A C Ó R D Ã O 8ª T U R M A TESTEMUNHA CLIENTE DO ADVOGADO DO AUTOR NÃO ACOLHIMENTO DA CONTRADITA, PORÉM APRECIADA COM RESERVAS POR PRESUMIR-SE QUE FOI ORIENTADA POR DEVER DE OFÍCIO. Entendo que o fato de a testemunha do autor ser cliente do advogado do autor, presume que ela foi orientada por dever de ofício. Ressalta-se que no caso em tela, tanto o autor como a testemunha reclamam equiparação salarial com o mesmo paradigma que por sua vez teve seu vínculo de emprego reconhecido com a recorrente sob o mesmo patrocínio. Vê-se que os três (autor, testemunha e paradigma) são clientes do mesmo advogado. Embora não se acolha a contradita, a prova pode ser acolhida com reservas á luz das demais provas e do convencimento fundamentado do julgador. 4848 1
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de RECURSO ORDINÁRIO, interposto em face da sentença de fls. 792/795, complementada pela de fls. 816, ambas proferidas pelo M.M. Juízo da 34ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, na pessoa da Juíza AUREA REGINA DE SOUZA SAMPAIO, em que figuram como partes: XEROX COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA e MANOEL HENRIQUE DA CRUZ, recorrentes e XEROX COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA., MANOEL HENRIQUE DA CRUZ, ALLIAGE CONSULTORIA EM RECURSOS HUMANOS LTDA. E ATRA PRESTADORA DE SERVIÇOS EM GERAL LTDA (EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL), recorridos. Insurgem-se o autor (fls. 801/813) e o primeiro reclamado (fls.820/828) em face da decisão de fls. 792/795, que julgou parcialmente procedente o pedido. Em seu apelo adesivo, alega o autor que para cálculo das diferenças decorrentes da equiparação salarial, deverá ser deferido o valor de R$1.578,34, referente à paradigma apontada, reconhecido na RT 314/05-9, da 27ª Vara. Rebela-se, ainda, quanto ao recolhimento do Imposto de Renda e quanto aos juros. Por seu turno, o primeiro réu, suscita preliminar de nulidade da sentença por cerceamento de defesa. No mérito, pretende reforma da decisão quanto ao reconhecimento do vínculo com o autor e à equiparação salarial. Contrarrazões do autor às fls. 834/847. Não houve remessa dos autos ao douto Ministério 4848 2
Público do Trabalho. É o relatório. CONHECIMENTO EXTRÍNSECO Presentes os pressupostos recursais, com procuração do autor às fls. 16 e do réu, às fls. 777, depósito recursal e recolhimento de custas, conforme fls. 829 e 830, interposição no prazo legal, conheço os recursos. CONHECIMENTO INTRÍNSECO - IMPOSTO DE RENDA (Recurso do autor) Não conheço do recurso adesivo do autor, às fls. 848/859, eis que houve interposição de recurso ordinário às fls.801/803, com a mesma matéria. Quanto ao mérito do recurso do autor sobre imposto de renda, apresentado na primeira peça, ou seja, o pleito de aplicação de cálculo mês a mês (Ato Declaratório n. 1 de 2009) ou não aplicação de IR sobre os juros, não foram afastados pela sentença. Trata-se de apelo sem contrariedade com a sentença, temas que poderiam ter sido provocados por meio de embargos de declaração e que, na sua ausência, é tema a ser enfrentado junto ao juízo da execução e não detalhado por meio de recurso ordinário. Não conheço. 4848 3
PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA (Recurso da 1ª Ré) Alega o reclamado que a decisão fundou-se em documento novo, juntado após sua contestação, bem como em depoimentos de testemunhas suspeitas, referindo-se especialmente à testemunha de nome Tiago, contraditada ás fls. 788. Não houve indeferimento de requerimento de produção de prova. Os temas e os requerimentos levantados pela recorrente, se aceitos, não levam à nulidade da sentença, mas apenas a reforma da decisão. Rejeito. DO VÍNCULO DE EMPREGO (Recurso da 1ª Ré) Trata-se de visível intermediação de mão de obra irregular, como bem ressaltado na sentença. Se não bastasse, a prova testemunhal confirmou que o autor ficava subordinado à recorrente. O depoimento da testemunha da própria ré, às fls. 790, confirma a subordinação direta ao primeiro reclamado ao afirmar que a Sra. Ana Cristina era a responsável pela escala de trabalho, folga admissões e demissões de todos os terceirizados e, ainda, que ela também controlava o horário dos terceirizados. 4848 4
A Sra. Ana Cristina Correia, a quem os terceirizados eram subordinados, era empregada do primeiro reclamado. Embora haja contrato firmado entre as rés, a verdadeira relação de emprego é a que se extrai da realidade dos fatos. Sobre este tema, indiferente o depoimento da testemunha contraditada pela Ré (Tiago), até porque a sentença não utilizou-a para a julgamento do vínculo de emprego. Caracterizada a subordinação e comprovado o vínculo. Nego provimento. DA EQUIPARAÇÃO SALARIAL (Recurso da 1ª Ré) Alega a Recorrente que contraditou a testemunha Thiago Mendes Cavalini por ter ação com o mesmo pedido e o mesmo patrocínio, o que não foi acolhido com fulcro na Súmula 357 do TST. De fato, a contradita foi feita e rejeitada, como consta na ata do depoimento (fl.788). O autor realizou o pedido com base no princípio isonômico e art. 12, a, da Lei 6.019/74. O juízo a quo recebeu o pedido na forma do art. 461 da CLT. O pedido do autor se referia a 4848 5
três paradigmas, a sentença aproveitou apenas a de nome ANA MARIA FAGUNDES MONTEIRO SILVA, que foi empregada da 1ª Ré de 12.3.1982 a 16.8.2004, conforme decisão transitada em julgado proferida nos autos do Proc.00314-2005-027-01-00-9. testemunha Tiago. A prova da equiparação consistiu no depoimento da Entendo que o fato de a testemunha do autor ser cliente do advogado do autor, presume que ela foi orientada por dever de ofício. Ressalta-se que no caso em tela, tanto o autor como a testemunha reclamam equiparação salarial com o mesmo paradigma que por sua vez teve seu vínculo de emprego reconhecido com a recorrente sob o mesmo patrocínio. Vê-se que os três (autor, testemunha e paradigma) são clientes do mesmo advogado. Embora não se acolha a contradita, a prova pode ser acolhida com reservas á luz das demais provas e do convencimento fundamentado do julgador. Se não bastasse o baixo valor da prova testemunhal, foi juntado apenas o acórdão do processo da paradigma (fl.700/715) sem os demais elementos dos autos para que se pudesse visualizar a demanda em seu conjunto. Verifico, no entanto, que a paradigma teve uma trajetória bem distinta do autor. Começou a trabalhar por meio de empresas interpostas em 1982 enquanto o autor também por meio de empresas interpostas em 1999, ou seja, 17 anos antes, na função 4848 6
de Analista Administrativa Financeira II. Em 1999 quando o autor começou a trabalhar a paradigma estava num nível mais elevada: Assistente de Atendimento ao Cliente II, enquanto o autor no nível I. Essa diferença de nível foi desconsiderada em função da testemunha Thiago dizer que todos faziam a mesma coisa, porém os elementos dos autos levam-me a outra conclusão, a de que ambos tinham diferença de função e de qualidade profissional. Dou provimento condenação a equiparação salarial. ao apelo para excluir da DO VALOR DA REMUNERAÇÃO EM FUNÇÃO DA EQUIPARAÇÃO SALARIAL (Recurso do autor) decisão anterior. Nego provimento ao apelo do autor em função da CONCLUSÃO ISTO POSTO, sobre o apelo da Ré, conheço-os integralmente e DOU PROVIMENTO PARCIAL para excluir a condenação de equiparação salarial; sobre o apelo do autor, conheço em parte, salvo o apelo sobre imposto de renda, e NEGO- LHE provimento. 4848 7
ACORDAM os Desembargadores que compõem a 8ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer o apelo da reclamada e, no mérito, por unanimidade, a ele DAR PROVIMENTO PARCIAL para excluir a condenação de equiparação salarial; por unanimidade, conhecer, em parte, o recurso do autor e, no mérito, por unanimidade, a ele negar provimento. Rio de Janeiro, 25 de janeiro de 2011. Juiz Ivan da Costa Alemão Ferreira Relator 4848 8