Acórdão 4a Turma Ônus da prova. Fato constitutivo. Não tendo a autora se desincumbido do ônus da prova, não merece reforma a decisão de 1º grau, nos termos do art. 818, da CLT c/c art. 333, I, do CPC. Vistos, relatados e discutidos estes autos de recurso ordinário, em que figuram, como recorrente, FERNANDA DA SILVA SANTOS e como recorrida, C & A MODAS LTDA. Inconformada com a sentença proferida pelo Juiz Marco Antonio Mattos de Lemos na 72ª VT/RJ, às fls. 246/8 que julgou improcedente o pedido, recorre ordinariamente a reclamante, consoante razões expendidas às fls. 254/7. Insurge se a reclamante contra o indeferimento das horas extras, sob o argumento de que a prova dos autos comprovam a existência de labor extraordinário. Requer o provimento do presente recurso, para reformar a decisão de 1º grau nos pontos atacados. Custas às fls. 258. Não houve apresentação de contrarrazões. É o relatório. V O T O Das horas extras A reclamante alega que, durante o período de 08/2007 a 06/2008, laborou de segunda a sábado das 8:30 às 17:30, e aos domingos das 14h às 21:30, com 30 min. de intervalo intrajornada e com uma folga semanal. Sustenta que no interregno de 07/2008 a 07/2009, trabalhou de segunda a sábado das 8:30 às 19h, e aos domingos das 14h às 21:30, com 30 min. de intervalo para refeição e com uma folga semanal. A reclamada, na peça de defesa, afirma que a reclamante da admissão até 01.01.2009, cumpria jornada de 36 horas semanais, com 30 min. de intervalo intrajornada, passando a partir desta data a cumprir 44h 20003 1
semanais, com 1h de intervalo para refeição. O Juízo de 1º grau decidiu que: A prova oral declarou que: Não há nenhuma alegação de que a empresa obrigava ao funcionário a chegar mais cedo para troca de uniformes e a fato de irem sem maquiagem e somente querem se trocar na empresa, podendo fazer isso em casa, não induz ao pagamento desse tempo a disposição do empregador, eis que não obrigatório e com opção de virem preparadas de sua residência. Percebe se, ainda, que em nada alude a reclamante em sua peça de ingresso, mais uma vez sobre o fato. Depoimento da autora às fls. 242 (...) que era marcado o cartão de ponto por ponto eletrônico; que marcava na entrada e na saída; que marcava o horário de intervalo; que assinava os cartões de ponto; que os horários que vinham nos registros de frequência não eram aqueles marcados pela autora; os eletrônicos mesmos eram manipulados; que havia banco de horas; que tinha folga compensatória pelo banco de horas, que, às vezes, ia para a loja, trabalhava uma hora e a mandavam de volta para casa; (...) que chegava emn torno de 08h30, começando a trabalhar por volta das 09h00/09:30 por volta de se prepara, que levava cerca de meia horar para isso; que ia até 17h00 horas, de segunda à sábado; que quando trabalhava seis horas tinha 20003 2
meia hora de intervalo, que trabalhava aos domingos; que aos domingos chegava por volta das 14h00/14h30, começando a trabalhar às 15h00, indo até 21h00/21h30; que na saída batia o cartão, aí trocava de roupa e tirava a maquiagem para ir embora, da mesma forma que na entrada; que quando passou trabalhar oito horas, começava às 08h30/9h00 até às 19h00, da mesma forma acima relatada e, com as oito horas, uma hora de intervalo (...). GN. Testemunha da autora da Srª Danielle Santos (...) que chegava a depoente na loja por volta de 08h00/08h30, saindo às 17h00/17h30; que no horário de 06 horas tinha 30 minutos de intervalo; que quando passou a trabalhar no horário de 08 horas, saía às 19h00/19h30, aí tendo uma hora de intervalo; que marcava cartão de ponto; que recebia o relatório com os horários para assinar; que os cartões eram manipulados e adulterados pelos funcionários do setor administrativo, do RH (...) que depois que se arruma e faz a maquiagem é que bate o ponto, levando em torno de 30 minutos; da mesma forma na saída, só podendo bater o cartão depois de ter tirado a maquiagem e trocado de roupa, demorando em torno de 30 a 40 minutos (...). GN. Testemunha da ré Srª Thiana da Silva Carvalho 20003 3
(...) que a depoente marca os seus cartões de ponto; que marca direitinho na entrada e na saída; que pode ir com o uniforme sem a camisa ou chegar mais cedo e se trocar na loja; que após estar vestida com uniforme e maquiada bate o cartão; que para trocar de roupa e maquiar leva em torno de 15 minutos no máximo; que na saída bate cartão e se troca, levando no máximo 10 minutos; que não há como haver alteração no ponto pois o mesmo é eletrônico e feito por uma empresa terceirizada, (...) que não há nenhuma manipulação de horário e o ponto vem sempre correto; que afirma que a Dª Priscila não manipulava os horários (...). GN. Em conformidade com o princípio do poder instrutório do juiz e do livre convencimento (CLT, art. 765 e CPC, art. 131), cabe ao julgador conduzir a instrução e apreciar livremente o valor das provas dos autos. Neste sentido, em relação à valoração da prova oral, em atenção ao princípio da imediação pessoal, deve se prestigiar o exame do conjunto probatório feito pelo Juízo de 1º grau, pois este teve contato direto com a prova oral, podendo melhor fixar seu real conteúdo, a partir de uma série de circunstâncias que os autos não podem registrar. Compulsando os autos, verifico que os cartões de ponto foram acostados às fls. 106/28 e não refletem marcação uniforme, sendo registradas horas extras e banco de horas. Assim, considerando que a prova restou empatada, no que tange a idoneidade dos cartões de ponto, entendo que a reclamante não se desincumbiu do ônus da prova, devendo ser mantida a sentença recorrida quanto ao presente tema. NEGO PROVIMENTO. Pelo exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso ordinário da reclamante. A C O R D A M os Desembargadores que compõem a 4ª Turma 20003 4
do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, NEGAR PROVIMENTO ao recurso ordinário da reclamante. Rio de Janeiro, 5 de Fevereiro de 2013. Luiz Augusto Pimenta De Mello Desembargador do Trabalho Relator 20003 5