CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE - FAC CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL NATÁLIA DE ANDRADE LOPES



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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE - FAC CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL NATÁLIA DE ANDRADE LOPES SOB O OLHAR DOS CLIENTES : A IMAGEM DO BANCO PALMAS COMO EXPERIÊNCIA COLETIVA DE ECONOMIA SOLIDÁRIA NO CONJUNTO PALMEIRAS FORTALEZA - CE 2013

NATÁLIA DE ANDRADE LOPES SOB O OLHAR DOS CLIENTES : A IMAGEM DO BANCO PALMAS COMO EXPERIÊNCIA COLETIVA DE ECONOMIA SOLIDÁRIA NO CONJUNTO PALMEIRAS Monografia submetida à aprovação da coordenação do curso de Serviço Social do Centro Superior do Ceará como requisito parcial para obtenção do grau de Graduada em Serviço Social, sob orientação do Prof.Ms. Mário Henrique Castro Benevides. FORTALEZA - CE 2013

NATÁLIA DE ANDRADE LOPES SOB O OLHAR DOS CLIENTES : A IMAGEM DO BANCO PALMAS COMO EXPERIÊNCIA COLETIVA DE ECONOMIA SOLIDÁRIA NO CONJUNTO PALMEIRAS Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data da aprovação: / / BANCA EXAMINADORA Professor Ms. Mário Henrique Castro Benevides (Orientador) Faculdades Cearenses - FaC Professor Ms Francisco Secundo Neto FAMETRO Professor (a) Ms Priscila Nottingham Faculdades Cearenses - FaC

Aos meus pais, D. Francisca e seu Maciel (in memorian). Ao meu amor e companheiro, Ribamar Júnior

AGRADECIMENTOS Aos meus pais/avós D. Francisca e Maciel (in memorian). Obrigada pela grande missão em desempenhar esse duplo papel com muito amor. Agradeço a vocês pela minha formação como pessoa e pelos valores que hoje carrego. A minha linda e grande família, meu maior tesouro... Ao meu amor e companheiro, Ribamar Júnior, pelo incentivo diário... você me faz continuar... Obrigada por estar sempre ao meu lado. Kézia, Janielle, Cristiane, Mikaella, Franciana: vocês são mais que colegas de profissão: são minhas amigas! Vocês tornaram esses quatro anos menos densos, e as tenho como um grande presente de Deus. Mikaella, obrigada por ter me apresentado a Economia Solidária, através de um dos trabalhos durante o semestre. Posso dizer que a primeira semente lançada para essa pesquisa nasceu ali. Franciana, nunca vou esquecer seu companheirismo na caça ao orientador. Obrigada mesmo pela preocupação, ajuda e principalmente o apoio e incentivo nos rumos da pesquisa. Germana, querida cunhada, obrigada por contribuir com a revisão deste trabalho. Obrigada pelo apoio! Aos meus amigos, colegas e pessoas as quais me relacionei durante a formação profissional, que tenho um carinho muito singular. Tantos entraram e saíram no decorrer do curso, mas cada um deixou um pouco de si. Maximiana, obrigada pela contribuição ímpar para minha formação profissional durante período de estágio no Hospital Gonzaguinha do José Walter.

Ao corpo docente da FaC, que colaboraram com meu processo de aprendizagem. Obrigada por compartilhar conosco o capital do cumulativo do conhecimento. Ao meu orientador Mário Henrique Benevides, pela dedicação, compromisso, humildade, e sabedoria a cada orientação, principalmente pelo apoio na difícil tarefa de mudar a pesquisa no andar do semestre. Obrigada por ter confiado em mim. A grande contribuição das participantes das entrevistas. A pesquisa não teria sentido sem a participação delas. Enfim, obrigada a todos. Deixo os meus mais sinceros agradecimentos por terem colaborado de forma tão singular para que esta fase se tornasse possível.

Muito dinheiro na mão de poucos gera o caos, enquanto pouco dinheiro na mão de muitos gera resultados impressionantes em termos de progresso econômico e social. Mohammad Yunus

RESUMO Este trabalho é uma proposta de análise da imagem do Banco Palmas como experiência coletiva de economia solidária no Conjunto Palmeiras, sob o olhar dos clientes pequenos comerciantes e trabalhadores autônomos. Nele buscou-se elucidar o processo de reestruturação produtiva e o contexto neoliberal, para através da abordagem qualitativa, chegar a estas iniciativas tituladas de Economia Solidária, que podem ser consideradas como uma das alternativas de trabalho e renda aos trabalhadores, especialmente aos menos qualificados. Debateu-se também acerca das iniciativas da Associação de Moradores do Conjunto Palmeiras, através da criação do Banco Palmas que foi criado em 1998, como mecanismo de inclusão financeira, geração de trabalho e renda no bairro e incentivo à produção e ao consumo interno através de uma moeda local circulante, tendo como objetivo principal identificar como essa iniciativa contribui para o trabalho desses sujeitos. Fundamentado nos depoimentos de pequenos comerciantes e trabalhadores autônomos, discute-se sobre os resultados da pesquisa, nos quais se buscou perceber a visão das entrevistadas acerca dessa forma alternativa de fazer economia e quais as implicações nas suas vidas e em seu trabalho. E por último, mostramos as percepções e compreensões acerca dessa temática. Palavras-chaves: Economia solidária. Reestruturação Produtiva. Banco Palmas

ABSTRACT This work is a proposal for analysis of the image of the Bank Palmas as a collective experience of solidarity economy in the Conjunto Palmeiras, under the "the look of the customers"-small merchants and self employed. In it we sought to elucidate the process of productive restructuring and neoliberal context, In it we sought to elucidate the process of productive restructuring and neoliberal context, through qualitative approach to reach these experiences alternatives titled Solidarity Economy, which can be considered as an alternative work and income to workers, especially the less qualified. It is also discussed about the initiatives of the Association of Residents of Conjunto Palmeiras, through the creation of Banco Palmas which was created in 1998 as a mechanism for financial inclusion, generation of employment and income in the neighborhood and encourage the production and internal consumption through one local currency circulating having as main objective to identify how this initiative contributes to the work of these individuals. Based on the testimonies of small merchants and self-employed, we discuss the results of the survey, in which it sought to realize the vision of the interviewees about this alternative way of doing economics and the implications on their lives and their work. Finally, we show the perceptions and understandings concerning this subject. Key Words: Social Economy. Productive Restructuring. Palmas Bank

LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 Trabalho artesanal das garrafas empalhadas...23 QUADRO 1 Publicações do Banco Palmas...46 FIGURA 2 Números do Banco Palmas...47 QUADRO 2 Rede Solidária de Produção e Consumo Local da ASMOCONP/ Banco Palmas...48 FIGURA 3 Banco da Periferia...51 FIGURA 4 Rede Brasileira de Bancos Comunitários...53 QUADRO 3 Parceiros Governamentais e Não Governamentais...54

LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS Associação dos Moradores do Conjunto Palmeiras (ASMOCONP) Centro Industrial do Ceará (CIC) Conselho Nacional de Economia Solidária (CNES) Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) Fórum Socioeconômico Local (FECOL) Fundação de Serviço Social de Fortaleza (FSSF) Fundação Municipal de Profissionalização, Geração e Emprego e Renda e Difusão Tecnológica da Prefeitura de Fortaleza (PROFITEC) Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) Organização Não Governamental (ONG) Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) Sistema Nacional de Cooperativas de Economia e Credito Solidário (ECOSOL)

SUMÁRIO INTRODUÇÃO... 12 1 A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E O CONTEXTO NEOLIBERAL 1.1 Transformações no mundo do trabalho a partir da reestruturação produtiva 16 1.2 As implicações sociais e econômicas deste novo modelo de produção... 19 1.3 Novas formas de organização e sistematização do trabalho... 24 2 OS DISCURSOS SOBRE ECONOMIA SOLIDÁRIA: ENTRE A RETÓRICA DA POLÍTICA E AS INICIATIVAS COMUNITÁRIAS DE AUTOGESTÃO 2.1 A política de economia solidária versus a lógica capitalista... 26 2.2 O primeiro contato: conhecendo o cenário e os sujeitos da pesquisa... 30 2.3 A gênese do Conjunto Palmeiras: uma história pautada na organização e mobilização popular... 34 2.4 Criação do Banco Palmas: uma estratégia da ASMOCONP de inclusão financeira... 40 2.5 A retórica do Banco Palmas: como este se apresenta publicamente... 44 2.6 Sob a ótica dos clientes: a imagem do Banco e da moeda Palmas para a economia local... 54 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 66 REFERENCIAS... 70 APENDICES... 74 APÊNDICE A- ROTEIRO PARA ENTREVISTA E QUESTIONÁRIO... 75 APÊNDICE B PERFIL DOS ENTREVISTADOS... 76 ANEXOS... 77 ANEXO A- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO... ANEXO B- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO... 78 79

12 INTRODUÇÃO Esta pesquisa constitui-se em uma análise da imagem do Banco Palmas, como experiência coletiva de Economia Solidária no Conjunto Palmeiras, construída sob o olhar dos clientes pequenos comerciantes e trabalhadores autônomos a fim de identificar como esta iniciativa contribui para o trabalho desses sujeitos. O envolvimento com esta discussão surgiu através de um dos trabalhos do curso de graduação apresentado por uma amiga, ocasião que despertou a curiosidade em conhecer de perto o mecanismo de organizações comunitárias através de formas alternativas de gerar emprego e renda em territórios economicamente pobres, especificamente no Conjunto Palmeiras. Nessa perspectiva, entendemos que, inseridos no sistema capitalista global, são vários os desafios para efetivar formas alternativas e solidárias de desenvolvimento econômico local, tanto para os Bancos Comunitários, como para os moradores, em relação ao cultivo da cultura da solidariedade. Assim, para a realização desta pesquisa, partimos da seguinte indagação: como essas iniciativas comunitárias de economia solidária afetam a vida dos sujeitos que estão à margem do mercado de trabalho ou que buscam no trabalho autônomo uma forma de empregabilidade? A partir desse questionamento podemos citar outros pertinentes ao tema: a moeda e o Banco Palmas fazem alguma diferença para estes trabalhadores? O que mudou no bairro com o Banco Palmas e sua moeda de circulação local? Os questionamentos apontados nesse estudo buscam obter novos conhecimentos sobre o assunto, com a finalidade de discutir seus resultados tanto na esfera acadêmica quanto no mercado de trabalho, fazendo com que os efeitos desta pesquisa favoreçam e tragam contribuições aos profissionais da área, aos estudantes, ao poder público, aos usuários e outros.

13 O presente trabalho teve como objetivo geral analisar a imagem do Banco Palmas construída por comerciantes e trabalhadores autônomos, clientes da instituição, no sentido de conhecer esta experiência coletiva de Economia Solidária no Conjunto Palmeiras. Como objetivos específicos, procuramos compreender esse mecanismo de geração de emprego e renda através da fala dos sujeitos; identificar como essa iniciativa afeta a vida desses comerciantes e trabalhadores autônomos; e analisar o significado da moeda e do Banco para estes sujeitos. O tema é muito pertinente se levarmos em consideração que essas experiências são organizadas e alicerçadas em princípios de cooperação, autogestão e solidariedade, que dão sentido às suas ações, tendo como finalidade o desenvolvimento econômico da comunidade que o criou e o utiliza. Para dar subsídios para nos aprofundarmos este estudo, foram utilizadas como embasamento as categorias teórico-temáticas: Reestruturação Produtiva, Economia Solidária e Banco Palmas. Portanto, mostramos as mudanças no mundo do trabalho a partir do processo de reestruturação produtiva segundo as discussões de Ricardo Antunes (2012), relacionando esta,às implicações sociais e econômicas deste novo modelo de produção com as discussões de Richard Sennett (2010). Apresentamos também a categoria Economia Solidária através dos discursos de Luiz Inácio Gaiger (2003) e Paul Singer(2002), bem como trabalhamos a categoria Banco Palmas tendo como base os estudos das publicações oficiais da instituição, para compreendermos outros elementos e como estes se apresentam publicamente. Tivemos como campo de estudos para esta pesquisa o Conjunto Palmeiras, localizado na cidade de Fortaleza-CE, escolhido por ser uma experiência pioneira em banco comunitário no Brasil, que traz em sua essência uma economia diferente dos moldes capitalistas, buscando, através de uma perspectiva solidária, fomentar inclusão social e financeira dos moradores locais.

14 No sentido de observar a realidade e de que forma essas iniciativas, tituladas de Economia Solidária, afetam o modo de vida dos indivíduos, optamos por fazer uma pesquisa influenciada por uma análise do materialismo histórico, pois, através dele, podemos pensar a realidade a partir da perspectiva dos sujeitos, ou seja, reconhecendo que eles estão interpretando a realidade, nas questões econômicas e políticas. É o momento em que o real é mostrado a partir da realidade vivida por esses sujeitos. O enfoque qualitativo foi predominante neste estudo, em busca de uma maior visibilidade e apreensão da realidade proposta, a partir da qual podemos trabalhar com um nível de realidade subjetiva que não pode ser quantificado. Através da pesquisa qualitativa, pudemos analisar a realidade dessa comunidade, através do olhar de comerciantes e trabalhadores autônomos além de nos permitir um olhar mais abrangente sobre o tema. A coleta de dados foi realizada no período de abril de 2013, com comerciantes e trabalhadores autônomos do Conjunto Palmeiras, e se deu através da aplicação de um breve questionário (cf. apêndice A), em que foi traçado o perfil dos entrevistados (cf. apêndice B), e pesquisa de campo,na qual foi aplicada a técnica da entrevista.para a entrevista, foi elaborado um roteiro (cf. apêndice A), que contemplou perguntas tematizadas e semi-estruturadas, através das quais o entrevistado tem possibilidade de discorrer o tema proposto. Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas de forma integral e, logo após, realizamos a leitura cuidadosa de cada depoimento, procurando identificar os aspectos significativos sobre a temática de interesse. Fizemos uma comparação entre a fala dos sujeitos sobre os temas propostos e utilizamos alguns de seus depoimentos no decorrer da pesquisa. O universo da pesquisa é composto por um total de 05 (cinco) pequenos comerciantes e trabalhadores autônomos para a realização desse estudo. O parâmetro estabelecido para a escolha dos sujeitos foi que os mesmos utilizassem algum serviço ofertado pelo Banco Palmas, pois assim deveriam conhecer melhor a proposta de economia solidária dessa instituição.

15 Todos os entrevistados foram convidados a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (cf. anexos A e B), impresso em duas vias, onde a primeira ficou com a entrevistada e a segunda com a entrevistadora. Nesse termo consta que sua identidade será preservada, e seu anonimato garantido. Nesse estudo, seus nomes foram substituídos pela atividade laboral exercida por cada um. Diante do exposto, a monografia foi estruturada em dois capítulos, além da Introdução e Considerações Finais. Embora algum aspecto não tenha sido devidamente aprofundando foi realizado um amplo esforço para dar conta da pesquisa proposta, bem como dos outros assuntos que a complementam. No primeiro capítulo, abordamos o tema Reestruturação produtiva e o contexto neoliberal contextualizando o cenário das transformações no universo do trabalho e da classe trabalhadora com o advento do neoliberalismo e sua expansão em nível global. Faz-se primeiro essa discussão, tendo em vista as consequências geradas no bojo econômico, social, político que afetaram os sujeitos que vivem do trabalho e a intervenção, cada vez mais, mínima do Estado na economia, para podermos elucidar nos capítulos subsequentes as iniciativas da classe trabalhadora, tituladas de Economia Solidária, como alternativa a atenuar esses impactos, principalmente o desemprego. No segundo capítulo, trabalhamos os discursos sobre economia solidária: entre a retórica da política e as iniciativas comunitárias de autogestão, no qual realizamos uma discussão sobre novas formas de fazer economia, que conduzem a outro modelo de desenvolvimento, tendo como base a experiência do conjunto palmeiras através do banco palmas, trazendo os elementos da pesquisa. Por último, serão tecidas nossas considerações finais acerca do estudo elaborado e dos materiais coletados durante a pesquisa.

16 1 A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E O CONTEXTO NEOLIBERAL 1.1 Transformações no mundo do trabalho a partir da reestruturação produtiva A década de 1970 foi o período em que o capitalismo e seu sistema de produção engendraram significativas mudanças no universo do trabalho e da classe trabalhadora. No mundo do trabalho, deu-se via processo de reestruturação produtiva que pôs em xeque a crise do taylorismo e fordismo, marcando a transição para o modelo de produção toyotista, o que o cientista social e geógrafo norteamericano David Harvey chamou de era da acumulação flexível 1 (ANTUNES, 2012 apud HARVEY,1992). Para a classe trabalhadora, essas mudanças contribuíram para o desemprego e para a precarização do trabalho de homens e mulheres e para a desvalorização de sua mão de obra como mercadoria. Essas mudanças aconteceram devido à expansão do capitalismo em nível global, à crise econômica do período pós-guerra e à financeirização da economia, levando muitas indústrias à falência por não pagarem seus financiamentos com os bancos. Diante da crise financeira, a saída encontrada pelas empresas foi investir em um maquinário capaz de aumentar sua produção e enxugar as folhas de pagamento, gerando uma onda massiva de desempregados, mantendo apenas um número mínimo de trabalhadores capaz de operar simultaneamente várias máquinas. Essa reestruturação produtiva limita o trabalho vivo, ampliando o maquinário tecnocientífico, que Marx denominou de trabalho morto, (ANTUNES, 2011, p. 53, apud MARX, 1972) reduzindo assim a força de trabalho e ampliando sua produtividade, resultando no desemprego massivo e na precarização do trabalho. Isso também acabou gerando um processo de desindustrialização, no qual grandes indústrias desconcentram-se e distribuem-se em polos produtivos 1 HARVEY, David. A condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992.

17 pequenas e médias empresas levando a um processo de reterritorialização produtiva, principalmente em países em desenvolvimento que atraiam as empresas de capital externo oferecendo isenções fiscais para estas se instalarem e gerarem empregos locais, implicando numa nova divisão do trabalho em alguns setores industriais nos países capitalistas de primeiro mundo. A produção também passa a ser um diferencial daquele modelo padrão fordista, pois, com a crise financeira, não há mercado consumidor para absorver o mesmo produto em grande escala. A lógica agora é produzir coisas personalizadas por uma equipe qualificada que começa e finaliza o processo, buscando um padrão de qualidade e a satisfação do consumidor. Para Antunes (2012), o mercado de trabalho absorveu muitos aspectos do toyotismo, modelo de produção criado no Japão do pós-segunda Guerra, que demandava um trabalho menos especializado e multifuncional nos diversos espaços fabril, industrial, serviços. Nessa nova lógica de acumulação capitalista, o homem deve exercer na automação funções mais abstratas e intelectuais (GOERK, 2005 apud IANNI, 1999, p.19), fazendo com que o mercado requisite constantemente um profissional mais qualificado e polivalente. Parafraseando Iamamoto, polivalente, aquele que é chamado a exercer várias funções, no mesmo tempo de trabalho e com o mesmo salário, como consequência do enxugamento do quadro de pessoal das empresas (IAMAMOTO, 2012, p. 32). Por isso que, nos nossos dias, o trabalhador passa a ser chamado de colaborador, assumindo um trabalho menos especializado e multifuncional, bem diferente daquele proposto pelo modelo fordista. Esse novo sistema de produção, denominado modo de acumulação flexível ou toyotismo, não deve ser entendido como um avanço em relação ao modelo fordista e taylorista, o que, para Goerk (2006 apud MATTOSO,1995), consiste da mesma forma em manter a alienação do trabalhador aos processos produtivos, só que de uma forma cada vez mais irreversível, pois acarreta mudanças qualitativas e quantitativas na vida dos trabalhadores.os trabalhadores tornam-se inseguros em relação ao mercado de trabalho, ao emprego, à geração de renda, às formas de contratação e à sua representação sindicatos. As longas jornadas de

18 trabalho são agora delineadas e substituídas pelas horas extras, ofertas de empregos efetivos são substituídas pelas terceirizações e trabalhos temporários. Essas transformações no modelo de produção capitalista em nível global, de acordo com Antunes (2012, p. 61), tiveram forte incentivo com as experiências neoliberais propostas na Inglaterra por Margareth Thatcher, eleita em 1979, e por Ronald Reagan, eleito em 1981, nos Estados Unidos. Essas experiências neoliberais surgem como alternativa à substituição ao Welfare State, através de uma onda de liberalizações, desregulamentações e privatizações que se revelaram instrumentos importantes para o desenvolvimento dos fluxos internacionais de capitais. Dessa forma, regido pelo mundo do mercado, incentivaram-se as privatizações, minimizando o papel do Estado no âmbito produtivo e o desmonte das políticas sociais públicas, implicando a perda dos direitos sociais adquiridos historicamente pela classe trabalhadora. No Ceará, de acordo com Teixeira (2000, p. 24),esse processo de reestruturação produtiva chega num momento ainda não propício ao desenvolvimento desses novos métodos e técnicas modernas, tendo em vista o período ainda de domínio dos coronéis, considerados como os responsáveis pelo atraso político, econômico e social no desenvolvimento do Estado. A introdução desses novos métodos só se faria com novas forças políticas no comando da coisa pública. Segundo Teixeira (2000, p. 25), surge, então, em meados da década de 1970, um grupo de empresários cearenses que diziam ter um projeto modernizador que libertaria a sociedade cearense do poder dos coronéis e das relações políticas pautadas nas trocas de favores e apadrinhamento. Quando esse grupo de empresários recebe o Centro Industrial do Ceará (CIC) das mãos da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), promovem uma campanha de esclarecimento à sociedade, discutindo um novo projeto para o Ceará. De acordo com Nobre (2008, p. 69), esse discurso neoliberal no Ceará foi apresentado na primeira campanha de Tasso em 1986 através do Projeto das mudanças 2,assentado em nítidas bases 2 Termo utilizado para designar as administrações desse ciclo de hegemonia.

19 ideológicas, alimentando que a única forma de superar a pobreza do Ceará seria com sua inserção no mercado mundial. Logo que eleito, Tasso Jereissati pôs em prática as primeiras medidas: contenção de despesas e enxugamento do quadro de funcionários, e a reestruturação da economia cearense através de um Pacto de Cooperação, a partir da interação entre o governo do Estado e o empresariado, dando início à lógica neoliberal da máquina pública no Ceará. (TEIXEIRA, 2000, p. 29). Para Antunes (2012), as consequências em nosso país são tão intensas que estudiosos têm afirmado que parcela significativa do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro transferiu-se do setor produtivo estatal para o capital privado em função do intenso processo de privatização ocorrido nos anos 1990. Uma década depois, Nobre (2008, p. 72) aponta que, assim como no Brasil, as privatizações no Ceará ocorreram nos setores estratégicos e mais lucrativos, sendo os exemplos mais importantes o de energia elétrica (Coelce) e o de telecomunicações (Teleceará) no ano de 2006. A Constituição de 1988 assume um divisor de águas para as políticas públicas e aos direitos conquistados pela classe trabalhadora, porém estes logo são subordinados à mercantilização, obedecendo à lógica econômica e produtiva. E o Estado? Esse aparece como provedor de mínimos para os diversos serviços públicos, principalmente na saúde, educação e previdência, afetando gravemente os trabalhadores dos setores estatal e público. 1.2 As implicações sociais e econômicas deste novo modelo de produção Na década de 1940, o Brasil marca a passagem de um país agrícola para industrializado, embora ainda subdesenvolvido, ocasionando a migração de trabalhadores rurais para os centros urbanos. Em Fortaleza, esse crescimento populacional, ao longo dos anos, tem seu início em detrimento às secas periódicas, e, embora com o aumento do setor industrial, este não demandava postos de trabalho capazes de absorver o grande contingente de trabalhadores que chegava à capital fugindo da seca. Isso acarretou uma série de consequências ao cenário urbano, entre elas, a violência e a formação de extensas periferias urbanas. Ao final

20 dos anos 1980, durante a gestão da prefeita Maria Luíza Fontenelle, os mutirões começaram a compor a paisagem urbana da cidade, alterando sobremaneira sua imagem. (SILVA, 2000). Ainda de acordo com Silva (2000), a partir dos anos 1980, dentro dessa lógica da reestruturação produtiva, as indústrias buscam instalações em espaços nas cidades menores, regiões metropolitanas, buscando reduzir ainda mais os custos da produção e distanciar-se dos entraves com as lutas sindicais. Nos anos 1990, a globalização da economia impulsiona outros setores produtivos, principalmente, o ramo de prestação de serviços e o turismo que ganha destaque na economia nordestina como possibilidade de geração de emprego e renda, dando margem a um amplo segmento da população ligado ao artesanato e a atividades voltadas à cultura regional. Nesse contexto, o trabalho dentro dessa sociedade capitalista se torna fator primordial para aderir às regras que esta condiciona. No entanto, na sua ausência, são comprometidas outras dimensões das relações sociais. E o que acontece quando estão desempregados? Como isso os afeta? O que acontece nas suas casas? Como eles interagem com seus parceiros e com as suas famílias? Além das relações sociais, este tema propicia uma discussão política e ética do que está no pano de fundo: o desemprego estrutural, a precarização do trabalho e o impacto sobre o caráter pessoal. Vai se revelando o lugar e o sentido do de produção do trabalho como fontes de garantia de subsistência, de posição social e de constituição de identidades, submetendo as pessoas a buscarem empregos precários em outras atividades de trabalho e a buscarem estratégias de empregabilidade em atividades que não lhes fazem sentido. (SENNET, 2010) Tais mudanças e incertezas que nasceram com a reestruturação produtiva acarretaram transformações importantes e decisivas no mundo do trabalho, como o valor que é dado ao mesmo pela sociedade atual e do padrão de vida alcançado pela pessoa enquanto ativa. As consequências implicaram nas mais diferentes instâncias da vida das populações, desde a aquisição de uma tão sonhada casa própria ou na instituição família.

21 No mundo contemporâneo marcado pela globalização, industrialização, busca incessante do lucro e pelo aumento da automação que leva ao desemprego, demanda um sistema que, de acordo com Sennett (2010), pede aos trabalhadores que sejam ágeis, abertos à mudança de curto prazo. O autor ainda destaca que é por conta desse capitalismo flexível que hoje cada vez mais são frequentes as agências de emprego temporárias ou terceirizadas, para que dependam cada vez menos de leis e procedimentos formais que se caracterizam fundamentalmente pela perda de direitos sociais e trabalhistas, trazendo a constante incerteza da permanência do trabalhador, frente às constantes reduções que acontecem no quadro funcional. Os trabalhadores que não acompanham tais mudanças e que não têm como preparar-se para responder às necessidades impostas por esta nova ordem estão automaticamente desligados e fora do mercado de trabalho. As condições que essa nova economia gera, são destacadas por Sennett (2010, p. 27) em seu livro A corrosão do caráter. O autor destaca as consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo, nesse sistema que alimenta a experiência com a deriva no tempo, de lugar em lugar, de emprego em emprego, onde os trabalhadores lidam com a incerteza quanto à duração de seu emprego e nos impõem questionar como se podem buscar objetivos de longo prazo numa sociedade de curto prazo?. Em contrapartida, diante desse quadro e num contexto de alta competitividade, intensa globalização e de economia capitalista, exigem uma mão de obra jovem, partindo do princípio de que é um público mais adepto à mudança. Nesse sentido, as implicações tendem a avolumar-se à medida que este indivíduo vai envelhecendo, pois, nesse sistema, vai sendo cada vez mais colocado a escanteio, encontrando dificuldades para ingressar no mercado formal de trabalho, formando um grande número de sobrantes que não conseguiram se inserir nas novas exigências criadas pelo modelo de produção vigente. Esse novo capitalismo, ao excluir os indivíduos de suas indústrias, obriga-os a criarem formas próprias e individualizadas de gerarem renda, de suprirem suas necessidades, gerando um grande contingente de trabalhadores autônomos.

22 Estas implicações reproduzem como o Estado e o capitalismo, influenciam na vida das pessoas, fazendo com que elas "parem" na vida cotidiana, não conseguindo se desenvolver, pela situação social do desemprego, pois pensam que suas habilidades como trabalhadores de nada servem depois que foram substituídos por um maquinário ou por outra mão de obra mais qualificada. Assim, são forçados pelas circunstâncias a procurar trabalho na informalidade. Porém, esta prática vigente tira do trabalhador a garantia de proteção social, haja vista que, nessas condições, o trabalhador não conta com seguro-desemprego, férias remuneradas, entre outras formas de amparo por parte do Estado. Essa precarização do trabalho em escala globalizada, postas pelas relações capitalistas, afetam predatoriamente comunidades que lutam em busca de formas alternativas e solidárias de fazer a economia local. Aproximando nossa discussão aos resultados da pesquisa realizada no Conjunto Palmeiras, encontramos também o exercício do trabalho não regulamentado para alimentar a cadeia produtiva de grandes empresas. O que resume bem essa condição é a fala de uma artesã, por meio de entrevista 3, que, além da venda de tapioca, ainda encontra tempo para o ofício que aprendeu com a mãe, que trabalha na informalidade para uma empresa do ramo de bebidas, em uma relação que consiste na venda do trabalho artesanal em troca de um valor agregado à produção. É, eu vejo minha mãe, ela trabalha pra Ypioca há uns 35 anos (...). Então ela não tem carteira assinada, não tem nada, nenhum seguro. Eu vejo, assim, a luta dela pra ela se aposentar por tempo de serviço. Por idade... Então eu fico pensando... eu não queria passar por isso. Queria muito parar de fazer isso aqui, e trabalhar fora, de carteira assinada pra ter uma segurança, mas até agora eu não consegui porque eu tenho duas filhas, (...) mas eu tenho vontade quando elas crescerem mais um pouquinho, eu quero ir trabalhar de carteira assinada. Eu reconheço que tem as garantias de trabalhar de carteira assinada. (Artesã) Esse trecho me faz refletir o quanto essas pessoas não têm outra expectativa de emprego, por não saberem fazer outra coisa que lhe gere renda, 3 Entrevista realizada em 22 de Abril de 2013. As entrevistas serão analisadas no capítulo 2. O fragmento da fala nesse contexto tem o objetivo de iniciar uma relação entre o que já foi discutido acerca das implicações sociais e econômicas advindas do processo de reestruturação produtiva, trazendo elementos do campo pesquisa.