Nº CNJ : 0521657-98.2002.4.02.5101 RELATOR : JUIZ FEDERAL CONVOCADO THEOPHILO MIGUEL APELANTE : UNIAO FEDERAL / FAZENDA NACIONAL APELADO : LIDIA GUIMARAES DE ARAUJO ADVOGADO ORIGEM : DAVID ALFREDO NIGRI : PRIMEIRA VARA FEDERAL DE EXECUÇÃO FISCAL - RJ (200251015216579) D E C I S Ã O Trata-se de remessa necessária e apelação cível interposta pela UNIÃO/FAZENDA NACIONAL, objetivando reformar a sentença prolatada nos autos da execução fiscal, proposta em face de LÍDIA GUIMARÃES DE ARAÚJO, que julgou extinto o processo, com fundamento no artigo 40, 4º, da Lei 6830/80. A apelante alegou, em síntese, afronta ao devido processo legal (CF, art. 5º, LIV), por inobservância dos procedimentos previstos nos parágrafos do artigo 40 da Lei nº 6.830/80. Sem contrarrazões.. O Ministério Público Federal, às fls. 88/97, opina pelo improvimento do apelo. Relatei. Decido. Não merece reparo a decisão hostilizada. Com efeito, diante da nova sistemática implementada pelo atual parágrafo 4º do artigo 40 da LEF (Lei 6.830/1980), acrescentado pela Lei 11.051/2004 (artigo 6º), norma processual de aplicação imediata, restou prevista a possibilidade da decretação da prescrição intercorrente de ofício, existindo a condição de ser previamente ouvida a Fazenda Pública. Precedentes: (STJ, REsp 815.711/RS, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ 10.04.2006). Assim, intimada a Fazenda Pública sobre a possibilidade da decretação da prescrição intercorrente de ofício, deve ser extinto o processo executório. 1
Nesse sentido, confiram-se: TRIBUTÁRIO. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. ART. 40, 4º, DA LEI N. 6.830/80. INTIMAÇÃO DA FAZENDA PÚBLICA. CAUSAS SUSPENSIVAS OU INTERRUPTIVAS NÃO ALEGADAS EM APELAÇÃO. PREJUÍZO E NULIDADE NÃO CONFIGURADOS. ALEGAÇÃO DE QUE NÃO HOUVE INÉRCIA DA FAZENDA PÚBLICA. REEXAME DE PROVA. SÚMULA 7/STJ. 1. Nos termos do art. 40, 4º da Lei n. 6.830/80, configura-se a prescrição intercorrente quando, proposta a execução fiscal e decorrido o prazo de suspensão, o feito permanecer paralisado por mais de cinco anos - contados da data do arquivamento -, por culpa da parte exequente. 2. A finalidade da prévia oitiva da Fazenda Pública, prevista no art. 40, 4º, da Lei n. 6.830/80, é a de possibilitar à Fazenda a arguição de eventuais causas de suspensão ou interrupção da prescrição do crédito tributário. Não havendo prejuízo demonstrado pela Fazenda pública em apelação, não há que se falar em nulidade, tampouco cerceamento de defesa, em homenagem aos Princípios da Celeridade Processual e Instrumentalidade das Formas. Precedentes. 3. O Tribunal de origem expressamente consignou que o feito permaneceu parado por mais de 17 (dezessete) anos, por inércia da Fazenda Pública. Rever tal posicionamento requer o reexame de fatos e provas, o que é vedado ao STJ por óbice da Súmula 7/STJ. Agravo regimental improvido. 2
(AgRg no REsp 1247737/BA, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/06/2011, DJe 29/06/2011) TRIBUTÁRIO. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. ART. 40, 4º, DA LEI N. 6.830/80. INTIMAÇÃO DA FAZENDA PÚBLICA. CAUSAS SUSPENSIVAS OU INTERRUPTIVAS NÃO ALEGADAS EM APELAÇÃO. PREJUÍZO E NULIDADE NÃO CONFIGURADOS. ALEGAÇÃO DE QUE NÃO HOUVE INÉRCIA DA FAZENDA PÚBLICA. REEXAME DE PROVA. SÚMULA 7/STJ. 1. Nos termos do art. 40, 4º da Lei n. 6.830/80, configura-se a prescrição intercorrente quando, proposta a execução fiscal e decorrido o prazo de suspensão, o feito permanecer paralisado por mais de cinco anos - contados da data do arquivamento -, por culpa da parte exequente. 2. A finalidade da prévia oitiva da Fazenda Pública, prevista no art. 40, 4º, da Lei n. 6.830/80, é a de possibilitar à Fazenda a arguição de eventuais causas de suspensão ou interrupção da prescrição do crédito tributário. Não havendo prejuízo demonstrado pela Fazenda pública em apelação, não há que se falar em nulidade, tampouco cerceamento de defesa, em homenagem aos Princípios da Celeridade Processual e Instrumentalidade das Formas. Precedentes. 3. O Tribunal de origem expressamente consignou que o feito permaneceu parado por mais de 17 (dezessete) anos, por inércia da Fazenda Pública. Rever tal posicionamento requer o reexame de fatos e provas, o que é vedado ao STJ por óbice da Súmula 7/STJ. 3
Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1247737/BA, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/06/2011, DJe 29/06/2011). No mesmo sentido, foi retirado o óbice legal ao reconhecimento genérico da prescrição, antes previsto no art. 219, 5º, do Código de Processo Civil, e, por fim, revogado o art. 194 do atual Código Civil. Como a prescrição se refere à ação, tais alterações legislativas têm aplicação imediata, consoante jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de Justiça (RE 999.901 RS, 1ª Seção, Rel. Min. Luiz Fux, D.J.: 10/06/2009). Para efeito de caracterização de prescrição intercorrente é assente na jurisprudência do E. Superior Tribunal de Justiça que basta a paralisação por mais de cinco anos, independentemente da natureza da dívida tributária, por força do art. 174 do CTN. Vejamos: RECURSO ESPECIAL. ALÍNEAS "A" E "C". TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. ARQUIVAMENTO. INÉRCIA POR MAIS DE CINCO ANOS. RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. ACÓRDÃO RECORRIDO EM SINTONIA COM A ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL DO STJ. SÚMULA N. 83. No caso em comento, suspensa a execução por mais de um ano, decorreu mais de um qüinqüênio da data do arquivamento sem baixa (fl. 116), razão pela qual o processo foi extinto com julgamento de mérito pela prescrição intercorrente. 4
É certo que o artigo 40, 2º, da LEF deve ser aplicado à luz do disposto no artigo 174 do CTN. Como bem lembrou o ilustre Ministro Francisco Peçanha Martins, o "art. 40 da Lei 6.830/80 deve ser interpretado em sintonia com o art. 174/CTN, sendo inadmissível estender-se o prazo prescricional por tempo indeterminado" (Resp 233.345/AL, DJU 06.11.00). Recurso especial não-conhecido. (Resp 418.160/RO, 2ª Turma, Rel. Min. Franciulli Netto; DJ 04/04/2005, v.u.). Nesse sentido: REsp 432.567/MA, 2ª Turma, rel. Min. Peçanha Martins, DJU 03/10/2005, p. 164; Edcl no AgRg 629.931/PE, 1ª Turma, rel. Min. José Delgado, DJU 26/09/05, p. 189; REsp 766.873/MG, 1ª Turma, rel. Min. Teori Zavascki, DJU 26/09/05, p.257; REsp 623.432/MG, 2ª Turma, rel. Min. Eliana Calmon, DJU 19/09/05, p. 271; REsp 697.270/RS, 2ª Turma, rel. Min. Castro Meira, DJU 12/09/05, p.294. Na hipótese vertente, os créditos exequendos constantes na certidão de dívida ativa referem-se a parcelas não pagas a título de imposto de renda de pessoa física, com vencimento em 30/04/1998, tendo como forma de constituição do crédito por auto de infração, com notificação do contribuinte pelo correio/ar perpetrada em 21/02/2001. Citada a executada (fl. 08), apresentou exceção de préexecutividade (fls. 38/45), alegando, além da prescrição do crédito em cobrança, a condenação da União em honorários advocatícios, o que foi acolhido pela sentença monocrática In casu, o magistrado a quo determinou a suspensão do curso da execução (fls. 15 e 28), e a União/Fazenda Nacional foi devidamente cientificada. Posteriormente, intimada a se manifestar (fl. 46), a credora não demonstrou qualquer causa suspensiva ou interruptiva o prazo prescricional. Os autos foram conclusos e foi prolatada a sentença extintiva. 5
Destaca-se que entre a data do despacho que determinou o primeiro arquivamento do processo (13/08/2003 - fl. 15) e a da prolação da sentença transcorreram mais de seis anos ininterruptos. De tal sorte, é bem de ver-se que a estipulação em norma infraconstitucional quanto ao modo de se conhecer a prescrição (mediante alegação da parte ou de ofício) não afronta qualquer dispositivo da Constituição da República. Ademais, a ausência de ato formal do magistrado, após o decurso do prazo de 01 (um) ano de suspensão da execução, determinando o arquivamento dos autos, sem baixa na distribuição, não descaracteriza a sua ocorrência, prevista no art. 40, 2º da Lei 6.830/80, e não impede o reconhecimento posterior da prescrição intercorrente, sendo certo que, apesar de não ter sido intimada pessoalmente do referido arquivamento, a Fazenda não apresentou qualquer petição durante aquele período de cinco anos, o que demonstraria o abandono do processo e a ausência de interesse no feito. Ressalte-se que, no presente caso, a prescrição foi reconhecida por provocação da parte. Diante do exposto, nego seguimento ao recurso, com fulcro no art. 557, caput, do Código de Processo Civil. Publique-se e intime-se. Decorrido, in albis, o prazo recursal, remetam-se os autos à Vara de Origem com as devidas cautelas. Rio de Janeiro, 09 de novembro de 2011. THEOPHILO MIGUEL Juiz Federal Convocado - Relator 6
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