Biblioteca Pública inclusiva: adaptar para renovar



Documentos relacionados
Curso de Acessibilidade

Quem somos. Organização filantrópica, sem fins lucrativos, fundada há 67 anos pela professora Dorina de Gouvea Nowill.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão

O ORIENTADOR FRENTE À INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIENCIA NA ESCOLA REGULAR DE ENSINO

RESOLUÇÃO CPA/SMPED 019/2014 PASSEIO PÚBLICO A Comissão Permanente de Acessibilidade CPA, em sua Reunião Ordinária, realizada em 28 de agosto de 2014.

APPDA-Setúbal. Educação

Técnicas Assistivas para Pessoas com Deficiência Visual

UTILIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARES EDUCACIONAIS PARA PESSOAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS.

A Educação Bilíngüe. » Objetivo do modelo bilíngüe, segundo Skliar:

Laudo de Acessibilidade

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Anais. III Seminário Internacional Sociedade Inclusiva. Ações Inclusivas de Sucesso

Ficha Técnica: Design e Impressão Mediana Global Communication

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão

Dra. Margareth Diniz Coordenadora PPGE/UFOP

PROJETO. Banheiros e Vestiário VISTA SUPERIOR VISTA SUPERIOR VISTA SUPERIOR

O que são Direitos Humanos?

Adequação dos Sistemas de Trens Urbanos de Porto Alegre à Acessibilidade Universal (Decreto n de 2004)

Educação Acessível para Todos

PUC- RIO CENTRO UNIVERSITÁRIO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO ARQ 1028 DESENHO DE ARQUITETURA I

RESOLUÇÃO CNAS Nº 11, DE 23 DE SETEMBRO DE 2015.

A APAE E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Ofício de acessibilidade Rock in Rio

REDE TEMÁTICA DE ACTIVIDADE FÍSICA ADAPTADA

Atendimento Educacional Especializado

Gestão da Informação e do Conhecimento

1904 (XVIII). Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA

Acessibilidade e inclusão social para os cidadãos surdos e deficientes auditivos

Organização em Enfermagem

Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: UM ESTUDO DE METODOLOGIAS FACILITADORAS PARA O PROCESSO DE ENSINO DE QUÍMICA

GRUPO 5 - COMUNICAÇÃO

CURSO DE CAPACITAÇÃO EM AEE TRABALHO FINAL DE CURSO. Carla Vallejo Santana De Sordi

/estudo preliminar análise da norma de acessibilidade ABNT NBR Gustavo Alves Rocha Zago Izabela Dalla Libera

TRABALHO PEDAGÓGICO NA PERSPECTIVA DE UMA ESCOLA INCLUSIVA. Profa. Maria Antonia Ramos de Azevedo UNESP/Rio Claro.

Carta dos Direitos do Cliente

Educação Patrimonial Centro de Memória

II Encontro MPSP/MEC/UNDIME-SP. Material das Palestras

PROJETO DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO FEDERAL N.º, DE 2011 (Da Sra. Rosinha da Adefal)

EDUCAÇÃO FÍSICA PARA PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS (PNEE): construindo a autonomia na escola

ASSESSORIA DE IMPRENSA 1 Felipe Plá Bastos 2

A INCLUSÃO DOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS EDUCATIVAS NAS SÉRIES INICIAIS SOB A VISÃO DO PROFESSOR.

Rompendo os muros escolares: ética, cidadania e comunidade 1

POLÍTICAS INSTITUCIONAIS DE ACESSIBILIDADE. - Não seja portador de Preconceito -

Compromisso para IPSS Amigas do Envelhecimento Ativo CONFEDERAÇÃO NACIONAL INSTITUIÇÕES DE SOLIDARIEDADE

MANUAL PARA APRESENTAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS. Junho, 2006 Anglo American Brasil

Projeto Pedagógico Institucional PPI FESPSP FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO PROJETO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL PPI

Instituto Educacional Santa Catarina. Faculdade Jangada. Atenas Cursos

Título do Case: Diversidades que renovam, transformando novas realidades

O Marco de Ação de Dakar Educação Para Todos: Atingindo nossos Compromissos Coletivos

ACESSIBILIDADE E DIREITOS DOS CIDADÃOS: BREVE DISCUSSÃO

INCLUSÃO ESCOLAR: UTOPIA OU REALIDADE? UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A APRENDIZAGEM

SAÚDE COMO UM DIREITO DE CIDADANIA

Educação para a Cidadania linhas orientadoras

Palavras-chave: Deficiência visual; Teorema de Pitágoras; Matemática.

DIAGNÓSTICO DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DO TERCEIRO SETOR EM BELO HORIZONTE 2006

II. Atividades de Extensão

ACESSIBILIDADE EM BIBLIOTECAS

FORMAÇÃO PROFISSIONAL COMO FATOR ESTRATÉGICO. Praia, 20 Outubro Organização da Apresentação. Formação Profissional como fator estratégico;

EDUCAÇÃO E CIDADANIA: OFICINAS DE DIREITOS HUMANOS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA ESCOLA

OS LIMITES DO ENSINO A DISTÂNCIA. Claudson Santana Almeida

MMX - Controladas e Coligadas

Projeto em Capacitação ao Atendimento de Educação Especial

Um forte elemento utilizado para evitar as tendências desagregadoras das sociedades modernas é:

Implantação de Núcleos de Ação Educativa em Museus 1/72

Todos Juntos por um Brasil maisacessível

NORMAS DE ACESSIBILIDADE - Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT

MATRÍCULA: DATA: 15/09/2013

Deficiência auditiva parcial. Annyelle Santos Franca. Andreza Aparecida Polia. Halessandra de Medeiros. João Pessoa - PB

0 BRASIL: altura que varia entre 70cm e 1,40m.

Declaração de Pequim adotada pela Quarta Conferência Mundial sobre as Mulheres: Ação para Igualdade, Desenvolvimento e Paz (1995)

EDUCAÇÃO INCLUSIVA: ALUNO COM DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA NO ENSINO REGULAR

ipea políticas sociais acompanhamento e análise 7 ago GASTOS SOCIAIS: FOCALIZAR VERSUS UNIVERSALIZAR José Márcio Camargo*

Assinalar como V (Verdadeiro), F (Falso) ou NSA (Não Se Aplica)

GRITO PELA EDUCAÇÃO PÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULO

ACESSIBILIDADES. boas práticas Boas práticas para auxiliar pessoas com necessidades especiais. 1. Deficiência visual

LOCALIZAÇÃO: PAVIMENTO TÉRREO IDENTIFICAÇÃO ÁREA (M 2 ) CAPACIDADE Auditório 367,23 406

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Diretoria de Políticas de Educação Especial

Ambientes acessíveis

INCLUSÃO. Isabel Felgueiras, CONNECT versão Portuguesa

Desafios para a gestão escolar com o uso de novas tecnologias Mariluci Alves Martino

GRUPOS. são como indivíduos, cada um deles, tem sua maneira específica de funcionar.

11º GV - Vereador Floriano Pesaro

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA COMITÊ DE INCLUSÃO E ACESSIBILIDADE ORIENTAÇÕES PARA DOCENTES DE ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA VISUAL

José Fernandes de Lima Membro da Câmara de Educação Básica do CNE

Carta para a Preservação do Patrimônio Arquivístico Digital Preservar para garantir o acesso

Estratégia de TI. Posicionamento Estratégico da TI: como atingir o alinhamento com o negócio. Conhecimento em Tecnologia da Informação

:: Legislação. Unidade: Câmara de Educação Básica. Número: 79/2009 Ano: Ementa:

O que esperar do SVE KIT INFORMATIVO PARTE 1 O QUE ESPERAR DO SVE. Programa Juventude em Acção

Relatório. Avaliação das Acessibilidades. Prédio da Rua de Gondarém, Nevogilde - Porto

ColorADD 1/5. Sistema de identificação de cores para daltónicos

Gestão do Conhecimento A Chave para o Sucesso Empresarial. José Renato Sátiro Santiago Jr.

CURSO: LICENCIATURA DA MATEMÁTICA DISCIPLINA: PRÁTICA DE ENSINO 4

Pequenas e Médias Empresas no Canadá. Pequenos Negócios Conceito e Principais instituições de Apoio aos Pequenos Negócios

DOCUMENTO ORIENTADOR DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE FLORIANÓPOLIS

A INTERNET COMPLETOU 20 ANOS DE BRASIL EM 2015.

Trabalho em grupo: modelos de deficiência 1/5

Transcrição:

33 Artigos Biblioteca Pública inclusiva: adaptar para renovar Maria Aparecida Lemos de Souza cidalemosbiblio@yahoo.com.br Resumo: A biblioteca pública é um espaço que abarca atividades para o desenvolvimento cultural do cidadão, sem discriminar ou eleger seu usuário. Neste sentido, se faz necessário aumentar as possibilidades para universalizar o seu uso, adequando-a aos portadores de deficiências. O deficiente visual é o usuário que mais necessita de atenção para usufruir os benefícios de uma biblioteca, pois essa oferece possibilidades de desenvolvimento, que direcionadas poderão proporcionar-lhe um novo universo. Assim, esta pesquisa objetivou buscar orientações para a organização desse tipo de biblioteca combinando o desenvolvimento das inteligências do usuário ao oferecimento do espaço e atendimento adequados, por meio de estudos teóricos e de casos específicos. Essa abordagem e enfoque mostraram a real necessidade dessas ações que ampliam a qualidade de vida de todos os cidadãos, seguido da discussão dos preconceitos da sociedade, as barreiras arquitetônicas que são encontradas diariamente, os recursos usados para orientação e o grau de domínio espacial apresentam através dos órgãos do sentido, mostrando o domínio que parece estar oculto. A partir disso, a pesquisa analisa o conteúdo quanto à carência dos equipamentos necessários para orientação dos deficientes visuais, onde procura organizar e oferecer todo um espaço necessário para desfrutar das diversas formas do conhecimento e ser um indivíduo ativo e participativo. Palavras chave: Biblioteca Pública; Deficiência visual; Inclusão social. INTRODUÇÃO O deficiente visual é considerado um excepcional sensoriamente falando, por não possuir a visão, de forma parcial ou total. O mundo de hoje, na maioria dos projetos realizados tanto arquitetônicos quanto na área da educação e informação, não incluem acessibilidade aos deficientes visuais. A maioria das pessoas exclui, e, por esse motivo um individuo com essas características não pode sair para o mundo sozinho, pela falta de acessibilidade nos prédios públicos e áreas via pedestre, os deficientes visuais são excluídos de algumas situações rotineiras e acabam dependendo de outros, como por exemplo, ler, escrever e ficar conectado com as informações que surgem a todo o momento. A proposta do trabalho é adequar um espaço em uma Biblioteca Pública, que, fundamenta-se no conhecimento de que a pessoa cega ou com visão subnormal pode ser bem sucedida se lhe forem oferecidos os meios necessários para o desenvolvimento pleno de inclusão social. A Biblioteca Pública com adequação ao uso do deficiente visual, tem como finalidade desenvolver um atendimento com qualidade, objetivando consequentemente o abrir de portas, para que a integração da pessoa cega na sociedade seja cada vez maior e melhor (LEMOS, 1976). Objetivando o desenvolvimento pleno e a inclusão social destes usuários com cegueira ou visão subnormal na sociedade.

34 2. BIBLIOTECA: UM ESPAÇO SEM FRONTEIRAS A Biblioteca tem um papel de grande importância, como também o contributo cada vez maior das novas tecnologias de acesso à informação. Biblioteca, um espaço sem fronteiras, esta assim de frente para as novas tecnologias e para quantas estas nos podem trazer de positivo, (JOVER,1990). No que diz respeito ao acesso a livros e demais documentos existentes numa biblioteca. Como sair do advento do papel e passar para digital sem primeiro adaptar o espaço, para suprir as necessidades das pessoas com necessidades especiais. É tempo de os legisladores cuidarem do problema, não se justifica a exclusão cultural dos deficientes, seria ideal o propósito, ouvindo-se os representantes desta parcela da população, de um projeto de lei que torne obrigatória a adaptação dos edifícios. Neste trabalho a pesquisa esta direcionada a deficiência visual, deficiência que hoje esta sendo beneficiada com a leitura Braille. Naturalmente que, com todos os avanços a que temos vindo a assistir, não será difícil prever aquilo que acontecerá, um número de obras disponíveis em suporte Braille será cada vez maior, graças aos modernos processos de impressão. Por outro lado, torna-se fundamental adaptar os espaços para assim integrá-los a sociedade cultural, transpondo as barreiras arquitetônicas que hoje dificultam essa possibilidade. Naturalmente que para que a biblioteca do futuro seja um espaço sem fronteiras,é necessário que neste caso os deficientes visuais, se sintam dentro da biblioteca o mais à vontade possível (JOVER,1990). E possam desfrutar de tudo quanto qualquer pessoa normovisual tem num espaço destes. 2.1 OBJETIVOS Da Biblioteca Pública (e Biblioteca Especial) á Biblioteca Inclusiva. Incremento de atitudes e práticas inclusivas na Biblioteca Pública; Eliminação de barreiras físicas, sociais, culturais e relacionais; Adequação do contributo informático-tecnológico, como fenômeno profusamente ampliador do inexaurível universo da informação, aos utilizadores com necessidades específicas. A Biblioteca Pública deve estar preparada para atuar como instrumento para o avanço da Educação Especial, em um país como o nosso, em que o direito à educação é assegurada em lei, quer para a dita criança normal, quer para a excepcional (ANTUNES e CAVALCANTE, 2001.) Este preparo inclui: estabelecer parcerias com outros órgãos de prestação de serviços para o desenvolvimento de ações conjuntas para inclusão social de usuários com cegueira ou visão subnormal na sociedade; fornecer material didático especializado ou adaptado;

35 prover a biblioteca de recursos físicos e materiais para o acesso do usuário, rampa, mobiliários, equipamentos e materiais adaptados, piso antiderrapante, área espaçosa que permita boa locomoção, dentre outros; desenvolver pesquisas relacionadas a equipamentos e acervo para melhor conhecer as necessidades visuais; capacitar e apoiar recursos humanos para o atendimento aos deficientes visuais. 3. DEFICIENTE VISUAL: CONCEITOS E TEORIA Consideram-se como cegas as pessoas que têm somente a percepção da luz ou não têm nenhuma visão e que precisam aprender através do alfabeto Braille e de meios de comunicação que não estejam relacionados com o uso da visão. (Penna, 1995) É a perda da visão suficiente para impedir de ser auto-suficiente em uma ocupação, tornando o individuo dependente do outro, de agência ou organização que possa viver. Portanto, são considerados deficientes visuais, as pessoas que possuem alguma anormalidade ou não desenvolvem algo no órgão da visão, de forma, que, essa deficiência possa ser adquirida através de acidentes ou moléstias infecciosas. O deficiente visual possui algumas limitações, as quais seguem abaixo, atividades que não são capazes de executar como: Não tem acesso direto à palavra empresa Restringe a mobilidade em ambientes não familiares Limita a percepção direta, pela pessoa, de um ambiente distante, assim como objetos grandes para serem aprendidos pelo tato. 3.1. Classificação da deficiência A organização Mundial da Saúde calcula cerca de 28 milhões de pessoas cegas em todo mundo. Também considerado como portadores de deficiência visual, perda total de um olho, sendo que produz apenas capacidade visual de 10%, de forma que o outro olho se torna infinitamente mais precioso. A acuidade visual (método de medida da perda da visão) é de 6/60 ou menos no melhor olho ou com campo visual de 20 graus ou menos. A OMS calcula que 75% dos casos de cegueira em países em desenvolvimento são evitáveis. A deficiência visual inclui dois grupos de condição visual: cegueira e visão subnormal. CEGUEIRA; ausência total de visão até a perda da capacidade de indicar projeção de luz até a redução da acuidade visual ao grau que exige atendimento especializado. Visão Subnormal: condição de visão que vai desde a capacidade de indicar projeção de luz até a redução da acuidade visual ao grau que exige atendimento especializado. A deficiência visual, seja ela cegueira total ou visão subnormal, pode afetar a pessoa em qualquer idade. Bebês podem nascer sem visão e outras pessoas podem tornar-se deficientes visuais, em qualquer fase da vida, desde os primeiros dias de vida até a idade avançada. A deficiência visual ocorre independentemente de sexo, religião, crenças, grupo étnico, raça, ancestrais, educação, cultura, saúde, posição social, condições de residência ou qualquer outra condição específica. Pode

36 ocorrer repentinamente de um acidente ou doença súbita, ou tão gradativamente que a pessoa atingida demora a tomar consciência do que está acontecendo. A deficiência visual interfere em habilidades e capacidades e afeta, não somente a vida da pessoa que perdeu a visão, mas também dos membros da família, amigos, colegas, professores, empregados e outros. Entretanto, com tratamento precoce, atendimento educacional adequado, programas e serviços especializados, a perda da visão não significará o fim da vida independente e não ameaçara a vida plena e produtiva. 3.1.1 O deficiente visual e a realidade Preconceitos da sociedade Antigamente, os deficientes eram segregados, afastados de qualquer convívio social, pois sua diferença era vista como maldição, destino, marca do demônio e todo tipo de crendice. Afinal, o que era diferente era desconhecido e misterioso, e o desconhecido era fonte de medo. Do medo ao preconceito é um pulo, daí a exclusão absoluta das pessoas diferentes. Por volta do século XIX, o deficiente visual era tratado como um doente em algumas instituições. Excluídos por algumas famílias e pela maioria da sociedade, portadores de deficiência visual eram acolhidos em asilos de caráter religioso ou filantrópico, muitas vezes passando ali toda a sua vida. Ao mesmo tempo, foram surgindo algumas escolas especiais e centros de reabilitação, pois a sociedade começou a admitir que deficientes visuais pudessem ser produtivos se recebessem condições de adquirirem acesso à cultura informacional, através da leitura e se os espaços fossem adaptados a eles. A integração significa a inserção da pessoa deficiente preparada, em escolas, bibliotecas, prédios públicos etc. adaptados para conviver com a sociedade. Já a inclusão, significa a modificação da sociedade como pré-requisito para a pessoa com necessidades especiais buscar seu desenvolvimento e exercer sua cidadania. Portanto, é preciso preparar lugares para incluir neles a pessoa especial e não o contrario, como é que ocorre na maioria das vezes. 3.2.1 O domínio do deficiente visual: alguns problemas encontrados e soluções adequadas Entradas de Edifícios: Estas entradas devem ser livres de barreiras de modo que possibilite o fluxo de pessoas de todos os lados. Caso isso não for possível, os degraus e desníveis existentes devem ser pintados com cores contrastantes ou o piso ser texturizado. Portas de acesso devem ser mantidas sempre abertas; Extintores e Bebedouros: Os extintores devem ser obrigatoriamente de cor vermelha e demarcada no piso, e os bebedouros devem ser embutidos e/ou colocados fora do fluxo de pedestres; Portas, Portões e Janelas: As aberturas das portas devem direcionar ao tráfego e quando abertas devem formar coma parede ângulos de 90º e 180º. Portões devem abrir sempre para o interior do edifício, nunca para o passeio público. O ideal seria portão de correr.

37 Portas e áreas envidraçadas devem ser marcadas por faixa de cor diferente a uma altura entre 1,40 1,60 m do chão, ou, uma texturização diferenciada, não precisando ser largas; Rampas e Escadas: A utilização dos espaços livres abaixo das rampas e escadas deve exigir pé direito mínimo de 2,10 m da superfície terrestre. A inclinação das rampas não deve ser acentuada e sim apresentar 2% - 6,5%, conforme normas da ABNT. Colocar faixas coloridas no piso tanto no centro como nas laterais e no início como no fim são recomendáveis, podendo ser texturizadas. A presença de corrimão em toda a lateral com altura de 0,90 m e estes (quando contínuas), começam a 0,30 m antes do desnível seria uma solução adequada; Corredor: Devem apresentar faixas no piso e/ou paredes, assim como diferentes texturas. Não seria recomendável, iluminar finais de corredores; Bibliotecas e ambientes em geral: O ideal seria localizar em áreas urbanas, para facilitar o acesso. o Apresentar áreas de lazer e salas com no máximo 5 (cinco) mesas; o Possuir texturização captáveis, pela bengala (de piso) e tátil (de parede); o Nas entradas das salas, deve haver placas de identificação em alto relevo e cores fortes. 3.2.2 Alguns recursos usados para orientação O alfabeto Braille Este sistema de leitura para deficientes visuais foi introduzido em 1825. Os caracteres do alfabeto Braille, consistem em pontos salientes, arranjados em duas colunas de três pontos. O sistema é tão simples que uma criança com deficiência visual pode facilmente aprender a ler Braille. Os sistemas foram adaptados para música e também para o uso técnico e científico. Um Código Braille Internacional, foi introduzido em 1951. O método é ensinado de modo bastante semelhante à leitura comum. O leitor desse método usa ambas as mãos para ler, mas as duas funcionam independentemente, seguindo uma adiante da outra em sentido horizontal ao longo da linha e com poucos movimentos regressivos verticais. Todo papel moeda na Holanda e suíça, é impresso em Braille para mostrar seu valor; fato esse falho nos demais países. Restaurantes e lanchonetes deveriam possuir cardápio em Braille, como a lanchonete McDonald s. 3.2.3 Leis e Decretos sobre Barreiras nas acessibilidades Segundo o Decreto Federal nº. 5.296/04 Art. 8º, Inciso I, barreiras: qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a liberdade de movimento, a circulação com segurança e a possibilidade de as pessoas se comunicarem ou terem acesso à informação, classificadas em: a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias públicas e nos espaços de uso público;

38 b) barreiras nas edificações: as existentes no entorno e interior das edificações de uso público e coletivo e no entorno e nas áreas internas de uso comum nas edificações de uso privado multifamiliar; c) barreiras nos transportes: as existentes nos serviços de transportes; d) barreiras nas comunicações e informações: qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos dispositivos, meios ou sistemas de comunicação, sejam não de massa, bem como aqueles que dificultem ou impossibilitem o acesso à informação. São vários os entraves e obstáculos que dificultam, limitam e impedem o acesso, a locomoção, o entendimento, a percepção ou a utilização desses espaços por qualquer pessoa, com autonomia e segurança. Antigamente, quando técnicos e especialistas envolvidos com as condições de movimentação das pessoas com deficiência começaram a buscar termos e definições para seus estudos, todo tipo de obstáculo era classificado como barreira arquitetônica. Por muito tempo, este foi o termo utilizado para indicar a existência dos obstáculos que impediam as pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida de se locomoverem nos espaços de uso comum da cidade. 4. CONCEITO DE BIBLIOTECA PÚBLICA A biblioteca pública é o centro local de informação, tornando prontamente acessíveis aos seus utilizadores o conhecimento e a informação de todos os gêneros. Os serviços da biblioteca pública devem ser oferecidos com base na igualdade de acesso para todos, sem distinção de idade, raça, sexo, religião, nacionalidade, língua ou condição social. Serviços e materiais específicos devem ser postos à disposição dos utilizadores que, por qualquer razão, não possam usar os serviços e os materiais correntes, como por exemplo, minorias linguísticas, pessoas com deficiências, hospitalizadas ou reclusas. Todos os grupos etários devem encontrar documentos adequados às suas necessidades. As seleções e serviços devem incluir todos os tipos de suporte e tecnologias modernas apropriadas assim como materiais tradicionais. É essencial que sejam de elevada qualidade e adequadas às necessidades e condições locais. As seleções devem refletir as tendências atuais e a evolução da sociedade, bem como a memória do esforço e da imaginação da humanidade. As seleções e os serviços devem ser isentos de qualquer forma de censura ideológica, política ou religiosa e de pressões comerciais. Num relance pela tipologia das bibliotecas, é a Biblioteca Pública (mesmo a já dotada com recurso a redes digitais de informação) a que se nos apresenta com um grau de performatividade mais consentâneo com as nossas pretensões em refleti-la numa dimensão de ampla interatividade humana de modo a torná-la inclusiva de todos os cidadãos, com especial proficuidade para as pessoas deficientes visuais. 4.1. Manifesto da UNESCO sobre bibliotecas públicas A liberdade, a prosperidade e o progresso da sociedade e dos indivíduos são valores humanos fundamentais. Só serão atingidos quando os cidadãos estiverem na posse das informações que lhes

39 permitam exercer os seus direitos democráticos e ter um papel ativo na sociedade. A participação construtiva e o desenvolvimento da democracia dependem tanto de uma educação satisfatória como de um acesso livre e sem limites ao conhecimento, ao pensamento, à cultura e à informação. A biblioteca pública-porta de acesso local ao conhecimento fornece as condições básicas para a aprendizagem ao longo da vida, para uma tomada de decisão independente e para o desenvolvimento cultural do indivíduo e dos grupos sociais. Manifesto proclama a confiança que a UNESCO deposita na Biblioteca Pública, enquanto força viva para a educação, cultura e informação, e como agente essencial para a promoção da paz e do bem-estar espiritual através do pensamento dos homens e mulheres. Assim, a UNESCO encoraja as autoridades nacionais e locais a apoiar ativamente e a comprometerem-se no desenvolvimento das bibliotecas públicas. 4.1 1. Funcionamento e gestão Deve ser formulada uma política clara, definindo objetivos, prioridades e serviços, relacionados com as necessidades da comunidade local. A biblioteca pública deve ser eficazmente organizada e mantida padrões profissionais de funcionamento. Deve ser assegurada a cooperação com parceiros relevantes, por exemplo, grupos de utilizadores e outros profissionais a nível local, regional, nacional e internacional. Os serviços têm de ser fisicamente acessíveis a todos os membros da comunidade. Isto pressupõe a existência de edifícios bem situados, boas condições para a leitura e o estudo, assim como o acesso a tecnologias adequadas e horários convenientes para os utilizadores. Implica igualmente serviços destinados àqueles a quem é impossível frequentar a biblioteca. Os serviços da biblioteca devem ser adaptados à diferentes necessidades das comunidades das zonas urbanas e rurais. O bibliotecário é um intermediário ativo entre os utilizadores e os recursos disponíveis. A formação profissional contínua do bibliotecário é indispensável para assegurar serviços adequados. Têm de ser levados a cabo programas de formação de utilizadores de forma a fazê-los beneficiar de todos os recursos. 4.2 Aplicação do manifesto Aos que têm poder de decisão, a nível nacional e local, e à comunidade bibliotecária, em todo o mundo, pede--se que apliquem os princípios expressos no presente Manifesto. Este Manifesto foi preparado em cooperação com a Federação Internacional das Associações de Bibliotecários e de Bibliotecas (IFLA) e aprovado pela UNESCO em Novembro de 1994. 5. NECESSIDADE DE UMA BIBLIOTECA PÚBLICA PARA O DEFICIENTE VISUAL De acordo com o conceito de Desenho Universal, criado por uma comissão em Washington, EUA, no ano de 1963, foi inicialmente chamado de Desenho Livre de Barreiras por ter seu enfoque voltado à eliminação de barreiras arquitetônicas nos projetos de edifícios, equipamentos e áreas urbanas. Posteriormente, esse conceito evoluiu para a concepção de Desenho Universal, o país passou a considerar não o só o projeto, mas principalmente a diversidade humana, de forma a respeitar as diferenças existentes entre as pessoas e a garantir a acessibilidade a todos os

40 componentes do ambiente. Em particular, no que dizem respeito à deficiência visual, as Bibliotecas Públicas têm que se adaptar para acolher os mesmos, mas não é isso o que ocorre, pois esses espaços na maioria das vezes, não apresentam uma arquitetura voltada e pensada para esse tipo de uso. Incluir e qualificar, a acessibilidade tem que ser universal, para olhar o deficiente como igual O ser humano não tem deficiência ele tem diferença, quem tem deficiência e a cidade, o prédio que eles precisam utilizar, para isso abre-se o caminho para o processo de inclusão. Por sua vez os bibliotecários devem estar conscientes de que o problema maior não é prover informações para o deficiente visual e sim criar condições acessíveis para que ele se interesse e venha utilizar os serviços e produtos oferecidos pelas bibliotecas. Com princípios como estes podemos comprovar que quanto mais ferramentas oferecer para o deficiente menos deficiente ele fica, ocupando seu espaço. As atividades dos bibliotecários para com os deficientes visuais, não devem se constituir de ações isoladas. Devem envolver a participação de outros organismos que lidam com a problemática da deficiência visual, para fortalecer o trabalho das bibliotecas. 5.1 Declaração da UNESCO - Deficiente Visual A Unesco, que tem apoiado o Braille como a única escrita tátil paralela à escrita a tinta, e a International Federation of Library Associations & Institutions (IFLA), aprovaram o novo texto, revisto, do manifesto Unesco para bibliotecas públicas. De acordo com o documento, o conceito de público não exclui as minorias, os serviços e materiais geralmente oferecidos. As bibliotecas públicas têm responsabilidade fundamental para com os leitores de Braille e, como sustenta tanto a IFLA quanto a Unesco, é parte integrante da finalidade das bibliotecas proporcionarem-lhes acesso a livros em Braille e a serviços. CONCLUSÃO A proposta do trabalho é criar um espaço adequado em uma Biblioteca Pública para deficientes visuais, que, fundamente se no conhecimento de que a pessoa cega ou com visão subnormal pode ser bem sucedida se lhe forem oferecidos os meios necessários para o desenvolvimento pleno e inclusão social, a deficiência não está nas pessoas e sim nos prédios que eles precisam utilizar. Para isso acontecer é preciso que os legisladores cuidem do problema, não se justifica a exclusão cultural dos deficientes visuais. As pessoas referidas, de todas as idades que procurarem a Biblioteca Pública, terão um atendimento em um espaço com condições físicas, um acervo e profissionais especializados às suas necessidades. Este trabalho não tem a pretensão de ditar normas, mas vislumbrar soluções quanto ao atendimento prestado pelo profissional da informação ao deficiente visual, visto os conhecimentos estudados, o que nos permite apresentar uma proposta que vise sanar as necessidades de informação ao deficiente visual em nossa sociedade e que sirva de base para reflexão. Por meio destes conhecimentos também podemos fazer a indicação das necessidades deste usuário para o profissional da construção, buscando uma orientação mais adequada na construção de espaços e prestação de serviços.

41 REFERÊNCIAS ANTUNES, W. de A., CALVANCANTE, G. DE A. Manual de treinamento de pessoal responsável por Biblioteca pública. Brasília Fundação Nacional / CBBPE, 1989 P. 12. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências a edificações, espaços, mobiliários e equipamentos. R.J.: ABNT, 1997. p.56. Brasil Ministério das Cidades. Brasil acessível: programa brasileiro de acessibilidade urbana, São Paulo: Ministério das Cidades, 2007. CAMPOS, Bruna Scudelario. Louis Braille escola profissionalizante para deficientes visuais. Taubaté, 2001. Trabalho Acadêmico. Faculdade de Arquitetura da Universidade de Taubaté. JOVER, Ana. Inclusão: qualidade para todos. Nova Escola, Ano XIV, n.º 123, 8-17 p., junh., 1990. LEMOS, Antônio Agenor Briquet de. Normas para Biblioteca Pública. São Paulo: Quiron, 1976. PENNA, Priscila Alves. Projeto de uma escola pré-primária para crianças cegas. Taubaté, 1995 Trabalho acadêmico. Faculdade de Arquitetura da Universidade de Taubaté. VEIGA, J. Espínola. O que é ser cego. São Paulo: José Espínola Veiga, 1983. YAMADA, Luiz Eduardo. Centro de apoio ao deficiente visual. Taubaté, 1998. Trabalho Acadêmico. Faculdade de Arquitetura da Universidade de Taubaté.