A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE FEMININA NA ADOLESCÊNCIA: UM ENFOQUE NA RELAÇÃO MÃE E FILHA

Documentos relacionados
A construção da identidade feminina na adolescência: um enfoque na relação mãe e filha

AVALIAÇÃO DA AUTO-EFICÁCIA DE CRIANÇAS EM IDADE ESCOLAR

Como a análise pode permitir o encontro com o amor pleno

Quando o inominável se manifesta no corpo: a psicossomática psicanalítica no contexto das relações objetais

Professor(es): Claudio Bastidas Martinez DRT: Etapa: 1 a

RESSIGNIFICAR: PSICOLOGIA E ONCOLOGIA 1. Jacson Fantinelli Dos Santos 2, Flávia Flach 3.

Curso de Atualização em Psicopatologia 2ª aula Decio Tenenbaum

INTOLERÂNCIA E IDENTIFICAÇÃO: O MOVIMENTO EMO NO BRASIL

NEGLIGÊNCIA MATERNA E SUAS CONSEQUÊNCIAS FUTURAS PARA A PUÉRPERA. Acad: Milene F. Cruz

PRÁTICA NA ENFERMARIA PEDIÁTRICA: UM COLORIDO NA CLÍNICA WINNICOTTIANA

8. Referências bibliográficas

Decio Tenenbaum

A Importância dos Cuidados com o Cuidador. Lívia Kondrat

Sumário. Parte I VISÃO GERAL. Parte II COMUNICAÇÃO E RELAÇÃO. Introdução A medicina da pessoa...31

O que vem a ser identidade? O que vem a ser uma identificação?

A Técnica na Psicoterapia com Crianças: o lúdico como dispositivo.

Silvia Maria Bonassi Psicóloga. Área: Psicologia e Saúde - Psicodiagnóstico Tema: Psicoterapias de orientação analítica

A disciplina apresenta as principais teorias do desenvolvimento biopsicossocial infantil, com ênfase na abordagem psicanalítica.

DESCONSTRUINDO O NORMATIVO ATRAVÉS DAS MOCHILAS: EXISTEM OUTRAS POSSIBILIDADES DE SER?

EXPERIÊNCIA DE CAMPO EM ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE PSICOLOGIA EM SAÚDE NASS, F. M.; PONTES, C. F.; ALMEIDA, L. S.; GIL, M. G.; PRANDINI, M. R.

CARACTERIZAÇÃO METODOLÓGICA DAS DISSERTAÇÕES SOBRE EDUCAÇÃO ESPECIAL DA UFSCAR

Minicurso: Jogos e Dinâmicas de Grupo. Fabiana Sanches e Rosa Maria

PSICOTERAPIA BREVE: EXPERIÊNCIA EM UMA CLÍNICA-ESCOLA¹. Introdução

Patrícia Poppe XIII Encontro Luso-Brasileiro e XV Congresso Nacional da SPGPAG O Grupo: Espelho de Afetos; Construção de vínculos Lisboa,

Dançar Jogando para Jogar Dançando - A Formação do Discurso Corporal pelo Jogo

BNCC e a Educação da Infância: caminhos possíveis para um currículo transformador. Profa. Maria Regina dos P. Pereira

PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO

A Extensão Universitária e o Envelhecimento Ativo: significações das pessoas idosas do Programa Integração de Gerações

seguiam a corrente clássica de análise tinham como norma tratar da criança sem fazer

GRUPOS EM TERAPIA OCUPACIONAL

A nossa sexualidade é uma construção que se inicia na vida intra-uterina e nos acompanha por toda nossa existência.

MULHERES MASTECTOMIZADAS: UM OLHAR PSICANALÍTICO. Sara Guimarães Nunes 1

QUEM SOU EU? A BUSCA PELA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NA ADOLESCÊNCIA

FORMULÁRIO DE PROJETO DE PESQUISA

GRUPO DE ATIVIDADES EM TERAPIA OCUPACIONAL

APRESENTAÇÃO... ARTETERAPIA E PSICANÁLISE COM FAMÍLIAS NA UNIVERSIDADE...

TÍTULO: AUTOEFICÁCIA EM ADOLESCENTES COM E SEM DEFICIÊNCIA ATLETAS DE VOLEIBOL

INTERVENÇÃO PRECOCE NA RELAÇÃO MÃE-BEBÊ: UM TRABALHO PARA FAVORECER O ACONTECER DO VÍNCULO

O estirão Nos meninos, ocorre entre 14 e 16 anos. Nas meninas entre 11 e 12 anos. É a fase que mais se cresce.

PREVENÇÃO DO HIV/AIDS NO INÍCIO DA RELAÇÃO SEXUAL: CONDUTA DOS ADOLESCENTES FRENTE À TEMÁTICA

Avaliação psicológica, fundamentos e processo

O SENTIDO DA VIDA SOB A ÓTICA DE UM GRUPO DE IDOSOS

TÍTULO: O ESTABELECIMENTO DO VÍNCULO ENTRE FISIOTERAPEUTAS E CRIANÇAS PORTADORAS DE NECESSIDADES ESPECIAIS

A identidade como fator distintivo entre os seres humanos

Percepção e Projeção. Prof.a Tatiana Tung Gerencer UNIBAN - disciplina Técnicas Projetivas

Considerações Finais

Ψ AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE OLIVEIRA

1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:

Carga horária total Não há educação HP370 Avaliação Neuropsicológica HP341 saúde

O SENTIMENTO DE PERTENÇA E A DIFERENCIAÇÃO DO SELF DO ADOLESCENTE RURAL NO PROCESSO MIGRATÓRIO

AS IMPLICAÇÕES SOBRE A CONDIÇÃO DE SER DO GÊNERO MASCULINO NO CURSO DE PEDAGOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E CURSO: MESTRADO PROGRAMA DE DISCIPLINA

TÍTULO: CARACTERIZAÇÃO DA REDE SOCIAL E COMPOSIÇÃO FAMILIAR DE BEBÊS DE ALTO RISCO NA APLICAÇÃO DE GENOGRAMA E ECOMAPA

O SABER PEDAGÓGICO E A INTERDISCIPLINARIDADE COMO PRÁTICA DE ENSINO APRENDIZAGEM 1

Bacharelado em Psicologia da Faculdade Sant ana, 3

TÍTULO: CONCEPÇÃO DE PRÉ-ADOLESCÊNCIA EM HENRI WALLON CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS SUBÁREA: PSICOLOGIA

PROPOSTAS DE ESTÁGIO - IA. ESTÁGIO OBRIGATÓRIO EM PSICOLOGIA E PROCESSOS ORGANIZACIONAIS IA Título: Psicologia e Processos Organizacionais

i dos pais O jovem adulto

A (DES)CONSTRUÇÃO DOS PROCESSOS IDENTIFICATÓRIOS: ADOLESCENTE EM SITUAÇÃO DE RUA

A IMPORTÂNCIA DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NA FASE DA ADOLESCÊNCIA ALEXANDRA SCHÜTZ

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. Carga horária total: 04 Semestre Letivo 1º/2012 Ementa

O PROCESSO DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL LUIZ CLÁUDIO MAGNANTE GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA. Orientadora: Pricila Rocha dos Santos

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. Carga horária total: 04 Semestre Letivo 2º/2012 Ementa

INCLUSÃO SOCIAL: COMPREENDENDO A TRANSEXUALIDADE NA INFÂNCIA ATRAVÉS DA PSICOLOGIA E DA PSICANÁLISE

EMENTAS DAS DISCIPLINAS

ASSISTÊNCIA DE EENFERMAGEM A FAMÍLIA DE UM PACIENTE VÍTIMA DE TRAUMA TÉRMICO: RELATO DE CASO

Anais V CIPSI - Congresso Internacional de Psicologia Psicologia: de onde viemos, para onde vamos? Universidade Estadual de Maringá ISSN X

CONSIDERAÇÕES SOBRE OS DESAFIOS DA EXPERIÊNCIA CLÍNICA NO ATENDIMENTO PSICOLÓGICO À POPULAÇÃO DE CLÍNICA - ESCOLA DE CURSO DE PSICOLOGIA

ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL

Assistência ao Adolescente com Ênfase em Saúde Sexual e Reprodutiva

CONTEÚDO, FORMA, DESTINATÁRIO: OS DESAFIOS DA DIDÁTICA NO CONTEXTO EDUCACIONAL

Ministério. ...Lembrai-vos do Senhor, grande e temível, e pelejai pelos vossos irmãos, vossos filhos, vossas filhas, vossa esposa e vossa casa.

Método Mãe Canguru: avaliação do ganho de peso dos recém-nascidos prematuros e ou de baixo peso nas unidades que prestam assistência ao neonato

Centro de Ciências Humanas e Letras/ Departamento de Psicologia - Probex. O processo de adoecimento não se restringe a determinações fisiológicas, ao

TÍTULO: AUTONOMIA X DEPENDÊNCIA: O CONFLITO EM JOVENS ADULTOS UNIVERSITÁRIOS

As Implicações do Co Leito entre Pais e Filhos para a Resolução do Complexo de Édipo. Sandra Freiberger

Projeto de estágio. Coordenação do projeto: Prof. Dr. Antonio Augusto Pinto Junior

Gestação na adolescência: qualidade do pré-natal e fatores sociais

Psicanálise em Psicóticos

CONCEPÇÕES SOBRE O PEDAGOGO NA FORMAÇÃO ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE A COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA

TÍTULO: A RELAÇÃO DOCENTE E DISCENTE: OBSERVAÇÕES E REFLEXÇÃO SOBRE DIFICULTADORES DAS PRÁTICAS DE ENSINO NO ÂMBITO DO PROJETO PIBID

O lugar do amor na transição da adolescência para a vida adulta 1 Michele Melo Reghelin 2009

Acompanhamento Psicoterapêutico

Programa Qualidade de Vida e Saúde do Trabalhador. Categoria: Gestão de Pessoas Subcategoria: Classe 1

FACULDADE CENTRO PAULISTANO PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO

Curso de Psicologia - Rol de Disciplinas Optativas. HP363 A Clínica da Psicanálise HP338 2

FORMAÇÃO DE VÍNCULO ENTRE PAIS E RECÉM-NASCIDO NA UNIDADE NEONATAL: O PAPEL DA EQUIPE DE SAÚDE

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC

A disciplina apresenta os aspectos conceituais do psicodiagnóstico clínico. Correlaciona conceitos teóricos e possibilidades técnicas.

Psicose e Desenvolvimento Humano 1

Programa da Formação em Psicoterapia

6 Referências bibliográficas

PALAVRAS-CHAVE: crescimento e desenvolvimento. pré-escolar. enfermagem.

O ENSINO DE BOTÂNICA COM O RECURSO DO JOGO: UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS.

3. DESCONSTRUINDO O NORMATIVO ATRAVÉS DAS MOCHILAS: EXISTEM OUTRAS POSSIBILIDADES DE SER?

Prof. Dra. Aline Henriques Reis

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS

3º encontro de Orientadoras de estudos. Considerações Sobre o Estudo do Espaço na Geometria: Uma Sequência Didática Julho 2014 Márcia Hauss

CONHECENDO SUA PROFISSÃO III

Transcrição:

26 a 29 de outubro de 2010 ISBN 978-85-61091-69-9 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE FEMININA NA ADOLESCÊNCIA: UM ENFOQUE NA RELAÇÃO MÃE E FILHA Camila Seron 1 ; Rute Grossi Milani 2 RESUMO: Este estudo tem por objetivo compreender o papel da relação mãe e filha no processo de construção da identidade feminina na adolescência. Participaram da pesquisa dez adolescentes do sexo feminino, com idade entre quatorze a dezoito anos, cursando o ensino médio ou o ensino superior, e residindo com suas mães. Foi utilizado um roteiro de perguntas semi-estruturado, aplicado através de entrevista. Na sistematização e análise dos dados foi utilizada a análise de conteúdo, e para a discussão adotou-se o referencial psicanalítico. Observou-se que a identificação entre elas é um aspecto facilitador para uma relação mais próxima, possibilitando uma maior compreensão dos papéis sociais e da própria feminilidade. Essa relação também contribui para levar a adolescente a refletir sobre que mulher deseja ser, representando um ponto de partida, pois onde irá chegar é uma construção pessoal. Conclui-se que quando a identificação ocorre com a figura da mãe amada e admirada torna-se mais evidente a expressão de características particulares de mãe para filha, o que denota a importância deste primeiro modelo de mulher para posteriormente alcançar uma identidade feminina própria. PALAVRAS-CHAVE: Adolescência; Identidade feminina; Relação materna. INTRODUÇÃO O adolescente está em vias de transformações, imerso em um processo de revisão de seu mundo interno e de suas heranças infantis, visando à adaptação ao novo corpo, às novas pulsões, decorrentes desta fase (Eizirik, 2001). Jordão (2008, p. 157), afirma que: A adolescência constitui-se em uma vivência fundamental na constituição identitária, permeada por mudanças, remodelamentos subjetivos, ressignificações de diversas ordens. O adolescente necessita reeditar sentimentos e vínculos primários em relação às figuras parentais, revisando assim, seus objetos internos e sua identidade. Os principais modelos para construção da identidade, segundo Erikson (1998), são os pais e, se esta identificação for positiva, o adolescente estará mais apto a enfrentar dificuldades. É importante ressaltar que a identidade é um processo dinâmico e articulado. Pois, segundo Stürmer (2009), a adolescência é caracterizada por alternâncias de movimentos progressivos e regressivos na busca da construção da identidade, a qual se apoia nas primeiras relações objetais internalizadas, nos vínculos e no suporte com a realidade externa, sustentada pelo ambiente familiar e social. 1 Acadêmica do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Maringá CESUMAR, Maringá PR. Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq-Cesumar). seron_camila@hotmail.com 2 Orientadora, Docente do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Maringá CESUMAR, Maringá PR. rute@cesumar.br

A nova identidade surge quando o adolescente é capaz de adaptar-se às mudanças e organizar sua identidade. Para (LEVY, 2006, apud STURMER, 2009, p. 66), o adolescente enfrenta uma etapa de reordenamento simbólico, uma vez que:. nessa fase o adolescente necessita realizar um desligamento do sistema de representações montados pelo self até então, e criar um novo sistema que dê conta do novo corpo, do self, dos objetos e do mundo. É a estranheza em relação a si mesmo e aos outros, gerada pelas modificações físicas da puberdade, que dispara esse processo de desconstrução e reconstrução do sistema de representações, que, por fim, leva a emergência de uma nova subjetividade. Na tentativa de aplacar as angústias decorrentes desse processo de perda das representações, o jovem tanto se recolherá para o mundo interno como transitará psiquicamente entre várias comunidades e objetos, para se apropriar de algum self. Tais manobras defensivas têm a função de criar um sentimento de estabilidade narcísica a partir do olhar do outro, que ajuda na reconstrução de uma nova imagem própria. Para Erikson (1998), a adolescência é o auge da crise (re) definidora da identidade, período quando acontecerá uma síntese que resultará no que chama de identidade do ego. A identidade, segundo Outeiral (2003), se organiza por identificações: inicialmente com a mãe, logo em seguida com o pai e depois com os outros elementos da família e pessoas da sociedade em geral. Na visão psicanalítica, é através do processo de trocas que acontecem nas primeiras relações entre mãe e bebê que vão se criando as condições para o desenvolvimento do aparelho psíquico e dos processos de identificação, que serão o alicerce para os processos psíquicos posteriores. A entrada na adolescência é o momento em que as identificações começam a se transformar em identidade (CAMPAGNA, 2005). A identificação é um processo psicológico pelo qual o sujeito assimila um aspecto, uma propriedade, um atributo do outro e se transforma, total ou parcialmente, segundo o modelo desse outro. Assim, o conceito de identidade é inseparável do conceito de identificação (LAPLANCHE, 2001, p.226). Para Grinberg e Grinberg (1998), a identidade é o resultado da integração de três aspectos: O vínculo de integração espacial compreende a relação entre as diferentes partes do self entre si, incluindo do self corporal, mantendo sua coesão e permitindo a comparação e contrastes com os objetos; tende para a diferenciação entre o self e o não self: individuação. Está relacionado com o esquema corporal e que faz se sentir único. O vínculo de integração temporal compreende as relações entre as diferentes representações do self ao longo do tempo, estabelecendo uma continuidade entre elas e fornecendo a base para o sentimento de autenticidade. Está relacionado, portanto, a integração das experiências passadas com as vivências do presente e com a capacidade de imaginar-se no futuro. O terceiro, o vínculo de integração social, refere-se à conotação social da identidade e consiste na relação entre aspectos do self e aspectos dos objetos, mediante os mecanismos de identificação projetiva e introjetiva. Este vínculo está ligado com os pais e com figuras significativas para o indivíduo. Assim, pode-se afirmar que tem identidade, um indivíduo, cujas partes componentes estejam satisfatoriamente integradas na organização de um todo, de maneira que produzam um efeito de unidade, e que, ainda, possua características únicas, singulares, que permitam distingui-lo de todos os outros. Enquanto o corpo e as expectativas sociais se modificam, a identidade feminina começa a se definir nesse período que chamamos de adolescência. Considerando a adolescência um período importante na construção da identidade feminina e o valor dado pela psicanálise à relação materna no desenvolvimento psíquico,

esta pesquisa busca contribuir para o entendimento das influências que esta relação pode representar para a jovem adolescente. Assim, nota-se a importância de compreender o processo de construção da identidade feminina na adolescência, enfocando como o relacionamento entre mãe e filha interfere nessa construção. Os dados coletados junto às adolescentes poderão contribuir para ampliar a percepção e o entendimento sobre o relacionamento entre mãe e filha e suas implicações na saúde psíquica da jovem que está se tornando mulher. MATERIAL E MÉTODOS Neste estudo foram entrevistadas dez adolescentes do sexo feminino, com idade entre quatorze a dezoito anos, solteiras, residindo com suas mães. Quanto à escolaridade, variou entre as que cursavam o ensino médio ou ensino superior. A adolescentes selecionadas foram do município de Marialva Paraná. As entrevistas foram realizadas na residência das adolescentes, porém em ambiente reservado, de modo a garantir o sigilo das informações. Para a coleta dos dados foi utilizando um roteiro de perguntas semi-estruturado, que foi aplicado através de entrevista. Os aspectos abordados nas entrevistas foram: caracterização, identidade feminina, percepção da figura materna e relacionamento com a mãe. Primeiramente foi agendado um encontro com a mãe de cada adolescente com a finalidade de apresentar os objetivos e procedimentos adotados na pesquisa, com compromisso de sigilo em relação aos dados individuais obtidos e com a garantia de liberdade aos participantes para desistirem do estudo a qualquer momento. Após o consentimento da mãe, foi apresentada uma autorização por escrito, Termo de Consentimento Livre Esclarecido, para a participação das adolescentes na pesquisa. Foi esclarecido ainda, que seria agendada uma devolutiva com a mãe e à adolescente sobre os resultados da pesquisa. Na sistematização e análise dos dados foi utilizada a análise de conteúdo, e para a discussão adotou-se o referencial psicanalítico. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados estão divididos seguindo o roteiro de perguntas semi-estruturado aplicado através da entrevista com as adolescentes. Como é ser adolescente do sexo feminino?, foi dividida em duas subcategorias: dificuldades e os aspectos positivos da fase. As dificuldades referem-se às mudanças hormonais, mudanças e novos cuidados com o corpo, mais exigências e responsabilidades, cobranças da sociedade e as diferentes formas de cuidados da mãe para com as filhas comparados de quando eram crianças, por exemplo, quando algumas adolescentes relataram sobre a proteção sentida de quando eram crianças, diferente de agora onde a mãe espera que a filha resolva situações difíceis sozinhas, e ainda quando a adolescente percebe que na adolescência a jovem começa a assumir um papel de mulher. Já quanto aos aspectos positivos algumas das adolescentes citam que ainda há pouca responsabilidade, ampliação dos contatos sociais, aquisição da independência e a participação em grupos. Quem são as mulheres importantes da sua vida?, apresenta três subcategorias: primeiramente a mãe, em segundo foi relatada a importância especialmente das avós materna e posteriormente das avós paternas, e por último, as irmãs, tias e Nossa Senhora. Foi possível compreender que mãe e filha compartilham de uma relação particular onde é atribuída a mãe uma condição privilegiada, quem me colocou no

mundo, me ensinou as coisas (sic), me baseio nela para ser mulher (sic), porque a vida dela é uma vida de renuncia pelas filhas (sic), meu primeiro contato, meu espelho, meu tudo (sic). Algumas adolescentes têm uma percepção positiva de suas mães, quando as mães se apresentam presentes na vida das filhas, pois são mães que buscam incluir-se na vida das adolescentes, participam, conversam, brincam, se preocupam, perguntam sobre os acontecimentos rotineiros, o que podem ser considerados aspetos favoráveis para uma relação mais próxima. E quando a relação é permeada por pouco contato físico e verbal, sem intimidade, falta de tempo entre mãe e filha, nota-se pouca aproximação, e assim considerados aspectos difíceis diante da percepção da mãe e pouca aproximação. Segundo os relatos das adolescentes estas valorizam a companhia, ajuda e a confiança na relação com a mãe. Na relação entre mãe e filha, a adolescente identifica-se com diversas características da mãe, e quando na relação notam-se limitações, pontos onde a adolescente discorda, demonstra assim as limitações existentes da relação o que pode fazer com que a filha busque outros referenciais para identificar-se com outras características e construir sua própria identidade. É com a figura da mãe que se inicia o processo de identificação, mas ao longo do desenvolvimento da adolescente irão sendo apresentados outros referenciais, como as avós e tias. A figura das avós foi percebida como mulheres onde as adolescentes buscam conforto, carinho e atenção, na ausência da mãe. A avó, principalmente a materna, pode ser considerada como uma extensão da própria mãe. As irmãs e tias são percebidas pelas adolescentes como mulheres amigas e companheiras. Por último, Nossa Senhora foi citada, o que pode estar representando para a jovem adolescente uma mãe ideal e a busca de uma identificação positiva, na tentativa de solução das angústias. Como é a história do relacionamento entre vocês, mãe e filha?, nota-se que compartilhar experiências marcantes, como por exemplo, a primeira menstruação, o primeiro beijo, o primeiro namorado, é o fator principal que permeia a história do relacionamento entre mãe e filha. A mãe é o referencial onde se pode relevar os segredos, compartilhar vivências, o que ajuda a filha adolescente a conhecer seus papéis sociais e a própria feminilidade, pois a mãe tem o papel de ser a mediadora entre a filha e os acontecimentos externos. Você se identifica com sua mãe? Em quais aspectos?, foi possível perceber a identificação das adolescentes com suas mães quando essas mantêm aspectos essenciais da relação. Quando a mãe é percebida como figura admirada nota-se assim um aspecto facilitador para uma identificação sadia e harmônica. É importante que a filha possa reconhecer elementos de identificação com a mãe, ser como ela em alguns aspectos, mas como ponto de partida e não de chegada. Qual era a sua percepção sobre sua mãe quando criança? E hoje, percebe alguma mudança?, é na adolescência que as jovens introduzem uma melhor percepção de si mesmas e podem também perceber o que as difere de suas mães, considerando o processo de construção da identidade na adolescência, a luta para estabelecer uma identidade pessoal. Pensando em você no futuro, adulta, que tipo de mulher gostaria de ser?, mãe e filha compartilham uma relação particular que influência na maneira da adolescente planejar o seu próprio futuro. É no relacionamento com a mãe que a filha pode identificar-se com os atributos femininos e moldar o que é ser mulher. CONCLUSÃO Por meio desta pesquisa foi possível compreender que a construção da identidade feminina na adolescência sobre influências da relação entre mãe e filha. A relação entre

mãe e filha pode ser entendida como ponto inicial para a construção da identidade feminina na adolescência, pois as jovens procuram na figura da mãe um modelo, mas com o passar do tempo conseguem se diferenciar da mãe, mas carregam consigo características essenciais vividas desta relação. Outro aspecto relevante levantado durante esta pesquisa é o fato de que as avós maternas são consideradas figuras significativas no desenvolvimento da identidade feminina das adolescentes, pois são percebidas como mulheres cuidadoras, acolhedoras e receptivas, podendo auxiliar as jovens adolescentes em sua relação com a feminilidade: como se comportar e se vestir. O pai também pode ser fonte de identificação para a adolescente, quando este se apresenta sensível às necessidades da filha, atento as mudanças enfrentadas na vida da filha adolescente diferente do lugar ocupado pela mãe em alguns momentos, devido ao trabalho por exemplo. Assim, considerando a importância da relação mãe e filha é comum as filhas seguirem o modelo da mãe, pois percebem no jeito de ser, nas atitudes e comportamentos da mãe, o que podem se identificar tornando uma relação mais próxima e favorável para o desenvolvimento da feminilidade na construção da identidade feminina. REFERÊNCIAS BASSOLS, Ana M. S.; KAPCZINSKI, Flávio; EIZIRIK, Claúdio L. O ciclo da vida humana: uma perspectiva psicodinâmica. Porto Alegre: Artmed, 2001. CAMPAGNA, Viviane N. A identidade feminina no início da adolescência. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005. CASTRO, Maria da Graça K; STURMER, Anie; ALBORNOZ, Ana Celina G.; [et al]. Crianças e adolescentes em psicoterapia: a abordagem psicanalítica. Porto Alegre: Artmed, 2009. ERIKSON, Erik H. O ciclo da vida completo. Porto Alegre: Artmed, 1998. GRINBERG, Léon; GRINBERG, Rebeca. Identidade e mudança. Lisboa: Climepsi, 1998. JORDÃO, Aline B. Vínculos familiares na adolescência: nuances e vicissitudes na clínica psicanalítica com adolescentes. Aletheia 21(1), p.157-172,jan/jun.2008. LAPLANCHE, Jean. Vocabulário da psicanálise. 4ª.Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.