Exmos. Senhores Juízes Conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça. Proc. NUIPC 147/13.3TELSB-K.L1
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- Alexandre Ramires de Barros
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1 Exmos. Senhores Juízes Conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça Proc. NUIPC 147/13.3TELSB-K.L1 Antero Luís, Juiz Desembargador, visado no incidente de recusa deduzido pelo Ministério Público, vem dar cumprimento ao disposto no nº 3 do artigo 45º do Código de Processo Penal, pronunciando-se sobre o requerido, o que faz da forma seguinte: 1º O signatário perante tal incidente só tem uma palavra - perplexidade ; 2º A perplexidade do signatário radica em dois tipos de argumentos; 3º Mas, antes da explanação dos mesmos, vejamos os factos em que se estriba o Ministério Público para requerer o presente incidente de recusa; 4º O Ministério Público veio apresentar pedido de recusa contra o juiz relator (...) por entender, em síntese conclusiva, que o juiz desembargador, ora sorteado para relatar o recurso interposto de uma decisão proferida no Tribunal Central de Instrução Criminal, não oferece garantias de imparcialidade e isenção (...), uma vez que havia efectuado uma participação junto do Conselho Superior da Magistratura, visando actos processuais contra si praticados pelo (mesmo) juiz que proferiu a decisão (agora) sob recurso; 5º Acrescenta o Ministério Público que é do conhecimento público que o Sr. Juiz Desembargador foi objecto de investigação criminal desencadeada por certidões extraídas de processos pendentes no DCIAP, ainda que sem conexão com os presentes autos e que, 1
2 após aqueles autos terem sido arquivados [pelo senhor Procurador Geral Adjunto, junto do Supremo Tribunal de Justiça], o juiz visado apresentou participação junto do Conselho Superior da Magistratura Judicial contra o juiz de instrução criminal, Dr. Carlos Alexandre, o mesmo juiz que proferiu o despacho ora em recurso, relacionada com o facto de o seu nome ter sido envolvido no supracitado processo ; 6º E, a final, condescende o Ministério Público, não se pretende concluir que o Sr. Desembargador esteja impedido de intervir em qualquer (outro) processo que tenha sido tramitado no DCIAP (...) ; 7º Ora, a primeira nota a salientar é precisamente a de que - a haver coerência processual - essa seria a consequência incontornável do raciocínio do presente pedido de recusa, isto é, a impossibilidade de o signatário poder decidir qualquer processo do DCIAP; Mas, vamos por partes, 8º É verdade que no âmbito do Proc. 3902/13.0JFLSB, o Ministério Público, com a concordância do Meritíssimo Juiz de Instrução, extraiu uma certidão que remeteu ao Venerando Supremo Tribunal de Justiça, para apurar eventuais responsabilidades criminais do signatário e de mais dois Juízes Desembargadores (Dr. Luís Vaz das Neves e Horácio Correia Pinto) e um Procurador-Geral Adjunto (Dr. Júlio Carneiro Pereira), a qual veio a ser arquivada por despacho do Digno Procurador-Geral Adjunto junto daquele tribunal de 01 de Junho de 2015; 9º Na sequência de tal arquivamento e depois de o processo ter transitado para o tribunal de julgamento, onde hoje se encontra, o signatário, através do seu advogado, apresentou em 16 de Setembro de 2016, queixa ao Conselho Superior da Magistratura visando a actuação funcional do Meritíssimo Juiz naquele processo, a qual veio a ser arquivada e, embora o Conselho Superior da Magistratura não tenha fornecido os fundamentos da deliberação, para o signatário o assunto ficou encerrado (Doc. Nº 1); 2
3 10º Tais factos foram noticiados pela comunicação social, bem contra a vontade do signatário já que sempre recusou qualquer comentário como ficou patente nas referidas notícias; 11º Desde que o signatário apresentou a referida queixa já decidiu, vindos do mesmo Tribunal ora recorrido, enquanto Juiz Desembargador Relator, o Proc. Nº35/15.9F1EVR-A.L1, tendo sido adjunto no Processo Nº 93/13.0JELSB-H.L1 e, anteriormente a essa data, foi relator em sete (7) processos e adjunto em outros sete (7) (Doc. Nº 2); 12º Em nenhum destes processos, perante a mesma realidade e factualidade, o Ministério Público sentiu necessidade de colocar em causa a imparcialidade do signatário; 13º Perante esta actuação díspar do Ministério Público surge-nos a primeira perplexidade; 14º Na verdade, apesar do signatário muito ter pensado no assunto e não admitindo, sequer como mero pensamento, dada a sujeição do Ministério Público ao princípio da legalidade, que o mesmo quer escolher o juiz, só nos resta a perplexidade; 15º Mas se por um lado a actuação díspar do Ministério Público nos causa perplexidade, não nos deixa menos perplexo (segunda perplexidade), a utilização do incidente de recusa para garantir a imparcialidade do julgador do Tribunal de recurso perante o julgador do Tribunal recorrido; 16º O Ministério Público ao assentar o fundamento da recusa na participação disciplinar que o signatário fez do juiz que proferiu a decisão recorrida, transforma o incidente de recusa numa questão entre juízes de tribunais diferentes, como se os mesmos fossem parte no processo; 17º Ora, com o devido respeito, o signatário e o Meritíssimo Juiz que proferiu a decisão recorrida, não são partes no processo, nem têm interesse pessoal na decisão do mesmo; 3
4 18º O signatário não tem nenhuma inimizade com o Meritíssimo Juiz que proferiu a decisão recorrida, e a queixa que apresentou, como se pode constatar do seu conteúdo, tem apenas na base questões funcionais relacionadas com a actuação do mesmo, naquilo que diz respeito ao signatário, no processo em causa; 19º Mas se por um lado, o incidente de recusa não visa as relações entre tribunais e seus juízes, por outro, a simples circunstância de os órgãos de comunicação social terem noticiado os factos relatados, não é suficiente para colocar em causa a imparcialidade do signatário em qualquer das duas dimensões em que a mesma se desdobra; 20º Inexiste assim, em absoluto, qualquer risco de a intervenção do signatário no processo, poder ser considerada suspeita, tanto mais que a questão sob recurso tem exclusiva natureza processual/formal e o Tribunal de Recurso tem natureza colegial; 21º Na verdade, nenhum dos argumentos aduzidos pelo Ministério Público ou qualquer outro, pode ser considerado motivo sério e grave, adequado a gerar desconfiança sobre a imparcialidade do signatário; 22º Perante a ausência de pressupostos legais de recusa, o signatário entende, como entendeu nos anteriores processos em que interveio, vindos do mesmo Tribunal recorrido e subscritos pelo mesmo Meritíssimo Juiz, que não existem, como nunca existiram, quaisquer motivos que justifiquem uma recusa ou escusa. 23º Então, como agora, o signatário estava, como está, em condições de exercer a sua função, cumprindo as suas obrigações como juiz; É este a nossa pronúncia sobre o pedido de recusa apresentado pelo Ministério Público; 24º 4
5 Assim, no que se refere ao pedido de recusa apresentado pelo Ministério Público, Vossas Excelências Colendos Conselheiros, ponderando tudo o supra exposto e o superior interesse da realização da Justiça, decidirão como for de Direito. Lisboa 08 de Março de 2017 (Elaborado e revisto pelo subscritor art. 94.º, n.º 2 do C.P.Penal) (Antero Luís) Juiz Desembargador do Tribunal da Relação de Lisboa JUNTA: dois documentos. 5
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