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Transcrição:

Introdução: O sono é um estado comportamental complexo e um dos grandes mistérios da neurociência. Desde o início da tentativa de sua interpretação, hipóteses para sua compreensão surgiram em direções opostas. Para alguns, o sono era análogo à morte, uma vez que aparentemente suspendia as funções mentais. Para outros, representava uma atividade mental particular (GRITTI, Mecanismos do Sono - Mente & Cérebro, Anatomia do Sono, nº13, 2007, ISSN 1807-9431). O conhecimento sobre as alterações fisiológicas associadas ao sono se desenvolveu muito nas últimas décadas, principalmente no que diz respeito aos mecanismos homeostáticos fundamentais que são afetados por ele. Apesar disso, pouco se sabe ainda sobre o estado pelo qual passamos cerca de um terço de nosso dia. (THOMPSON e cols., 2001). Apesar da crença de que o sono é uma situação passiva, em que o indivíduo dorme porque está cansado, atualmente sabemos que para iniciarmos o sono necessitamos de um processo ativo, com a integridade de diversas estruturas encefálicas e de circuitos neurais funcionando de maneira adequada. O sono é um considerado um estado em que o indivíduo encontra-se em aparente estado de não percepção do meio externo, porém pode retomar ao nível de consciência espontaneamente ou através de estímulo externo a qualquer tempo. Sua função exata não é totalmente esclarecida, mas sabe-se que é de fundamental importância para a manutenção da vida. Segundo a Academia Americana de Medicina do Sono (AASM), um sono normal apresenta as seguintes características: Ausência de queixas de sono ou ausência de sintomas diurnos atribuíveis à insatisfação com o padrão de sono. Rotina regular rítmica do ciclo sono-vigília com horários regulares de dormir e acordar. Não há evidências de um transtorno médico ou mental que cause pertubação e sintomas do sono. Não há evidências de uso, abuso, retirada de substâncias que cause pertubação e sintomas do sono.

Não há evidências de um transtorno primário do sono. Durante o sono, o indivíduo passa por estágios diferentes, nos quais há alterações das atividades cerebral, cardiovascular, respiratória, digestiva, hormonal, temperatura corporal entre outros. Por conta disso, os indivíduos com privação do sono podem apresentar alterações do humor, da percepção da sensibilidade dolorosa, da capacidade de concentração, memória, além de predisposição a acidentes. Aspectos históricos do sono: O sono tem fascinado os povos do mundo desde a antiguidade. A imobilidade e a cessação do contato consciente com o mundo exterior geraram mitos sobre a origem e o significado do sono humano. Alguns destes mitos persistem até hoje. Aristóteles descreveu o sono e os sonhos como fenômeno natural, não tendo relação com fenômenos místicos ou míticos. Ele acreditava que o sono era resultado da evaporação dos alimentos no organismo. Em 1913, o fisiologista francês Henri Piéron definiu três particularidades do sono: necessidade de periodicidade; ritmo relativamente independente das condições externas; completa interrupção da percepção dos impulsos sensoriais e motores que conectam o sistema nervoso (SN) ao ambiente (GRITTI, Mecanismos do Sono - Mente & Cérebro, Anatomia do Sono, nº13, 2007. ISSN 1807-9431). Diversos cientistas renomados elaboraram teorias sobre a origem e o significado do sono, porém a partir da invenção do eletroencefalograma (EEG) pelo neuropsiquiatra alemão Hans Berger na década de 20 do século passado, as pesquisas sobre o sono mudaram de uma abordagem apenas experimental para uma avaliação mais precisa das manifestações e dos mecanismos do sono. O registro da atividade elétrica cerebral realizada pelo EEG durante o sono, associado a outros parâmetros como a movimentação do globo ocular,

registrado com eletrodos de superfícies e a avaliação do tônus muscular, também realizada com eletrodo de superfície, permitiram classificar os estágios do sono (Tufik, S. e colaboradores, Medicina e Biologia do Sono, 2008, 1-6). Até os anos 50, acreditava-se que o sono fosse um fenômeno passivo, devido à diminuição das informações provenientes dos diversos sistemas sensoriais, que consequentemente não conseguiam manter o indivíduo acordado. Ou seja, era considerado um cessar do estado de vigília. A identificação do sono com movimentos oculares rápidos (REM), em 1953, por Aserinsky e Kleitman, inaugurou o entendimento do sono, mas foi em 1998, com a descoberta dos peptídeos hipotalâmicos hipocretinas e sua função no ciclo sono-vigília, que as interações funcionais com o sistema temporizador circadiano e os sistemas hipotalâmicos assumiram destaque no controle deste ciclo (ALÓE e cols., 2005). Hoje se sabe que os estágios de sono são programados segundo uma sequência temporal relativamente preestabelecida e controlados por mecanismos fisiológicos e sistemas neuroquímicos cerebrais (GRITTI, Mecanismos do Sono - Mente & Cérebro, Anatomia do Sono, nº13, 2007, ISSN 1807-9431). Assim, o sono é composto por distintos estados, cada um ativado por diferentes regiões cerebrais, e cada um desses estágios desencadeia efeitos distintos sobre uma variedade de processos fisiológicos. O sono nos mamíferos pode ser estagiado através de três sinais: atividade eletroencefalográfica (através do EEG), avaliação do tônus msucular (eletromiografia de superfície) e registro dos movimentos dos olhos (eletroculograma), sendo todos os parâmetros registrados por eletrodos de superfície. O EEG é utilizado para mensurar a atividade cerebral através de eletrodos posicionados sobre o crânio, utilizando a padronização internacional 10-20. Como demonstrado na figura 01, utiliza-se ainda um sinal eletromiográfico para monitorar o tônus postural através de eletrodos de superfície posicionados no queixo do indivíduo (THOMPSON e cols., 2001).

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