AVALIAÇÃO DOS DANOS CAUSADOS POR FORMIGAS CORTADEIRAS EM ESPÉCIES NATIVAS DO CERRADO DE ÁREAS DEGRADADAS EM PROCESSO DE RECUPERAÇÃO



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AVALIAÇÃO DOS DANOS CAUSADOS POR FORMIGAS CORTADEIRAS EM ESPÉCIES NATIVAS DO CERRADO DE ÁREAS DEGRADADAS EM PROCESSO DE RECUPERAÇÃO Adriane Roglin 1 ; Nilton José Sousa 2 ; Marcelo Dias de Souza 3 ; Mahayana Z. Ferronato 3 ; José Roberto Rodrigues Pinto 4 1. Eng. Florestal, Mestre em Engenharia Florestal, Universidade Federal do Paraná UFPR. Curitiba, PR, Brasil (adrianerog@gmail.com). 2. Professor Doutor do Departamento de Ciências Florestais, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná - Brasil. 3. Doutorando programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, Universidade Federal do Paraná UFPR. Curitiba, PR - Brasil. 4. Professor Doutor do Departamento de Ciências Florestais, Universidade de Brasília, Brasília, Distrito Federal - Brasil. Recebido em: 06/05/2013 Aprovado em: 17/06/2013 Publicado em: 01/07/2013 RESUMO As formigas cortadeiras são conhecidas como insetos praga principalmente em áreas agrícolas e florestais, contudo, em áreas de cerrado o gênero Atta é responsável pela herbivoria de muitas espécies vegetais importantes. Em habitats antropizados a presença das formigas cortadeiras é bem evidenciada, em função da sua preferência por espécies pioneiras instaladas nesses locais e por essas espécies vegetais possuírem poucas defesas químicas e físicas, proporcionando uma gama de opções no forrageamento das formigas cortadeiras. O objetivo do presente estudo foi relatar o comportamento das formigas cortadeiras presentes nos módulos demonstrativos de áreas degradadas em processo de recuperação no Bioma Cerrado, no município de Paracatu/MG, em relação às espécies vegetais plantadas, quantificando o número de espécies vegetais atacadas pelas formigas cortadeiras. As áreas de estudo que constituíram o trabalho estão localizadas no município de Paracatu/MG e pertencem às pesquisas do CRAD (Centro de Referência em Conservação da Natureza e Recuperação de Áreas Degradadas). Foram observados pelo menos três indivíduos das espécies vegetais plantadas nas cinco áreas e contadas àquelas que haviam sofrido qualquer intervenção por formigas cortadeiras. Nas áreas de estudo foram encontradas as seguintes espécies de formigas cortadeiras: Atta sexdens, Atta laevigata, Acromyrmex aspersus e Acromyrmex rugosus. A família botânica mais atacada pelas formigas cortadeiras foi a família Fabaceae. Dentre as espécies vegetais levantadas nas cinco áreas de estudo, a espécie mais atacada por formigas cortadeiras foi Triplaris gardneriana (Pau-formiga), da família Polygonaceae, muito comum em ambiente de Cerrado, representando a média de 36,32% do total de plantas atacadas. PALAVRAS-CHAVE: Gênero Atta, Espécies plantadas, Bioma Cerrado ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 434 2013

EVALUATION OF DAMAGE CAUSED BY LEAF-CUTTER LEAF-CUTTER-ANTS IN NATIVE SPECIES BY CERRADO OF DEGRADED AREAS IN PROCESS OF RECOVERY ABSTRACT The are known as insect pests mainly in agricultural and forest areas, however, in areas of cerrado the genus Atta herbivory is responsible for many important plant species. Anthropogenic habitats in the presence of leaf-cutter-ants is well evidenced, depending on their preference for pioneer species installed in these places and these species possess few chemical and physical defenses, providing a range of options in foraging leaf-cutter-ants. The objective of this study was to report the behavior of leaf-cutter-ants present in modules statements of degraded areas in the process of recovery in the Cerrado, in Paracatu / MG, in relation to plant species planted, quantifying the number of plant species attacked by leaf-cutter-ants. The study areas that constituted the work are located in Paracatu / MG and belong to the research CRAD (Reference Centre for Nature Conservation and Recovery of Degraded Areas). Were observed at least three individuals of the plant species planted in five areas and was count who had suffered any intervention by leaf-cutter-ants. In the study areas were found the following species of leaf-cutter-ants: Atta sexdens, Atta laevigata, Acromyrmex aspersus and Acromyrmex rugosus. The botanical family most attacked by leaf-cutter-ants was the family Fabaceae. Among the plant species raised in the five study areas, the species most attacked by leaf-cutter-ants was Triplaris gardneriana (Pau-formiga), family Polygonaceae, very common in Cerrado area, representing an average of 36.32% of the total plant attacked. KEYWORDS: Genus Atta, Vegetables species, Bioma Cerrado INTRODUÇÃO Em função do hábito de cortar folhas, as formigas cortadeiras são consideradas as principais pragas de áreas agrícolas e florestais, chegando a destruir total ou parcialmente uma cultura (HEBLING et al., 2000). Em ambientes naturais, as formigas cortadeiras chegam a remover de 12 a 17% da produção total de folhas (CHERRETT, 1968), sendo os maiores consumidores de material vegetal quando comparadas a qualquer outro grupo de mesma diversidade taxonômica (HÖLLDOBLER & WILSON, 1990). Apesar da condição de praga dessas formigas em agroecossistemas, segundo MOUTINHO et al., (1993), não se pode negar os possíveis benefícios que estas podem trazer em determinadas situações ou ambientes. Segundo a literatura especializada, em florestas secundárias, localizadas em antigas áreas de pastagens, as formigas podem ter impactos positivos sobre a estrutura química e física do solo e potencialmente beneficiar a vegetação, favorecendo o seu crescimento. Pois em áreas com formigueiros o solo é menos resistente a penetração das raízes e a matéria orgânica presente nas câmaras de lixo favorece possivelmente um aumento na fertilidade do solo. Estudos de campo relatam que a seletividade das formigas está relacionada com propriedades físicas das folhas como: (1) presença e densidade de tricomas. (2) espessura e (3) dureza, sendo estes dois últimos, função do conteúdo de água. Além disso, propriedades químicas como: (1) palatabilidade e qualidade nutricional, (2) presença ou ausência de látex, (3) compostos químicos secundários tóxicos ou ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 435 2013

repelentes e (4) substâncias atrativas presentes nas folhas, também podem influenciar a seletividade das formigas (HOWARD, 1987). As formigas cortadeiras também mostram preferência por espécies intolerantes diante de espécies tolerantes a sombra. Esta preferência se deve ao fato das espécies intolerantes apresentarem melhor status nutritivo e menor quantidade de compostos secundários do que espécies tolerantes à sombra (COLEY et al. 1985). Na vegetação de cerrado onde a abundância de saúvas parece ser maior do que em florestas tropicais, estima-se que estas formigas consumam entre 13 a 17% da biomassa foliar produzida anualmente pelas plantas lenhosas (COSTA et al., 2008). Sendo assim, conduziu-se este trabalho, com o objetivo de: identificar as espécies vegetais mais suscetíveis ao ataque das formigas cortadeiras e o padrão de dano nas áreas de estudo. MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi desenvolvido em pequenas propriedades localizadas no município de Paracatu na região noroeste do estado de Minas Gerais. O clima da região, segundo o sistema de classificação de Köppen, é megatérmico com inverno seco e chuvas máximas de verão (Aw). O solo que prevalece na região é classificado como Latossolo Vermelho distrófico (INMET, 2008). As chuvas se concentram no período de outubro a abril e a precipitação média anual se encontra entre 1.200 e 1.500 mm, as temperaturas médias mensais variam entre 20 e 25º C, os meses mais frios são junho e julho (INMET, 2008). Após a identificação das propriedades vinculadas ao Projeto de Recuperação do CRAD (Centro de Referência em Conservação da Natureza e Recuperação de Áreas Degradadas) no município de Paracatu, várias áreas foram percorridas no início do mês de fevereiro de 2011, com o objetivo de verificar a presença de formigas cortadeiras nos MDRs (Módulos Demonstrativos de Recuperação). O período em que as áreas encontram-se em processo de recuperação varia muito, mas a maioria esta dentro de um período de cinco a sete anos. Percorridas as propriedades, cinco áreas foram escolhidas para a instalação das unidades experimentais, denominadas módulos de recuperação, estas pertenciam a diferentes proprietários e tinham tamanhos variando conforme a necessidade de recomposição de cada propriedade, conforme descrição a seguir: Área 1 - localizada a 50 km de Paracatu, com plantio de 2,5 ha. Área 2 - localizada a 17 km de Paracatu e com 1,488 ha. Área 3 localizada na região metropolitana de Paracatu, com 3,0 ha. Área 4 - localizada a 14 km de Paracatu, com plantio tinha 4 ha. Área 5 - localizada a 28 km de Paracatu, com uma área de 6,75 ha. Percorridas as propriedades, cinco áreas foram escolhidas para a instalação das unidades experimentais, denominadas módulos de recuperação, estas pertenciam a diferentes proprietários e tinham tamanhos variando conforme a necessidade de recomposição de cada propriedade, totalizando 17,74 ha. Durante a coleta das formigas dentro de cada bloco em fevereiro de 2011, com intuito de identificar qual a predominância de espécies de formigas em cada local, foi realizado um levantamento visual prévio dos danos ocasionados pelas formigas cortadeiras nas espécies ali implantadas. Foram avaliadas no mínimo três plantas de cada espécie dentro de cada área de estudo. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 436 2013

Em agosto de 2011, durante a instalação do experimento, foi realizada uma segunda avaliação e observado o comportamento das formigas em relação às espécies plantadas nos MDRs. Foi contabilizada uma média das duas avaliações em relação às espécies que apresentavam alguma característica indicando ataque pelas formigas cortadeiras em campo. Durante as avaliações dos micro-porta-iscas foram realizadas mais algumas observações isoladas de algumas espécies, que não foram contabilizadas como avaliação geral. O ataque das formigas cortadeiras foi avaliado segundo características citadas por VASCONCELOS & CHERRET (1997) que ajudam na identificação visual do ataque das formigas cortadeiras, como segue: 1. Folhas com cortes em forma de semicírculo presas aos ramos ou caídas no chão; 2. Marcas nos caules evidenciando tentativas de corte mal sucedidas; 3. Total ausência de folhas com as extremidades dos ramos cortados; 4. Presença das operárias em atividade de desfolha. No total foram contabilizadas duas avaliações visuais que contemplaram todas as espécies plantadas nos MDRs, sendo que o número de espécies vegetais variou para cada área de estudo, principalmente em função do tamanho da área. Na Tabela 01 são apresentadas as densidades absolutas e relativas em relação ao número de espécies vegetais encontradas em cada área de estudo e uma estimativa por unidade de área (hectare). TABELA 1: Densidades absolutas e relativas de espécies vegetais em cada área de estudo. Área Nº Nº Nº ind./ DA DA Bloco DR (%) (ha) ind. espécies espécie (ind./ha) (esp./ha) Área 1 2,50 2368 59 40 947 24 26,07 Área 2 1,49 1240 31 40 832 21 22,98 Área 3 3,00 2629 63 42 876 21 23,20 Área 4 4,00 4149 62 67 1037 16 17,12 Área 5 6,75 5625 65 87 833 10 10,64 Média 3,55 3202 56 55 905 91 100,00 *DR Densidade relativa; DA Densidade absoluta As duas avaliações gerais das espécies vegetais foram realizadas em área total de cada bloco, pois tanto na época da coleta das formigas quanto na instalação das parcelas de controle, acabava-se percorrendo os blocos por completo, visando o melhor recolhimento de dados e o melhor recobrimento da área na instalação das parcelas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Nas amostras de formigas cortadeiras coletadas nas propriedades visitadas, foram encontradas as seguintes espécies de formigas cortadeiras: Atta sexdens (Linnaeus, 1758), Atta laevigata (F. Smith, 1858), Acromyrmex aspersus (F. Smith, 1858) e Acromyrmex rugosus (F. Smith, 1858). O número de espécies vegetais plantadas nas áreas de estudo variou de 40 a ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 437 2013

87 espécies, em função do tamanho de cada área de estudo (Tabela 2). Contudo, a densidade média foi de 55 plantas/espécie/área de estudo, destas, foram observados ataques de formigas cortadeiras constantes em 16,07% do total de espécies plantadas, (foram descartadas das observações as espécies que sofreram ataques esporádicos e de pouca intensidade, e também aquelas espécies que não se repetiam em todas as áreas de estudo). TABELA 2: Principais espécies vegetais atacadas pelas formigas cortadeiras. Espécie Triplaris gardneriana Machaerium hirtum Platypodium elegans Acacia polyphylla Anadenanthera peregrina Magonia pubescens Sapindus saponaria Guazuma ulmifolia Tabebuia impetiginosa Autor Nome comum Densidade média/ bloco Média plantas atacadas Percentual médio de ataque Weddell Pau formiga 55 20 36,32 (Vell.) Stellf. Jacarandá Bico de Pato 55 9 16,34 Voguel Faveiro 55 6 10,90 DC. (L.) Speg. Angico monjolo Angico Vermelho 55 5 9,08 55 5 9,08 A. St. - Hil. Tingui 55 3 5,45 L. Saboneteira 55 3 5,45 Lam. Mutamba 55 2 3,63 (Mart. ex DC.) Standl. Ipê roxo 55 2 3,63 Nas duas avaliações foi possível verificar que o ataque das formigas cortadeiras predominantemente se concentrava em plantas de 5 famílias botânicas (Polygonaceae, Fabaceae, Sapindaceae, Sterculiaceae e Bignoniaceae, sendo a família Fabaceae a mais atacada), e em 9 espécies respectivamente (Tabela 2): Triplaris gardneriana, Polygonaceae (com 36,32% das plantas atacadas na área de estudo); Machaerium hirtum, Fabaceae (16,34%); Platypodium elegans, Fabaceae (10,9%); Acacia polyphylla, Fabaceae (9,08%), Anadenanthera peregrina, Fabaceae (9,08%); Magonia pubescens, Sapindaceae (5,45%); Sapindus saponaria, Sapindaceae (5,45%); Guazuma ulmifolia, Sterculiaceae (3,63%); Tabebuia impetiginosa, Bignoniaceae (3,63%). Dentre as espécies citadas na Tabela 2, a mais atacada pelas formigas foi o pau-formiga (T. gardneriana), seguida M. hirtum (Jacarandá Bico de Pato), P. elegans (Faveiro), A. polyphylla (Angico Monjolo) e A. peregrina (Angico Vermelho). Possivelmente estas espécies foram atacadas devido a sua palatabilidade e ao fato de serem espécies pioneiras, corroborando com a citação de COLEY et al., (1985), ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 438 2013

que citam a preferência das formigas cortadeiras por espécies pioneiras (intolerantes a sombra). O número de espécies vegetais preferencialmente atacadas pelas formigas cortadeiras neste trabalho (nove espécies) é menor do que o encontrado por SCHOEREDER & COUTINHO (1991), que em avaliação em uma área de Cerrado observaram ataque de formigas cortadeiras em até 20 espécies de plantas, sendo valido destacar que o período de observação destes autores foi bem superior ao deste trabalho. Os principais danos causados por formigas cortadeiras nas plantas das áreas experimentais deste trabalho foram observados nas folhas, com maior ocorrência na parte superior da planta, talvez esse padrão de ataque esteja vinculado a grande quantidade de folhas jovens, já que as espécies avaliadas possuíam menos de três anos de idade. O padrão de ataque citado foi observado principalmente nas espécies M. hirtum (Jacarandá bico de pato) e P. elegans (Canzileiro). Na espécie T. gardneriana (Pau formiga), o corte ocorreu nas folhas da planta inteira, restando apenas o caule e os ramos, em plantas de diferentes idades (até 3 anos). O resultado encontrado neste trabalho difere do obtido por MUNDIN RIBEIRO (2009), que destacou outras espécies atacadas pelas formigas cortadeiras em ambiente de cerrado e em idades superiores. A espécie X. aromatica (Pimenta-de-macaco), foi observada neste trabalho com uma das espécies presentes nos MDRs, contudo, não foi encontrado nenhum vestígio de corte pelas formigas nas plantas desta espécie, em nenhuma das áreas de estudo no estágio inicial de desenvolvimento, diferindo das observações feitas por MUNDIN RIBEIRO (2009), que destacou esta espécie como sendo uma das preferencialmente atacadas por formigas cortadeiras em idades mais avançadas de desenvolvimento. Durante as avaliações realizadas em campo, foi acompanhado o ataque de um grupo de operárias forrageiras de Atta sexdens em uma muda de faveiro (Dimorphandra mollis). As formigas conseguiram desfolhar a parte superior de uma muda de faveiro em cerca de trinta minutos. A divisão de trabalho foi bem perceptível, pois, enquanto um grupo se encarregava de fazer o corte do material vegetal e derrubar ao chão, outro grupo se encarregava de realizar o carregamento deste material até a colônia, corroborando com a descrição feita por AMANTE (1967), FOWLER & ROBINSON (1979) e FORTI et al. (1984). As observações feitas neste trabalho indicando a preferência de Atta sexdens por dicotiledôneas da qual foi presente em todas as áreas do estudo (Tabela 3), sendo que estão de acordo com a citação de MARICONI (1970), que cita este comportamento para a espécie Atta sexdens. Enquanto que outras espécies de Atta cortam tanto monocotiledôneas quanto dicotiledôneas, como é o caso de Atta laevigata, que neste trabalho consumiu uma grande quantidade de Capimandropógon (monocotiledônea), porém, neste trabalho também foi observado ataque desta espécie de formiga a dicotiledônea T. gardneriana (Pau formiga). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 439 2013

TABELA 3: Espécies de formigas encontradas nas áreas de estudo Propriedade Área (ha) Nº formigueiros Formigueiros /ha Espécies Área 1 2,50 17,0 6,8 Atta laevigata Área 2 1,49 23,0 15,5 Atta sexdens+ Acromyrmex aspersus Área 3 3,00 17,0 5,7 Atta sexdens + Atta laevigata + Acromyrmex rugosus Área 4 4,00 14,0 3,5 Atta sexdens Área 5 6,75 78,0 11,6 Atta sexdens Total 17,74 149,0 8,40 Entre as duas espécies de saúvas presentes nas áreas de estudo, a mais voraz foi Atta laevigata, foi observado que esta desfolha plantas inteiras, e, que, indivíduos desta espécie podem cortar sucessivas vezes a mesma planta em determinado período. Mesmo sendo encontrada uma grande densidade de sauveiros em áreas de Cerrado, como relatado por SCHOEREDER & COUTINHO (1990), ainda assim, falta muita informação referente à diversidade de plantas atacadas por esses herbívoros dominantes neste bioma, isso dificultou o enriquecimento da discussão deste tema no presente trabalho. CONCLUSÃO Nas áreas de estudo foram encontradas as seguintes espécies de formigas cortadeiras: Atta sexdens (Linnaeus, 1758), Atta laevigata (F. Smith, 1858), Acromyrmex aspersus (F. Smith, 1858) e Acromyrmex rugosus (F. Smith, 1858). A densidade média de plantas/espécie/área de estudo, destas nove apresentaram danos constantes e evidentes provocados por formigas cortadeiras. A família botânica mais atacada por formigas cortadeiras nas áreas experimentais é a família Fabaceae. A espécie vegetal mais atacada pelas formigas cortadeiras foi Triplaris gardneriana, Polygonaceae (Pau-formiga). A família botânica mais atacada por formigas cortadeiras nas áreas experimentais é a família Fabaceae. AGRADECIMENTOS Ao CRAD/Cerrado, ao instituto Estadual de Florestas e a UNB, por ceder as áreas de estudo e pelo auxilio fornecido no desenvolvimento da pesquisa. REFERÊNCIAS AMANTE, E. A formiga saúva Atta capiguara, praga das pastagens. Biológico, v. 33, p. 113-20, 1967. COLEY, P. D.; BRYANT, J.; CHAPIN, F. Resource availability and plant antiherbivore defense. Science, v. 230, p. 895 899, 1985. COSTA, A. N.; VASCONCELOS, H. L.; VIEIRA-NETO, E. H. M.; BRUNA, E. M. Do ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 440 2013

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