26 de Janeiro), entrado em vigor em 1.02.2005, correspondente ao artigo 83º., nº. 1, alíneas a) e b) do anterior EOA (Decreto-Lei nº. 84/84, de 16 de Março). Com potencial interesse referem-se já, também, o artigo 5º., nº. 7, do Decreto-Lei nº. 229/2004, de 10 de Dezembro (Regime Jurídico das Sociedades de Advogados), entrado em vigor a 9.01.2005, e o artigo 6º., n. 5, do Decreto-Lei nº. 513-Q/79, de 26 de Dezembro (anterior Regime Jurídico das Sociedades de Advogados). Faz-se referência à legislação já revogada, quer ao anterior EOA, quer ao anterior RJSA, visto que os factos relatados terão ocorrido, se não exclusivamente, ao menos principalmente, ao abrigo da anterior legislação, embora seja de concluir que o mandato conferido aos Senhores Advogados se manterá, actualmente. Pelo menos, se outros actos não tivessem praticado no processo, sempre os Senhores Advogados teriam intervindo nos autos, aquando da produção do depoimento de parte do interessado ( ). IV. Supondo que os Senhores Advogados em causa exerciam a actividade profissional em sociedade, ao abrigo do anterior RJSA, haveria de atender-se a que o mandato conferido apenas a algum ou alguns dos sócios de uma sociedade de advogados, considera-se automaticamente extensivo aos restantes, salvo se a não extensibilidade

do mandato constar expressamente da procuração cfr. art. 5º., parte final, DL 513-Q/79, de 26/XII. Pareceria, pois, que, de um ponto de vista meramente formal, desde que a procuração excluísse o segundo Colega da representação o que não sabemos, aliás -, cada um dos Senhores Advogados poderia representar seu interessado, com interesses opostos, no processo de inventário. [Curiosamente, a solução do actual RJSA é a oposta: o art. 5º.-7 DL 229/2004, de 10/XII prevê que (...) o mandato conferido a apenas algum ou alguns dos sócios de uma sociedade de advogados não se considera automaticamente extensivo aos restantes sócios]. V. Em qualquer caso, entendemos que sempre se mostrariam violadas as normas do EOA que se referem ao conflito de interesses. Como se tentará mostrar adiante. Nos termos do disposto no art. 83º.-1 a) e b) do anterior EOA, constituem deveres do advogado, nas relações com o cliente, recusar mandato, nomeação oficiosa ou prestação de serviços em questão em que já tenha intervindo em qualquer outra qualidade, ou seja conexa com outra em que represente, ou tenha representado, a parte contrária; e recusar mandato contra quem noutra causa seja seu mandante. E, segundo o art. 94º. do actual EOA (que se transcreve): 1 O advogado deve recusar o patrocínio de uma questão em que já tenha intervindo em qualquer outra qualidade, ou seja conexa com outra em que represente, ou tenha representado, a parte contrária. 2 O advogado deve recusar o patrocínio contra quem, noutra causa pendente, seja por si patrocinado. 3 O advogado não pode aconselhar, representar ou agir por conta de dois ou mais clientes, no mesmo assunto ou em assunto conexo, se existir conflito entre os interesses desses clientes. 4 Se um conflito de interesses surgir entre dois ou mais clientes, bem como se ocorrer risco de violação do segredo profissional ou de diminuição da sua

independência, o advogado deve cessar de agir por conta de todos os clientes, no âmbito desse conflito. 5 O advogado deve abster-se de aceitar um novo cliente se tal puser em risco o cumprimento do dever de guardar sigilo profissional relativamente aos assuntos de um anterior cliente, ou se do conhecimento destes assuntos resultarem vantagens ilegítimas ou injustificadas para o novo cliente. 6 Sempre que o advogado exerça a sua actividade em associação, sob a forma de sociedade ou não, o disposto nos números anteriores aplica-se, quer à associação, quer a cada um dos seus membros. VI. Em rigor, como se vê do que ficou transcrito, não existe norma que contemple, inequivocamente, a situação descrita nos despachos da Senhora Juiz do processo de inventário, apesar de se notar o esforço feito, na actual redacção do EOA, para abranger um leque mais amplo de previsões. Mas temos de considerar, na interpretação, quer da disposição do anterior EOA [art. 83º.-1 a) e b)], quer da do actual estatuto (art. 94º.), que a questão em apreço está abrangida por qualquer destes preceitos. De resto, a enumeração do artigo não é exaustiva, como refere ANTÓNIO ARNAUT, em anotação ao art. 83º. do anterior EOA cfr. EOA anotado, 8ª. ed., pág. 100. Por outro lado, a situação em causa, configura, no mínimo, uma séria probabilidade de comunicação entre os dois Senhores Advogados, quer enquanto sócios da mesma sociedade se é o caso quer, sempre, enquanto colegas partilhando o mesmo escritório, relativamente aos factos de um processo, em que um representa o cabeçade-casal e outro um interessado com interesses antagónicos, relativamente àquele. Ora, esta mera probabilidade é absolutamente de repudiar, em atenção aos valores de lealdade e confiança que, como refere ANTÓNIO ARNAUT, EOA anotado, 9ª. ed., pág. 111, são as pedras basilares das relações advogado-cliente. É inaceitável o cliente admitir como viável que o seu Advogado possa, para além da defesa dos seus interesses, representar interesses antagónicos aos dele.

Como se diz, em douto parecer do Conselho Distrital de Lisboa, de 14.07.2004, relatado pelo Senhor Dr. João Espanha, mesmo que se tenha por possível e provável que os Colegas em questão actuariam com toda a probidade, entendemos que o risco de um conflito de interesses, ainda que meramente eventual ou improvável no caso concreto é, em abstracto, intolerável. Perfilhamos, inteiramente, esta posição, o que já seria suficiente para concluir pela existência de conflito de interesses, na situação sob análise. VII. Mas, no caso concreto, parece estarmos para além da mera probabilidade. Com efeito, se o Mandatário do cabeça de casal, que elaborou e apresentou em juízo a relação de bens, foi quem - ao menos entregou, também, em juízo, uma reclamação de outro interessado à relação que ele próprio elaborara; e se o Mandatário de outro interessado, partilhando o escritório com o Mandatário do cabeça-de-casal, elabora e apresenta outra reclamação, prontamente aceite por este, já não estamos perante meras probabilidades, mas perante certezas. E se dizemos ao menos quanto à entrega, em juízo, pelo Mandatário do cabeça-decasal, de reclamação à relação de bens que ele próprio elaborara, é para enfatizar que, mais do que perguntar ao interessado ( ), aquando da prestação do seu depoimento de parte, onde entregara ele o papel por si subscrito cfr. fls. 20 do depoimento -, importaria ter-lhe perguntado quem o havia elaborado. VIII. Seja como for, são permitidas as seguintes conclusões: I. Quer ao abrigo das disposições do actual Estatuto da Ordem dos Advogados (Lei nº. 15/2005, de 26 de Janeiro), entrado em vigor em 1.02.2005, quer das do revogado estatuto (Decreto-Lei nº. 84/84, de 16 de Março), existe conflito de interesses quando um Senhor Advogado representa o cabeça-de-casal, em processo de inventário, e outro Senhor Advogado, exercendo a actividade profissional no mesmo escritório do primeiro faça-o ou não em sociedade com aquele -, representa outro interessado, no mesmo inventário, com interesses antagónicos, relativamente aos do cabeça-de-casal. II. Ambos os Senhores Advogados deveriam, pois, ter deixado de agir por conta dos respectivos clientes.

É, s. m. o., o meu parecer. Viana do Castelo, 12 de Fevereiro de 2008 Relator António Rio Tinto Costa