O fim da escravidão MÓDULO 5. Nesta aula. O quadro internacional. É declarada extinta a escravidão no Brasil. 0Revogam-se as disposições em contrário.

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Transcrição:

A UA UL LA MÓDULO 5 O fim da escravidão Nesta aula É declarada extinta a escravidão no Brasil. 0Revogam-se as disposições em contrário. Essas duas frases estão na lei que acabou com quatro séculos de escravidão no Brasil. Aprovada pela Câmara dos Deputados, com apenas 9 votos contrários entre 92, a chamada Lei Áurea foi assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888. Depois da libertação, a festa. Comemorações, discursos de vitória, folia - como não poderia deixar de ser... Afinal, tinha sido uma longa história de lutas e de busca de liberdade dentro do estreito campo da escravidão - que, por isso mesmo, foi se alargando com o tempo. O sonho fora alimentado e tornado possível. O desejo de liberdade esteve sempre presente, como podemos perceber na longa história da escravidão africana no Brasil, cheia de acontecimentos e histórias que demonstram a não-aceitação do cativeiro. Mas, se isto é verdadeiro, como e por que foi apenas no século XIX que a sociedade brasileira pôde finalmente propor e realizar a abolição definitiva da escravidão? É o que vamos procurar entender nesta aula. O quadro internacional O século XIX não foi um tempo apenas de independências. Foi um tempo de abolições. Até então, mesmo que de naturezas diferentes, a ordem social na Europa, na América ou na África via como uma coisa natural as desigualdades entre as pessoas. Desde o final do século XVIII, entretanto, novas idéias surgiram, e as pessoas passaram a considerar a liberdade um direito natural, promovendo revoluções contra o Antigo Regime na Europa. As idéias de liberdade e de igualdade, propagadas pela Revolução Francesa no final do século XVIII, chegaram a várias partes do mundo. No Haiti ocorreu uma grande rebelião negra que levou à independência desse país e à abolição da escravidão em toda a ilha de São Domingos. No Brasil, alguns movimentos associaram a idéia da abolição à luta pela independência, como a Conjuração Baiana de 98.

A Inglaterra combate o tráfico Mas, além das idéias, havia grandes interesses internacionais mudando o quadro externo. A Inglaterra tornara-se o primeiro país industrializado no mundo (Revolução Industrial), e esse mundo jamais seria o mesmo. Com a industrialização, um novo colonialismo surgiria em breve na África e na Ásia. Na primeira metade do século XIX, por exemplo, interessava aos empresários ingleses manter os africanos na África, trabalhando para suas empresas de exploração agrícola naquele continente. E, já que nas colônias inglesas produ- toras de açúcar havia sido extinta a escravidão, também não interessava a concorrência do açúcar brasileiro, barateado pelo trabalho escravo. Todas essas razões levaram a Inglaterra, a maior potência da época, a combater com persistência o tráfico de escravos. Os interesses escravistas no Brasil do século XIX ainda conseguiam justificar a escravidão em nome do direito de propriedade, mas foi ficando cada vez mais difícil arranjar justificativas para o tráfico de escravos (que significava escravizar um africano nascido livre). A U L A Para inglês ver Desde o reinado de D. João VI, o Brasil vinha se comprometendo com os ingleses a interromper o tráfico de escravos pelo oceano Atlântico. Em 1831, o jovem Império do Brasil chegou a assinar uma lei tornando esse tráfico ilegal. Apesar disso, nenhum desses compromissos foi cumprido, e as proibições não saíram do papel. Eram, como se dizia, para inglês ver (quer dizer: eram só para iludir os ingleses). O tráfico continuava e a escravidão também, mesmo com as pressões inglesas e a fiscalização feita por patrulhas marítimas, que procuravam navios negreiros pelo oceano Atlântico. As forças políticas no Brasil, representadas pelos fazendeiros escravistas, impediam qualquer medida mais efetiva em direção à abolição. No entanto, as muitas pressões sobre o governo brasileiro acabaram por levar à proibição de fato do tráfico de escravos para o Brasil, em 1850. As ações dos escravos No Brasil escravista, a luta para conquistar maiores espaços de liberdade era constante por parte dos escravos. As notícias de rebeliões negras em outros países, as idéias de liberdade e de igualdade que passaram a circular, o quadro internacional de combate ao tráfico negreiro, tudo isso deu novo conteúdo a essas lutas durante o século XIX. As primeiras décadas desse século foram marcadas por uma série de rebeliões negras no Brasil, organizadas por escravos e ex-escravos, reunidos em torno de laços de origem na África e por ligações religiosas. Tais revoltas encontravam um cenário perfeito nas cidades, onde a presença de escravos ganhando a vida nas ruas, junto com outros negros e mulatos livres, tornava cada vez mais difícil o controle sobre a população cativa. Uma das importantes rebeliões desse período foi a Revolta dos Malês, em 1835, na cidade de Salvador, Bahia. Com a proibição do tráfico em 1850, a situação agravou-se. O preço dos escravos aumentou. Assim, os pequenos proprietários passaram a vender seus

A U L A cativos para os cafeicultores da região Sudeste. A subida dos preços da mão-deobra escrava levou também a uma situação em que menos senhores podiam possuir escravos, diminuindo o apoio da sociedade à escravidão. O tráfico interno de escravos, também chamado de tráfico interprovincial, movimentou milhares de escravos dentro do Brasil, especialmente após 1850. Essa movimentação teve conseqüências dramáticas para muitos escravos que foram separados das famílias que haviam formado, sendo retirados de um ambiente no qual muitas vezes já tinham estabelecido relações pessoais e familiares. À custa de muita luta e negociação, alguns escravos haviam criado regras de convivência que não eram tão marcadas pela vigilância e pela punição. Esses escravos não aceitaram facilmente as novas condições impostas a eles nas fazendas de café. Nas novas áreas cafeeiras, teve início uma onda de atos de rebeldia e insubordinação por parte dos escravos, criando um clima de insegurança e desordem. Foi a onda negra do Brasil no século XIX. O movimento abolicionista Desde o começo do século XIX, algumas vozes protestavam contra a escravidão no Brasil, adeptas de uma opção mais moderna para o país do seu tempo. Ser moderno significava parecer-se mais com a Inglaterra ou com a França (países com industrialização em marcha acelerada), adotar o trabalho assalariado, ter acesso à tecnologia da época. A maioria dessas vozes era de intelectuais brasileiros que escreveram livros e fizeram discursos aconselhando o fim da escravidão. No entanto, apontavam para um final gradual, a longo prazo, e cuidadoso, para não gerar nenhuma revolta nem desordem. Esta gravura da época mostra um soldado negro, livre, horrorizado com os açoites que ainda eram aplicados aos escravos. Ao longo daquele século, as mudanças externas e internas no país - que trouxeram o crescimento urbano, a melhoria dos transportes, das comunicações e a prosperidade da lavoura do café - fizeram com que algumas pessoas mudassem sua forma de pensar. Na década de 1870, surgia o movimento abolicionista, que passava a pregar o fim imediato da escravidão, sem esperar mais. Para isso, organizaram-se em sociedades, associações, grupos pró-abolição. Esses grupos faziam propaganda nas ruas, em manifestações que visavam comover a população e atraí-la para a causa.

O movimento abolicionista cresceu e ganhou adeptos. Poetas, advogados, escritores, jornalistas, políticos, se juntavam às vozes que reivindicavam a abolição. Em São Paulo, Rio, Recife, Salvador e, a partir de 1880, em quase todas as maiores cidades do Brasil, foram criados clubes e associações abolicionistas. A U L A Alguns grupos mais radicais, como os Caifazes em São Paulo, passaram a organizar e a apoiar as deserções em massa dos escravos, dando estímulo para que fossem contratados como assalariados pelos fazendeiros, que viam suas propriedades se esvaziando. Em São Paulo, área mais nova e próspera da expansão cafeeira, concentravam-se os cativos comprados no tráfico interprovincial. Em 1887, os próprios fazendeiros paulistas começaram a conceder alforrias em massa, para impedir a deserção ou para legalizar a situação dos escravos que já os haviam abandonado. De São Paulo, as deserções em massa e as alforrias coletivas, como tentativa de manter o controle da situação, espalharam-se para as outras províncias cafeeiras (Rio de Janeiro e Minas Gerais). Não havia mais capitãesdo-mato que chegassem. Até o Exército recusou-se a reprimir os escravos que desertavam. Apenas uns poucos fazendeiros, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, ainda se opunham às alforrias, na esperança de receber uma indenização pela propriedade que lhes escapava das mãos. Ilustração aboli- cionista, que faz crítica à Lei de 1885, com os seguintes dizeres: QUADROS DA ATUALIDADE!! O MINISTRO- FAZENDEIRO, EXPLICANDO O PROJETO AOS LAVRADORES: VOCÊS COMPREENDEM QUE, SENDO EU LAVRADOR, NÃO PODIA DEIXAR DE TRANQÜI- LIZAR A LAVOURA, GARAN- TINDO A PROPRIEDADE ES- CRAVA E FIXANDO-LHE UM VALOR.. PODEM P ODEM, POIS, CON- TINUAR A CONSIDERAR O ESCRAVO UM ANIMAL COMO QUALQUER OUTRO E SUJEITO A SER COMPRADO, VENDIDO ETC.,., PELO MENOS NESTES DEZ ANOS.. É O QUE LHES GARANTE O MEU PROJETO. As ações do poder público Há muito tempo o governo vinha sendo pressionado do ponto de vista internacional. Além disso, desde a primeira metade do século XIX, enfrentava inúmeras rebeliões e ações de protesto dos escravos. Ao mesmo tempo, setores dominantes da sociedade brasileira tinham sua riqueza assentada no trabalho escravo. E tanto o Estado português, antes da Independência, como os governantes do Império do Brasil, após a Independência, precisavam do apoio desses setores. Mesmo assim, as transformações que marcaram a vida política e econômica do país e o quadro internacional levaram o governo brasileiro a abolir o tráfico negreiro em 1850, apesar do voto contrário das províncias cafeeiras.

A U L A Foi também com o voto contrário de todos os representantes das províncias cafeeiras (Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo) que o Congresso Imperial aprovou a Lei do Ventre Livre, em 1871. Essa lei tornava livres todos os filhos de escravos nascidos daquela data em diante. A partir de então, cresceram as alforrias e o movimento abolicionista. Para conter essa pressão, o governo aprovou a Lei dos Sexagenários, em 1885, que libertava os escravos com mais de 60 anos e estabelecia um prazo de treze anos para que o governo libertasse todos os escravos, indenizando seus proprietários. As deserções em massa, a partir de 1887, mudaram os rumos do processo. Quando foi assinada a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, não mais havia escravos de fato no Império do Brasil. O tempo não pára Nada além de liberdade foi concedido aos ex-escravos. Diante da liberdade, entretanto, abriam-se novas possibilidades não apenas para os libertos mas também para um país chamado Brasil. Apesar da pressão dos últimos senhores de escravos, não se indenizou a perda da propriedade escrava. E, com uma rapidez impressionante, os últimos cativos se misturaram à imensa maioria de descendentes de africanos que já formava a população livre do país. A eles viriam se somar milhares de imigrantes estrangeiros: portugueses, italianos, espanhóis, japoneses, alemães, entre outros, especialmente em São Paulo e no Sul do Brasil. Com a abolição, a ordem escravista, em crise desde a metade do século XIX, finalmente terminava. Agora, todos os brasileiros eram livres e, portanto, cidadãos pela Constituição Imperial. Mas quem era esse povo brasileiro? Quais os seus direitos? O que significava, na prática, essa cidadania? Essas são questões que a liberdade colocava e que, ainda hoje, estamos respondendo em nosso país. Será delas que trataremos na segunda parte do nosso curso. Exercícios Relendo o texto Leia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que não entendeu e procure ver o que elas significam, no dicionário ou no vocabulário da Unidade. 1. Releia O quadro internacional e identifique os motivos que levaram a Inglaterra a pressionar o Brasil a abolir a escravidão. 2. Releia As ações dos escravos e identifique dois tipos de ação dos escravos que contribuíram para desestabilizar a escravidão no século XIX. 3. Relendo esse mesmo item, explique, com as suas palavras, o que esse texto chama de onda negra. 4. Releia O movimento abolicionista e explique por que alguns fazendeiros paulistas começaram a conceder alforrias em 1887. 5. Releia As ações do poder público e identifique as medidas tomadas pelo governo brasileiro que, a partir de 1850, prepararam a abolição. 6. Dê um outro título a esta aula.

Fazendo a História 1. A poesia que você vai ler a seguir saiu publicada num jornal da cidade de Campos, situada ao norte do atual Estado do Rio de Janeiro, em março de 1888 (dois meses antes da Lei Áurea). Leia com atenção! Ela mostra bem o ponto de vista de um ex-senhor de escravos sobre as deserções de seus escravos, às vésperas da abolição. A U L A Bandalheira! Cachorrada! Acabar com a escravidão! Já parece caçoada ou forte especulação! Eu sou emancipador Mas não sou conspirador Nem também senhor feroz. Sabe de uma coisa, parente, Estamos sem nossa gente, Não sei o que será de nós. Fui ver pretos na cidade Que quisessem se alugar. Falei com esta humildade: Negros, querem trabalhar? Olharam-me de soslaio, e um deles, feio, cambaio, Respondeu-me arfando o peito Negro, não há mais não: Nós tudo hoje é cidadão. O branco que vá pro eito. Se você não entendeu alguma palavra da poesia, veja no dicionário e, então, leia mais uma vez. Agora responda: Por que o autor do texto lamenta o fim da escravidão? 2. O texto abaixo foi escrito por um líder do movimento abolicionista no Brasil, Joaquim Nabuco, na década de 1880. Neste pequeno trecho de seu livro O Abolicionismo, o autor expressa sua opinião sobre a escravidão no Brasil. A escravidão, por felicidade nossa, não azedou nunca a alma do escravo contra o senhor, falando coletivamente, nem criou entre as raças o ódio recíproco que existe naturalmente entre opressores e oprimidos. (...) O homem de cor achou todas as avenidas abertas diante de si. Agora responda: a) Você concorda com a visão de Joaquim Nabuco, encontrada nesse trecho, sobre a relação entre senhores e escravos no Brasil? b) Após a abolição, o negro encontrou todas as avenidas abertas diante de si? 6