A CONSTRUÇÃO DO JORNAL COMO ATIVIDADE DE ESTUDO EM SALA DE AULA.

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Transcrição:

1 A CONSTRUÇÃO DO JORNAL COMO ATIVIDADE DE ESTUDO EM SALA DE AULA. Vanilda Gonçalves de Lima. Suely Amaral Mello. Pós-Graduação em Educação, UNESP-Marília. vanildalima@marilia.unesp.br Linha de Pesquisa: Teoria e Práticas Pedagógicas Resumo O projeto tem por objetivo promover a construção coletiva de um Jornal como atividade de estudo em sala de aula, tendo em vista analisar e compreender como a atividade de estudo pode contribuir para o desenvolvimento do processo de aprendizagem da linguagem escrita como elemento cultural complexo crianças durante o período do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental. A investigação será realizada em uma escola pública envolvendo, como sujeitos da pesquisa, crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental, as quais serão acompanhadas pela educadora-pesquisadora durante o período de apropriação da língua materna. Portanto, a pesquisa caracteriza-se como investigação longitudinal, fundamentada na perspectiva da Teoria Histórico-Cultural e será desenvolvida por meio da abordagem metodológica da pesquisa experimental. Os dados gerados serão categorizados, ordenados e analisados na perspectiva da análise microgenética e do paradigma indiciário de modo a evidenciar o processo de apropriação e objetivação da linguagem escrita das crianças a partir das produções escritas do gênero jornalístico. Palavras-chave: Atividade de estudo. Produção escrita. Jornal. Gênero jornalístico. Introdução O presente projeto de investigação científica tem por base os pressupostos da abordagem da Teoria Histórico-Cultural como sendo uma vertente da psicologia sociohistórica que surgiu com a finalidade de analisar, compreender e apresentar alternativas de superação das condições históricas, sociais, políticas e culturais da situação da União Soviética no início do século XX. Para a Teoria Histórico-Cultural, o desenvolvimento e constituição do homem como ser humano resulta de uma intensa e complexa relação ativa e reflexiva estabelecida entre ele e a natureza, pois este interage ativamente com o meio físico e social em busca de satisfazer, primeiramente, suas necessidades primárias como, por exemplo, se alimentar, saciar sua cede, ou seja, sobreviver-se enquanto espécie humana, portanto, sua ação é motivada sempre por um desejo, ou seja, conduzido por uma necessidade criada por ele para atingir determinado fim objetivo a ser alcançado. Nesse sentido, o Homem se humaniza por meio das relações estabelecidas com o outro

2 em seu entorno sócio-histórico e cultural, desenvolvendo uma determinada atividade para satisfazer suas necessidades e, dessa forma, desenvolve suas capacidades, habilidades e aptidões específicas do ser humano. Sendo assim, o ser humano é, pois, um ser histórico-cultural (MELLO, 2000, p. 136) que se encontra em constante processo de desenvolvimento. O processo de apropriação das riquezas culturais, produzidas e acumuladas pelos homens ao longo do processo de desenvolvimento histórico da humanidade, ocorre sempre de forma ativa, ou seja, os homens estabelecem relações diretas com o mundo exterior por meio da atividade humana materializada no objeto - instrumento. O instrumento é o produto da cultura material que leva em si, da maneira mais evidente e mais material, os traços característicos da criação humana. Não é apenas um objeto de uma forma determinada, possuindo dadas propriedades. O instrumento é ao mesmo tempo um objeto social no qual estão incorporadas e fixadas as operações de trabalho historicamente elaboradas (LEONTIEV, 1978, p. 268, grifo do autor). O relacionamento direto do homem com o instrumento da cultura humana, enquanto objeto social, diferentemente dos animais, o possibilita o desenvolvimento do processo de apropriação das operações psicológicas incorporadas no objeto e desenvolver a formação de novas aptidões, habilidades, capacidades e funções psíquicas superiores fundamentais ao processo de humanização, ou seja, proporciona a capacidade de desenvolver novas e importantes capacidades essenciais à espécie humana como, por exemplo, a linguagem oral e escrita, o cálculo, pensamento, raciocínio, a memória, atenção voluntária e formação de condutas desejáveis. A categoria de atividade foi desenvolvida inicialmente por Hegel em seu sistema filosófico elaborado entre os séculos XVIII e XIX e, posteriormente, tomada por Kal Marx, na construção da ideologia alemã. Entre os anos de 1920 e 1930, a categoria de atividade foi retomada, primeiramente, por Vigotsky para analisar e superar os problemas da psicologia nessa época histórica e, posteriormente, por seus seguidos como Leontiev, Davidov e outros, tendo em vista compreender os fenômenos especiais de desenvolvimento psicológico de constituição da personalidade do ser humano, isto é, a ideia de atividade humana como base e fundamento de toda a vida humana, como ressalta Repkin (2003, p. 1). Nesse sentido, a atividade do trabalho constitui-se o princípio geral de desenvolvimento humano, pois estabelece nitidamente a diferenciação deste com os

3 animais por sua capacidade de atuar ativamente na natureza, planejar suas ações e produzir os conhecimentos materiais (objetos) e não materiais (cultura) que satisfaçam suas necessidades vitais, modificando as relações socioculturais em seu entorno como a si próprio, processos essenciais de humanização do Homem. (LEONTIEV, 1978). Nas palavras de Oliveira (2006, p. 8) a atividade vital humana é uma atividade orientada a um fim, o qual é sempre determinado pelo contexto. Assim sendo, é uma atividade dirigida por um fim que obedece não mais a leis biológicas, mas a leis histórico-sociais. A constituição do homem como sujeito histórico resulta de suas relações de interação socioculturais e históricas estabelecidas com o outro na sociedade, atuando de forma ativa no processo de apropriação e objetivação da herança cultural produzida pela humanidade. De acordo com Vigotsky, [...] o homem é um ser social, que fora da interação com a sociedade ele nunca desenvolverá em si aquelas qualidades, aquelas propriedades que desenvolveria como resultado do desenvolvimento sistemático de toda a humanidade. (VIGOTSKI, 2010, p. 697-698). Consideramos que o processo de interação ativa do homem com a sociedade proporciona o desenvolvimento das capacidades essencialmente humanas, como já mencionamos anteriormente, caracterizada como a linguagem oral e escrita, cálculo, atenção, memória e a formação de condutas que promovem o desenvolvimento das funções psicológicas superiores do ser humano, contribuindo para a elaboração da Lei Geral de desenvolvimento humano da Teoria Histórico-Cultural. Essa lei consiste no fato de que as funções psíquicas superiores da criança, as propriedades superiores específicas ao homem, surgem a princípio como formas de comportamento coletivo da criança, como formas de cooperação com outras pessoas, e apenas posteriormente elas se tornam funções interiores individuais da própria criança. (VIGOTSKI, 2010, p. 699, grifo do autor). A atividade de interação social estabelecida pelo sujeito histórico promove o processo aprendizagem dos conhecimentos espontâneos (não científicos) e, principalmente, dos conhecimentos teóricos e científicos (conhecimento escolar), elevando o nível de desenvolvimento das capacidades e habilidades cognitivas do ser humano rumo ao desenvolvimento das funções psíquicas superiores da mente humana.

4 O processo de apropriação e objetivação dos conhecimentos históricos e culturais pelo sujeito ocorre, fundamentalmente, por meio de um processo de mediação estabelecido pela Educação, isto é, o processo de educação medeia a relação entre o sujeito (homem) e o objeto de conhecimento (cultura humana), proporcionando o desenvolvimento das funções psicológicas superiores impulsionadas pela aprendizagem coletiva e individual dos conhecimentos materiais e não materiais. Leontiev (1978) ressalta que há uma relação muito estreita e, inseparável, entre desenvolvimento humano e educação, pois é por meio do processo de educação que o sujeito histórico entra em contato direto com o conhecimento produzido e acumulado historicamente pela humanidade, se apropria e objetiva-o na formação de suas capacidades e habilidades humanas. Para Mello (2000, p. 138) o processo de desenvolvimento resulta do processo de aprendizagem. Esse processo de aprendizagem da cultura e de reprodução das aptidões humanas nelas encarnadas é um processo socialmente mediado. Assim sendo, a educação consiste em um processo pelo qual ocorre o processo de transmissão crítica dos conhecimentos históricos produzidos e acumulados pela humanidade, bem como transmitido ativamente às novas gerações com a finalidade de promover o processo de ensino e aprendizagem na perspectiva da educação desenvolvente. A perspectiva da Teoria Histórico-Cultural apresenta muitas e importantíssimas contribuições e implicações pedagógicas para promover o processo de desenvolvimento humano do sujeito histórico no âmbito da educação escolar, pois reconhece a instituição educacional como a responsável pelo processo de transmissão ativa dos conhecimentos históricos e culturais, tendo por finalidade proporcionar aos sujeitos da aprendizagem às condições necessárias de apropriação e objetivação da herança cultural e promover o processo de desenvolvimento das capacidades, habilidades e aptidões humanas. Assumir um posicionamento político e consciente do processo de educação como indispensável à formação humana do Homem consiste em considerar que a historicidade do homem implica defender a concepção de que o gênero humano pode tornar-se sujeito na formação dos processos psicológicos humanos, por meio da educação (DUARTE, 2006, p. 254). O processo de mediação da atividade de ensino e aprendizagem na educação escolar acontece por meio da ação planejada, intencional e consciente do educador frente às reais necessidades de intervenção pedagógica apresentadas pelos sujeitos da aprendizagem. Como mediador, o educador tem por finalidade proporcionar condições

5 favoráveis para que a criança possa ampliar seus conhecimentos cotidianos, elevando-os ao nível de apropriação dos conhecimentos científicos no contexto da educação escolar como explicita Vygotski: [...] O desenvolvimento dos conceitos científicos se inicia na esfera do caráter consciente e voluntário e continua mais longe, brotando de baixo, na esfera da experiência pessoal e do concreto. O desenvolvimento dos conceitos espontâneos começa na esfera do concreto e do empírico e se move na direção das propriedades superiores dos conceitos: o caráter consciente e voluntário. A relação entre o desenvolvimento destas duas linhas opostas revela sem dúvida alguma sua verdadeira natureza: a conexão entre a zona de desenvolvimento próximo e o nível atual de desenvolvimento. (VYGOTSKI, 2001, p. 254 tradução nossa e grifos do autor). Na perspectiva da Teoria Histórico-Cultural, a atividade de mediação do educador parte do conhecimento real que a criança já possui sobre o objeto de conhecimento, ou seja, da Zona de Desenvolvimento Real (ZDR), de forma a atuar ativamente na área das capacidades e potencialidades de aprendizagem da criança (Zona de Desenvolvimento Proximal) para que ocorra efetivamente o processo de desenvolvimento das capacidades e potencialidades de apropriação dos conhecimentos (Zona de Desenvolvimento Potencial) atingindo, novamente, outro nível de desenvolvimento real de apropriação e objetivação de conhecimentos históricos e culturais. Esse processo é constituído de forma dinâmica e dialética que, por sua vez, eleva os níveis de desenvolvimento educacional e humano da criança em idade préescolar e escolar. A esse respeito, ressalta a autora abaixo: [...] Para Vygotsky, ao fazer com ajuda de um parceiro mais experiente aquilo que ainda não é capaz de fazer sozinha, a criança se prepara para, em breve, realizar a atividade por si mesma. Dessa forma, só há aprendizagem quando o ensino incidir na zona de desenvolvimento próximo. Se ensinarmos para a criança aquilo que ela já sabe, não haverá nem aprendizado e nem desenvolvimento. O mesmo acontecerá se ensinarmos algo que está muito além de sua possibilidade de aprendizagem, ou seja, para além daquilo que ela possa fazer com ajuda de alguém [...] (MELLO, 2002, p. 6). Podemos constatar que o processo de aprendizagem escolar promove o processo de desenvolvimento das capacidades, habilidades e aptidões essenciais do Homem no processo de humanização, ou seja, das funções psíquicas superiores do homem.

6 No contexto da educação escolar, a categoria de atividade assume fundamental importância para promover o processo de desenvolvimento das funções psíquicas superiores das crianças. Inicialmente, emprestada do pensamento marxista por Vygotski e, posteriormente, desenvolvida por seus seguidores, dentre eles destacam Leontiev e Davidov, a categoria de atividade passa a fazer parte das propostas didático-pedagógicas no processo de ensino e aprendizagem dos conhecimentos escolares nas produções teóricas e científicas. Leontiev (2006, p. 64-65) apresenta os períodos de desenvolvimento psicológico da criança e a atividade principal que promove tal desenvolvimento em cada momento histórico de sua vida. De acordo com o autor, a atividade principal poder ser caracterizada da seguinte maneira: a) consiste na atividade que impulsiona o surgimento de outras atividades relacionadas entre si; b) é a atividade que molda os processos psíquicos individuais como, por exemplo, a imaginação e o pensamento da criança; c) é a atividade que proporciona as principais mudanças no desenvolvimento psíquico da criança em um determinado momento histórico de sua vida em sociedade. O autor a define da seguinte maneira: A atividade principal é então a atividade cujo desenvolvimento governa as mudanças mais importantes nos processos psíquicos e nos traços psicológicos da personalidade da criança, em um certo estágio de seu desenvolvimento. (LEONTIEV, 2006, p. 65). As mudanças que ocorrem nos processos psicológicos das crianças em cada momento de suas vidas não são estáveis e lineares, pois dependem das interações estabelecidas com outros sujeitos históricos e a passagem de um estágio de mudança a outro tem origem nas próprias necessidades das crianças em satisfazer suas próprias necessidades de apropriação de conhecimentos e de desenvolvimento das capacidades psicológicas essencialmente humanas. A partir das interações e relações socioculturais da criança em seu entorno, ocorrem mudanças significativas no processo psicológico da criança, ou seja, começa surgir novas necessidades em detrimento de outras que já formam superadas, ou seja, os objetivos já foram alcançados na trajetória de seu desenvolvimento e formação da personalidade infantil, sendo necessários vivencias novas experiências. Daí decorre a mudança da atividade principal do brincar, na educação pré-escolar, para a atividade principal da atividade de estudo, na educação escolar, pois busca compreender os fenômenos educacionais de forma teórica e científica. Nesse momento, a criança passa

7 por uma crise de personalidade. Vygotski (1996) considera como sendo a crise dos sete anos, pois se trata de um período de transição, a criança já não é pré-escolar nem tampouco um escolar. (VYGOTSKI, 1996, p 377 tradução nossa). Na idade escolar (7 a 10 anos), a criança encontra-se no período de transição entre a idade pré-escolar e a educação escolar. Nesse momento da vida da criança, o processo de desenvolvimento é proporcionado pela atividade principal característica como atividade de estudo, momento histórico da educação escolar que predomina o processo de mudança dos conhecimentos cotidianos e empíricos para o processo de apropriação dos conhecimentos teóricos e científicos capazes de elevar suas capacidade e habilidades cognitivas e promover o desenvolvimento das funções psíquicas superiores do ser humano. Com base na abordagem da Teoria Histórico-Cultural, o objetivo principal da educação visa oportunizar aos educandos reais condições materiais e imateriais para desenvolver plenamente suas capacidades e habilidades cognitivas superiores, por meio de diferentes atividades sistematizadas de ensino e aprendizagem, fundamentadas nas relações interpessoais intermediadas por diferentes manifestações da linguagem (oral e escrita) no processo de desenvolvimento integral do ser humano, contribuindo para a formação da autonomia e conscientização do sujeito da aprendizagem na perspectiva da educação desenvolvente. (DAVÍDOV; MÁRKOVA, 1987). O desenvolvimento da atividade de estudo na educação escolar visa possibilitar aos educandos o desenvolvimento o processo de apropriação e internalização da criança dos conhecimentos teóricos e científicos da herança cultural no contexto da educação escolar. Em sua atividade de estudo os escolares reproduzem o processo real pelo qual os homens criam os conceitos, imagens, valores e normas. Por isso a aprendizagem escolar de todos os programas deve estruturar-se de maneira que, de forma concisa, abreviada, reproduza o processo histórico real de generalização e desenvolvimento dos conhecimentos. (DAVÍDOV, 1988, 174, tradução nossa). A atividade de estudo desenvolvida no contexto escolar pode proporciona muitos fatores positivos ao desenvolvimento e formação da personalidade humana, dentre eles o desenvolvimento do processo de apropriação e objetivação consciente dos conhecimentos históricos e culturais; das capacidades psíquicas superiores necessárias à capacidade de abstração e a generalização dos conceitos teóricos e científicos dos

8 saberes históricos; fundamentar a mediação do processo de ensino e aprendizagem (agentes da aprendizagem) com sendo a base do trabalho pedagógico do educador em sala de aula e favorecer a formação da conduta e autonomia da criança como sujeito da aprendizagem na perspectiva da educação desenvolvente, ou seja, propiciar ao máximo o desenvolvimento das funções psíquicas superiores do ser humano, bem como promover o processo de ascensão do conhecimento cotidiano ao conhecimento teórico e científico (do abstrato ao concreto). De acordo com Davídov (1988), o pensamento teórico e científico na educação escolar tem por finalidade proporcionar o processo de elevação do conhecimento abstrato ao concreto, ou seja, ao analisar um objeto de estudo a criança procura nele uma relação geral que pode ser encontrada, também, em outras relações particulares existentes no objeto de estudo, elaborando, assim, o conceito ou princípio de generalidade do conhecimento científico. Portanto, [...] a atividade de estudo é, antes de tudo, aquela atividade, cujo produto resulta em transformações no aluno. Trata-se de uma atividade de autotransformação e nisto consiste sua particularidade [...]. Assim, [...] o conteúdo principal da atividade de estudo é a apropriação dos procedimentos generalizados da ação na esfera dos conceitos científicos e as mudanças qualitativas no desenvolvimento psíquico da criança, que ocorrem sobre essa base [...] (DAVÍDOV; MÁRKOVA, 1987, p. 324, tradução nossa e grifo dos autores). Os autores Davídov; Márkova (1987) também apresentam a estrutura da atividade de estudo constituída por 3 (três) componentes interligados entre si: a) a conscientização da criança de suas tarefas de estudo, sua atuação como sujeito da aprendizagem na organização das ações de estudo, com base na relação existente entre a tarefa de estudo, a necessidade e o motivo; b) a realização das ações de estudo, da criança, a partir da modelação individual das orientações gerais do objeto de estudointernalização e generalização; c) realização da criança das ações, controle e avaliação do objeto de estudo, controle das transformações da modelagem do objeto de estudo em objeto concreto (produto) de estudo, por meio da avaliação constata-se o nível de compreensão e internalização do processo de generalização desenvolvido pela criança em seu processo de aprendizagem, tendo em vista as ações, as tarefas, o controle e avaliação do objeto de estudo. Os componentes da atividade de estudo constituem a base da educação desenvolvente, sendo necessário fazer parte de todo o processo de atividade de estudo

9 na educação escolar, pois contribui significativamente para o desenvolvimento integral do ser humano, constituição da autonomia e formação da personalidade humana, desenvolvimento das capacidades, habilidades específicas do homem e, principalmente das funções psíquicas superiores do sujeito histórico-cultural. Diante do processo de transição entre a atividade do brincar da criança em idade pré-escolar e apropriação dos conhecimentos teórico-científicos no início da idade escolar, como o educador pode organizar o trabalho pedagógico em sala de aula com base na perspectiva da atividade de estudo, tendo em vista promover o processo de apropriação da linguagem oral e escrita da língua materna como elemento cultural complexo? Como deve ser os procedimentos didático-pedagógicos do educador durante o desenvolvimento da atividade de estudo? Quais as relações existentes entre o processo de ensino e aprendizagem escolar e a atuação pedagógica do educador nos anos iniciais do Ensino Fundamental na perspectiva da educação desenvolvente? Para buscar responder tais questões, o presente projeto de pesquisa apresenta como propósito, teórico e prático, a construção coletiva de um Jornal em sala de aula como atividade de estudo, com a finalidade de promover o processo de apropriação e objetivação da língua materna de crianças em idade escolar durante os 3 (três) primeiros anos do Ensino Fundamental da escola pública. O trabalho com o jornal em sala de aula tem por finalidade propiciar às crianças a contextualização dos conteúdos da língua materna de modo criar a necessidade e a motivação para a realização da atividade de produção escrita de textos do gênero jornalístico, produções essas que serão publicadas nas diferentes edições do Jornal, na escola e na comunidade escolar. Jornal consiste em um suporte textual do gênero jornalístico que visa informar o leitor dos acontecimentos ocorridos no contexto local, regional, nacional e mundial em que a criança está inserida. Bakhtin (2003) evidencia a importância da linguagem com instrumento de interação sociocultural entre os sujeitos históricos, dessa forma, ressalta que a linguagem perpassa todas as atividades humanas e se concretiza por meio dos gêneros do discurso. Bakhtin (2003, p. 262) apresenta que todo gênero textual é constituído por 3 (três) elementos inseparáveis: conteúdo temático, o estilo, e a construção composicional que se apresentam de forma indissociáveis na enunciação discursiva, os quais são determinados pela especificidade da relação comunicativa. Desse modo, o jornal como suporte de diferentes gêneros textuais apresenta uma especificidade em seu conteúdo (acontecimentos históricos reais e datados), possui

10 uma forma de organização composicional (suporte de diversos gêneros textuais), uma estrutura específica e um estilo próprio de apresentar e divulgar as informações aos leitores (base de gênero informativo: notícias, reportagens, entre outros). Falamos apenas através de determinados gêneros do discurso [...] Esses gêneros do discurso nos são dados quase da mesma forma que nos é dada a língua materna, a qual dominamos livremente até começarmos o estudo teórico da gramática. A língua materna sua composição vocabular e sua estrutura gramatical não chega ao nosso conhecimento a partir de dicionários e gramáticas mas de enunciações concretas que nós mesmos ouvimos e nós mesmo reproduzimos na comunicação discursiva viva com as pessoas que nos rodeiam. Nós assimilamos as formas da língua somente nas formas das enunciações e justamente com essas formas. (BAKHTIN, 2003, p. 282-283). O autor acima citado ressalta a construção social da língua materna a partir das relações socioculturais estabelecidas em sociedade como forma de comunicação especificamente humana. A língua materna é uma atividade cultural viva, pois a construímos constantemente em nossas relações sociais estabelecidas no entorno de convivência uns com os outros. A esse respeito, Faria (1991) ressalta que o trabalho com o jornal em sala de aula pode ser uma alternativa ao ensino e aprendizagem da língua materna, possibilidade de ampliar o estudo de outros gêneros textuais além da literatura clássica ainda predominante na escola como objeto de ensino e aprendizagem. A autora apresenta uma metodologia de trabalho com o jornal em sala de aula que se inicia com a leitura e análise da primeira página do jornal, estilo de linguagem, conteúdo da informação, títulos e manchetes, lide e publicidade, notícias, reportagens, enquetes, fotos, legendas, entrevistas e editorial, conduzindo as orientações à organização e efetivação da construção coletiva de um jornal em sala de aula, tendo em vista a formação do espírito crítico da criança a partir desse trabalho. O jornal significa uma porta de entrada do mundo na escola e uma janela para a criança ver o mundo a sua volta, se localizar e atuar ativamente na transformação desse mundo. O jornal é um suporte para a publicação dos textos escritos e apresenta diferentes gêneros textuais como a notícia, reportagem, o anúncio publicitário, os classificados, entre outros fundamentais para a criança desenvolver a prática cultural da atividade de leitura e compreensão do contexto sócio-histórico em que está inserida e, principalmente para ampliar as capacidades e habilidades da escrita como atividade cultural complexa, como ressalta Vigotsky (1995).

11 Daí a importância do trabalho de construção do jornal em sala de aula como atividade de estudo no processo de ensino e aprendizagem da apropriação da linguagem oral e escrita das crianças, pois, como atividade que promove o desenvolvimento das funções psíquicas superiores do ser humano, por meio da atividade de estudo é compreendida como essencial à educação desenvolvente proposta pelos psicólogos soviéticos que propõem a relação interacionista como princípio para o desenvolvimento e constituição do Homem como ser humano. O desenvolvimento da construção do jornal em sala de aula proporcionará aos educandos a participação direta e consciente na elaboração, execução e avaliação do projeto de ensino e aprendizagem da língua materna a partir da perspectiva de desenvolvimento da atividade de estudo como princípio didático-metodológico de trabalho pedagógico na educação escolar, tendo em vista contribuir para a elevação dos conhecimentos espontâneos aos conhecimentos teórico-científicos das crianças como sujeitos da aprendizagem escolar. Objetivo geral O projeto tem por objetivo promover a construção coletiva de um Jornal como atividade de estudo em sala de aula, tendo em vista analisar e compreender como a atividade de estudo pode contribuir para o desenvolvimento do processo de aprendizagem da linguagem escrita como elemento cultural complexo das crianças durante o período do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental. Objetivos específicos Promover a necessidade de construção de Jornal em sala de aula, como objeto da atividade de estudo como base de apropriação da língua materna; Estimular e motivar a criação de desejos e necessidades das crianças em desenvolver um projeto de elaboração coletiva de um Jornal em sala de aula para a publicação das produções textuais escritas; Promover diversas atividades de manuseio, leitura, análise, discussão, produção e revisão coletiva e individual de diferentes produções textuais em sala de aula;

12 Mediar o processo de apropriação da linguagem oral e escrita a partir da produção de diferentes textos escritos, tendo como produto final a construção e publicação de um Jornal como suporte textual; Metodologia A partir dos princípios e pressupostos da abordagem da Teoria Histórico- Cultural, a base de investigação assumida neste trabalho consiste na epistemologia do método do materialismo histórico-dialético por defender que o processo de humanização do homem ocorre por meio da ação direta nas relações sociais e, nesse contexto, a ação educativa constitui-se em uma relação dialética estabelecida entre os sujeitos da aprendizagem e, desses com os conhecimentos históricos produzidos ao longo da história da humanidade. Nesse sentido, a base do trabalho didático-pedagógico estabelecido em sala de aula será a relação dialógica de interação comunicativa existente entre educandos e educadora no contexto da realização da atividade de estudo centrada na construção do jornal em sala de aula como objeto e produto da apropriação e objetivação da língua materna como língua viva em constante transformação sociocultural. O projeto de pesquisa será desenvolvido em uma escola municipal de uma cidade do interior paulista, tendo como sujeitos crianças do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental que se encontram em processo de apropriação da língua materna como elemento cultural complexo, na modalidade oral e escrita, com idades entre de 6 (seis) a 8 anos e a própria educadora que as acompanhará durante esse período, desempenhando o papel de mediadora e pesquisadora no trabalho pedagógico de construção do jornal como atividade de estudo em sala de aula. Desse modo, a abordagem metodológica de pesquisa caracteriza-se como pesquisa experimental uma vez que possibilitará a intervenção direta da pesquisadora junto aos sujeitos da aprendizagem e objeto de estudo de leitura e escrita, ou seja, o jornal em sala de aula como base da atividade de leitura, discussão, produção e revisão textual para a materialização e edição do jornal como produto final da atividade de estudo. Os dados serão gerados a partir da motivação e criação da necessidade de desenvolvimento de um projeto de construção de um jornal pelos educandos em sala de aula desde o 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental, caracterizando-se como atividade de estudo como os princípios apresentados por Davidov; Markóva (1987). Para gerar os

13 dados, será necessário desenvolver o processo de construção do jornal por meio do desenvolvimento de um Projeto Didático que, juntos, elaboraremos de modo a estabelecer tema, objetivos, conteúdos, metodologia, ações, produto e avaliação final. O desenvolvimento do projeto didático fundamenta-se nos pressupostos teórico-metodológicos da pedagogia de projeto de Hernándes (2001) que propõe alternativas de trabalho com o currículo oculto em sala de aula. Assim sendo, a proposta de construção do jornal se materializará com uma edição ao final de cada semestre do ano letivo, portanto, serão construídos, coletivamente, 6 (seis) edições do jornal em sala de aula, sendo que, em cada ano do Ensino Fundamental serão explorados textos específicos do gênero jornalístico. Ao término do processo de geração dos dados, os mesmos serão categorizados, selecionados e analisados dialeticamente de modo a evidenciar o processo de desenvolvimento do processo de apropriação e objetivação da linguagem escrita a partir das produções textuais do gênero jornalístico como, por exemplo, a produção de escrita de notícia, reportagem, anúncios no 1º, no 2º e no 3º ano do Ensino Fundamental. A análise dos dados gerados será desenvolvida por meio de uma amostragem representativa dos sujeitos da investigação que possa evidenciar o processo de aprendizagem e desenvolvimento humano da criança por meio da construção do jornal como atividade de estudo em sala de aula. Cronograma de atividades Período 1º semestre de 2015 Atividades Levantamento bibliográfico, leitura e intervenção em sala de aula 1ª Edição do Jornal no 1º Ano do Ensino Fundamental. Redação parcial do relatório de pesquisa. 2º semestre de 2015 1º semestre de 2016 Análise e discussão teórica, intervenção e em sala de aula 2ª Edição do Jornal ao final do 1º Ano do Ensino Fundamental. Redação final do relatório do 1º ano de pesquisa. Análise e discussão teórica, intervenção e em sala de aula 3ª Edição do Jornal no 2º Ano do Ensino Fundamental. Redação parcial do relatório do 2º ano de pesquisa.

14 2º semestre de 2016 Análise e discussão teórica, intervenção e em sala de aula 4ª Edição do Jornal ao final do 2º Ano do Ensino Fundamental. Redação final do relatório do 2º ano de pesquisa. 1º semestre de 2017 Análise e discussão teórica, intervenção e em sala de aula 5ª Edição do Jornal no 3º Ano do Ensino Fundamental. Redação parcial do relatório do 3º ano de pesquisa. 2º semestre de 2017 Análise e discussão teórica, intervenção e em sala de aula 6ª Edição do Jornal ao final do 3º Ano do Ensino Fundamental. Redação final do relatório do 3º ano de pesquisa. 1º semestre de 2018 Análise dos dados, discussão teórica, revisão geral da redação preliminar da Tese e exame de Qualificação da Tese. 2º semestre de 2018 Revisão geral da redação do trabalho e defesa da Tese de Doutorado. Referências ABAURRE, M. B. M. A alfabetização na perspectiva da linguística textual: contribuições teórico-metodológicas. Cadernos ANPEd, nº6, p. 91-124, 1996. BAKHTIN, M. A estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003. DAVÍDOV, V.; MÁRKOVA, A. La concepción de la atividade de estúdio de los escolares. In: La psicologia evolutiva y pedagógica em la URSS: Antologia. Moscou: Editorial Progresso, 1987, p. 316-137. DAVÍDOV, V. La atividad de estúdio em la edad escolar inicial. In: DAVÍDOV, V. La ensenãnza escolar y el desarrolho psíquico. Progresso, 1988. FARIA, M. A. O. O jornal de na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1991. GÓES, M. C. R.A abordagem microgenética na matriz histórico-cultural: uma perspectiva para o estudo da constituição da subjetividade. CEDES. Campinas: UNICAMP, v. 20, n. 50, abril, 2000. HERNÁNDEZ, F. Os projetos de trabalho: um mapa para navegantes em mares de incertezas. In: Revista de Educação. Porto Alegre, v. 03, n. 4, p. 2-7, 2001.

15 LEONTIEV, A. O homem e a cultura. In: LEONTIEV, A. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Livros Horizonte, 1978, p. 259-284..Uma contribuição à teoria do desenvolvimento da psique infantil. In: VIGOTSKY, L. S., LURIA, A. R; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 2006, p. 59-83. MELLO, S. A. A escola de Vygotsky. In: CARRARA, K. Introdução à psicologia da educação. SP: Ed. UNESP, 2000, p. 135-155.. Apropriação da escrita como instrumento cultural complexo. In: MENDONÇA, S. G. L; MILLER, S. (Org.). Vigotski e a escola atual: fundamentos teóricos e implicações pedagógicas. Araraquara, SP: Junqueira & Marin, 2006, p.181-192. REPKIN, V.V. Ensino e desenvolvimento a atividade principal. In: Journal of Russian and East European Psychology, vol. 41, nº4, July-August 2003. OLIVEIRA, B. A. Fundamentos filosóficos marxistas da obra vigotskiana: a questão da categoria de atividade e algumas implicações para o trabalho educativo. In: MENDONÇA, S. G. L; MILLER, S. (Org.). Vigotski e a escola atual: fundamentos teóricos e implicações pedagógicas. Araraquara, SP: Junqueira & Marin, 2006, p. 03-26. VYGOTSKI, L. S. Quarta aula: a questão do meio na pedologia. Tradução de Márcia Pileggi Vinha e revisão de Max Welcman. Psicologia. USP [online]. 2010, vol.21, nº4, p.681-701. Confira o dossiê Vigotski no link: tt://www.scielo.br/scielo.php?scrip=sci_issueto&pid=0103-65642010004&lng=pt&nrm=isso. Acesso em 10 de maio de 2011.. Obras Escogidas III. Madrid: Visor, 1995.. Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar. In: VIGOTSKY, L. S., LURIA, A. R. E LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 2006, p. 102-117.