PROCESSO: 0000071-42.2010.5.01.0052 - RTOrd Acórdão - 7a Turma PRINCÍPIO DA IMEDIATIDADE - PROVA ORAL - VALORAÇÃO Em nosso sistema processual pátrio prevalece o princípio da livre convicção do Juízo frente às provas e aos fatos, que julgará de acordo com sua consciência e o convencimento que as provas lhe trouxerem. Ao Juiz de primeira instância é dado o privilégio do contato direto com as partes e as testemunhas. Ninguém melhor que ele para valorar a prova testemunhal, necessitando, muitas vezes, de fina percepção, sensibilidade e lucidez para esmar a sinceridade do depoimento. Logo, se o MM. Juízo a quo, avaliando a prova oral em conjunto com os documentos constantes nos autos, concluiu que não havia subordinação jurídica na relação existente entre os demandantes, não poderia essa Instância recursal seguir em outra direção, mormente, à míngua de elementos que, concretamente, indiquem ter havido algum erro de percepção. Vistos estes autos de Recurso Ordinário em que figuram como recorrente, HÉLIO QUEIROZ CHAVES e como recorrida, GANDHI EMBALAGENS PROMOCIONAIS LTDA. R E L A T Ó R I O Em 11.10.2010, o MM. Juízo da 52ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, por meio da r. sentença de fls. 216/217, da lavra da Exma. Juíza Diane Rocha Trocoli Ahlert, julgou improcedente o pedido formulado por Hélio Queiroz Chaves em face de Gandhi Embalagens Promocionais Ltda. Inconformada, a parte autora interpôs recurso ordinário, às fls. 20263 Processo: 0000071-42.2010.5.01.0052 RO 1
225/228. Sustenta, em síntese, que: 1) embora tenha afirmado que havia uma certa liberdade na forma pela qual conduzia suas tarefas, era juridicamente subordinado à demandada, tendo em vista que o Recorrente não podia compareceu a seu bel prazer à empresa, até porque trabalhava em nome da Recorrida ; 2) a testemunha conduzida pelo Recorrente é indispensável para comprovar os fatos constitutivos da prestensão deduzida na peça vestibular, eis que comprovará que o Recorrente sempre vendeu somente os produtos da Reclamada para a empresa. Contrarrazões às fls. 234/240, sem arguições preliminares. Deixei de dar vista ao Ministério Público do Trabalho, por não se tratar de hipótese que o Parquet entenda justificar sua intervenção, conforme relação constante no Anexo ao Ofício PRT/1ª Reg. nº 27/08 - GAB, de 15.01.2008, em consonância com o disposto no Provimento nº 01/2005, da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho. V O T O Admissibilidade Conheço do recurso ordinário interposto pela parte autora, por tempestivo (v. fls. 224-verso e 225) e subscrito por advogada regularmente constituída nos autos (v. fl. 224). A parte autora foi dispensada do recolhimento das custas processuais, por ser beneficiária da gratuidade de justiça (v. fl. 217). Questão meritória Relação jurídica havida entre as partes suposto vínculo de emprego Pretende a parte autora, com esta demanda, o reconhecimento de vínculo empregatício com a parte ré, no período compreendido entre meados de julho de 2000 a 02.10.2009, com a condenação da demandada ao pagamento das verbas trabalhistas postuladas no rol de fl. 04. Sustenta o demandante, em síntese, ter sido admitido para exercer a função de vendedor, sob subordinação jurídica da parte ré que reteve a CTPS do Reclamante por 3 anos e oito meses com a promessa de anotá-la, devolvendo-a, no ato da dispensa, sem qualquer anotação. Regularmente citada, a parte ré apresentou defesa escrita, sob a forma de contestação (v. fls. 49/54), por meio da qual negou o fato constitutivo da pretensão autoral e afirmou, em resumo, que: 1) na relação havia entre 20263 Processo: 0000071-42.2010.5.01.0052 RO 2
reclamante e reclamada, de fevereiro/2001 a setembro/2009, jamais estiveram presentes quaisquer dos elementos necessários para caracterização do vínculo empregatício ; 2) o reclamante era representante comercial e não vendedor autônomo, ( ) sendo que, no desempenho de seu ofício, jamais eteve subordinário à reclamada por qualquer forma ; 3) o reclamante representava outras Empresas além da reclamada. Após regular instrução, o MM. Juízo a quo julgou improcedente a pretensão autoral aos seguintes fundamentos, verbis: (...) O reclamante onfessou que: fez inscrição num órgão que não se lembra qual, como vendedor autônomo e recebeu um carnê do INSS para recolher, mas nunca o fez... que podia escolher e captar clientes... que não era obrigado a ir na reclamada todos os dias; que ninguém fiscalizava seu horário de trabalho; que era o próprio depoente quem marcava as visitas na agenda; que ninguém na reclamada fiscalizava a agenda do reclamante; que era o reclamante quem escolhia os clientes que desejava visitar ; fl. 213/215. A primeira testemunha arrolada pela reclamada disse que:... o reclamante representava produtos da reclamada e de outras empresas de embalagens, porque a reclamada só trabalha com papel; que o reclamante também oferecia aos clientes sacolas plásticas; que via o reclamante na reclamada esporadicamente... ; fl. 215. A segunda testemunha apresentada pela reclamada informou que:... o reclamante, na mesma época em que representava produtos da reclamda, representava produtos da Lar Plaste..., fl. Os depoimentos acima transcritos evidenciam que não havia subordinação jurídica do reclamante para com a reclamada, uma vez que o reclamante era live para escolher clientes, agendar visitas, representar outras empresas, estabelecer seu horário de trabalho, sendo improcedente o pedido de reconhecimento de vínculo empregatício entre 20263 Processo: 0000071-42.2010.5.01.0052 RO 3
as partes, ficando prejudicados todos os demais pedidos formulados na petição inicial (v. fl. 216/216-verso) Entendo que nenhum reparo merece essa decisão. Como bem assinalado na r. decisão recorrida, o próprio demandante confessou, em depoimento pessoal reduzido a termo à fl. 213/214, que não estava juridicamente subordinado à demandada, fazendo seus próprios horário de trabalho e roteiro de vendas, sem sujeitar-se ao comparecimento diário no empresa, tampouco a fiscalização de seu labor. Demais disso, a prova oral produzida nos autos, por intermédio das testemunhas José Carlos Pinto da Silva e Jairo Vargas Tanure, ratifica que o demandante não era juridicamente subordinado à demandada, podendo dirigir seu trabalho da forma que melhor lhe conviesse, representando, inclusive, outras empresas de embalagens (v. fl. 215). Com relação à testemunha Lucimar Fortunato dos Santos, conduzida pela parte autora, entendo não merecer censuro a decisão que deferiu a contradita oferecida pela parte ré. Isso porque a senhora Lucimar informou que só trabalhou com o reclamante enquanto este empregada na Bituchas, o que ocorreu no período de 02.07.1990 a 08.03.1993 (anotações verificadas pelo Juízo na CTPS da depoente), sendo que o reclamante alega ter prestado serviços à reclamada de 2000 a 2009, assim, o período é incompatível (v. fl. 214). Não bastasse, foi deferido prazo de 05 dias para oferecimento de eventual inconformismo do demandante, que permaneceu silente. Operou-se, assim, a preclusão lógica e temporal, não sendo mais facultado à parte autora manifestar-se quanto ao deferimento da contradita à sua testemunha. Em nosso sistema processual pátrio, prevalece o princípio do livre convencimento motivado do Juízo frente às provas e os fatos. Julgará o Magistrado de acordo com sua consciência e o convencimento que as provas lhe trouxerem. A produção da prova oral se orienta pelo princípio da imediatidade, revelando a importância da sentença vir a ser proferida pelo mesmo Juiz que ouviu a testemunha, exatamente pelo fato de ser o único que presencia todas as formas por meio das quais o depoente se expressa, tais como gestos e olhares, que demonstram muito mais que as simples declarações verbais. Uma mesma frase pode ser dita de várias formas, revelando, cada uma delas, um sentido diferente. 20263 Processo: 0000071-42.2010.5.01.0052 RO 4
Por essas razões, ninguém melhor do que o Juiz de primeira instância para valorar a prova testemunhal, pois goza do privilégio do contato direto com as partes e testemunhas, necessitando muita da vez de fina percepção, sensibilidade e lucidez para esmar a sinceridade do depoimento. Na hipótese dos autos, restou convencido o MM. Juízo a quo da inexistência de subordinação jurídica na relação mantida entre os demandantes. E não há, como já visto, qualquer indício de que a valoração da prova tenha sido feita de forma equivocada. Não se desincumbindo a parte autora de comprovar o fato constitutivo de sua pretensão, improcede o pedido de reconhecimento de vínculo de emprego, como bem decidiu o MM. Juízo a quo. Nego provimento. Pelo exposto, conheço e nego provimento ao recurso ordinário interposto pela parte autora. Relatados e discutidos. A C O R D A M os Desembargadores da 7ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, conhecer e negar provimento ao recurso ordinário interposto pela parte autora. Rio de Janeiro, 28 de setembro de 2011. apps Juiz EVANDRO PEREIRA VALADÃO LOPES Relator 20263 Processo: 0000071-42.2010.5.01.0052 RO 5