escola de gestores da educação básica



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Transcrição:

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Cleonara Maria Schwartz Gilda Cardoso de Araujo Paulo da Silva Rodrigues (Orgs.) escola de gestores da educação básica Democracia, Formação e Gestão Escolar: Reflexões e Experiências do Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica no Estado do Espírito Santo VITÓRIA 2010

GM Gráfica e Editora Ltda. Todos os direitos reservados. A reprodução de qualquer parte da obra, por qualquer meio, sem autorização do editor, constitui violação da LDA 9.610/98 Editoração Edson Maltez Heringer edsonarte@terra.com.br 27 8113-1826 Impressão GM Gráfica e Editora gmgrafica@terra.com.br 27 3323-2900 Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil) E74 Escola de gestores da educação básica : democracia, formação e gestão escolar : reflexões e experiências do Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica no Estado do Espírito Santo / Cleonara Maria Schwartz, Gilda Cardoso de Araujo, Paulo da Silva Rodrigues (orgs). Vitória: GM, 2ª edição - 2010. 212 p. ; 20 cm. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-99510-57-5 1. Educação Espírito Santo (Estado). 2. Escolas Organização e administração. 3. Ensino fundamental. I. Schwartz, Cleonara Maria. II. Araujo, Gilda Cardoso de. III. Rodrigues, Paulo da Silva. CDU: 37.07/.09

Sumário Apresentação... 7 O Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica no Espírito Santo: reflexões sobre os desafios da formação continuada de diretores... 9 Gilda Cardoso de Araujo Cleonara Maria Schwartz Programa Escola de Gestores: um olhar sobre as práticas curriculares e avaliativas... 25 Wagner dos Santos Programa Nacional Escola de Gestores: o gênero textual mensagem como artefato tecnológico potencializador da educação a distância... 41 Elane Nardotto Rios Projeto Político Pedagógico: reflexões para a construção de uma escola participativa... 57 Paulo da Silva Rodrigues Gestão democrática na escola pública: ação sócio-pedagógica que se faz ao caminhar... 69 Aurelina Sandra Barcellos de Oliveira Carlos Cezar Gonçalves da Rocha Dagilza Lopes Sant Ana Lessi Nunes de Moraes Braz Maria Madalena Loureiro O compromisso da gestão democrática na garantia de acesso e permanência do aluno na escola... 85 Deuza Lorencini Barros José Francisco Barbosa Maria Julia de Medeiros Mangaravite FUNDEB e gestão democrática: formação dos conselhos e controle social dos recursos... 97 Maria de Lourdes Mendes Gava Maristela Wassoler

A participação popular do Conselho Escolar na gestão democrática...109 Adriana Alves dos Santos Maria Cristina Silva de Santana Sara Santos Mercier Políticas públicas de combate à evasão escolar na Educação de Jovens e Adultos EJA nas escolas da rede municipal de Vitória...125 Isabel Cristina Ribeiro Chagas Leila dos Santos Vieira Marly Siqueira Soraya Luana Rodrigues Souza Formação continuada em contexto: forjando ações colaborativas entre professor de educação especial e de ensino regular para garantia de acesso, permanência e educação com qualidade a educandos com necessidades educacionais especiais...145 Dinéa Guiomar Loureiro da Silveira Eloisa Elena Corteletti Erller Maria Raquel Marques Valle A evasão da família no espaço escolar...167 Andréa Zamprogno Caser Denise Pinheiro Quadros Vânia Neves M. Espíndula Vivian Ferrari Bremenkamp Ambiente escolar democrático combatendo a indisciplina...181 Grace Luz Dias Maria do Carmo Pereira Butkowsky Maria José Gomes de Souza Marilia Lucia Pansini Formação continuada de professores no âmbito escolar...195 Deneci Nascimento Secchim Helio Pettene Janete Bindaco Akisaski Silva Marilene de Souza Duarte Marlene Martins Rosa Patrocino Sobre os autores...207

Apresentação O Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica Pública, coordenado pela Secretaria de Educação Básica/Ministério da Educação e Cultura SEB/MEC, faz parte das ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e surgiu da necessidade de se construir processos de gestão escolar compatíveis com a proposta e a concepção da qualidade social da educação, baseada nos princípios da moderna administração pública e de modelos avançados de gerenciamento de instituições públicas de ensino, buscando assim, qualificar os gestores das escolas da educação básica pública, a partir do oferecimento de cursos de educação a distância. O objetivo do referido programa é formar gestores especialistas (lato sensu), efetivos das escolas públicas da educação básica, incluindo aqueles de educação de jovens e adultos, de educação especial e de educação profissional, contribuindo com a qualificação do gestor escolar na perspectiva da gestão democrática e da efetivação do direito à educação com qualidade social. A meta estabelecida para a primeira etapa deste programa foi a formação de 4.000 cursistas nos 10 estados que fizeram parte do Projeto Piloto do Programa Escola de Gestores. Os estados que participaram da primeira etapa foram: Santa Catarina, Ceará, Pernambuco, Bahia, Piauí, Rio Grande do Norte, Mato Grasso, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Tocantins. A partir de 2007, o programa foi ampliado para os demais estados da federação. Esta publicação é resultado do desenvolvimento do programa no Estado do Espírito Santo e apresenta 13 artigos de profissionais da educação, dentre os quais, estão coordenadores, professores e alunos que participaram dessa experiência piloto, proporcionada pela parceria SEB/MEC e a Universidade Federal do Espírito Santo. Os textos estão organizados a partir da experiência vivenciada por profissionais que assumiram a responsabilidade de implementar esta proposta desafiadora, que é oferecer uma educação de qualidade através da modalidade de educação a distância, e de trabalhos de conclusão do curso, apresentados pelos alunos como requisito parcial para obtenção do título de especialista em gestão escolar, que foram indicados pelas bancas examinadoras para publicação. Democracia, formação e gestão escolar 7

Dentre os trabalhos apresentados pelos alunos, destacamos aqueles que abordam temáticas importantes, que precisam ser colocadas em discussão no ambiente escolar, tais como: a elaboração do projeto político-pedagógico, gestão democrática participativa, qualidade do ensino, políticas públicas de educação, formação continuada, conselho escolar, entre outras vivenciadas no cotidiano da escola. É preciso ressaltar que os textos dos alunos, indicados para publicação pelas respectivas bancas, passaram por um novo processo de seleção. Esse processo ficou sob a responsabilidade dos organizadores deste livro, que estabeleceram critérios com a finalidade de selecionar os dez artigos que agora, também fazem parte desse livro. A educação à distância se apresenta como uma nova maneira de nos relacionarmos com o conhecimento e a partir de estratégias diferenciadas, de um trabalho integrador, profissionais competentes, alunos comprometidos, materiais didáticos específicos, meios de comunicação e outros recursos necessários, poderá ser mais uma modalidade de ensino que possibilita a produção do conhecimento, a qualificação de profissionais, o acesso às tecnologias, a informação significativa e a mediação de professores efetivamente preparados para a sua utilização inovadora. Esta publicação se torna importante no cenário das políticas de formação de gestores por propiciar a reflexão e o diálogo sobre a experiência dos profissionais envolvidos diariamente na realização do programa, e sobre as reflexões dos dirigentes/cursistas. Assim é um material que apresenta contribuições tanto da universidade quanto das escolas e sistemas de ensino. Esperamos que esta contribuição seja útil para ressignificar tanto as políticas educacionais voltadas para a formação de gestores quanto a própria prática dos gestores nas unidades de ensino. Gilda Cardoso de Araujo Paulo da Silva Rodrigues 8 escola de gestores da educação básica

O Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica no Espírito Santo: reflexões sobre os desafios da formação continuada de diretores Gilda Cardoso de Araujo Cleonara Maria Schwartz É mais fácil cultuar os mortos que os vivos mais fácil viver de sombras que de sóis é mais fácil mimeografar o passado que imprimir o futuro não quero ser triste como o poeta que envelhece lendo maiakóvski na loja de conveniência não quero ser alegre como o cão que sai a passear com o seu dono alegre sob o sol de domingo nem quero ser estanque como quem constrói estradas e não anda quero no escuro como um cego tatear estrelas distraídas quero no escuro como um cego tatear estrelas distraídas (Zeca Baleiro Minha Casa) É mais fácil mimeografar o passado do que imprimir o futuro Em maio de 2007 teve início, na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), o Curso de Especialização em Gestão Escolar, um dos 10 (dez) projetos pilotos inserido no Programa Nacional Escola de Gestores da Democracia, formação e gestão escolar 9

Educação Básica (PNEGEB) da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação. O início foi marcado por muitas dificuldades, desafios e incertezas, entre os quais destacamos: 1. como evitar a armadilha de o curso cair na banalização da mera certificação? 2. de outro lado como compatibilizar a modalidade do ensino à distância com a qualidade e com o cotidiano atribulado dos gestores/cursistas do programa, evitando evasão massiva? 3. como conduzir o curso de modo que os seus conteúdos fossem significativos para o gestor e chegassem ao chão da escola? 4. como transformar a distância em redes e outras possibilidades de reflexão e de construção de conhecimento sobre o cotidiano da gestão escolar? 5. como articular universidade, secretarias de educação, superintendências de educação com metas e esforço comuns para a formação dos gestores/ cursistas? A letra da música Minha Casa do compositor Zeca Baleiro traduz bem esse quadro de dificuldades, desafios e incertezas que se apresentou no início e no decorrer do curso, tomado pela equipe como um grade desafio. A principal dificuldade foi, talvez, superar muitos (pré)-conceitos em relação à modalidade de ensino à distância (EAD). A equipe se dispôs, como diz trecho da música da epígrafe, a não ser estanque, como quem constrói estradas e não anda. Reconhecíamos que o PNEGEB nessa modalidade nos desafiava a (re)pensar e (re)programar nossos saberes e competências como docentes de uma universidade. Nessa direção os pilares do trabalho docente deveriam se assentar em três aspectos essenciais: a) centralidade na aprendizagem, com foco na autonomia e responsabilidade dos cursistas, na perspectiva de uma formação comprometida e integrada numa comunidade de aprendizagem (com os outros cursistas e com a própria comunidade escolar); b) interação entre professores da UFES, professores de turma, professores assistentes, alunos entre si e com os outros, na perspectiva de consolidar grupos de discussão com capacidade de reflexão crítica e sistematização sobre a mesma e; c) inclusão digital para possibilitar o acesso de todos aos conteúdos e atividades do curso. Aparentemente simples no enunciado, esses três pilares são complexos quanto à sua operacionalização, levando-se em conta as necessárias relações 10 escola de gestores da educação básica

do processo de formação, via curso de especialização, com o MEC/SEB, com as instâncias administrativas da UFES, com a equipe do curso, com os sistemas de ensino, com as escolas e com os cursistas. É exatamente sobre essa operacionalização complexa que incidirá nossa análise. É mais fácil viver de sombras que de sóis: o PNEGEB O Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica (PNEGEB) tem por objetivo principal contribuir com a formação de gestores educacionais da escola pública em articulação com outros programas federais - como os Programas Conselhos Escolares, Pró-Conselho, dentre outros. - bem como, fundamentalmente, em articulação com as instituições públicas de ensino superior e sistemas de ensino estaduais e municipais. Desde janeiro de 2006, o Programa vem sendo coordenado pela Secretaria de Educação Básica (MEC/SEB), contando com a colaboração da Secretaria de Educação à Distância (SEED) e do Fundo de Fortalecimento da Escola FUNDESCOLA\FNDE. No ano de 2006, 10 (dez) universidades federais foram convidadas a integrar programa, especialmente na oferta de um Curso de Especialização em Gestão Escolar (Lato Sensu). O critério para participar da experiência piloto do PNEGEB, via curso de especialização, foi a participação, dos 10 estados onde estas universidades estavam situadas, no Programa Nacional Escola de Gestores implementado em caráter experimental em 2005, sob a coordenação do Instituto Nacional Estudos e Pesquisas Pedagógicas Anísio Teixeira (INEP) que realizou um projeto-piloto de formação continuada de dirigentes, por meio de um curso de 100 horas, sob a responsabilidade das secretarias estaduais de educação, utilizando o suporte tecnológico do e-proinfo. (MEC/SEB, 2007). Ao propor o formato de curso de especialização, o Ministério da Educação demonstrava a intenção de romper as barreiras entre as distintas esferas de governo e assumir um papel protagonista na elaboração e implantação de uma política nacional de formação de gestores, pois o curso, suas diretrizes e sua proposta curricular induziam a uma articulação entre agências formadoras (universidades federais e sistemas de ensino) que atuavam de maneira fragmentada, bem como rompia com o ciclo da dissociação entre teoria e prática. (ARAUJO, 2008) Democracia, formação e gestão escolar 11

Do ponto de vista dos princípios, as diretrizes do Curso de Especialização em Gestão Escolar do PNEGEB se configuram a partir do tripé: gestão democrática, qualidade do ensino e direito à educação. Do ponto de vista normativo, além da Constituição Federal de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, as diretrizes se apóiam no que está prescrito no Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado pela Lei nº 10.172/2001. Vale destacar que o PNE enfatiza a importância da gestão democrática nas unidades de ensino e apresenta como uma das metas para a gestão Estabelecer, em todos os estados, com a colaboração dos municípios e das universidades, programas de curta duração de formação de diretores de escolas, exigindo-se, em cinco anos, para o exercício da função, pelo menos essa formação mínima. Do ponto de vista curricular, o Curso de Especialização em Gestão Escolar do PNEGEB adotou como princípios a interdisciplinaridade, a metodologia de resolução de problemas e estratégias de ensino-aprendizagem que dialogassem com o chão da escola, particularmente no que se refere à elaboração, acompanhamento e avaliação do Projeto Político-Pedagógico. A proposta curricular previa a utilização da modalidade EAD, inicialmente mediante o suporte tecnológico da plataforma e-proinfo, que já havia sido utilizada na formação continuada de gestores pelas Secretarias de Educação que fizeram parte do projeto-piloto em 2005. Entretanto, a concepção de organização de conteúdos de forma não modular, mas sim interdisciplinar, fez com que a SEB, seus consultores 1 e os representantes das 10 (dez) universidade que participariam da experiência piloto do Curso de Especialização pensassem num suporte tecnológico mais interativo. Sendo assim, após longas discussões e construção de consensos, o suporte adotado foi a plataforma e-learning conhecida como Moodle. Os conteúdos do curso foram estruturados, com base nas duas diretrizes, em três eixos vinculados entre si: a) o direito à educação e a função social da escola básica; b) políticas de educação e a gestão democrática da escola; c) Projeto Político-Pedagógico e Práticas Democráticas na Gestão Escolar. Por sua vez, esses eixos constituíram seis salas virtuais denominadas Salas Ambientes, além de um ambiente introdutório à plataforma Moodle e ao Curso de Especialização. 1 Os consultores eram integrantes do Grupo de Trabalho Estado e Política Educacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd) e da Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE). 12 escola de gestores da educação básica

No projeto do Curso de Especialização, a estrutura curricular interdisciplinar, a partir das salas ambientes, está apresentada da seguinte forma: Fonte: MEC/SEB - Diretrizes Nacionais do Curso de Especialização Em Gestão Escolar (2007). Como pode ser notado, a Sala Ambiente Projeto Vivencial (PV) com uma carga horária de 120h (das 400 h a serem cumpridas pelos cursistas) possui vinculação com as demais salas. Ela foi pensada, ao mesmo tempo, como um espaço de convergência para os conteúdos das outras salas ambientes e como um espaço de articulação do curso. Nessa Sala Ambiente, a proposta de ensino-aprendizagem é a elaboração de um projeto de intervenção na escola que incida na formulação, implantação e avaliação do projeto políticopedagógico da instituição educativa. Esse projeto constitui o Trabalho de Conclusão do Curso. As Salas Ambientes Fundamentos do Direito à Educação (FDE), Políticas e Gestão na Educação (PGE) e Planejamento e Práticas de Gestão Escolar (PPGE) têm, cada uma, 60 horas, e apresentam uma proposta de aprofundamento sobre as temáticas que constituem as diretrizes do curso (gestão democrática, direito à educação e qualidade do ensino). A Sala Ambiente Tópicos Especiais (TE), com 30 horas, é a que permite flexibilidade e reflexão sobre questões localizadas (escolas) ou locais (região). Já a Sala Ambiente Oficinas Tecnológicas (OT), também com 30 horas, tem por Democracia, formação e gestão escolar 13

objetivo a utilização das Tecnologias da Informação na Educação. Além dessas, o projeto inclui uma Sala Ambiente denominada Introdução ao Ambiente Moodle, com 40 horas presenciais. Como o nome indica, a referida sala foi pensada como espaço de introdução ao Curso e ao seu suporte tecnológico, sendo o único pré-requisito para a realização do curso e para o aceso aos conteúdos e tarefas das demais Salas Ambientes. Quanto aos profissionais responsáveis para operacionalizar o curso nas 10 (dez) unidades da federação, o MEC/SEB sugeria um quadro composto por: a) coordenação geral (dois profissionais, um coordenador e um vice) com professores permanentes do quadro da universidade; b) coordenação de assistência (um profissional da secretaria de estado e outro que representasse os municípios via a União de Dirigentes Municipais de Educação-UNDIME); c) coordenação de sala ambiente (seis professores da universidade, cada qual responsável por uma sala ambiente, exceto a de Introdução ao Ambiente Moodle); d) suporte tecnológico (dois profissionais, para manutenção e assistência do ambiente Moodle); e) Professores de Turma (professores da universidade ou estudantes de pós-graduação em educação, no total de dez para cada Sala Ambiente, sendo que cada turma teria seis professores e o curso sessenta professores de turma no total); f) Professores Assistentes (professores dos sistemas de ensino parceiros estadual e municipais- que dariam orientações presenciais nos dez pólos a serem definidos por cada estado) e; f) apoio técnico-administrativo que atuaria dando suporte a coordenação, professores e alunos do curso. Para a operacionalização do Curso de Especialização em Gestão Escolar, foram descentralizados 37 (trinta e sete) milhões para dez universidades públicas ofertarem o curso de pós-graduação a quatro mil gestores, sendo que a cada uma foi destinado 370 (trezentos e setenta) mil reais para formar 400 (quatrocentos) gestores cada. Esse montante configura uma per capita de R$ 925,00 (novecentos e vinte e cinco reais) por cursista. De acordo com o Programa, essa verba deveria ser utilizada para o pagamento de profissionais vinculados à universidade (professores, funcionários e alunos), para o aluguel de equipamentos e espaços e compra de material de consumo. Os coordenadores de assistência e professores assistentes vinculados aos sistemas de ensino (estadual e municipais) receberiam de outra fonte, que em princípio não estava definida, mas no decorrer do curso, ficou estabelecida que a remuneração seria via bolsa do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). 14 escola de gestores da educação básica

Com esses objetivos, princípios, diretrizes, bases legais e curriculares e aporte de recursos, o Curso de Especialização em Gestão Escolar inserido no Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica teve início nas 10 (dez) universidades federais selecionadas para participar da experiência piloto: Santa Catarina, Ceará, Pernambuco, Bahia, Piauí, Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Tocantins. Não quero ser triste como o poeta que envelhece: a implantação do curso de especialização em gestão escolar na Ufes O início dos trabalhos relativos à implantação do Curso de Especialização em Gestão Escolar no âmbito da Universidade Federal do Espírito Santo foi marcado por desinformação, impasses, críticas e debates. Essa afirmação deve-se ao fato de que notamos uma desarticulação interna na UFES, pois tomamos conhecimento das atividades e das reuniões do MEC/SEB, equipe de consultores e representantes das 10 universidades tardiamente e pelos representantes dos parceiros institucionais, que vieram cobrar nossa posição quanto à oferta do curso no mês de setembro de 2006. Diante da ciência de que havia um grupo trabalhando a implantação do curso em dez universidades, que estávamos entre essas instituições e que havia uma demanda e uma pressão da Secretaria de Estado da Educação e da UNDIME-ES, que até então desconhecíamos, buscamos informações sobre o curso, ao mesmo tempo em que solicitamos fóruns e espaços de discussão sobre o mesmo nas instâncias do Centro de Educação. O primeiro debate foi no Conselho Departamental onde havia indicação de rejeição quanto à implantação do curso, mas a deliberação desse Colegiado foi pela ampliação do debate, com a convocação de um Fórum do Centro de Educação, especificamente para discutir a matéria. O impasse se colocava muito mais em decorrência da forma como chegaram as informações até os profissionais do Centro de Educação, o que fazia muitos associarem o curso com pacotes, imposição, ingerência do MEC na universidade. Agravando essa percepção havia, também, a questão da modalidade do curso (EAD) e o quantitativo de cursistas a serem atendidos. De outro lado, um entendimento que a desinformação fora resultado de nossa desarticulação Democracia, formação e gestão escolar 15

interna e que estava colocada uma demanda de atendimento que deveria transcender todas as outras questões, inclusive a própria desconfiança em relação à modalidade. Sendo assim, o Fórum deliberou pela oferta do curso, definindo a composição de sua coordenação geral no início do mês de outubro de 2006. Mesmo com a coordenação definida, não estava claro o que era preciso fazer e, como se aproximava o final do ano e os recursos precisavam ser descentralizados, recebemos, em novembro de 2006, uma visita técnica de profissionais do MEC/SEB que se reuniu e trabalhou por dois dias com o Conselho Departamental, com a Reitoria da UFES e com a coordenação do curso. Ao final desses dois dias de atividade, o Plano de Trabalho da UFES, solicitando a descentralização dos R$ 370.000,00 (trezentos e setenta mil reais) foi elaborado. De imediato, a coordenação montou o processo de solicitação de autorização para a oferta do curso ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFES. O processo foi apreciado e votado em caráter de urgência ainda em novembro de 2006. Ainda nesse mês, especificamente no dia 29 de novembro, foi publicado o Edital para a seleção dos cursistas. Os critérios para a seleção dos candidatos foram definidos com a coordenação de assistência (SEDU e UNDIME). Além dos critérios estabelecidos nas Diretrizes do Curso, em nível nacional, decidimos que no processo de seleção na UFES não seriam realizadas provas ou entrevistas. A especificidade da forma de seleção estabelecida pela parceria SEDU/ UNDIME/UFES, foi que a mesma se realizou mediante a análise da ficha de inscrição do candidato, em que deveria constar o diagnóstico da escola quanto aos seguintes indicadores: a) tipo de escola (urbana ou rural), b) número de turnos, c) número de alunos, taxa de aprovação, taxa de reprovação e taxa de distorção idade-série, d) tecnologias presentes na escola, e) desempenho da escola na Avaliação Nacional do Desempenho Escolar (Prova Brasil), f) elaboração, implantação e avaliação do Projeto Político-Pedagógico da escola. A classificação se deu a partir dos indicadores escolares apresentados na ficha de inscrição, tendo prioridade os candidatos oriundos de escolas que apresentaram indicadores em desvantagens quanto à gestão escolar e à qualidade de ensino, pois acreditávamos que os princípios e as diretrizes do curso não se coadunavam com uma lógica meritocrática e sim com uma lógica de atendimento aos gestores de instituições públicas de ensino com maior nível de dificuldades. 16 escola de gestores da educação básica

Na ocasião da publicação do Edital, já contávamos com todas as coordenações, inclusive as de Salas Ambientes, compostas. Durante o período compreendido entre as atividades de preparação/regularização do curso até o momento da solenidade de abertura acumulamos muitas reflexões e questionamentos sobre o significado dessa proposta de formação no cenário estadual. Reflexões e questionamentos pautados pela dimensão do desafio de oferecer um curso com qualidade (que é uma das marcas distintivas da universidade federal) na modalidade EAD para 400 diretores de escolas no Espírito Santo. Sabemos que a educação à distância, melhor denominada de ensino à distância, já que a educação é um fenômeno social muito mais complexo que a utilização das tecnologias de informação e comunicação, vem se configurando como uma das principais políticas dos organismos internacionais, especialmente do Banco Mundial, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e mais recentemente da Organização Mundial de Comércio (OMC), para a ampliação da educação superior nos países periféricos com diversificação dos cursos e das fontes de financiamento. Dada essa injunção, frequentemente temos sido expectadores de um processo que, a nosso ver, tem uma linha tênue (quase invisível, por vezes) separando a mera certificação em massa de contingentes de profissionais apartados da possibilidade de dar prosseguimento aos estudos de uma formação continuada que leve em conta as reais necessidades da sociedade brasileira e que tenha compromisso com os processos de transmissão e construção do conhecimento. Consideramos que esses aspectos constituem o cerne do ensino ou da educação institucionalizados. Por outro lado, também sabemos que a modalidade EAD tem um potencial integrador para a educação, uma vez que pode segundo os atores sociais, seus movimentos e a correlação de forças políticas e pedagógicas que estabelecem - articular espaço, técnica e tempo no sentido de uma política de inclusão social que supere a lógica simplista da certificação sem qualidade. Desse conjunto de reflexões e questionamentos aqui apresentados de forma muito simplificada, resultou a configuração de uma equipe responsável pela oferta do curso no Estado do Espírito Santo que não se propôs a fazer apologia, tampouco demonizar a EAD. Começamos a admitir que precisávamos conhecê-la, para contribuir, quem sabe, para a sua melhoria Democracia, formação e gestão escolar 17

e qualificação. No contexto dessas reflexões, tínhamos claro que nos esforçaríamos para que a proposta do curso, no âmbito da UFES, realmente incidisse sobre a qualidade do ensino como um direito social de cidadania. Dessa forma, a equipe aceitou o desafio que essa lógica controversa do mundo globalizado nos impõe. E foi justamente com esse espírito crítico e reflexivo que toda a equipe do Programa na UFES dialogou com o Ministério, com os parceiros institucionais, com os colaboradores e alunos para transcendermos o risco da mera certificação em massa. Assim operacionalizando as medidas necessárias para a oferta do curso e refletindo sobre sua proposta, além de mudarmos os critérios de seleção, como já expusemos, também procedemos, fundamentalmente, a modificações importantes no quadro de profissionais sugeridos pelo MEC quanto ao número e ao papel dos professores de turma. Vale destacar que a sugestão do MEC/SEB era uma equipe constituída por 60 (sessenta) professores de turma, 6 (seis) coordenadores de salas ambientes, 2 (dois) profissionais de suporte tecnológico, 3 (três) profissionais de apoio administrativo e 10 (dez) professores assistentes, além da coordenação de assistência (SEDU e UNDIME) e da coordenação geral. Isso significaria o envolvimento de, no mínimo, 83 profissionais para ministrar o curso. Avaliamos que essa composição incorria do risco de fragmentação dos conteúdos e atividades das Salas Ambientes, além de comprometer a atratividade de alunos de pós-graduação para o trabalho, visto que os recursos eram escassos. Decidimos que a remuneração de todos os profissionais envolvidos no projeto deveria ser praticamente a mesma, com uma diferença de apenas R$ 400,00 (quatrocentos reais) entre a coordenação geral e as demais funções. Além disso, discutia-se a possibilidade de haver 2 professores assistentes nos pólos presenciais por turma (o que, de fato, ocorreu mais tarde, quando o curso estava em andamento), o que faria a equipe do curso ter aproximadamente 100 profissionais. Diante dessas ponderações, definimos que a organização e a composição do pessoal envolvido no curso seguiria o estabelecido no Quadro 1: 18 escola de gestores da educação básica

Quadro 1 Distribuição da equipe no organograma do curso Pessoal envolvido Quantidades Coordenação Geral 1 Vice-coordenação 1 Coord. de Sala Ambiente 6 Professores de Turma 10 Prof. Assistente de Turma 20 Coord. de Assistência 2 Técnico Administrativo 1 Apoio Téc. Administrativo 2 Suporte Tecnológico 2 A aula inaugural do curso aconteceu, em março de 2007, no Teatro Universitário da UFES, com a presença de todos os alunos selecionados. A primeira atividade foi a noite, com a apresentação do projeto do MEC aos cursistas. Já a segunda atividade foi realizada no outro dia pela manhã, com a exposição aos cursistas de como seria a operacionalização do curso no âmbito da UFES. Durante a organização da aula inaugural do curso, nos demos conta da dimensão de um dos maiores desafios que enfrentaríamos durante todo processo: a inclusão digital. Ao buscarmos, nas fichas, informação sobre conta de correio eletrônico para comunicar a data e o local da solenidade, constatamos que a maioria dos cursistas não possuíam e-mail. Fizemos uso massivo de telefonemas, cartas, telegramas, com auxílio da coordenação de assistência (SEDU e UNDIME) para localizar os cursistas. A tecnologia não foi uma dificuldade apenas dos cursistas. Entre a aula inaugural e o efetivo funcionamento do curso decorreram quase 3 (três) meses, porque os conteúdos e atividades, bem como a plataforma Moodle, não foram disponibilizados de imediato por questões organizacionais e operacionais do MEC/SEB. Uma dessas questões incidia diretamente na oferta do Curso de Especialização em Gestão Escolar: a formação dos profissionais (coordenações, professores, suporte, apoio técnico administrativo) para utilização do Moodle. O MEC/SEB contratou uma empresa para formar os profissionais vinculados às universidades. O curso também era na modalidade EAD e foi mal aceito/compreendido pelos Democracia, formação e gestão escolar 19

profissionais, pois se avaliava que era pouco prático e com metodologias/ estratégias de ensino-aprendizagem muito monótonas. Assim, poucos profissionais da equipe do Espírito Santo concluíram essa formação. Quando o MEC/SEB disponibilizou a plataforma Moodle com os conteúdos e atividades do curso, tomamos a iniciativa de realizar, nos dias 10 e 11 de maio de 2007, um curso presencial sobre a plataforma Moodle, com a participação de toda a equipe do curso e com a parceria da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que disponibilizou uma Professora formada em Ciências da Computação que também integrava o PNEGEB naquele estado. No entanto, observamos que grande parte de nossos colaboradores possuíam dificuldades de lidar com softwares básicos (editores de textos, editores de fotos, identificação de arquivos, identificação de drives de discos, etc); requisitos prénecessários para a utilização da plataforma. Diante do medo da plataforma e de seus recursos, tivemos que afirmar mais uma vez o desafio da solidariedade e da construção coletiva, acentuando que haveria as mesmas dificuldades e sentimentos no momento de apresentar a plataforma aos alunos, o que estaria a cargo dos professores assistentes. Entre março e o final de maio, quando efetivamente teve início o curso, houve uma grande desistência. Alguns por circunstâncias alheias ao curso outros pelo receio da plataforma e do nível de exigência das atividades. Imediatamente lançamos novo Edital para preenchimento de vagas e formação de banco de reservas. Sendo assim, tivemos que repetir a formação introdutória ao ambiente, pelo menos, até o mês de agosto de 2007. Essa foi apenas uma das medidas para contornar outro grande desafio: o da evasão. Outras medidas foram encontros presenciais nos pólos com os professores assistentes, visita dos professores de turma aos pólos, incentivo à formação de grupos de diretores e a recomendação explicitada em várias reuniões: nenhum a menos. Essa recomendação era dirigida especialmente aos professores assistentes, que tinham contato mais direto e freqüente com os cursistas. Desse modo, o curso transcorreu com essas e outras dificuldades, sempre contornadas presencialmente nos pólos ou nos encontros presenciais chamados pela Coordenação Geral. Houve três encontros presenciais centralizados (na Universidade Federal do Espírito Santo). Além dos encontros centralizados, houve a defesa pública dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) descentralizada por pólo (10 bancas compostas por um professor da UFES, o 20 escola de gestores da educação básica