Especial Unicamp O ensino de língua portuguesa deve promover no aluno o desenvolvimento do potencial crítico, sua percepção das múltiplas possibilidades de expressão linguística, sua capacitação como leitor dos mais diversos textos representativos de nossa cultura. (PCNEM, 2006, p.55) PROPOSTA DE REDAÇÃO A prova de Redação da Unicamp sempre teve como objetivo principal avaliar a leitura e a escrita como processos integrados de construção de sentidos. Buscamos não apenas salientar a importância da escrita e da leitura para o aluno de nossa Universidade, mas também promover novas possibilidades para a escola investir em práticas mais profícuas de recepção e produção textuais. Ao apresentar duas propostas obrigatórias de produção de texto, sem que os candidatos saibam de antemão quais serão os gêneros solicitados, a prova de redação da Unicamp oferece a possibilidade de uma relação mais substantiva com a leitura e com a escrita. Cada uma das propostas é, portanto, antecedida por um enunciado que fornece as condições de produção textual, situando o candidato em relação ao propósito de sua escrita (aproveitamento do texto lido, motor gerador da razão de escrever o texto, lugar de avaliação da compreensão em leitura), ao gênero do texto que deverá ser produzido e à interlocução (enunciador e interlocutor) a ser construída. Propósito, interlocução, gênero e modalidade escrita (coesão e adequação léxico-gramatical) fornecem ao candidato as condições para a produção de seu texto e, portanto, definem os elementos balizadores para a correção. Número de linhas estipulado para cada texto: até 24 linhas. Valor de cada texto: de 0 a 24 pontos. Total da prova de Redação: 48 pontos. Só haverá anulação da prova de Redação se os dois textos forem anulados. Em face da grande diversidade de gêneros textuais, a Banca Examinadora espera que o candidato esteja preparado para produzir, entre outros, dois dos gêneros abaixo listados: carta pessoal, e-mail, diário, blog, relato pessoal, depoimento, texto de divulgação científica, relatório, texto de campanha social, artigo de opinião, notícia, reportagem, entrevista, crônica, anúncio publicitário, editorial, carta ao leitor, manifesto, abaixo-assinado, manual de instruções, verbete, resumo, resenha etc. ATENÇÃO! É importante que o candidato atente às instruções da Banca Examinadora, a fim de mobilizar os recursos mais adequados ao propósito de cada tarefa. Se lhe for solicitada a produção de um texto informativo, por exemplo, caberá ser mais direto e objetivo, em vez de preocupar-se com criatividade ou originalidade. Clareza e precisão devem caracterizar seu texto. Ao ler as instruções, recomenda-se perguntar: 1. Qual o gênero textual solicitado? 2. Em que pessoa deverá ser escrito o texto? 3. Qual o propósito do texto? 4. A quem será destinado o texto? 5. Qual a linguagem mais adequada ao texto? - 1
2- DEFINIÇÃO DE ALGUNS GÊNEROS TEXTUAIS QUE PODEM SER SOLICITADOS Blog: é um site cuja estrutura permite a atualização rápida a partir de acréscimos dos chamados artigos ou posts. Muitos blogs fornecem comentários ou notícias sobre um assunto em particular; outros funcionam mais como diários online. (Wikipédia) Notícia: escrito sintético sobre um assunto qualquer; relato de fatos e acontecimentos, recentes ou atuais, ocorridos no país ou no mundo, veiculado em jornal, televisão, revista etc. (Houaiss) Reportagem: atividade jornalística que compreende geralmente cobertura de acontecimento, apuração de fatos, pesquisa de assunto, interpretação de informações e redação de texto final. (Aulete) Crônica: texto literário breve, em geral narrativo, de trama quase sempre pouco definida e motivos, na maior parte, extraídos do cotidiano imediato. (Houaiss) Obs.: a crônica pode ser também reflexiva, isto é, conter as impressões pessoais do autor sobre determinado assunto. Carta: mensagem, manuscrita ou impressa, a uma pessoa ou a uma organização, para comunicar-lhe algo. (Houaiss) Obs.: a Unicamp pode, eventualmente, solicitar uma carta pessoal. Nesse caso, recomenda-se levar em conta não apenas o autor da carta (definido pela Banca), mas também o interlocutor (destinatário da carta), a fim de escolher a linguagem mais apropriada. Depoimento: declaração da testemunha sobre determinado fato, do qual tem conhecimento ou que se relacione com seus interesses e que figura no processo como prova testemunhal. (Houaiss) Obs.: a Unicamp pode vir a propor a elaboração de um depoimento num contexto diferente do jurídico. Um relato pessoal, de caráter instrutivo, é um exemplo do que pode ser solicitado. Diário: caderno, livro etc. em que alguém registra diária ou quase diariamente os acontecimentos de sua vida, seus pensamentos etc. (Aulete) Resumo: condensação em poucas palavras do que foi dito ou escrito mais extensamente. (Michaelis) Resenha: análise crítica ou informativa de um livro; recensão. (Houaiss) Entrevista: diálogo conduzido por um jornalista com o fim de realizar matéria sobre a pessoa escolhida ou assunto de sua especialidade. (Aulete) Editorial: artigo em que se discute uma questão, apresentando o ponto de vista do jornal, da empresa jornalística ou do redator-chefe; artigo de fundo. (Houaiss) Texto científico: transmite, de modo claro e inteligível, conhecimento de natureza científica. Utiliza-se de recursos variados, como exemplos, comparações, relações de causa e efeito, resultado de pesquisas e testes, dados estatísticos, circunstância etc. (Aulete) Sinopse: relato breve; síntese, sumário. Ex.: sinopse de um filme, de um livro, de uma ópera. (Houaiss) Anúncio: mensagem que procura transmitir ao público, por meio de recursos técnicos e através dos veículos de comunicação, as qualidades e eventuais benefícios de determinada marca, produto, serviço ou instituição. (Houaiss) Panfleto: texto curto, violento e sensacionalista, geralmente sobre assuntos políticos, impresso em folha avulsa ou folheto, e de distribuição limitada. (Houaiss) Folder: impresso de pequeno porte, constituído de uma só folha de papel com uma ou mais dobras, e que apresenta conteúdo informativo ou publicitário; folheto. (Houaiss) Obs.: o folder pode também ter utilidade educativa, visando a oferecer orientação sobre assuntos como saúde, prevenção, segurança etc. Pode ainda conter instruções sobre como comportar-se diante de determinada ocorrência. Abaixo-assinado: documento coletivo, de caráter público ou restrito, que torna manifesta a opinião de grupo e/ou comunidade, ou representa os interesses dos que o assinam. (Houaiss) Artigo de opinião: texto jornalístico que expõe a opinião do autor sobre determinado assunto, em geral de interesse dos leitores de periódicos como jornais e revistas. Verbete: cada uma das entradas (palavras listadas) de um dicionário, enciclopédia etc., que contém informações sobre um assunto (o significado de uma palavra, p. ex.) (Aulete) Comentário: apreciação, análise, opinião expressa sobre um fato, uma situação, uma circunstância etc. (Aulete)
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Simulado Unicamp Texto 1 Leia a matéria abaixo, publicada no site http://vidamaislivre.com.br. Imagine que você seja um professor de uma escola particular que se interessou pelo artigo sobre educação inclusiva e decidiu divulgá-lo no site de sua escola. Para isso, fez uma pequena entrevista com o fundador do Instituto Rodrigo Mendes, que assina o texto abaixo. Crie essa entrevista, marcada pelo discurso oral formal, na qual deverão constar, necessariamente: três perguntas que explorem dados importantes da matéria; e as respectivas respostas, também com base na matéria. Lembre-se de que não deverá recorrer à mera colagem de trechos do texto lido. A MIOPIA DO MODELO SEGREGADOR DE ENSINO Recentemente, visitei a escola estadual Clarisse Fecury, situada na periferia de Rio Branco (Acre). Ela atende a 611 estudantes, dos quais 27 têm algum tipo de deficiência. A natural interação entre crianças que, até pouco tempo, eram privadas do convívio social, é inspiradora. Alunos com limitações cognitivas e motoras participam da sala de aula comum e recebem atendimento especializado na própria escola, em horário complementar. As aulas de Libras (Língua Brasileira de Sinais) são frequentadas por todos, não só por crianças surdas. Liderança comunitária, investimento contínuo em formação de educadores e reuniões diárias de planejamento são algumas das estratégias que explicam o êxito da escola na criação de condições genuínas de socialização e aprendizagem. De acordo com a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, promulgada pela ONU em 2006, os países devem assegurar um sistema de educação inclusiva em todos os níveis de ensino. O Brasil, signatário, aprovou uma avançada legislação a respeito no governo Lula. A diretriz é que toda criança com deficiência, transtorno global de desenvolvimento ou altas habilidades (segmentos tradicionalmente encaminhados para escolas especiais) seja matriculada na rede regular de ensino e estude em classes comuns. O atendimento especializado continua a existir, porém, como um complemento realizado no contraturno do ensino regular. Apesar de coerente com o pensamento contemporâneo sobre pedagogia e direitos humanos, temos observado uma série de grupos que resistem a esse modelo. Em resumo, argumentam que os educadores não estão preparados, as escolas não têm infraestrutura adequada e as crianças com deficiência não conseguirão acompanhar o desenvolvimento dos outros alunos, podendo até atrapalhá-los. Defendem, portanto, a permanência dessas crianças na escola especial onde, duvidosamente, seriam melhor acolhidas e teriam maiores possibilidades de aprendizagem. Para quem nunca teve a oportunidade de refletir sobre o assunto, tais argumentos podem soar razoáveis. No entanto, em primeiro lugar, não é de hoje que as pesquisas sobre o processo de aprendizagem indicam que toda criança aprende, sejam quais forem suas particularidades intelectuais, sensoriais e físicas. Esse processo é singular e significativamente estimulado pela interação com pessoas diferentes. Em segundo lugar, não há dúvida de que a construção de uma rede de ensino inclusiva é extremamente desafiadora. Entre outras coisas, exige comprometimento e disposição para mudanças estruturais. Além de ser um direito, a educação inclusiva é uma resposta inteligente às demandas do mundo contemporâneo. Incentiva uma pedagogia não homogeneizadora e desenvolve competências interpessoais. A sala de aula deveria espelhar a diversidade humana, não escondê-la. Claro que isso gera novas tensões e conflitos, mas também estimula as habilidades morais para a convivência democrática. O resultado final, desfocado pela miopia de alguns, é uma educação melhor para todos. Rodrigo Hübner Mendes, fundador do Instituto Rodrigo Mendes - 7
Texto 2 Imagine que você seja um estudante do Ensino Médio que, ao navegar em uma página da internet especializada em saúde, se depara com uma reportagem que revela um aumento no número de jovens contaminados pela Aids. Você decide, então, criar um folder, a ser distribuído na escola em que você estuda. No folder, você deverá: destacar o aumento do número de jovens infectados pelo vírus HIV; apontar três causas desse aumento; oferecer dicas de prevenção da contaminação; incentivar os jovens a buscarem informação, indicando os locais onde poderão obter orientação. Uma geração que desconhece a Aids Dúvidas sobre a doença representam 85% das perguntas enviadas a uma rede social gerenciada pelo governo e que tem os jovens como público-alvo. O aumento no índice de pessoas com idade entre 15 e 24 anos infectadas pelo vírus da Aids, confrontado com o fato de as principais dúvidas registradas em rede social montada pelo governo estarem relacionadas ao tema, mostra que a doença ainda é uma incógnita entre os jovens brasileiros. O perfil do Ministério da Saúde na internet dedicado a perguntas e respostas, o Formspring, é recheado de questionamentos com relações ao vírus, aos sintomas, ao diagnóstico e às formas de contágio. Um levantamento realizado pela pasta a pedido do Correio mostra que, de 1º de dezembro de 2011 a 15 de janeiro deste ano, 85% das 475 perguntas registradas na rede foram relacionadas à Aids e a outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). A falta de informação não é novidade para a coordenadora do Instituto Vida Positiva, Vicky Tavares. Segundo ela, os números só mostram que os jovens não entendem a gravidade da doença. "Eles acham que nunca serão contaminados. Quem tem menos de 30 anos não viveu o horror da doença nas décadas de 1980 e 1990", frisa. Vicky acredita que o fato de existir tratamento e de ter como controlar a doença faz com que os jovens assumam outras prioridades. "Eles têm mais medo da gravidez do que da Aids", destaca. O último Boletim Epidemiológico (ano-base 2010) mostra que, enquanto o índice de pessoas infectadas em todo o país estabilizou, o número de casos entre jovens passou de 3.006 em 2005 para 3.238 em 2010. O Distrito Federal é um exemplo desse aumento. De modo geral, houve queda nos registros de casos da doença na capital do país, mas [houve] um avanço no número de mortes de jovens de 15 a 24 anos soropositivos de dois casos em 2006 para sete em 2010. Em todas as faixas etárias, foram registradas 116 mortes, o mesmo índice de 2009. Soropositivo, Roberto Pereira*, 15 anos, contraiu a doença no parto. Ele conta que seus amigos não têm ideia do que seja ter Aids nem acreditam estar sujeitos ao vírus. "Eles acham que só quem é magro tem HIV. Pensam que meninas bonitas nunca poderão contaminar alguém. Alguns ainda acham que é mentira, que a transmissão não é fácil", afirma o jovem alto e de porte atlético. O psicólogo e coordenador do Polo de Prevenção à DST/Aids da Universidade de Brasília, Mário Ângelo Silva, explica que existe uma relação muito estreita entre o aumento no número de infectados e a falta de consciência do risco, considerando que os jovens estão em uma situação de maior vulnerabilidade por estarem iniciando a vida sexual. A desinformação aliada ao preconceito, segundo ele, faz com que os jovens, quando têm dúvidas sobre a doença, procurem canais de comunicação que vão além da família, dos médicos e dos professores. "A dificuldade no acesso aos postos de saúde é grande, tanto para conseguir preservativo quanto para tirar dúvidas. Em alguns casos, é preciso marcar uma consulta. Isso faz com que os jovens apelem para esses canais, muitas vezes de forma anônima, para que possam mostrar quais preocupações e problemas estão enfrentando", destaca. "O assunto ainda é um tabu e também não faz parte do que é discutido na escola". *Nome fictício Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/16022012.pdf 8-