Análise da Interface do Usuário de Sistemas de Gestão Hospitalar por meio de Testes de Usabilidade Analysis of User Interface in Hospital Management Systems through Usability Testing Adni C. Aristides 1, Thiago T. I. Yamamoto 2, Lúcia C. Iochida 3, Márcia Ito 4 Resumo A utilização de sistemas interativos faz parte do cotidiano de muitas pessoas, seja para diversão ou trabalho. A fim de atender as necessidades e expectativas dos usuários, o programa deve apresentar uma interface adequada. A usabilidade visa assegurar essa adequação, pois recomenda alguns critérios para adaptar as funcionalidades e o design da interface, de forma a melhorar a interação humano-computador. Os testes de usabilidade ajudam aos designers avaliarem a aceitação do sistema pelos usuários alvos, além de medir as metas de usabilidade. Neste trabalho fez-se o uso do checklist Ergolist como ferramenta para analisar a interface do usuário de dois sistemas de gestão hospitalar. Os resultados obtidos demonstraram as características desta ferramenta para detectar problemas de usabilidade, além de reforçar a importância de seu uso por profissionais em design de interfaces. Palavras-chaves: interface usuário-computador, engenharia humana, informática médica. Abstract The use of interactive systems is part of everyday life for many people. This interaction can occur for fun or business. In order to meet the needs of users, the program must provide a suitable interface. The usability ensure the adequacy of the interface, it recommended some criteria to adapt the interface functionality and design, in order to improve human-computer interaction. Usability testing helps designers to evaluate the system acceptance by target users, in addition to measure whether the usability goals were well applied in the system. This work was done using the checklist Ergolist as a tool to analyze the user interface of two hospital management systems. The results showed the features of this tool to detect usability problems, besides reinforcing the importance of its application by professionals in interface design. Keywords: user-computer interface, human engineering, medical informatics. Introdução O uso de sistemas interativos é uma atividade cotidiana para boa parte das pessoas. Elas interagem com interfaces de programas para alcançar um objetivo, seja para trabalho ou lazer. E para saber quais características da interação, e da interface, tornam o uso do sistema proveitoso para os usuários, são usados critérios de qualidade de uso. A usabilidade é o critério mais conhecido, e chega a ser considerada como sinônimo de qualidade de uso. (1) A usabilidade é o fator que assegura que os produtos são fáceis de usar, eficientes e agradáveis da perspectiva do usuário. Implica otimizar as interações estabelecidas pelas pessoas com produtos interativos de modo a permitir que realizem suas atividades no trabalho, na escola e em casa. (2) Avaliações de usabilidade na interface do software ajudam aos designers reconhecerem se o produto se adéqua a esses atributos. Elas visam medir em termos quantitativos e qualitativos o valor que o sistema atinge para fatores de usabilidade de interesse, tomados individualmente. Assim, baseado nos resultados obtidos, o designer pode avaliar se os valores obtidos satisfazem ou não as suas expectativas. As avaliações utilizadas são os testes de usabilidade, questionários, observação, entrevistas e inspeções. A aplicação de processos de design também são uteis para a qualidade de interação. 1 Tecnóloga em Automação de Escritórios e Secretariado da Faculdade de Tecnologia de São Paulo Fatec-SP, São Paulo, SP, Brasil 2 Mestrando em Ciências. Departamento de Informática em Saúde. Universidade Federal de São Paulo UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil 3 Professor Adjunto. Departamento de Clínica Médica. Universidade Federal de São Paulo UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil 4 Doutor em Engenharia Elétrica. IBM Research Brasil. IBM Brasil IBM-BRL, São Paulo, SP, Brasil
Os processos de projeto de Interface Homem Computador (IHC) destacam a importância de envolver usuários durante suas atividades para dar-lhes oportunidade de participar, direta ou indiretamente nas decisões tomadas. Quanto mais cedo os usuários forem envolvidos no processo, mais cedo é possível aprender sobre as suas necessidades e assim influenciar positivamente na síntese da solução, bem como identificar e corrigir eventuais problemas. (1) O desenvolvimento de práticas e métodos de engenharia que assegurem uma eficiente interação computador-usuário vem tendo uma importância crescente. Pode ser visto, por exemplo, que nos sistemas de software atuais a fração de código dedicada à interface com o usuário vem aumentando, correspondendo em média a aproximadamente 50% do software. (4) Assim, este trabalho tem como objetivo analisar a interface do usuário de dois sistemas de gestão hospitalar por meio da aplicação do checklist Ergolist. Materias e Métodos Inicialmente foi feita uma pesquisa bibliográfica para definir os conceitos de usabilidade, a sua importância no desenvolvimento de interface com os usuários, a aplicação dela no desenvolvimento de sistemas e por fim descreveram-se os testes de usabilidade. O estudo de caso propôs avaliar a usabilidade em dois softwares de gestão hospitalar, UNIFESP e Tasy. Os sistemas escolhidos obedeceram a dois critérios: (1) fossem utilizados no Brasil e (2) tivessem origens distintas. O sistema da UNIFESP foi desenvolvido para o Hospital Universitário, é proprietário e não é comercializado. O sistema Tasy é um produto desenvolvido no Brasil, pela empresa Wheb Sistemas e é líder de mercado no segmento. Foi feita uma avaliação preditiva dos programas. A avaliação de usabilidade por checklist são baseadas em listas de verificação, através das quais é possível diagnosticar rapidamente problemas gerais e repetitivos da interface. Além disso, a avaliação pelo checklist não exige a participação de especialistas em interface humano-computador, pois a qualidade da avaliação não está relacionada ao número de avaliadores ou à experiência deles, mas na qualidade do conhecimento ergonômico embutido no próprio checklist. (6) O instrumento escolhido foi o checklist Ergolist (7), desenvolvido no Laboratório de utilizabilidade (LablUtil) do Departamento de Informática e Estatística e do Departamento de Produção de Sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina. O Ergolist baseia-se nos critérios ergonômicos propostos por Batien e Scapin (8) que idealizaram um conjunto de qualidades ergonômicas para as interfaces interativas, chamado de critérios ergonômicos. Esse conjunto é composto de 8 critérios principais que se subdividem em 18 subcritérios e critérios elementares, que quando aplicados em testes de usabilidade, por examinadores distintos, diminuem a diferença entre os resultados obtidos. Esses autores mostraram que seus critérios proporcionam o aumento da sistematização dos resultados das avaliações de usabilidade de uma dada interface. Para obter detalhes do Ergolist e da lista completa do checklist acesse: http://www.labiutil.inf.ufsc.br/ergolist/. Para responder o checklist, primeiramente os pesquisadores familiarizaram-se ao ambiente de produção. Após essa etapa, cada avaliador por observação direta, respondeu individualmente às 194 questões do Ergolist. Após a coleta de dados, foi feita uma análise das respostas obtidas de tal forma que se houvesse alguma distorção, retornava-se ao ambiente para que se alcançasse uma resposta comum. Essa etapa foi realizada em meados de abril de 2011 para o sistema proprietário da UNIFESP e meados de outubro de 2011 para o sistema Tasy.
Resultados A seguir, são apresentados os resultados da avaliação dos sistemas de gestão hospitalar PEP/Unifesp e Tasy. Os gráficos apresentam, por meio de porcentagem a quantidade de questões do checklist que foram atendidas para cada critério ergonômico analisados. O gráfico 1 apresenta a porcentagem de respostas em conformidade com os critérios ergonômicos de Bastien e Scapin (8), durante a avaliação da interface gráfica do sistema PEP/Unifesp. Gráfico 1 Análise das conformidades de usabilidade do sistema PEP/Unifesp Observa-se que a variável flexibilidade obteve 0% de conformidade. Flexibilidade se refere a capacidade do usuário em personalizar a interface do sistema, a fim de atender as preferências e experiências do mesmo. Ela corresponde também a quantidade de opções para o usuário realizar uma tarefa. (8) As variáveis correção de erros, ações explícitas, significado dos códigos e coerência obtiveram os maiores índices com 100%, 100%, 92% e 91% respectivamente. O mecanismo de correção de erros do usuário se mostrou eficiente na avaliação, isso é positivo, pois de acordo com Bastien e Scapin (8) erros provocam interrupções e consequências negativas, mas quando são fáceis de corrigir os danos são menores. (8) O critério coerência mede a consistência da interface (procedimentos, rótulos, comandos, formatos, localização e etc..) que são estáveis de uma tela para outra. Nestas condições o sistema é mais previsível e agradável, diminuíndo os erros e aumentando a aprendizagem. A avaliação mostra também o significado dos códigos, rótulos e denominações utilizadas no ambiente são bastante claros e expressivos. Além disso, percebe-se que o usuário possui o controle sobre as ações do sistema, ou seja, o software executa somente as tarefas determinadas pelos avaliadores e somente no momento solicitado. Gráfico 2 Análise das conformidades de usabilidade do sistema Tasy
O gráfico 2 apresenta os resultados obtidos da avaliação através do checklist Ergolist para o sistema Tasy. Constata-se que as variáveis experiência do usuário e flexibilidade que pertencem ao critério adaptabilidade obtiveram uma das menores concordâncias, junto com as variáveis controle do usuário e feedback. O critério com maior concordância (100%) foi a coerência. Todos os outros critérios não possuem uma porcentagem expressiva de concordância ou discondância. Dessa forma a interface do sistema Tasy se mostrou deficiente na capacidade de reagir segundo o contexto, necessidades e preferências do usuário. Além disso a interface não se adaptou facilmente ao usuário durante a avaliação. Observou-se também que não existia uma relação explícita no processamento do sistema e as ações do usuário. O critério feedback diz respeito às respostas do sistemas às ações do usuário, isso quer dizer que o sistema deve fornecer respostas rápidas e objetivas para cada tipo de ação do usuário no sistema. O critério feedback e ações explicítas podem se influenciar, pois quando um comando é acionado pelo usuário o sistema deve processar o comando e exibir um retorno da ação. Caso a ação não seja processada, um feedback não é fornecido pelo sistema. Ou o sistema pode processar o comando mas não prover um retorno, dessa forma o usuário não sabe se o comando foi executado. Assim como o sistema PEP/Unifesp, o sistema TASY atingiu um auto valor de concordância no critério coerência, portanto ambos os sistemas possuem consistências nas suas interfaces. Em uma análise geral, o sistema PEP/Unifesp obteve uma média de valores acima de 50% de concordância para os critério de usabilidade, o que não acontece com o sistema Tasy. O gráfico 3 mostra uma comparação dos resultados obtidos na avaliação dos critérios de usabilidade avaliados para os sistemas PEP/Unifesp e Tasy. Todos os critérios foram agrupados em seus critérios principais. Gráfico 3 Comparação das conformidades de usabilidade do sistema PEP/Unifesp e Tasy Observa-se que o sistema PEP/Unifesp obteve um grau de conformidade significamente melhor que o sistema Tasy, em sete dos oitos critérios principais avaliados. A homogeneidade e coerência foi a única variável avaliado em que o sistema Tasy (100%) obteve um resultado melhor que o sistema PEP/Unifesp (91%). Dessa forma os dois sistemas apresentam interfaces com padrões bem definidos em todas as telas. Um ponto importante a observar é que os dois sistemas apresentaram baixo grau de conformidade no critério de adaptabilidade, ou seja, não são capazes de reagir, de maneira diferentes às necessidades e preferências distintas de seus usuários. O sistema PEP/Unifesp permite um controle maior dos seus usuários diante do sistema, pois permite que somente as ações solicitadas pelo usuário sejam executadas pelo sistema, e no momento que foi solicitado. Isso não ocorreu com a avaliação do sistema Tasy. Outros dois critérios que obtiveram significativa diferença de conformidade entre os sitemas PEP/Unifesp e Tasy foram a gestão de erros (75% e 50%, respectivamente) e significados dos
códigos (92% e 67%, respectivamente). Assim, o sistema PEP/Unifesp apresenta uma melhor prevenção, gestão e correção de erros ocasionados pelos usuários e uma melhor utilização de códigos e nomenclaturas, com maior sentido e clareza para os usuários finais do sistema. Com esta avaliação podemos concluir que os sitemas possuem qualidades e deficiências nos critérios de usabilidade avaliados. No geral o sistema PEP/Unifesp obteve um grau maior de conformidade nas variáveis análisadas em relação ao sistema Tasy. Conclusões O resultado obtido com a aplicação do checklist nos sistemas hospitalares nos mostrou a eficiência deste tipo de ferramenta para avaliações que não precisam de um avaliador profissional para fazer a inspeção. Por se tratar de um teste de fácil aplicabilidade, o checklist Ergolist pode ser usado como um teste que pode guiar o projetista a fazer melhorias em seu produto. Contudo a lista não equivale a um teste profissional, pois não passou por um teste de abrangência. O que confere a esse checklist uma natureza didática. A aplicação do Ergolist em sistemas que já estão em uso resultou em altas taxas de conformidade nos laudos. Isto porque o checklist tem a função de apontar falhas ergonômicas comuns que não foram aceitas pelo público usuário do sistema analisado. Entretanto foi possível descobrir com o uso dessa ferramenta quais metas foram utilizadas pelos designers para a construção dos sistemas. O teste aplicado no sistema UNIFESP como avaliação heurística, apresentou 100% nos critérios correção de erros e ações do usuário. Isso pode nos dizer que o projetista idealizou o programa voltado para a minimização de erros cometidos pelos usuários. O programa permite o controle do diálogo pelo usuário, ao mesmo tempo em que oferece confiabilidade para entrada de dados no sistema, apresentando alternativas para correção ou cancelamento das operações em caso de erros. Outra justificativa para essa afirmação está no fato de o critério flexibilidade não apresentar conformidade alguma. O critério de flexibilidade conflita com o objetivo da contenção de erros, uma vez que ao permitir muitas maneiras para concluir uma mesma tarefa, pode dificultar o aprendizado do sistema pelo usuário, levando-o a cometer mais erros. No sistema Tasy o critério de coerência foi o único com 100%, o que faz concluir que o projetista preocupou-se em desenvolver uma interface padrão para todo o sistema. A padronização da interface foi tão imperativa que o projetista diminuiu a possibilidade de adaptação da mesma pelo usuário (flexibilidade 17%). O projetista ao não se preocupar em fornecer feedback (33%) e de permitir o controle do sistema pelo usuário (0%) faz com que fique difícil para o usuário saber as ações executadas pelo sistema, podendo aumentar os erros de uso do sistema pelo usuário. Assim, pode-se dizer que não é possível construir um sistema visando alcançar com maestria todos os critérios de usabilidade. Além disso, percebeu-se que os sistemas de gestão hospitalar, como os que foram estudados, apresentam uma interação do tipo ferramenta, no qual o usuário é auxiliado pelo programa a realizar suas tarefas. Aplicações desse tipo precisam apresentar uma alta taxa de facilidade de uso, eficiência e confiabilidade, pois o usuário deve manipular o sistema de forma instintiva. Desta forma, nota-se que o uso do checklist pode auxiliar em detectar essas falhas e que ao combinar os critérios do Ergolist é possível desenvolver melhorias na interface do sistema e atender às necessidades apontadas. Referências Bibliográficas 1. BARBOSA, Simone D. J.; SILVA, Bruno Santana da. Interação Humano- Computador. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
2. PREECE, Jennifer; ROGERS, Yvonne; SHARP, Helen. Design de interação: além da interação homem-computador. Porto Alegre: Bookman, 2005. 3. NETTO, Alvim Antônio de Oliveira. IHC Interação Humano Computador: Modelagem e Gerência de interfaces com o usuário. Florianópolis: VisualBooks, 2004. 4. NIELSEN, Jakob; LORANGER, Hoa. Usabilidade na web. Rio de janeiro: Elsevier, 2007. 2º reimpresão. 5. SHNEIDERMAN, B. Designing the user interface: strategies for effective human computerinteraction. 5. ed. EUA: Addison-Wesley, 2009. 6. CYBIS, W. A. Engenharia de Usabilidade: Uma Abordagem Ergonômica. Apostila para o Curso de Pós-Graduação em Engenharia de Produção UFSC, Florianópolis, 2003. In: < http://www.unoescsmo.edu.br/poscomp/cybis/apostila_v51.pdf> 7. CYBIS, W. A. et al, Módulo Checklist In: http://www.labiutil.inf.ufsc.br/ergolist/check.htm 8. SCAPIN, D. L.; BASTIEN, J. M. C. Ergonomic criteria for evaluating the ergonomic quality. of interactive systems. Behaviour and Information Technology. vol.16, n. 4/5, July-October, 1997, p. 220-231 Autor Correspondente: Márcia Ito e-mail: marcia.ito@br.ibm.com