INTER-RELAÇÃO CULTURA E LÍNGUA: PERSPECTIVA INTERCULTURAL NO ENSINO DE INGLÊS. Cristiane Elina Prates de Lima Gouveia Soares criselina@yahoo.



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Transcrição:

INTER-RELAÇÃO CULTURA E LÍNGUA: PERSPECTIVA INTERCULTURAL NO ENSINO DE INGLÊS Resumo Cristiane Elina Prates de Lima Gouveia Soares criselina@yahoo.com Trata de vivência em sala de aula do idioma inglês como língua estrangeira na qual foi tratada a relevância de se compreender a interculturalidade como forma de melhor compreender a língua. Entende-se que não basta falar um idioma estrangeiro, deve-se também compreender o meio cultural em que está inserido, de forma a respeitar as diferenças e identificar os aspectos semelhantes, notando-se o que aproxima os povos. Parte da premissa de que é na sala de aula que tais aspectos podem e devem ser estudados com o auxílio do professor. Abstract This is about an experience in classes of English as a foreign language in which the relevance of intercultural understanding was treated as a way to better understand the language. It is understood that it s not enough to speak a foreign language, one must also understand the cultural environment in which it is inserted, in order to respect the differences and identify similar aspects, noticing what may approach people. It bases on the premise that it is in the classroom where such issues can and should be studied with the teacher's help. Palavras-chave: Inglês. Interculturalidade. Diversidade. Respeito. Introdução Cada vez mais se discute sobre a importância da consciência cultural a ser desenvolvida pelo indivíduo como inserção no mundo globalizado e altamente tecnológico em que 1

está inserido. Os idiomas pertencentes a cada nação são parte indissociável e aproxima as diversas culturas. Essa discussão torna-se de inegável valor ao se tratar da sala e aula de idiomas. É nesse ambiente que o indivíduo terá oportunidade de aprender a língua-alvo e assimilar as características culturais acerca do povo cuja língua é estudada. Este trabalho busca compartilhar a tentativa de se aplicar na sala de aula do Idioma Inglês de nível Intermediário as considerações levantadas por autores relevantes como Kramsch, Agar e Mendes, entre outros, sobre a indissociabilidade entre cultura e língua a partir de uma abordagem intercultural que valoriza a troca de experiências culturais como fomento à compreensão global de uma língua com fins de evitar estereótipos e preconceitos tanto no âmbito do idioma aprendido como na língua materna. Referencial teórico Um grande número de pesquisadores, entre eles Agar e Kramsch apontam sobre a relação indissociável que existe entre cultura e língua de modo que o ensino de um idioma estrangeiro deveria perpassar indelevelmente por esses dois eixos, levantando a atualidade da abordagem intercultural que valoriza além da competência linguística, a competência cultural. Ao longo da história do ensino do idioma, basicamente três posturas foram adotadas a saber: 1. Inicialmente de acordo com o modelo estruturalista acreditava-se que o domínio de um idioma estrangeiro estaria atrelado ao conhecimento do novo léxico, nova pronúncia e nova gramática. Nesse sentido, Agar afirmou que para entender uma língua, é preciso 2

entender que as diferenças nos idiomas vão muito além do que se encontra nas gramáticas e nos dicionários 1. (AGAR, 2002, p. 16.(tradução nossa). 2. A partir da sintonia com esses preceitos, passou-se a desenvolver uma nova abordagem de ensino de idioma e na década de setenta houve a ascensão da abordagem comunicativa a qual dá valor ao conhecimento linguístico tanto quanto ao meio social em que está inserido. Esse modelo social avança em relação ao modelo estruturalista. Sob esse olhar, a cultura na sala de aula de idiomas é percebida como uma interpretação entre culturas em situações da vida cotidiana, porém em relação a esse modelo, Reis e Brock esclarecem que há uma falta de reflexão sobre as culturas de modo que se criava a ideia de que para comunicar-se adequadamente na língua estrangeira, deve (o aluno) olhar o mundo como um estrangeiro. (REIS; BROCK, 2010, p.75) Percebeu-se a necessidade de criar teorias e procedimentos pedagógicos que não vislumbrassem a cultura como uma coleção de dados informativos e exóticos sobre determinado local, região ou comunidade, incluindo-se o idioma como apenas mais um tópico a ser explorado e talvez principalmente em detrimento dos demais. 3. Apenas a partir da década de noventa, Kramsch (1993), com a abordagem cultural, revalida o modelo social aprimorando-o, de modo a levar o aluno a compreensão das diferentes culturas comparando-as e explorando seus significados, refletindo e levando a um pensamento crítico: Também chamada de abordagem intercultural, inclui a reflexão sobre a cultura-alvo e a cultura materna, excluindo a ideia de identidades sociais monolíticas. Seus objetivos visam à aprendizagem sobre cultura, a comparação entre culturas e à 1 To understand language, you have to understand that differences in language go well beyond what you find in the Grammar and the dictionary. 3

exploração do significado de cultura. (REIS; BROCK, 2010, p.78 ) Sob a esfera da interculturalidade na sala de aula, entende-se haver a real integração do aluno no processo de aprendizagem no que tange a sua cultura levando-o a se tornar partícipe dessa construção para perceber que ele não precisa deixar de ser si mesmo para assimilar a cultura alienígena. Ao contrário, seu idioma materno e seus hábitos e costumes, ambos têm igual valor na construção da acepção do novo idioma. Quando o homem utiliza-se da linguagem, característica que o difere dos demais seres, ocorre a interação verbal,que por sua vez é: o lugar de uma atividade coletiva de produção de sentido, atividade que implica o emprego de negociações explicitas ou implícitas que podem ter êxito ou fracassar (KERBRAT;ORECCHIONI, 1990, p. 28) Ao assumir-se a postura pedagógica que é sensível aos aspectos culturais, Mendes (2008, p. 119) afirma sobre a necessidade de haver uma relação dialética entre a língua/cultura alvo e a língua/cultura do aprendiz de modo a enfatizar a importância de ambas. Assim será possível uma assimilação mais aprofundada das línguas/culturas tecendo suas importâncias que mesmo que distintas não são inferiores. A autora aponta ainda a necessidade de haver por parte do professor planejamento e monitoração constantes, visto que são tópicos ainda melindrosos e podem causar confusão, ojeriza, repulsa, principalmente ao se tocar em assuntos como costumes religiosos de diversos locais. Assim, elencados por Mendes (2008), apresentam-se os dois princípios a serem levados em consideração quando da preparação da aula intercultural, sendo eles: - relativismo cultural: segundo o qual não há hierarquia entre as culturas, devendo a aula abrir espaço para a aceitação das diferenças de pensamento e de comportamento; 4

- reciprocidade: preconiza como o nome inter sugere a ausência de limites e fronteiras culturais. Ambos levariam a consciência globalizada do mundo hodierno e a assimilação do idioma estrangeiro como parte indissociável da cultura de um povo que deve ser tida não como estranha, mas diversa e respeitada em sua multiplicidade e diversidade. Haveria uma recíproca adaptação em termos culturais, facilitando a comunicação entre os aprendizes. Movida pelos referenciais teóricos citados, a tentativa de se inserir a interculturalidade na sala de aula de Inglês Intermediário se deu ao longo de uma das unidades temáticas presentes no plano de ensino. Tal unidade é apresentada no livro Interchange 4th edition, level 3 e é chamada Crossing Cultures e promove a comparação entre diferentes culturas, o conceito de choque cultural, os sentimentos de se mudar para um país estrangeiros focando nas emoções sentidas e compartilhadas e turismo em outros países. Para incitar a curiosidade sobre o tema, e prevendo a necessidade de comparar a cultura local com a estrangeira, a professora lançou várias perguntas apresentadas em Power Point para que os alunos debatessem sobre costumes locais desde vestimentas comuns aos brasileiros em diversas situações sociais, passando por comidas favoritas, modos de cumprimentar amigos ou estranhos, modos de se divertir, como tratar idosos em casa, etc. Barcellos, R. e Barcellos F. explicam que é imprescindível que o professor mostre ao aluno que as línguas (portuguesa e estrangeiras) não são homogêneas. Ou seja, é preciso que o professor desenvolva um trabalho enfatizando essas diversidades existentes nas línguas. E ressalte que não há nenhuma variedade melhor ou mais correta do que outras. (BARCELLOS, R.; BARCELLOS, F. s/d, s/p.) 5

Esse aspecto ficou claro para os alunos e em vista das respostas obtidas, a professora perguntou se os alunos conheciam hábitos e costumes de outros povos, possibilitando um brainstorm no qual vários países vieram à mente. Em seguida houve a proposição de uma leitura cujo texto é oferecido no material de apoio do livro didático em questão. Após leitura individual, em pequenos grupos, os alunos pontuaram suas opiniões individuais sobre o texto que aponta preceitos interessantes de interculturalismo, de acordo com o qual, entre outros se deve: evitar pré-julgamentos e tentar entender o ponto de vista das outras culturas; não considerar sua cultura melhor ou mais correta que a do outro; aprender a apreciar o novo; pensar em como sua própria cultura influencia suas atitudes e de outras culturas. Esse foi, então, o ponto de partida para a introdução do léxico pretendido para a unidade. Outras atividades ao longo da unidade temática foram a comparação e o contraste de costumes dos países Estados Unidos e Canadá com o Brasil. A professora também buscou atividades extras que pudessem complementar o que foi exposto em sala, assim, houve um jogo de tabuleiro criado pela docente, no qual os alunos ao jogarem os dados e percorrerem o tabuleiro liam sobre diversos hábitos ao redor do mundo e expressavam sua opinião: comparando, observando e/ou buscando uma explicação cultural, além de praticarem a gramática em questão. Como culminância da unidade, alunos voluntários expuseram sobre costumes de diversos países anglófonos sempre enfatizando a diversidade e o respeito àqueles e a importância de se conhecer aquelas culturas para a expansão da competência linguística. Houve a participação em uma dessas apresentações de uma americana que ao visitar a cidade de Recife, concordou em ceder parte de seu tempo para responder perguntas e comparar sua cultura com a local. Movidos pela expectativa de tal atividade, previamente os alunos foram levados ao laboratório de idiomas onde em grupos de três pensaram e elaboraram as perguntas a 6

serem feitas à visitante. Em seguida, os trios compartilharam as questões com o grande grupo para finalmente digitá-las. No dia da apresentação, os alunos sentiam-se confortáveis para ler seus questionamentos, ouvir a estrangeira e sentir como as diferenças culturais podem ser engrandecedoras. Metodologia Fundamenta-se em vivências em sala de aula, com alunos de Inglês de Nível Intermediário e Pós Intermediário da Unidade de Idiomas em um centro de ensino profissionalizante do SENAC, com o auxílio de arcabouço teórico, o que se caracteriza, principalmente na pesquisa-ação, ou seja, é um tipo de pesquisa participante engajada. Há na base metodológica a revisão bibliográfica que consiste na procura de referenciais teóricos que auxilia na análise da questão e a partir das referências, fazem-se as tomadas de decisão que conduzem a prática. Assim sendo, há vivência das ações em sala de aula, na qual a docente torna-se observadora crítica. É um foco de pesquisa etnográfica, por se apontar a visão do resultado das vivências. Resultados A partir da conclusão da unidade temática percebeu-se quão forte são os laços entre língua e cultura, uma vez que aquela faz parte desta. Notou-se que a cultura não é apenas mais um tópico a ser explicado em sala, portanto, apesar do tema ter sido mais trabalhado ao longo do tema sugerido, aquele fora um primeiro passo a coadunar-se com todo o período letivo e quiçá os seguintes, pois visou-se compartilhar a consciência 7

da interculturalidade no aprendiz de forma a fazê-lo perceber sua indissociação necessária com o aprendizado da língua. Considerações Finais O presente trabalho pretendeu compartilhar sobre a interculturalidade e sua aplicabilidade em sala de aula de idioma estrangeiro, mais especificadamente o inglês. Partiu da premissa de que a língua é parte da cultura, por definição antropológica, as quais não se dissociam e baseou-se nas reflexões obtidas na prática em sala de aula, onde também se relevou o pensamento crítico do aluno diante da sua cultura e da cultura alienígena. Percebeu-se ao longo do trabalho que há que se promover o debate entre culturas e mostrar um posicionamento aberto às diferenças para que se possibilite uma melhor compreensão do mundo ao redor. Apenas derrubando-se paradigmas e estereótipos, incorporando-se o sentido da língua estrangeira como parte de um conjunto importante o aluno de idiomas se torna global e competente para ser um cidadão do mundo. Referências AGAR, Michael. Language Shock: understanding the culture of conversation. New York (USA). Perennial. 2002 BARCELLOS, Renata da Silva de. BARCELLOS, Fernanda da Silva de. Cultura &Língua. Disponível em < http://www.filologia.org.br/viiifelin/29.htm>. Acesso em 10/08/2014. KERBRAT-ORECCHIONI, Catherine. Les interactions verbales. Paris: A.Colin, 1990 8

KRAMSCH, Language and Culture: a social semiotic perpective. 2002. Disponível em< www. adfl.org/bulletin/v33n2/332008.htm>. acesso em 07/10/13. MENDES, E. A perspectiva intercultural no ensino de línguas: uma relação entreculturas. In: ALVAREZ, M.; BORTONI-RICARDO, (Org.). Linguística Aplicada: múltiplos olhares. Campinas/SP: Pontes, 2007, p. 119-140. REIS, Kelly Cristina; BROCK, Maria Paula Seibel. Inter-Relação cultura e língua para professores de Língua Inglesa, Revista Perspectiva, São Paulo ano 128, n. 34. p. 73-88, dez. 2010. 9