ROSA MOREIRA FARIA: UMA ARTE-EDUCADORA SERGIPANA



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Transcrição:

ROSA MOREIRA FARIA: UMA ARTE-EDUCADORA SERGIPANA Patrícia Francisca de Matos Santos Universidade Federal de Sergipe Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação patyfmatos@yahoo.com.br Palavras-chave: História da Educação. Nova História Cultural. Biografia. INTRODUÇÃO O artigo intitulado, Rosa Moreira Faria: uma arte-educadora sergipana tem como objetivo resgatar a trajetória da educadora e artista plástica sergipana Rosa Moreira Faria, destacando a forma como através da pintura retratou a história do Brasil e de Sergipe. A motivação para realização deste estudo resultou do contato que, enquanto estagiária do Memorial de Sergipe, pude manter com seu acervo, composto por ladrilhos, porcelanas, lajotas, azulejos e telas. Esta visão inicial me encantou, despertou minha curiosidade e nesse percurso pude perceber a pouca divulgação que há das obras e da atuação docente da referida educadora. Trata-se, portanto, de um estudo biográfico, que na visão de Levillain (2006 apud BORGES, p. 215), Não tem por vocação esgotar o absoluto do eu de um personagem, como já se quis a ainda se quer [...] Ela é o melhor meio de mostrar os laços entre passado e presente, memória e projeto, individuo e sociedade e de experimentar o tempo como prova de vida [...] a biografia é o local por excelência da condição humana em sua diversidade. Para realizar este estudo foi necessário proceder ao levantamento bibliográfico em livros, revistas, monografias e internet como também visitas a Biblioteca Pública Epiphânio Dória, ao BICEN (Biblioteca Central - UFS), e ao Memorial de Sergipe, onde se encontram documentos e o acervo iconográfico de Rosa Faria, com o intuito de buscar subsídios para situar a personagem no contexto histórico, econômico e social em que nasceu, cresceu e desenvolveu sua atividade docente e artística. Além da fonte escrita, recorri à fonte oral, entendida como um instrumento de pesquisa que lida com o que o indivíduo deseja revelar, ocultar e com a imagem que quer projetar de si e de outros. Pois segundo Freitas (2003), a história de vida, busca atingir a coletividade de que o informante faz parte e do qual é um mero representante, através do qual se revelam os traços desta. No caso do presente estudo, foram realizadas doze entrevistas com familiares, amigos, ex-colegas de trabalho, ex-alunos, historiadores, etc.

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL - DOCENTE E ARTISTICA Na primeira década do Século XX, o mundo e o Brasil vivenciavam profundas transformações, conseqüência, sobretudo da I Guerra Mundial (1914-1918). Após o conflito, a Inglaterra, cedeu espaço para os Estados Unidos no cenário comercial e financeiro internacional. O Brasil, tradicional cliente dos Bancos Ingleses, intensificou suas relações comerciais e financeiras com os norte-americanos e, por conseguinte, passou a sofrer influência cultural através de filmes, imprensa, literatura e estendeu-se ao campo educacional e pedagógico, a exemplo do Movimento Escola Nova, na versão norte-americana dos educadores John Dewey e Willian Kilpatrick, que ganhou adeptos entre os intelectuais jovens. Verificou-se ainda um impulso à imigração européia que no Brasil constituiu basicamente o operariado, os quais, através da organização sindical sobre influência anarquista, contribuíram para alterar as relações de trabalho vigentes e estimularam uma maior participação feminina no mercado de trabalho. No aspecto econômico, verificou-se uma mudança no modelo econômico que passou de uma economia agrário-exportador para uma fase industrial. Emergiu desse novo contexto uma burguesia industrial urbana, estratos emergentes de uma pequena burguesia e o operariado. Tais mudanças provocaram uma acelerada urbanização e a instalação de serviços públicos, a exemplo dos bancos e da modernização dos meios de comunicação e transporte. Contribuiu também para desencadear novas pressões em favor da escolarização, por parte dos intelectuais horrorizados com o analfabetismo generalizado. Na década de 20 a divulgação de dados estatísticos que revelavam a existência de 75% de analfabetos entre a população brasileira, fez ressurgir o entusiasmo pela educação, com a criação das ligas contra o analfabetismo. Fundadas por intelectuais, industriais e médicos, que cheios de fervor nacionalista, pregavam o civismo, o escotismo, o patriotismo, e a erradicação do analfabetismo, como instrumento político, de aumento da quantidade de eleitores, e, por conseguinte, de formação social através do voto consciente (GHIRALDELLI JR., 1994). O fim da Guerra e a presença dos imigrantes contribuíram para desencadear um surto de nacionalismo e patriotismo, que levou a retomada dos princípios defendidos pela Republica. Nesse contexto, surgiram vários movimentos políticos e culturais, a exemplo da Fundação do Partido Comunista Brasileiro (1922); das Revoltas Tenentistas, que representaram o descontentamento dos segmentos médio urbano com a oligarquia dominante, emergindo desses revoltosos a Coluna Prestes (1924); e por parte da intelectualidade brasileira, imbuída do propósito de construir uma identidade nacional e de resolver os graves problemas que o país se defrontava, movimentos como a Semana de Arte Moderna (1922) e a criação da Associação Brasileira de Educação - ABE (1924). Resultante de muitos desses movimentos, desencadeou-se uma onda de greves que pressionou o governo a promulgar leis que garantissem os direitos dos trabalhadores, dentre eles, o acesso à escolarização, pois o sistema educacional não atendia às exigências da nova classe em ascensão, uma vez que era arcaica, livresca e satisfazia apenas a classe latifúndio - mercantilista. Sergipe em final do Século XIX, vivenciou um período de modernização do setor açucareiro com a criação de engenhos e usinas os quais permitiram transformar a manufatura do açúcar em processo industrial, diferenciando dos engenhos tradicionais pela substituição do maquinário usado na produção do açúcar por maquinas modernas. Vários produtores sergipanos investiram nas usinas, possibilitando que o Estado chegasse a possuir o maior número delas em todo o país. O primeiro engenho implantado foi o Central, em 1888, no município de Riachuelo. Tais transformações do setor açucareiro levaram os senhores de

engenho que não possuíam maiores recursos, à condição de meros fornecedores de cana para as usinas vizinhas, outros se voltaram para a pecuária ou para a produção de cereais (NUNES, 1984). Ainda nesse período, em função da Guerra de Secessão dos EUA (1861 1865), o algodão ganhou importância econômica com o aumento das exportações. Com o fim da Guerra, o algodão voltou-se para o mercado local, servindo de estímulo para o surgimento da indústria têxtil. Em 1884, entrou em funcionamento à primeira fabrica de tecido do Estado, a Sergipe Industrial, anteriormente denominada Cruz e Companhia, sendo instalada no Bairro Industrial em Aracaju, produzindo brim, cetim, bulgariana, algodãozinho e estopa. Na década seguinte foi criada a Companhia Industrial de Estância, em 1896. No começo do século XX, a produção do algodão cresceu e novas fabricas instalaram-se. Em 1915 a indústria têxtil marcava presença nos municípios de Neópolis, Própria, Maroim, Riachuelo, São Cristóvão, Aracaju e Estância. O setor industrial do Estado passou a contar ainda com pequenas fábricas de descaroçar algodão, de óleo de coco, de sabão, beneficiamento de arroz, fumo, curtumes, voltado para o consumidor de baixa renda. Verificaram-se nesse período várias iniciativas de modernização do Estado, sobretudo no aspecto cultural, a exemplo da expansão da imprensa e das casas tipográficas que contribuíram para a difusão da cultura em Sergipe, ao possibilitar a publicação de livros e o acesso à leitura. Também foram criadas associações culturais e científicas como: O Clube Literário Progressista (1905) em Frei Paulo; o Grêmio Literário Simãodiense (1905) em Simão Dias; o Clube Literário Silvio Romero (1918) na cidade de Boquim; o Gabinete de Leitura de Riachuelo (1927) e a Casa do Livro de Capela (1928). Em Aracaju foram criados O Centro Operário Sergipano (1910), a Sociedade Médica de Sergipe (1910), o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (1912), a Liga Sergipense Contra o Analfabetismo (1916), o Centro Pedagógico Sergipano (1918) e o Instituto Parreiras Horta (1924). Foi nesse cenário que nasceu a 28 de abril de 1917, Rosa Moreira Faria, na cidade de Riachão do Dantas, Sergipe, filha de João Guilherme Farias e de D. Arminda Moreira Faria. Contudo, o registro civil foi oficiado na cidade da Capela, local para onde a família transferiuse quando ela ainda era pequena. Segundo o irmão João Guilherme Farias (entrevista concedida em 31/05/2005), Rosa foi registrada como capelense, porque naquela época não era fácil registrar uma pessoa como nos dias atuais, de modo que, o pai solicitou e o juiz autorizou que fosse feito o registro em Capela. Segundo Machado (entrevista concedida em 24/05/2005), João Guilherme Farias, também conhecido como João da Luz, era mecânico do Serviço de luz e Força de Capela. Conhecia de máquina, funilaria e tinha a capacidade de consertar e construir coisas. Homem bom, muito prestativo, a quem todos recorriam, pedindo que consertassem utensílios domésticos e não cobrava nada pelo serviço. D. Arminda Moreira Faria, segundo João Guilherme Farias (entrevista concedida em 31/05/2005), morreu da gripe espanhola. Desde então, a avó materna de Rosa passou a morar com a família, ajudando na educação das crianças. A avó Rosa Moreira Frião, nasceu em Estância em 1860 e era filha de Joaquim Carneiro Frião (primeiro secretário da Associação Comercial de Sergipe em 1872) e Mª Rosa Bandeirinha Frião, ambos portugueses. De família abastada, estudou em Portugal, diplomando-se professora, pianista, poetisa e escritora. Casou com o português Antônio Moreira Monteiro e regressou ao Brasil fixando residência em Estância. Do casamento, nasceu uma única filha Arminda e ficou viúva cinco anos depois de ter chegado ao Brasil. Foi professora de grandes intelectuais sergipanos como: Craccho Cardoso, João Dantas Martins dos Reis, Dr. José Thomaz Nabuco e de Genésia Fontes, de quem foi à única

professora, até aposentar-se em 1925. Pela habilidade artística era conhecida como mãos de fada. Em Capela, quando chegou o primeiro piano para a família Guimarães ela o inaugurou, tocando o Hino Nacional Brasileiro O senhor João Guilherme de Faria somente contraiu núpcias entre 1941 e 1942, com o falecimento da sogra, em 1938, e com a emancipação dos filhos. Papai morreu em 14 de dezembro de 1961, não sei se com 74 anos, vitimado por problemas cardíacos (João Guilherme de Faria, entrevista concedida em 31/05/2005). Rosa teve seis irmãos, sendo quatro do primeiro casamento de João Guilherme de Faria e três do segundo. Conforme descreveu Machado, Rosinha, eu a chamava assim, teve quatro irmãos do primeiro casamento de seu pai. O mais velho era Luiz que nós apelidamos de Luiz Dentão. Djalma era o mais moço e estudou no Colégio até ingressar na Faculdade de Direito, tornando-se advogado. Luiz ficou na Capela e lá constituiu família. Carmelita não estudou. Depois de algum tempo, seu João Guilherme casou pela segunda vez, tendo deste segundo consórcio João Guilherme, Maria Auxiliadora e Carlos, este último reside em São Paulo (Manoel Cabral Machado, entrevista concedida em 24/05/05). Capela, município localizado a 65 km de Aracaju, foi considerado no passado um ponto de desenvolvimento de cultura do Estado. Teve seu povoamento iniciado em 1735 com a doação da área pelo Capitão Luís de Andrade Pacheco e sua esposa Perpétua de Matos Franco, cujo filho era padre e ficou sensibilizado com o desgaste dos moradores que recorriam a matriz em Pé do Banco (atual município de Siriri), situado nove léguas para participarem de missas e festas. A povoação foi elevada a categoria de freguesias em 1813, desmembrando-se do território Pé do Banco. Em 1835, transformou-se em Vila e em 28 de agosto de 1888, passou a condição de Cidade com o nome de Capela. Sua economia estava pautada no beneficiamento da cana de açúcar, chegando a ter mais de uma centena de engenho para fabricação de açúcar. Cultivava ainda o algodão e mandioca. Em 1914, primeiros anos de República, Capela teve instalada sua primeira Usina mecanizada de açúcar cristal (Usina Proveito), surgindo mais tarde a Santa Clara e Vassouras. Em 1915 o município passou a contar com um ramal da estrada de ferro, o que possibilitou a interligação com outras cidades e capitais, a exemplo de Aracaju e Salvador. Tais inovações contribuíram para acelerar o progresso econômico do município desencadeando novas demandas por serviços e provocando mudanças na forma de pensar e nas aspirações intelectuais da população, de modo que se tornou um centro cultural comparável a Laranjeiras e Estância. Exemplo disso foi à criação do jornal O Capelense Hebdomadário (1897), a fundação do Grupo Escolar Coelho e Campos (1918), primeiro a ser instalado no interior do Estado; da Sociedade Cultural Casa do Livro (1928) e do Colégio da Imaculada Conceição fundado em 1929, sob a responsabilidade das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição, situando o movimento intelectual que se fazia presente em Capela, no início do séc. XX. Nesse período, passou a contar com o Serviço de Luz e Força, movida a lenha. Às 6 horas da noite, começava a botar fogo na caldeira e a rodar a turbina. Tínhamos luz até 10 horas ou 10h30min. De vez em quando os motores velhos, cansados encrencavam e chamavam João da Luz que pelejava até que afinal o motor funcionava. Lembrança semelhante tem o filho João Guilherme Faria. Segundo ele, Lembro as várias noites que ele saía 5:30 horas, 6 horas, aí ligava o motor, e quando chegava 15 para 10 da noite ele dava aqueles cortes, que era o aviso de que a luz ia faltar. Dez e pouca ela chegava. Às vezes eu estava

acordado, e via ele ouvindo rádio, aqueles rádio de bateria, onde tinha uma parte da casa que ele chamava de oficina, um grande armário com uma série de baterias lá dentro carregando, não só a dele, como das outras pessoas de Capela (Entrevista concedida em 31/05/2005). Segundo Manoel Cabral Machado, a inclinação para a atividade artística começou na Capela. Eu não sei com quem ela aprendeu se foi com a avó. Rosinha inicialmente fazia uma porção de quadros com cromos, ficava uma beleza aqueles quadrinhos para botar em parede, mais não era de pintura, era um quadro de moldagem. Trabalhava também com flores, acho que sempre-viva. E fazia um quadro bonito dos Santos. Na cidade natal fez os estudos primário e secundário. Segundo Cáscia Maria Freire de Barros (entrevista concedida em 12 de junho de 2005), Rosa iniciou os estudos no Grupo Escolar Coelho e Campos, transferindo-se depois para o Colégio das Freiras. O pai fazia alguns trabalhos para as freiras, o que possibilitou que ela pudesse estudar no Colégio de meninas ricas. Conforme explicitado por Cruz (2002), durante as duas primeiras décadas do século XX não existia em Capela instituição destinada à instrução pública seriado estando o ensino restrito a algumas escolas particulares e algumas cadeiras de aulas públicas, freqüentadas pelos filhos da elite e das camadas médias de Capela. Somente em 1918, por iniciativa do sergipano José Luiz Coelho e Campos, então Ministro do Supremo Tribunal Federal, que doou sua residência com o objetivo de fazer funcionar no prédio uma casa de instrução, foi implantado o Grupo Escolar Coelho e Campos 1. Teve como primeiro diretor o farmacêutico Bruno Manoel de Carvalho, que permaneceu por dezesseis anos na direção. O Colégio Imaculada Conceição foi fundado em 1929, por iniciativa de Antão Correia e Ariosvaldo Barreto. Mantido por freiras e atendendo ao sexo feminino, era uma instituição destinada à educação das filhas da elite de Capela e da região. Utilizava métodos de ensino considerados ultrapassados pela direção do grupo escolar, que fazia o discurso da pedagogia moderna. Rosa recebeu o diploma de normalista em 1941 2 e o prêmio de uma cadeira, por ter sido classificada em primeiro lugar em todo o curso. Rosa se formou num período em que o estado modernizava-se em termo intelectual, sendo o Diretor da Instrução Publica Manoel Franco Freire e o governador Eronildes Ferreira de Carvalho que governou de 1935 a 1941. Foi desenvolvida uma política educacional baseada nas diretrizes pós-30, inovadora, por esta de acordo com as modernas tendências pedagógicas preconizada pela Escola Nova com caráter técnico, não se limitando ao aspecto quantitativo, por imprimir inovação à educação e investir em viagens para o Rio, São Paulo e Minas com a finalidade de Observar e Aplicar o Ensino, no que houvesse de mais adiantado, estimulando a criatividade dos alunos, difundindo a imprensa com orientação educativa, recreativa instrutiva, a institucionalização da semana da educação por pretender Vulgarizar os Ideais da Escola do novo tempo e unificação de praticas escolares de acordo com as necessidades regionais. Em 1935 o ingresso no magistério era dado mediante concurso público com prova de idade inferior a 30 anos, sanidade, ausência de defeito físico ou mutilação, exame de saúde anual para todos os professores da rede. Preconizando que... em todas as escolas era obrigatória a Educação Física, Canto Orfeônico e Trabalhos Manuais, refletindo um

clima de nacionalidade. E na ausência de professores habilitados a Lei possibilitava por períodos determinados pessoas que demonstrassem habilidades. Que com a finalidade de preparar o quadro de professores, fixou no artigo 14 que a orientação geral desses serviços fosse entregue a Técnicos especializados, fazendo vir do Rio a Missão Carioca com renomados especialistas de Educação Física e Música como Tito Pádua e José Vieira, tendo em Fernando de Azevedo o primeiro representante para o desenvolvimento da Educação Física, não limitando o ensino a inclusão dessas disciplinas conforme Portaria nº 51 de 1937, sendo criado o Conselho de Educação do Estado, de caráter consultivo e constituído por educadores do quadro efetivo ou personalidades com experiências em assuntos pedagógicos com o intuito de elevar o nível da cultura sergipana e o progresso do Estado. As iniciativas empreendidas por Franco Freire foram refletidas na Escola Normal Rui Barbosa, por procurar dotar o professor de melhor preparo técnico-pedagógico e valorização profissional, moralizando e disciplinando a aprovação dos alunos e ingresso do professor equiparado ao Colégio Pedro II da capital federal. Foi elevado o nº de matriculas do 1º ano para 100, e fixou em 6h semanais a carga horária dos docentes. Em 1936, segundo mensagem enviada ao governo, a Escola Normal foi equiparada aos Colégios Nossa Senhora das Graças (Própria), Sagrado Coração de Jesus (Estância) e Imaculada Conceição (Capela). A Lei nº 60/36 procurou organizar o currículo do Curso Normal definindo que os programas das matérias deveriam equivaler ao curso secundário, equiparando ao curso normal a este ramo de ensino, abrangendo os estudos de Português, Literatura, Francês, Inglês, Matemática: Aritmética, Geometria Plana e Noções de Álgebra; Geografia Geral, do Brasil e Noções de Cosmografia; História Geral; História do Brasil; Física e Química; História Natural, Higiene, Puericultura, Desenho; Trabalhos Manuais; Música; Educação Física; Pedagogia; Psicologia Aplicada a Educação; Metodologia e Práticas do Ensino; Educação Moral e Cívica; Agricultura e Economia Rural. A partir de 1947 em Sergipe, o ruralismo Pedagógico transformou-se, devido ao capitalismo, como instrumento de fixação no campo, fomentando uma proposta voltada para a vocação rural da civilização brasileira, reforçando tais valores. Devido a esse quadro Franco Freire criou escolas normais rurais e a cadeira de ensino Rural; surgiram também as escolas infantis anexas a normal com o intuito de ampliar as normalistas e os professores na observação e experiência para uma melhor adaptação. Iniciou sua atividade no magistério público estadual em 1942 e em função das promoções a que fez jus, foi transferida para Aracaju, passando a residir na Capital em 1946. Inicialmente ela e a irmã Carmelita, moraram na Rua de Própria nº 33, mudando-se posteriormente para a casa da Praça Olímpio Campos, onde viveu até a morte. Em Aracaju, além do magistério, fez concurso para o Correio, onde exerceu a função de telegrafista, sem, contudo esquecer-se de cultivar a sua paixão pelas artes. Ao vim para Aracaju Rosa se depara com transformações no âmbito democrático, devido ao termino do Estado Novo. Eleições para presidente e governadores, igualdade de oportunidades educacionais no lar e na escola (Carta Constitucional de 1946), a União passa a legislar a educação (art. nº 5, xv, letra d), recursos mínimos para a educação (art. nº 169) sendo vista a educação como mecanismo de democratização da sociedade e instrumento para legitimar o governo, servindo para que a sociedade ocultasse o precário ensino as camadas populares. Foram promulgadas as Leis Orgânicas de Ensino Primário e Normal (nº 8.529 e 8.530 de 2 de janeiro de 1946), retomando o escolanovismo, a normalidade democrática passando o Estado por uma fase de transição econômica na cana-de-açúcar e setor têxtil, cedendo lugar a agropecuária e incipiente industrial (90% de pequenos estabelecimentos), favorecendo mudanças sociais e políticas em Sergipe, não sendo suficiente para mudar

substancialmente as forças do Estado, por ser controlado por duas ou três famílias ou grupos políticos. Após 1945 os partidos que faziam parte do cenário político sergipano acompanham a tendência nacional. José Rollemberg Leite foi eleito governo (1947 a 1950), criterioso, com assessores de prestígio familiar e experiência acumulada frente aos órgãos públicos. Nomeando Acrisio Cruz para a direção geral do departamento de Educação, sendo a educação rural o foco das preocupações. Estabeleceu o convênio com o INEP, construiu a Escola Normal Murilo Braga (Itabaiana), mais de 200 escolas rurais e 15 Grupos Escolares, considerada modelo, para outros estados. Durante o seu governo Rollemberg Leite aumentou consideravelmente a rede de escolas primárias, promovendo oportunidades com a criação de Escolas Superiores, qualificação dos professores primários e secundários oferecendo cursos de aperfeiçoamento e de bolsas de estudos para ambos. Embora de temperamento reservado, ao longo da vida cultivou alguns amigos, como revela os depoimentos que se seguem: Eu conheci Rosa Faria, quando ingressei nos Correios e Telégrafos. Eu, funcionário da parte postal e ela da parte burocrática. Então no dia-a-dia, nos encontros que aconteciam por ocasião da chegada na repartição, nós tínhamos tempo para um dialogo, mesmo porque ela era uma pessoa culta, voltada as artes, e eu era um estudioso, um esforçado, uma pessoa que naturalmente desejava, como todo jovem na minha idade, vencer. Morava ali no parque Teófilo Dantas, juntamente com seus irmãos, era uma pessoa comunicativa, porém reservada, só falava e só se manifestava nas horas próprias, quando se tornava indispensável a sua participação. Estudiosa, pesquisadora, apaixonada e posso lhe dizer que, para mim, o seu maior heroísmo é que tudo fez não pensando nela, nem ajudada por quem quer que seja somente ajudada por Deus (José Sebastião dos Santos, entrevista concedida em 13/06/2005). Por tudo quanto realizou foi homenageada em vida com os títulos de: Amiga da Marinha em Salvador, no ano de 1991; Amiga de Exército; Medalha do Mérito Serigy nos graus de Oficial e Comendador, concedidas respectivamente pelos prefeitos Jackson Barreto (1988) e Wellington Paixão (1991); Título de Cidadã Aracajuana concedido em 1986 pela Câmara Municipal, através do Projeto de Vereador Raul Andrade). Em 1991, recebeu o Troféu Destaque Imprensa, no 59 Aniversário da ASI. Foi reverenciada pelo programa TV Memória, pelo Jornal da Cidade e Gazeta de Sergipe (1989) e na página Memória de Sergipe do Jornalista Osmário Santos. Nos 25 anos de existência do Colégio Imaculada Conceição (1989), foi homenageada como Patrona do Colégio. Finalmente no ano de 1999 a Vereadora Nazaré Carvalho, elaborou um Projeto de Lei, aprovado pelo Prefeito João Augusto Gama da Silva, no qual denominava uma Rua do Loteamento Parque dos Coqueiros, com o nome Professora Rosa Faria. Também foi vencedora do Prêmio do 1º Centenário de Aracaju, conforme texto jornalístico que se segue: Referente às suas obras concorreu a um concurso de Pintura criado pela Prefeitura de Aracaju, para apresentação de uma tela a óleo, com assunto alusivo ao 1º Centenário de Aracaju, recebeu prêmio por ser classificada em 1º lugar; em 1954, escreveu um trabalho sobre a crise do Adolescente; em 1947, fez a Biografia do 1º Bispo de Sergipe, Dom José Tomás Gomes da Silva, em novembro de 1948 (Jornal da Academia Literária da Vida, ano 1, n.0 junho e julho de 1997).

Rosa Faria todos os anos comemorava a Mudança da Capital (17 de março) e fazia uma grande solenidade em frente ao Museu Histórico para lembrar esta data. Ela conseguia fechar o trânsito e a programação contava com a presença das bandas de música do Exército e da Polícia Militar, de autoridades e estudantes das diversas escolas, fardados e perfilhados. Eram cantados hinos, hasteada a bandeira e em seguida ela proferia um discurso relatando a história da Mudança da Capital e culminava com a visitação ao Museu. Era um momento de educação cívica, em que ela, muito compenetrada, assumia seu papel de velha mestra. Tinha também uma função de incentivar nas jovens gerações o sentido de civismo, de culto as datas históricas que reativa, na memória do cidadão os feitos do passado (Beatriz Góis Dantas entrevista concedida em 16/06/2005). A preocupação com a destinação que seria dada ao acervo foi uma constante nos últimos meses em que viveu. Segundo Cássia Maria F. de Barros, cerca de sessenta dias antes de sua morte, Rosa mandou chamá-la e falou que não tinha sucessor e não sabia com quem ficaria o acervo, sugerindo na oportunidade que ela o oferecesse a Fundação Roberto Marinho e a Silvio Santos, o que não chegou a se concretizar, porque no dia 28 de abril de 1997, Carmelita ligou informando que a irmã tinha sido acometida por um aneurisma cerebral e os médicos informaram que não tinha mais jeito a dar. Em 1º de maio de 1997, Sergipe foi surpreendido com a notícia do falecimento de Rosa Faria. Sua morte provocou uma grande comoção na cidade, de modo que o enterro foi muito concorrido, o Corpo de Bombeiros conduziu o caixão envolto em uma bandeira de Sergipe em carro aberto. O Exército a Marinha e autoridades civis se fez representar. Quero morrer ocupando minhas mãos. Em uma delas. Levarei terço que é minha profissão de fé; na outra, levo o pincel, meu eterno e inseparável companheiro, e, lá de cima, eu ainda quero pintar (Rosa Faria). A partir da sua morte começaram as negociações para ver qual o destino as ser dado ao acervo. As amigas Lígia Pina, Cáscia Maria Freire de Barros, Cléia Brandão, tomaram a frente das negociações. Cássia Maria F. Barros, como tinha acesso à mídia, manteve por quinze dias seguidos a mídia falando do nome de Rosa Faria e do acervo e mostrando a necessidade do poder público adquiri-lo. Segundo Ivone Mendonça, havia um grupo de São Paulo, interessado em adquirir o acervo, mas Carmelita gostaria que ele ficasse em Sergipe, de modo que os amigos ficaram aguardando que os órgãos públicos se pronunciassem. Contudo, foi o professor Jouberto Uchôa de Mendonça, proprietário da Universidade Tiradentes e admirador da obra de Rosa Faria, o primeiro sergipano a fazer a proposta. Nós as amigas dissemos a Carmelita, que quem deveria realmente ficar com toda a obra de Rosa Faria, era o Professor Uchôa, um homem voltado para as causas educacionais do Estado, ex-aluno dela, então, ninguém melhor do que ele para adquirir a obra. Momento histórico, da maior relevância assumido pelo Professor Uchôa. Todas nós, amigas de Rosa Faria, ficamos felizes por saber que a obra não seria transplantada para outro estado e muito mais, guardado, porque no Museu, no Memorial da Universidade Tiradentes (Ivone Mendonça de Souza, entrevista concedida em 10/06/05).

Na missa de sétimo dia Professor Uchôa se fez presente e manifestou o desejo de incorporar o acervo de Rosa Faria ao Museu que ele pretendia organizar. Foram iniciadas as negociações, pois os amigos não queriam que houvesse uma venda, mais um acordo, porque com a venda você pode dispor depois do acerco como quiser. Neste caso foi feito um contrato onde foi estabelecido que enquanto D. Carmelita Faria vivesse ela receberia uma pensão em caráter vitalício que corresponderia ao salário de um professor pós-graduado da Universidade Tiradentes; todo dia 17 de Março a instituição que se comprometeria em realizar festividade em homenagem a mudança da Capital e acima de tudo manteria o acervo. Em contra partida, todo o acervo foi transferido para Universidade Tiradentes (UNIT) e após a morte de D. Carmelita, o acervo será incorporado definitivamente ao patrimônio da Universidade. O contrato de transferência foi assinado em 14 de julho de 1997, após um mês de conversação acompanhado pela advogada Cáscia Freire de Barros com a irmã e herdeira Maria Carmelita Moreira Faria. No dizer do Reitor da Universidade Tiradentes Jouberto Uchôa de Mendonça, Rosa Faria fez com as mãos uma obra inédita que só uma máquina poderia realizar. Você saindo daqui para qualquer país, vê coisas monumentais, mas um trabalho igual ao de Rosa Faria não existe em país nenhum, ninguém produziu isso. Não existe em lugar nenhum no mundo, uma obra daquela qualidade feita à mão, por uma pessoa simples, você não encontra em lugar nenhum (entrevista concedida em 27/05/2005). Rosa Faria iniciou sua trajetória no magistério público estadual em 1942, como professora no Povoado Boa Vista, município de Capela, por indicação do então Secretário de Educação, Dr. José Rollemberg Leite, prestando seus serviços no período compreendido entre 1º de setembro de 1935 a 1941. Foi removida para o povoado Itapicuru, município de Nossa Senhora das Dores e, posteriormente, para o Grupo Coelho e Campos. Os Grupos Escolares, instituições que aparecem a partir das primeiras décadas do regime republicano com inovações educacionais (séc. XIX), caracterizado como Escola Modelo, por ser progressista na instrução publica (modernidade pedagógica, método intuitivo, ensino seriado e classe homogenia) originados através de debates de intelectuais, educadores e políticos, como o deputado Gabriel Prestes. Em Sergipe, os Grupos Escolares foram criados na administração do General Oliveira Valadão, surgindo em Capela em 1918 o Coelho e Campos, de suma importância por oferecer as quatros series primarias, atender os requisitos da política educacional, condensar as idéias da Pedagogia Moderna, adotar o método intuitivo como técnicas fundamental do ensino (modernos princípios pedagógicos) e metodologia que priorizava os valores presentes do discurso pedagógico da Escola Nova. O prestigio da escola podia ser aferido pelo fato de que, logo após a conclusão do curso primário, as moças eram de imediato convidadas ou indicadas para ensinar nas escolas publicas existentes no município, principalmente nos povoados (CRUZ, 2002). Fez o curso de Aperfeiçoamento para Professores Primários promovido pelo Departamento de Educação na Capital do Estado. Em função disso, foi mais uma vez foi removida em 1946 para o Grupo Barão de Maruim em Aracaju. Em setembro do mesmo ano foi requisitada para o Colégio Estadual de Sergipe (Atheneu), onde ministrou as disciplinas Trabalhos Manuais (na 2ª série ginasial, turmas D e E com três aulas semanais) e Economia Doméstica (na 4ª série, turmas C e D no total de quatro aulas semanais. Recebia então Cr$ 35,00 por aula, conforme Portaria nº 14 de 1º de março de 1956, as despesas contidas na portaria correu pela verba de 3.32-8.33.0-05. Segundo Maria Lígia Madureira Pina (entrevista concedida em 18/06/2005), ela era contratada e quando fez concurso para postalista deixou de ensinar na rede estadual.

Contudo, não abandonou o Magistério, de tal modo que recorreu ao Dr. José Rolemberg Leite, então diretor do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e começou a ministrar aulas nessa instituição, situada na época a Rua de Própria, 201, aos 29 anos, de 26/09/1946 a 05/12/1963, com um salário de Cr.$ 800,00 mensais, com registro de empregados nº25, Carteira Profissional de nº 20. 247 Série 54ª, com Instituto de Industriários com nº 4453875. O SENAI, instituição de âmbito nacional criada em 24 de janeiro 1942, surge através da inspiração do antigo Centro Ferroviário de Ensino e Seleção Profissional (CFESP) em 1934 em São Paulo por Roberto Mange, sendo oficializado através do Decreto nº4. 048, publicado no Diário Oficial da União, tendo como lideres Euvaldo Lodi e Roberto Simonsen, presidentes da CNI e FIESP, respectivamente. Com a finalidade de desenvolver um sistema de educação profissional no Brasil, atendendo a 28 áreas com formação de recursos humanos e de prestação de serviços, há 60 anos. O SENAI faz parte da história de Sergipe desde 1945, quando inaugurou o primeiro Centro de Formação Profissional em Aracaju, hoje CET Coelho e Campos. As atividades do SENAI foram iniciadas em 1945, como apoio ao setor industrial sergipano, sendo ampliadas suas ações na capital e interior. Em 1946 em Sergipe, o SENAI inaugura a Escola Têxtil de Estância, despontando como pólo industrial, oferecendo também cursos de mecânica, tornearia, elétrica gráfica, transformando-se em Centro de Educação e Tecnologia, como também a inauguração dos Centros de Treinamento em Boquim e Neopolis; Em 1983, é inaugurado o Centro de Educação Albano Franco (DIA); Em 1995, oferece aos clientes da Indústria da Construção Civil modernas instalações e laboratórios. Sobre sua atuação profissional, os entrevistados ressaltaram a paixão pelo magistério, rigidez com que conduzia sua atuação pedagógica e o respeito que despertava nos alunos. Ela foi minha professora de artes e de trabalhos manuais. Na disciplina Trabalhos Manuais ela dava ênfase à arte. Era uma professora autêntica, dura, segura. Ela chegava à sala, nos recebíamos de pé. Quem tentasse fazer gracinha, se dava mal. Ela tinha pulso, dava duro no aluno e o aluno se enquadrava. E quando terminava o curso todos os alunos a adoravam. Isso aconteceu com ela e com diversos outros professores (Jouberto Uchôa de Mendonça, entrevista concedida em 27/05/2005). Ao longo de sua trajetória profissional procurou aperfeiçoar-se, sendo inclusive contemplada, na década de 50, com bolsa para fazer curso de Artes Aplicadas no Rio de Janeiro pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial que teve duração de 18 meses. Rosa fez vários cursos, mais nunca ingressou em curso superior, porque não existia no Estado. As primeiras Faculdades foram sendo formando já na minha época, por essa razão, eu acredito que ela também não teve oportunidade de fazer Curso Superior, mas fez muitos cursos fora do estado de Sergipe. No Rio, ela foi premiada pela inteligência e pela distinção que ela demonstrava em tudo que fazia (Ivone Mendonça de Souza, entrevista concedida em 10/06/2005). Ainda no Rio fez curso de Extensão Universitária, na Universidade do Brasil, sobre a Psicologia Adolescente e Curso de Psicologia Educacional de Adolescente, promovido pela Associação Brasileira de Educação. Fez também Curso de Desenho em 1952 (Registro n.º D 16299), com autorização de lecionar desenho em todo Território Nacional. Em 1956, fez o Curso de Didática pela Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, o Curso de Orientação Didática e Relações Humanas, pela Escola de Serviço Social de Sergipe e em

1959, de Psicologia pelo Centro Acadêmico Silvio Romero, da Faculdade de Direito de Sergipe, e ministrado pelo Profº João Batista Perez Garcia Moreno. No Rio de Janeiro, onde ela fez o curso, passou quase dois anos, oportunidade que aproveitou para pesquisar na Biblioteca Nacional e no Arquivo Público, do Rio de Janeiro (Maria Lígia Madureira Pina entrevista concedida em 18/06/2005). Rosa Faria foi uma pessoa que exerceu múltiplas atividades. Ao enumerá-las ela informa que foi taquigrafa telegrafista, pesquisadora, poetisa, artista, jornalista e em primeiro lugar, professora. Desse somatório de atividades, gostaria de destacar a Rosa que associando seus conhecimentos de professora às artes da pintura, ajudou a construir uma memória de Sergipe, enquanto divulgava o nosso Estado (Beatriz Góis Dantas, entrevista concedida em 16/06/2005). Ainda como professora do SENAI em 1946, foi indicada para dar curso de artes plásticas em Petrolina, quando era bispo daquela cidade, D. Avelar Brandão Vilela. Como artista plástica e historiadora foi vencedora do concurso de pintura criado pela Prefeitura de Aracaju, alusivo ao Primeiro Centenário de Aracaju, sendo classificada em primeiro lugar. Segundo Pina (1999), Rosa foi vencedora do 1º Centenário de Aracaju, instituído pelo Prefeito Dr. Jorge Maynard e realizado no governo de Dr. Roosewelt Menezes, 1955, merecendo aplausos em público de pessoas expressivas da nossa sociedade, como Epifhânio Dorea e o artista Rodolfo Tavares. Em 1954, escreveu um trabalho sobre a crise do Adolescente, em 1947, fez a biografia do Primeiro Bispo de Sergipe, Dom José Tomás Gomes da Silva e em 1975, escreveu o Hino do 4º Centenário do Início da Civilização em Sergipe e realizou várias exposições de pintura na capital sergipana, em Recife e Rio através de amigos como Dom Helder Câmara e Helena Lauly. Outro importante aspecto da trajetória de Rosa M Faria foi a publicação do livro Sergipe Passo a Passo pela sua História, que consiste em cento e vinte e duas placas de cerâmica contando a História do nosso Estado, o qual se baseou em documentos. Este livro foi assim analisado pelos entrevistados: O livro Sergipe passo a passo pela sua história da autoria de Rosa Faria é uma tentativa de perenizar no suporte papel o que ela desenvolvia sobre objetos (tela, cerâmica porcelanizada sob a forma de pratos e azulejos), que apresentava ao público do seu Museu (Beatriz Góis Dantas entrevista concedida em 16/06/2005). Rosa costumava presentear Instituições com obras suas, a exemplo da PMSE, com a imagem de Tiradentes contendo dados biográficos em painel de azulejo; a Loja Maçônica Cotinguiba uma peça de cerâmica do antigo Templo; a Paróquia do Orlando Dantas com um painel de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro; ao 28BC de Sergipe um retrato contendo dados biográficos de Duque de Caxias; a Fernando Collor de Melo um painel em azulejo contendo sua foto. Ela tem obras não apenas em azulejo, mas telas. Na casa de Ivone Mendonça de Souza, encontra-se a tela Primavera. A tela Tempestade e Oração, adquirida por Gisélia Torres, foi presenteado a Cáscia Mª F. Barros depois da sua morte. Outras obras foram doadas a parentes e amigos, a exemplo de Romance Eterno, Espelho da Natureza, Nostalgia Sertaneja. Na Associação Sergipana de Imprensa, encontram-se várias telas a óleo, assim como, na cidade de Capela onde se encontram vários painéis, entre eles, os do Colégio

Imaculada Conceição e da Igreja de Nossa Senhora do Amparo. Criou também as comarcas Gumercindo Bessa para o tribunal de contas e de Tobias Barreto para a Procuradoria da Justiça. A sua mais importante obra possui uma cópia as quais se encontram na casa de Maria Lígia M Pina, e é denominada Incêndio no Canavial. Esta obra serviu de inspiração para que Ligia Pina, poetisa e membro da Academia Sergipana de Letras, registrasse sua impressão em um poema. A partir da tela Incêndio no Canavial, eu criei a história, baseada na escravidão. Ganhei até uma medalha do Rotary Clube, por causa desse poema (Maria Lígia Madureira Pina, entrevista concedida em 18/06/2005). Em 1968, fundou uma Galeria de Arte e História, transformada em 1977 em Museu de Arte e História Rosa Faria, único em Aracaju, construído sem ajuda de nenhum Órgão Público. Uma contrariedade por ocasião da realização de uma exposição sua na Galeria Álvaro Santos, quando foi informada que deveria retirar os quadros, porque outros artistas também queriam expor seus trabalhos, levou-a a criar a Galeria de Arte Rosa Faria. Segundo Maria Ligia M Pina, Ela se sentiu muito magoada. Mas como não era mulher de se render aos desgostos, as coisas ruins que aconteciam, ela procurou dar a volta por cima, então foi que ela resolveu criar a própria Galeria. Depois ela foi multiplicando suas peças e transformou em Museu, tirou o titulo de galeria e botou o nome de Museu de Arte e História Rosa Faria (entrevista concedida em 18/06/2005). A Galeria e posteriormente o Museu tinham por finalidade perpetuar a História de Sergipe, através de um acervo de fatos históricos da vida sergipana, desde a divisão do Brasil em Capitanias Hereditárias. Segundo a professora Beatriz Góis, O Museu de Arte e História apresentava-se para mim, muito mais como um espaço de divulgação de Sergipe, do que propriamente de pesquisa. Esse aspecto da potencialidade de pesquisa, a meu ver, ganha visibilidade a partir do momento em que o acervo de Rosa é incorporado pela UNIT e começou a ser catalogado o que revelou as fontes por ela utilizadas para fazer suas produções de prédios antigos, personagens etc. Mais essa é uma visão muito pessoal de quem não teve muita aproximação com Rosa. Os arquivos de Rosa não eram disponíveis ao grande público. O que era mostrava era apenas o resultado do seu trabalho, através do que estava exposto ou à venda. O acervo de Rosa, hoje reunido no Memorial de Sergipe, é importante fonte de pesquisa para diversos profissionais. A partir da década de 1980 passei a visitar o Museu com certa freqüência, geralmente levando pessoas de outros lugares que queriam ver coisas de Sergipe com um pouco mais de sofisticação do que o que era apresentado nos mercados públicos. Ali tinha objetos para se ver, eram peças do Museu, mais também objetos para se comprar. Como as peças eram por ela produzidas, restava sempre a possibilidade de fazer um novo exemplar, de modo que muitos dos trabalhos eram destinados à venda. Muitos eram produzidos com essa intenção explicita. Eram artigos apresentados a turistas em busca de suvenir original, ou presenteadores que procuravam um mimo que fugisse a mesmice da produção industrial, objetos aos quais a mão da artista imprimia um toque singular e especial. Museu, local de memória de Sergipe e também de comercialização de objetos (entrevista concedida em 16/06/2005).

Rosa Faria, pede o registro do seu trabalho In Memorian publicado pela primeira vez em 1º de dezembro de 1948, e a segunda edição em 04 der agosto de 1973, na qual consta a vida do primeiro Bispo, Dom José Gomes da Silva, em forma de calendário. O Museu de Arte e História Rosa Faria expunha obras de arte nas quais eram utilizados materiais como: ouro, platina, lustres, em relevo, alto relevo, cerâmica vitrificada, vitral, etc. O Museu funcionava das 8h às 12h, das 14h às 18h e das 19h às 21h e era visitado por estudantes, professores, turistas, intelectuais, jornalistas, militares, clero e ministros, onde deixavam suas impressões como testemunho do inestimável valor do Patrimônio Cultural. Recebia inúmeras visitas, registradas no livro de presença como Carmem Viana, Graziela Cabral, Aurélio Buarque de Holanda, Aristeu Bulhões, Monsenhor Carlos Costa, Severino Uchôa, Sebrão Sobrinho, Leyda Regis, Cônego Domingos Fonseca, Dom Luciano Cabral Duarte, os repórteres da globo Cid Moreira e Alexandre Garcia. E todos deixaram registrada a sua admiração. O Dr. José Calazans ficou tão surpreendido e encantado que, parafraseando o poeta Gonçalves Dias, escreveu numa exclamação Meninos eu vi!! (PINA, 1999). Apesar do seu empenho em preservar a memória de Sergipe e em particular de Aracaju, sua obra hoje embora preservada continua pouco conhecida do publico. CONSIDERAÇÕES FINAIS Durante o período colonial, a educação feminina ficou restrita aos conventos, resumido-a a educação da leitura, escrita, formação religiosa e trabalhos manuais, e algumas jovens eram encaminhada aos colégios particulares para dar continuidade aos estudos. Em 1824, a mulher adquiriu direito a educação pública, devido a criação de escolas de primeiras letras. Em 1834, com o Ato Adicional, surge as primeiras Escolas Normais no Brasil. Em 1870, as mulheres lutam pelo direito ao Ensino Superior e após a Revolução Constitucionalista, a mulher vive sua primeira experiência na política. Reconhecendo que as transformações acima mencionadas acontecem nas relações concretas da vida, percebemos a necessidade de fazer um estudo da vida social, cultural e profissional de Rosa Faria, com a finalidade de compreender quais motivos fomentaram a tal educadora construir um acervo de fatos históricos, através de pesquisas, reproduzindo em azulejos, porcelanas, lajotas, ladrilhos e telas a História do Brasil e de Sergipe. Segundo Anamaria Bueno (2003. p. 6) Trata-se de desvendar as intricadas relações entre a mulher, a sociedade e o fato, mostrando como o ser social que ela é articula-se com o fato social que ela mesma fabrica e do qual faz parte integrante. Contudo, foi possível constatar que Rosa Moreira Faria, contribuiu para divulgar a memória do nosso estado, principalmente daqueles que marcara com suas vidas a cultura e história de um povo. Fato que ocorreu devido o retratar de suas peças, educando os jovens com suas aulas de civismo e de história, tendo como suporte o seu acervo, contribuindo para o melhoramento intelectual do povo sergipano.

NOTAS: 1 Capela foi à primeira cidade do interior do Estado de Sergipe a ter um Grupo Escolar. Nesse período, foram também criadas: o Grupo Escolar Modelo, anexo a Escola Normal, o Central, o Barão de Maroim e o General Valadão. Até o final da década de 1920, estavam funcionando no Estado, quatorze grupos escolares cinco na capital e nove nas principais cidades do interior. 2 No dia 20 de fevereiro de 1936 ocorreu o primeiro exame de admissão das futuras normalistas. As provas foram realizadas de acordo com a regulamentação estabelecida por portaria da Diretoria Geral da Instrução Pública do Estado de Sergipe. No dia 1º de março foram iniciadas as aulas da primeira turma de normalistas do Colégio Imaculada Conceição, com 23 alunas (Cf. Livro de Atas do Colégio Imaculada Conceição. p. 55.8). REFERÊNCIAS ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1996. Anais do 17 de março de 1999. Aracaju144 anos, 17 de marco de 1855/1999: Seminário Sergipe uma reflexão histórica. Aracaju: UNIT, 1999. BRITO, Luzia Cristina Pereira. Ecos da modernidade pedagógica na Escola Normal Rui Barbosa - (1930 1957). 2001. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, 2001. BORGES, Vavy Pacheco. Grandezas e misérias as biografia. In: PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Fontes históricas. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2006. p. 203-233. CARVALHO, Maria Isaura Santos de. O compromisso com a educação na trajetória da professora Letícia Soares Sant Anna. 2002. Monografia (Graduação em Pedagogia). Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, 2002. CINFORM. História dos Municípios. Um jeito fascinante de conhecer Sergipe, Edição Histórica, 2002. CRUZ, Maria Madalena da Silva. A trajetória do Grupo Escolar Coelho e Campos (1918-1945). 2002. Trabalho apresentado à disciplina prática de pesquisa (Graduação em História), Universidade Federal de Sergipe, Própria, 2002. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. v. XIX. Rio de Janeiro: IBGE, 1959. FARIA, Rosa M. Sergipe passo a passo pela sua história. Aracaju: J. Andrade, 1995. FREITAS, Anamaria Gonçalves Bueno de. Educação, trabalho e ação política: sergipanas no inicio do século XX. 2003. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Estadual de Campinas- Faculdade de Educação, Campinas, 2003. GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. História da educação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1994. GOLDEMBERG, Miriam. O método biográfico em ciências sociais: a arte de pesquisar. 5. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. GOFF, Jacques Le. Documento/monumento. In: História e memória. 5. ed. Campinas: UNICAMP, 2003. p. 525-541.

GRAÇA. Tereza Cristina C. da. Pés-de-Anjo e letreiros de neon Ginasianas na Aracaju dos Anos Dourados - Cultura Urbana e Práticas Escolares nos anos 50. 1998. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 1998. HILSDORF, Maria Lucia Spedo. História da educação brasileira: leituras. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. PINA, Maria Lígia Madureira. A mulher na história. Aracaju: Fundese, 1994. MEDINA, Ana Maria Fonseca. Memória da Ordem do Mérito Serigy. Aracaju: J. Andrade, 2005. MENDONÇA, Jouberto Uchôa de; SILVA, Maria Lúcia Marques Cruz e. Sergipe panorâmico. Aracaju: UNIT, 2002. NUNES, Maria Thetis. História da educação em Sergipe. Aracaju: UFS, 1984. RUDIO, Franz Víctor. Introdução ao projeto de pesquisa científica. 19. ed. Petrópolis: Vozes, 1995. SANTOS, Lenalda Andrade; OLIVA, Terezinha Alves de. Para conhecer a história de Sergipe. Aracaju: Opção Gráfica, 1998. SANTOS, Maria das Graças Oliveira. Memorial de Sergipe em textos. Aracaju: UNIT, 2000. SOUZA, Josefa Eliana. Nunes Mendonça: um escolanovista sergipano. São Cristóvão: UFS, 2003. SOUZA, Luciana Santos de. Difusão cultural em Sergipe: o papel da sociedade cultural casa do livro no município de Capela, no período de 1928 a 1945. 2004. Monografia (Graduação em Pedagogia). Universidade Tiradentes, Aracaju, 2004. TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. ENTREVISTAS Beatriz Góis Dantas, historiadora - entrevista concedida em 16/06/2005. Cascia Maria Freire de Barros, amiga e advogada - entrevista concedida em 12/06/05. João Guilherme da Rocha Farias, irmão entrevista concedida em 31/05/05. Maria Auxiliadora Farias de Santana, irmã - entrevista concedida em 31/05/05. Manoel Cabral Machado, amigo - entrevista concedida em 24/05/05. Ivone Mendonça de Souza, amiga - entrevista concedida em 10/06/05. José Sebastião dos Santos, amigo - entrevista concedida em 13/06/05. Maria Ligia Madureira Pina, amiga - entrevista concedida em 18/06/05. Luiz Antônio Barreto, amigo - entrevista concedida em 30/05/05. Jouberto Uchôa de Mendonça, ex-aluno - entrevista concedida em 25/05/2005. Ofenisia Soares Freire, amiga - entrevista concedida em 15/06/2005. Nazaré Carvalho, amiga - entrevista concedida em 13/06/05.