Discurso da cerimónia de entrega de cédulas em 31.05.2005 Porque hoje admitimos no seio da OA mais cerca de 300 Advogados; portanto, mais 300 homens e mulheres sérios, honestos e de íntegra coluna vertebral; mais 300 defensores do Estado de Direito Democrático Português e do Estado de Direito Democrático Universal; portanto, mais 300 homens e mulheres de bem, bem formados, conhecedores absolutos das regras éticas e deontológicas da Advocacia e sobretudo da Vida. Porque hoje a Ordem dos Advogados confia nestes 300 homens e mulheres e atribui-lhes a licença para exercerem, de pleno, a Advocacia; porque hoje há mais 300 homens e mulheres que se dispõem a representar todo e qualquer cidadão do MUNDO, em defesa dos seus direitos, liberdades e garantias; porque hoje a Ordem dos Advogados lança no MUNDO mais 300 homens e mulheres sem medo, nunca subservientes, sempre críticos, sempre ferozmente contrários a toda a prepotência, a toda a arbitrariedade e a toda a ilegalidade. Porque hoje, havendo mais 300 homens e mulheres Advogados, há mais Estado de Direito Democrático; há mais 300 homens e mulheres disponíveis para impedir que uma qualquer ditadura ou outro qualquer regime opressivo se nos imponha. Porque sempre que há mais um Advogado, há mais esperança, há mais perseverança, há mais confiança nas instituições e no regime em geral. 1
Porque sim. Porque há mais 300 Advogados. Mais 300 cidadãos especiais. Caras Colegas e caros Colegas, que hoje entrais neste mundo ESPECIAL: convençam-se que são realmente especiais. E caros Familiares e Amigos destes nossos Colegas que hoje entram neste mundo ESPECIAL: convençam-se que integram no vosso seio cidadãos realmente ESPECIAIS. Só por isso estamos todos aqui. O Senhor Bastonário, Dr. Rogério Alves, o Senhor Bastonário, Dr. Augusto Lopes Cardoso, o Vice-Presidente do Conselho Superior, Dr. Augusto Aguiar-Branco, os Senhores Drs. Macedo Varela e Almeida Correia do Conselho Geral, alguns dos anteriores e mais brilhantes presidentes do Conselho Distrital do Porto, Drs. José Pedro Aguiar-Branco, Manuel Veiga de Faria e Orlando Guedes da Costa, o anterior e brilhantíssimo Presidente do Conselho Deontologia do Porto, o meu amigo Dr. João Resende Neiva, o actual Presidente do Conselho de Deontologia do Porto, o também meu amigo Dr. António Salazar que eu fiz questão que vos dirigisse, hoje, algumas palavras, muitos membros do Conselho Deontologia actual, os serviços administrativos do Conselho Distrital do Porto que quisemos que se unissem a nós neste dia ESPECIAL (porque são um corpo administrativo absolutamente excepcional), os serviços administrativos do Conselho de Deontologia do Porto igualmente ESPECIAIS e excepcionais e que só por mera coincidência não conseguiram hoje estar presentes, estando-o, no entanto, em espírito; Os dois Vice-Presidentes do Conselho Distrital do Porto Dr. Carlos Grijó e Dr. João Rebelo, o Presidente do Centro de Estágio do Porto Dr. Augusto-Pedro Lopes Cardoso, vários outros membros do actual Conselho Distrital do Porto, tantos e tantos outros Colegas e Amigos. 2
Todas estas pessoas, do melhor que há no seio da Advocacia Portuguesa, estão hoje aqui. E PORQUÊ? Por que se deram a este trabalho? Porque hoje é um DIA ESPECIAL. Porque VOCÊS, a partir de hoje, são ESPECIAIS. Ou seja, são ADVOGADOS. Por isso, não nos desiludam, nem frustrem as expectativas dos que em vós assim confiaram, nem se enganem a vós mesmos. Hoje é um dia Especial. Mas peço-vos que não o deixem morrer. A este dia. Façam com que, de hoje em diante, todos os dias sejam ESPECIAIS. Ou seja, Senhores Doutores, meus Colegas, sejam ADVOGADOS todos os dias, mesmo quando não Advogam. Porque o Advogado é ESPECIAL. O Advogado é sempre urbano e civilizado; mas sempre frontal, directo, corajoso muito corajoso - e nunca subserviente; O Advogado é sempre INDEPENDENTE e senhor da sua própria consciência; e nunca se verga a cunhas, a pressões, a influências, a poderes sejam eles quais forem a quaisquer clientes por muito poderosos que sejam, a quaisquer Colegas ou a quaisquer SOCIEDADES ainda que de Advogados; O Advogado é o cidadão que representa, mas não se confunde com ele; é sempre independente dele. 3
O Advogado é um confidente zeloso e nada nem ninguém, em Portugal ou na Europa repito, na Europa ou no Mundo faz de nós delatores, ou nos leva a adoptar posturas «pidescas» como pretendem agora os Senhores da Europa com a directiva do branqueamento de capitais. Os princípios interiorizados durante anos e anos pela ADVOCACIA PORTUGUESA, que fazem dela uma profissão de prestígio, de honra, de brilho, de orgulho, de bandeira, de exemplo, esses princípios, dizia, não podem ser revogados por decreto. É como se se legislasse que é «proibido morrer». Não é possível. Os Advogados Portugueses são especiais. Não são delatores. Ainda que isso lhes custe processos criminais como os que foram já instaurados a vários Advogados ingleses, no Reino Unido, por incumprimento da Directiva de Branqueamento de Capitais. E, pelo menos um, foi já condenado a pena de prisão efectiva, salvo erro, por 6 meses. Terão que nos julgar a todos. Porque não somos nem vamos ser delatores. É que este é ou seria o primeiro passo para acabar com aquele que é um dos grandes pilares da Advocacia o SEGREDO PROFISSIONAL. Depois do branqueamento vêm outros «branqueamentos» ou outros «escurecimentos» ou outros acontecimentos multicores que terão sempre na mira o segredo profissional dos Advogados a pretexto do bem-estar ou de uma pretensa protecção da sociedade e do seu equilíbrio. Como Napoleão Bonaparte também pretendeu ao dizer que o direito de defesa de um qualquer arguido cede quando está em causa a protecção do equilíbrio e do bem-estar da sociedade. 4
Não se percebendo que a protecção e o equilíbrio da comunidade em geral está precisamente na protecção e defesa dos direitos de cada um dos que a compõem. A Nós, Advogados, corre-nos nas veias o sangue milenar da coragem, da frontalidade e da persistência na defesa dos cidadãos. E passámos e continuamos a passar estes princípios de patronos para estagiários, de Advogados mais antigos para os mais recentes e de uns para os outros. Em defesa dos cidadãos e do Estado de Direito Democrático e, por isso, de nós próprios e da comunidade em que vivemos. Regemo-nos sempre por estes princípios absolutamente fundamentais: a independência, o segredo profissional, a dignidade, a honestidade, a rectidão, a urbanidade e a probidade e o humanismo. Quer no exercício da profissão, quer fora dela. Por isso, é que somos ESPECIAIS. Por isso, é que este é um dia ESPECIAL. Daí que termine dizendo-vos: SEJAM ADVOGADOS! 5