Evolução em marcha. 69 jun jul. arevistadocrédito. edição ESPECIAL A HORA E A VEZ DOS BANCOS BRASILEIROS NO EXTERIOR



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Transcrição:

financeiro junho/julho 2011 edição 69 financeiro arevistadocrédito À FRENTE DA ATP, SÉRGIO DARCY, ANALISA AS OPORTUNIDADES DA ERA DA IMAGEM NAS TRANSAÇÕES BANCÁRIAS Evolução em marcha edição 69 jun jul ESPECIAL A HORA E A VEZ DOS BANCOS BRASILEIROS NO EXTERIOR

conteúdofinanceiro 14 26 18 40 6 14 18 22 26 Capa Entrevista do Mês Sérgio Darcy, presidente da ATP, fala sobre as perspectivas para o segmento de automação bancária Cultura Confira na nova seção a entrevista com Ignácio de Loyola Brandão Mercado Automotivo Medidas macroprudenciais ameaçam brecar o crédito Educação Financeira Visa ensina crianças com teatro Happy Hour Wall Street Bar: a versão gastronômica do antigo pregão 36 Especial Internacionalização Chega a hora de os bancos brasileiros conquistarem o mundo 42 Pré-Pagos Transações portáteis trazem mais agilidade e segurança artigos 34 Joel Paillot Cenário Externo 47 Elder Aquino Questão Jurídica 50 Aquiles Diniz Consumidor Emergente 52 William Handorf Governança Corporativa 56 Alberto Borges Matias Análise e Perspectivas 58 Nicola Tingas Última Palavra 30 Por Dentro do Varejo TaQi: o novo trunfo do Grupo Herval junho/julho 2011 FINANCEIRO 3

expediente financeiro ISSN 1809-8843 Rua Líbero Badaró, 425 28 o andar São Paulo SP Tel: (11) 3107 7177 Fax: (11) 3106 6082 www.acrefi.org.br Presidente Érico Sodré Quirino Ferreira Vice-Presidentes Marcio Ronconi de Oliveira, Luis Otavio Matias, Aquiles Leonardo Diniz, Mauro Roberto Vasconcellos Gouvêa, Bartholomeu Ribeiro, Ricardo Annes Guimarães e Sérgio Antonio Cipovicci Secretários Paulo Tabaquim e Sérgio Marra Pereira Capella Tesoureiros Cláudio Messias Ferro e Marcus André de Oliveira Diretores Regionais Athaide Vieira dos Santos, Carlos Alberto Samogim, Elcio Antonio de Azevedo, Felicitas Renner, José Antonio Rodrigues, José Newton Lopes de Freitas, Francisco Sotero Rosas Neto, Marcos Etchegoyen, Leonardo Marcondes Dadalto, Paulo Henrique Pentagna Guimarães, Pedro Costa Carvalho e Teófilo Newton Mattos Diretores-Executivos Morris Dayan, Sandro Alexandre de Almeida, Edson Froes Castilho, Felipe César Rodrigues Ferreira, Laurent Thong Vanh, Luis Felix Cardamone Neto, Rubens Bution e Leonel Dias de Andrade Neto Diretores Conselheiros Eduardo Tavares Nobre Varella, Élcio Jorge dos Santos, Giovani Cataldi Neto, Roberto Bronzere, Paulo Sérgio Borsatto, Nelson Aguiar Junior, Odilon Pereira Guerra e Joelcyr Carmello Filho Conselho Consultivo Membros Natos: Alkindar de Toledo Ramos, Manoel de Oliveira Franco e Ricardo Malcon Membros: Alencar Burti, Ricardo Loureiro, Jorge Hilário Gouveia Vieira, Luiz Horácio da Silva Montenegro, Miguel José Ribeiro de Oliveira, Sergio Antonio Reze e Ilídio Gonçalves dos Santos Conselho Fiscal Efetivos: Domingos Spina, Edson Ueda, David Figueiredo Suplentes: Elpídio Hoffmann, Maria Madalena Américo Marinho e Gilson de Oliveira Carvalho Diretor Superintendente Antônio Augusto de Almeida Leite (Pancho) Controller Carlos Alberto Marcondes Machado Economista-Chefe Nicola Tingas Consultor Jurídico Cassio M.C. Penteado Jr. Auditoria KPMG Assessoria de imprensa Tamer Comunicação Empresarial Rua Novo Horizonte, 311 Pacaembu São Paulo SP Tel.: (11) 3125 2244 CEP 01244-020 www.gpadrao.com.br Publisher Roberto Meir REDAÇÃO Editora-executiva Giseli Cabrini Editora-assistente Juliana Jadon Reportagem Ana Borges, Raimundo de Oliveira e Sérgio Siscaro (colaboradores) Fotografia Douglas Luccena Arte Editora de Arte Marina Martins Revisora Dora Wild Publicidade Diretora Comercial Fabiana Zuanon fzuanon@gpadrao.com.br Gerente Comercial Marco Góes mgoes@gpadrao.com br Gerente de Negócios Adriana Próspero aprospero@gpadrao.com.br Impressão IBEP Gráfica Ltda. 4 FINANCEIRO junho/julho 2011

A editorial A reforma tributária, hoje discutida entre governo, industriais e trabalhadores, representa um retrocesso. A salvação da competitividade da indústria será feita por meio do sacrifício de outros segmentos econômicos. A proposta da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) diferencia setores e privilegia a indústria de transformação quanto à isenção tributária. Ao final da reestruturação, como sempre, o governo não abre mão de nenhuma arrecadação. E, para que isso seja possível, alguém precisa pagar a conta. Segundo a proposta da Fiesp, o fim da tributação da folha de salários pode ser viabilizada com a substituição das atuais contribuições previdenciárias cobradas de empregados e empregadores por um aumento na alíquota do PIS/Cofins. Assim, a desoneração de 20 pontos da contribuição previdenciária patronal da Previdência Social da indústria de transformação seria compensada pela elevação da Cofins dos demais setores. Assim, as alíquotas seriam diferenciadas. Os tributos seriam menores para atividades mais intensivas em mão de obra, como as indústrias, e maiores para setores com alto grau de tecnologia, Reforma tributária: quem paga a conta? como o sistema financeiro. Os empresários afirmam que as instituições financeiras devem arcar com valores superiores porque têm maior margem de lucro e não são intensivas em mão de obra. Todavia essa não é uma verdade. Os bancos e financeiras não têm a maior lucratividade no Brasil. Basta ver os rankings de lucros divulgados trimestralmente, no qual grandes empresas industriais aparecem no topo. Nesse caso, faria então mais sentido que as empresas com maior lucratividade pagassem mais impostos. Mas essa medida é um total desestímulo para que qualquer companhia continue investindo em crescimento. A diferenciação de tributos é um grande absurdo. Não há o menor cabimento fazer com que uns paguem mais impostos que os outros. Devemos lembrar ainda da importância do setor financeiro para o crescimento do País. Os bancos são os grandes provedores de recursos tanto para financiar a atividade produtiva da indústria quanto o consumo das famílias. Desde o início do ano, o sistema financeiro tem sido punido pelas medidas macroprudenciais do governo. Dessa forma, a oferta de crédito tende a reduzir e, por consequência, há o aumento do custo dos recursos. O que, aparentemente, pode ser um avanço no sistema tributário acaba se transformando em um retrocesso. Foto: Flávio Roberto Guarnieri Érico Sodré Quirino Ferreira Presidente da Acrefi junho/julho 2011 FINANCEIRO 5

capaentrevistadomês Por Ana Borges Inovação para o mercado Sérgio Darcy, diretor-presidente da ATP, fala sobre os planos da companhia, que processa mensalmente R$ 4,5 bilhões em volume financeiro A quebra de paradigma com a implantação da compensação de cheques por imagem abre novas oportunidades de processamento de documentos bancários. Nesse cenário, a ATP, empresa especializada em soluções tecnológicas para sistemas financeiros, depara-se com a perspectiva de crescimento acelerado dos negócios. Hoje a companhia processa R$ 4,5 bilhões em volume mensal, cerca de 40% do mercado total. Em entrevista à Financeiro, Sérgio Darcy, diretor-presidente da ATP, fala sobre os planos da companhia e o bom momento do mercado. Darcy é ex-diretor do Banco Central (BC) e membro dos comitês de auditoria da BM&FBovespa e do banco Santander. Confira: Revista Financeiro Fa a um balan o sobre o processamento de documentos banc rios no Brasil e a participa o da ATP nesse mercado. S rgio Darcy A ATP processa, em média, 43 milhões de documentos por mês. Isso representa 40% do volume total de documentos bancários terceirizados no Brasil. Em valores financeiros, o volume de documentos processado pela ATP corresponde a aproximadamente R$ 4,5 bilhões por mês. A empresa é a maior instituição não bancária de processamento de documentos do País, especializada no desenvolvimento, na implantação e na operação de soluções tecnológicas para o sistema financeiro, as concessionárias de serviços públicos e as grandes usuárias de serviços bancários. Financeiro O senhor declarou que uma das metas consolidar a expans o no mercado. Quais s o os planos para os pr ximos anos e as proje es de crescimento? Darcy Com a quebra de paradigma advinda da implantação da compensação por imagem (Compe por Imagem), novas oportunidades de processamento de 6 FINANCEIRO junho/julho 2011

Com a quebra de paradigma advinda da compensação por imagem, novas oportunidades se abrem Fotos: Douglas Luccena junho/julho 2011 FINANCEIRO 7

capaentrevistadomês documentos bancários se abrem. Com as soluções da ATP, é possível capturar informações de cheques e de outros tipos de documentos em qualquer etapa do processo. Esse tipo de software de captura de documentos tem o potencial de levar a ATP a conquistar grande parcela do mercado, o que poderá resultar em um crescimento acelerado da companhia nos próximos anos. Uma das soluções tecnológicas de maior atratividade no momento é a captura descentralizada do cheque no varejo, por meio da solução Imagon Verify, que está sendo comercializada pela empresa e já está em franca operação para alguns de nossos clientes. Financeiro É possível fazer uma avaliação das mudanças que têm ocorrido na forma de compensação de cheques (Compe por Imagem), implantadas neste ano e o quanto essas alterações impactaram esse segmento em termos de redução de custos? Darcy A Compe por Imagem, recentemente implantada, representa significativo avanço para a modernização do serviço de compensação de cheques. A nova sistemática resulta em ganhos qualitativos e redução de custos de transporte para os bancos participantes do sistema de compensação, os quais estão estimados em aproximadamente R$ 300 milhões anuais, além de ampliar os atributos de segurança para os bancos e seus clientes. O processo envolve desde a captura na ponta até o processamento dos dados e imagens, com os seguintes componentes integrados: captura e tratamento de imagem; garantia de padrões de segurança; truncagem do cheque físico e armazenamento das imagens capturadas. Para os correntistas, o novo processo resultará em redução do tempo para a obtenção de cópias dos cheques, agilidade na entrega de cheques devolvidos ao depositante e redução de riscos decorrentes do transporte físico dos documentos, como roubos, assaltos ou perdas por acidentes. Financeiro Qual a solução proposta pela ATP? Darcy A solução para processamento da Compe por Imagem, desenvolvida e colocada à disposição do mercado pela ATP, inclui os scanners para digitalização dos cheques, a solução para captura e tratamento da imagem na origem, o data center para transmissão, o processamento, o storage e a recepção de arquivos de dados e imagens entre os diversos bancos-clientes, a infraestrutura para armazenamento temporário do cheque físico e o serviço de destruição segura dos cheques. Financeiro Como funciona o processo de truncagem de cheques? Darcy A partir da implantação definitiva da Compe por Imagem, o banco que recebeu o depósito digitaliza o cheque e envia ao banco destinatário a imagem digital e os dados lógicos para realização da compensação. Esse processo elimina a necessidade do transporte físico do documento, permanecendo o cheque sob a guarda do banco em que foi depositado até a finalização do processamento. Depois disso, o cheque pode ser destruído. Por medida de segurança, alguns bancos optaram por manter esses cheques armazenados pelo período de até 90 dias. Financeiro Quais as soluções e os diferenciais que a ATP oferece ao mercado financeiro? Darcy Disponibilizamos diversas soluções tecnológicas que buscam a racionalização de custos e o aumento do poder de competição dos nossos clientes. Nossos produtos e serviços são dotados de diferenciais, por exemplo, serviços no modelo de full outsourcing de máquinas de autoatendimento e de correspondentes no País, proporcionando aos clientes a gestão total do processo terceirizado via web. Outro diferencial consiste na possibilidade de rápida integração das soluções com o legado já existente nas empresas-clientes, proporcionando flexibilidade e menores custos na implantação e operação dessas soluções. Como a ATP é uma empresa voltada ao desenvolvimento de soluções baseadas em tecnologia de ponta, permanentemente seus produtos são, no mínimo, atualizados. Financeiro E a solução de microagência bancária, como funciona? Darcy Trata-se de um ponto de atendimento, com a identidade visual do banco contratante, no qual as soluções de hardware e software desenvolvidas por nós possibilitam a realização de todas as operações bancárias convencionais, de baixo custo e com todos os requisitos de segurança exigidos pelo sistema financeiro nacional. 8 FINANCEIRO junho/julho 2011

Uma das suas principais características é a flexibilidade operacional e agilidade na implantação. A ATP fornece toda a infraestrutura, inclusive com a possibilidade de disponibilizar mão de obra especializada para a operação. Pela simplicidade e baixo custo, a solução de microagência é ideal para implantação em áreas urbanas ou rurais, de potencial econômico limitado e desprovidas de acesso a serviços bancários. Financeiro A companhia é provedora de quantos correspondentes no País e como funciona esse processo? Darcy Implantamos e coordenamos as operações de mais de dez mil pontos de correspondentes. Além desses, até o final de 2011 outros milhares de equipamentos estarão em produção e funcionamento em atendimento a contratos já firmados com bancos-clientes da companhia, que serão colocados no mercado por meio de processos ativos de implantação. A solução ATP é completa e customizada de acordo com os requisitos definidos pelo banco ao qual o correspondente se vincula. A empresa disponibiliza solução full, que integra hardware, software, telecom, operação e manutenção completa de rede. E também soluções parciais, com a disponibilização de módulos a partir de especificação dos clientes. Financeiro Como está o processo de expansão da Rede Sim! e os pontos de atendimentos? Darcy A Rede Sim! é a nossa marca própria de multisserviços, capaz de processar transações com qualquer meio de pagamento por diferentes meios de acesso ou canais de captura. Permite a realização de saques, pagamentos de contas e taxas, compra de passagens, recargas de crédito em bilhetes ou celulares e uma infinidade de outros serviços, que podem chegar aos consumidores por meio dos vários canais disponíveis ATMs (Terminais de Autoatendimento), microagência bancária, correspondente não bancário, caixas de redes de varejo, e está aberta junho/julho 2011 FINANCEIRO 9

capaentrevistadomês a incluir novos canais para atender cada vez mais clientes e suas diferentes necessidades. A expansão da rede ocorre de forma gradativa a partir da implantação das diversas formas de captura de transações dos nossos clientes. Nessa linha, a ATP desenvolveu, também, terminais atualizados, com tecnologia de captura de imagem para depósito de cédulas e cheques sem o uso de envelopes. Além de reduzir o impacto ambiental ao atualizar terminais, a empresa busca oferecer uma alternativa sustentável também para a utilização de terminais de autoatendimento. Acreditamos que a demanda por esse tipo de terminal se dará de forma mais intensa a partir da recente implantação da Compe por Imagem. A Rede Sim! é a nossa marca própria de multisserviços, capaz de processar transações com qualquer meio de pagamento Financeiro E em relação à adesão? Darcy Qualquer instituição do segmento financeiro, cooperativista, varejista etc, pode aderir com pequena quantidade de máquinas a custos reduzidos, tendo em vista o compartilhamento de máquinas de outros clientes da rede. Isso possibilita uma ampla cobertura geográfica para atendimento aos seus clientes. A rede também pode ser naturalmente interligada aos correspondentes no País que são administrados pela ATP. Financeiro O que a ATP apresentará no Congresso e Exposição de Tecnologia da Informação das Instituições Financeiras (Ciab), realizado pela Febraban 2011? Darcy A ATP estará presente no Ciab Febraban 2011 e apresentará ao público participante do evento, além da solução de microagência, que visa atender ao processo de assinatura digital, possibilitando que as imagens dos cheques sejam disponibilizadas com segurança dentro da janela de tempo definida pelo Manual Operacional da Compe por Imagem. No estande, poderá ser visto o processo de geração e armazenamento dos certificados eletrônicos, de forma a garantir a segurança do uso de documentos assinados digitalmente. Também apresentaremos serviços que já estão em operação para nossos clientes, a exemplo do Caixa aqui, projeto de inclusão financeira da Caixa Econômica Federal (CEF). Financeiro Qual seu papel e que mudanças conseguiu colocar em prática no Conselho de Administração da organização, a ATP? Como está composta atualmente a governança corporativa da empresa? Darcy Em setembro de 2007, assumi a presidência do Conselho de Administração da empresa, permanecendo até abril de 2011, quando fui eleito para o cargo de diretor-presidente. Durante o período em que exerci a presidência do conselho, busquei tornar tangíveis atributos de boa governança corporativa, tendo sempre por base as valiosas orientações do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), em termos, por exemplo, de composição do Conselho de Administração, redefinição de funções do Conselho Fiscal, aperfeiçoamento do Estatuto Social da empresa e criação de comitês internos de assessoramento à diretoria, entre outras ações. A ideia central é tornar cada vez mais transparente a relação da empresa com seu público de interesse. A governança da ATP atualmente é formada pela Assembleia Geral dos Acionistas, Conselho de Administração totalmente independente, com profissionais que vieram do mercado financeiro e de capitais. A governança ainda está formada pelo Conselho Fiscal, que atua como Comitê de Auditoria, e é composto por profissionais oriundos do Banco Central (BC) com larga experiência no segmento financeiro. Também faz parte da governança a empresa de auditoria independente Ernst&Young Terco e a auditoria interna, que, além de suas funções naturais, assessora os trabalhos do Conselho Fiscal. Um ponto que merece destaque para que a nossa estrutura de governança seja bem-sucedida é a atuação dos Comitês Internos, que tratam de temas relevantes da companhia no trabalho de assessoramento à Diretoria Colegiada, trazendo maior segurança ao processo decisório. f 10 FINANCEIRO junho/julho 2011

notasmercado SEGURANÇA Consumidor tem serviço gratuito de alerta de cheques roubados A Boa Vista Serviços colocou à disposição do consumidor em seu site www.apoioaoconsumidor.com.br, o SOS Cheques e Documentos, serviço gratuito de utilidade pública para registro de alerta de cheques e/ou documentos roubados e extraviados. O portal permite o cadastro no sistema, em uma medida preventiva complementar para o registro de perda ou roubo de documentos. Com a notificação, quando alguém tenta utilizar documentos perdidos em algum estabelecimento que faz parte da rede de clientes da Boa Vista, aparece uma mensagem informando que os documentos do CPF consultado foram roubados. Dessa forma, protegem-se o consumidor e os lojistas. Na home, também há um link direto para verificar a situação do CPF do consumidor na Receita Federal. TECNOLOGIA Cheques ganham compensação digital por imagem Em regiões de difícil acesso do País, a compensação, conjunto de procedimentos que leva à troca de cheques por dinheiro, demorava até 20 dias úteis. Em maio, esse cenário mudou. Os bancos aposentaram a compensação física mensal de cerca de 90 milhões cheques e ingressam na era digital. Batizado de Compensação Digital por Imagem, o projeto começou a ser desenvolvido em 2009 pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e os associados. Foi testado em julho do ano passado, e dentro de dois meses irá permitir que o prazo de compensação do meio de pagamento caia para dois dias. Outra vantagem do sistema é a segurança. Com a eliminação do trajeto físico do cheque, se reduz a possibilidade de clonagem, extravio, perdas e roubo dos mesmos. Do ponto de vista ambiental, contribui para a redução expressiva de emissões de CO 2 na atmosfera. FINANCIAMENTO Banco Mundial aumenta empréstimos para o Brasil Os empréstimos do Banco Mundial (Bird) ao Brasil vão quase dobrar nos próximos 12 meses, anunciou o presidente da instituição, Robert Zoellick. Em visita ao País, ele disse que a maior parte dos recursos extras será aplicada em projetos de erradicação da pobreza no Nordeste. Em 2010, o banco emprestou US$ 3,7 bilhões ao Brasil. Neste ano, o organismo pretende emprestar de US$ 5 bilhões a US$ 6 bilhões. Do total, US$ 3,5 bilhões irão apenas para a região Nordeste. Cada país está sujeito a um limite de US$ 16,5 bilhões em crédito do Banco Mundial. Atualmente, o Brasil têm 64 projetos financiados pelo Bird em 19 Estados que representam US$ 13 bilhões. MERCADO DE CAPITAIS Programa de popularização da BM&FBovespa atinge 1 milhão de pessoas A BM&FBovespa alcançou a marca de um milhão de usuários cadastrados nos seis simuladores: SimulAção, FolhaInvest, UolInvest e Simulador Exame (para o mercado de ações), Mercados Futuros (derivativos financeiros e agropecuários) e Tesouro Direto (títulos do governo). Os simuladores fazem parte do programa de popularização da Bolsa para estimular o conhecimento sobre investimentos. Por meio deles, os usuários vivenciam o dia a dia das operações de mercado de capitais e acompanham também as oscilações do mercado. Após o cadastramento, em qualquer uma das ferramentas, os participantes recebem um valor fictício para iniciar seus investimentos e os mais bem colocados podem ganhar prêmios como notebooks, R$ 5 mil em crédito para investir em ações, ipads, viagens a resorts, cursos e outros. 12 FINANCEIRO junho/julho 2011

CERTICREFI Certificação a serviço do mercado A Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), entidade que há mais de meio século congrega instituições voltadas na sua grande maioria ao crédito direto ao consumidor, passará a contar com a atividade de Certificação, implantando para isso o CertiCrefi (Exame de Certificação de Funcionários de Correspondentes e de Instituições Financeiras) em parceria com o Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração), propondo-se a examinar, rigorosamente, os conhecimentos adquiridos pela força de vendas e assim poder atestar o grau de aproveitamento dessas pessoas em cursos de capacitação que serão oferecidos pelo mercado. Com efeito, a certificação de conhecimentos profissionais constitui nos dias atuais uma tendência internacional, aliás, já aplicada no Brasil, em relação aos agentes autônomos de investimento e os corretores de imóveis. Nesse sentido, a certificação vincula-se à necessidade de proteger o público e os próprios profissionais, garantindo um padrão mínimo de atuação. DADOS DO EXAME: O Exame CertiCrefi não vincula qualquer pré-requisito quanto à formação acadêmica. A data da primeira avaliação acontece em 18 de setembro de 2011. O exame será realizado em São Paulo, em local informado posteriormente. Aprovação: aproveitamento igual ou superior a 70% das questões. Número de questões: 60 de múltipla escolha com quatro alternativas. Duração do exame: duas horas. Taxa de inscrição: R$ 300. EDUCAÇÃO FINANCEIRA Acrefi cria blog para o tema Em linha com a era da web 2.0, a Acrefi lançou o blog Finanças na Balança, de educação financeira. Com a nova ferramenta, a associação cria mais um canal de comunicação com o público, já que o blog permite a interatividade com os usuários. A educação financeira ganha cada vez mais espaço no Brasil, e já foi incluída em currículos de importantes escolas do País. Além disso, várias empresas, instituições financeiras e principalmente associações de classe estão bastante atuantes no segmento de prestação de serviços sociais. O tema tem crescente interesse do público, que demanda cada vez mais informações sobre o assunto em busca de opções para organizar seu orçamento e para fazer investimentos. A Acrefi, consciente dessa realidade, oferece agora esse tipo de informação aos interessados também pelo novo blog, que pode ser acessado por todos. junho/julho 2011 FINANCEIRO 13

culturaentrevista 14 FINANCEIRO junho/julho 2011

Por Giseli Cabrini Ignácio de Loyola Brandão O menino que ainda vende palavras Jornalista e escritor, Ignácio de Loyola Brandão comenta sobre sua obra, censura, qualidade da cobertura feita pela imprensa e as mudanças trazidas pelas mídias digitais e redes sociais com reflexos para o mercado editorial. E arrisca ainda conselhos como investidor. Revista Financeiro Sua obra, na categoria infanto- -juvenil, é permeada por muitos meninos: o que vendia palavras, o que perguntava, o que não teve medo do medo. Quais as semelhanças entre eles e o garoto Ignácio que nasceu, em Araraquara, no interior paulista? Elas ainda existem e de que forma o inspiraram a se tornar um dos grandes nomes do jornalismo e da literatura? Ignácio de Loyola Brandão Sabe quem é aquele menino? Sou eu. Simplesmente busquei na memória quem fui e vi que parecia ficção. Claro que acrescentei alguma imaginação e deu no que deu. Um outro menino que sou eu, mas também aquele que gostaria de ter sido. Financeiro Você transita muito bem entre esses dois mundos. Qual o mais prazeroso? Existe mais ficção no mundo real ou vice-versa? O que inspira você? Brandão A ficção me possibilita viajar para fora dessa realidade que é cruel e violenta, mas que também é doce e terna. O que seria da literatura se não fosse a realidade? O escritor não descreve, ele transfigura a realidade, apanhando seus símbolos. O que faço? Mostro nos livros de que modo vivemos, as injustiças, as loucuras, as crises e as ternuras. Financeiro Acha injusto apenas José Saramago ser o único escritor de língua portuguesa a ter recebido o Nobel da Literatura? Brandão O Nobel tem razões que a própria razão desconhece, assim como a Academia Brasileira de Letras (ABL) que elege não-escritores, em lugar de escritores. Financeiro O Tribunal de Justiça de São Paulo acaba de vetar, definitivamente, a distribuição do livro Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século na rede pública de ensino. O principal motivo seria o texto de sua autoria Obscenidades para uma dona de casa. Na sua opinião, foi um ato de censura? Como avalia a questão da liberdade de expressão atual no Brasil? Brandão A Justiça, às vezes, tem o seu quê de ridículo. O caso tem quase um ano. O governo mudou, o secretário de Educação que determinou a entrega dos livros mudou, a política mudou, os alunos mudaram de ano. Os livros que deveriam ter sido entregues, chegaram. Uns poucos foram impedidos pela censura moral, fanática, religiosa de pessoas que não sabem que estamos em 2011, no século 21. O que está em meu conto é poesia pura que os jovens entenderam e com ela se deliciaram. Sexo tem que deixar de ser tabu. A Justiça chega atrasada, sempre. Por isso, essa calamidade. A questão nem existe mais e o livro é vetado. Ora, ora, ora! Financeiro E o outro lado da moeda. Acredita na objetividade da imprensa? Ela é, de fato, imparcial? Que nota atribui à cobertura jornalística atual? Brandão Objetividade? A imprensa tem interesses de acordo com o grupo que detém o poder da mídia nas mãos. Cada jornal tem sua ideologia, seu partido favorito, seus objetivos. Se as matérias não ferem isso, são publicadas. Caso contrário, não. junho/julho 2011 FINANCEIRO 15

culturaentrevista Aprendi que a liberdade de imprensa é muito relativa no primeiro mês em que trabalhei em jornal, há 50 anos. Nota? Às vezes dou dez, muitas vezes zero. Em geral, é quatro e meio. Financeiro Como vê o avanço das mídias on-line e redes sociais e os efeitos para o jornalismo e para a literatura? E sobre a migração do conteúdo dos livros para os tablets. Quais os impactos disso para o mercado editorial e para os hábitos de leitura? Brandão Elas estão conquistando espaço, o futuro está ali. Como vão resolver uma infinidade de problemas, eu já não sei. As mídias terão de se ajustar à realidade. Quanto aos livros, é provável que em um futuro não muito distante se faça a leitura pelos tablets. E daí? Contanto que se leia. Não importam os suportes, a literatura sempre existirá. Já lemos na pedra, na madeira, no papiro, no papel, vamos fazer isso no monitor. Hábitos de leitura? São tão poucos os que têm. Vamos conquistá-los logo por meio dos tablets. Financeiro É cada vez mais comum o mercado corporativo procurar a colaboração de grandes escritores para livros institucionais, assim como ocorreu com você e os 60 anos da Ypê. Qual sua opinião? Brandão A Ypê foi apenas um entre os 30 livros institucionais que escrevi. O que representam tais publicações feitas por escritores de verdade e não mais por burocratas da empresa, por sujeitos do marketing? Leitura fácil, gostosa, palatável. A história contada em ritmo de ficção, sem fugir à verdade. Com isso, surgiu um novo gênero no Brasil. Esses livros que nunca eram lidos, distribuídos aos clientes e fornecedores, passaram a ser. Estão deixando de ser coffe table books. Financeiro O que acha da recente polêmica que envolve os livros didáticos no Brasil entre as diferenças sobre o português falado e o escrito? Os jovens da chamada geração Y leem menos? É possível reverter isso? Brandão Cada vez mais me assombra a incompetência do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Nem consegue realizar um Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) direito. Agora, permite-se que erros não sejam erros. Um dia, vai ser uma catástrofe com todo mundo esquecendo a concordância, os plurais, o correto. Cada um falando o que quer, do jeito que achar melhor. Tem até um ex-presidente que só fala nóis. Reverter? Seria preciso mudar o ministério, colocar ministro alfabetizado e não políticos puxa-sacos. Fazer com que os professores tenham condições de dar aulas, reprovar aluno burro, por exemplo. Financeiro Qual conselho dá como investidor? Brandão Meu parco dinheirinho fica em poupança e CDBs (Certificados de Depósitos Bancários). Quando ganhar a Mega-Sena, vou procurar um consultor financeiro. f 16 FINANCEIRO junho/julho 2011

desafiosmercadoautomotivo Por Sérgio Siscaro Carro zero um pouco mais distante Como era de se esperar, um dos segmentos que mais se beneficiaram da expansão do acesso ao crédito por parte da população nos últimos anos foi o automotivo. A aquisição de um veículo próprio, zero quilômetro, passou a ser mais facilitada em razão também do recente aumento da renda média do brasileiro. E foi justamente esse bem que acabou sendo um dos alvos das chamadas medidas macroprudenciais adotadas pelo Banco Central (BC) e pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a partir de dezembro do ano passado, voltadas a conter o consumo e, assim, segurar os índices inflacionários. A partir da adoção dessas ações, passou a ser mais um pouco mais difícil para as pessoas físicas obterem crédito. E o financiamento automotivo foi, naturalmente, atingido. Isso pode ser observado pelos números divulgados no fim do ano pela Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef ). Os dados de 2010 referentes às operações de Crédito Direto ao Consumidor (CDC) e leasing para a compra de veículos por pessoas físicas apuraram um recorde histórico: crescimento de 19,9% nas carteiras de financiamento na comparação com o ano anterior, levando a Efeitod as medidas do governo para conter o consumo chegam ao financiamento de autoveículos

Fotos: istockphoto/ Douglas Luccena um total de R$ 188,6 bilhões. Na época, a entidade projetava incremento da ordem de 5% para o crédito automotivo em 2011. Quando novos dados foram divulgados, em fevereiro deste ano, o efeito das medidas macroprudenciais ainda não havia sido sentido mas já era esperado. Tanto que, quando a Anef anunciou o balanço referente ao primeiro trimestre de 2011, já havia um tom mais contido nas projeções. Apesar de os números registrados entre janeiro e março terem sido favoráveis com elevação de 6,4% no CDC e salto de 17,3% nas carteiras de financiamento, que atingiram o montante de R$ 190,4 bilhões já se admitia a sombra das determinações do BC nos cálculos. O impacto se tornou claro nos meses de abril e maio, afirma Décio Carbonari de Almeida, presidente da Anef. Apesar de ainda não ter números fechados, ele lembrou que, nos primeiros dias de maio, houve queda de 7% na comercialização de veículos via financiamento. Esse quadro deve perdurar para o resto do ano, uma vez que o governo não irá deixar de combater a inflação por meio dessas medidas. Haveria, então, espaço para que o segmento de crédito automotivo pleiteasse ao governo federal algum relaxamento na austeridade monetária, caso as ações surtam o efeito desejado? Enquanto a inflação não estiver totalmente sob controle, isso não deverá acontecer, pondera Almeida. Vendas O impacto dessas medidas nas vendas de veículos também apareceu de forma mais clara em maio. De acordo com Sérgio Reze, presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), observou-se uma queda de 6,5% na comercialização de automóveis e comerciais leves. Ainda que não tenham afetado os preços, as restrições tornaram mais difícil de se obter a aprovação do cadastro dos consumidores que estão atrás de financiamento. Houve avanço de 62,3% nas vendas de veículos importados entre março de 2010 e igual mês de 2011, segundo a Abeiva Essa desaceleração no segmento que, vale a pena lembrar, contabilizava no primeiro trimestre deste ano salto de 6,28% nos emplacamentos da indústria automotiva, na comparação com os três primeiros meses de 2010 deverá continuar. Para 2011, antes projetávamos um crescimento de 4,5%. Mas teremos de reconsiderar esse porcentual, disse Reze, afirmando que o ano deverá ser neutro sem um aumento expressivo, mas também sem perdas. Já a Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva) informa que houve avanço de 62,3% nas vendas de veículos importados entre março de 2010 e igual mês de 2011. Na ocasião, o presidente da entidade, José Luiz Gandini, avaliou que esse desempenho foi impulsionado pela chegada de novas empresas, junho/julho 2011 FINANCEIRO 19

desafiosmercadoautomotivo Sérgio Reze, presidente da Fenabrave Restrições dificultam aprovação de financiamentos o aumento da participação dos veículos de entrada oriundos de fora no mercado doméstico e a presença dos automóveis importados do segmento B e de utilitários esportivos. No mês seguinte, essa tendência se manteve, com crescimento de 120,9% entre abril de 2010 e igual mês de 2011. Alternativa O efeito das medidas de contenção do consumo tem sido mais direto para as camadas da sociedade para as quais o acesso ao crédito não era tão fácil anteriormente e que fluíram para as facilidades do financiamento há, relativamente, pouco tempo. Esse público pode adiar a compra do veículo ou obter um carro mais simples, sem muitos opcionais, afirma o presidente da Anef. Outra alternativa disponível a esse público é migrar para o consórcio na hora de adquirir o tão sonhado carro. Dados recentes divulgados pela Associação de Administradoras de Consórcios (Abac) indicam que foram vendidas no primeiro trimestre 336 mil novas cotas para a venda de motocicletas volume 19,7% superior ao observado em igual período do ano passado. Para o presidente da Anef, contudo, essa alternativa não é tão interessante quanto o CDC ou o leasing. O prazo para o consumidor ser contemplado é longo, de 60 meses. Apesar de ser uma opção válida, ela não substitui o financiamento. No entanto, a Abac tem uma visão diferente do comportamento do mercado. De acordo com Paulo Roberto Rossi, presidente da entidade, houve uma alteração no comportamento do consumidor que passou a ser mais criterioso na hora de optar por um mecanismo de crédito. Com custos menores em razão da inexistência de juros, o sistema de consórcios passou a receber adesões em volume superior à média de períodos anteriores, tornando-se ainda mais atrativo àqueles que não precisam do bem de imediato. E acrescenta: Além disso, as medidas macroprudenciais, Fotos: Divulgação 20 FINANCEIRO junho/julho 2011