Origem: PRT 2ª REGIÃO Órgão Oficiante: DR. ALLINE PEDROSA OISHI DELENA Interessado 1: MPT Interessado 2: G IONESCU ME (GABRIELA IONESCU/HOTEL NORMANDIE); ELETROX HOTÉIS LTDA (HOTEL NORMANDIE); SAX HOTÉIS LTDA EPP (HOTEL NORMANDIE) Assunto: TEMAS GERAIS 09.04. 09.06.02.01. 09.06.03.01. 09.06.03.03. 09.09.01. 09.09.04. 09.10 RECURSO. INTERESSE INDIVIDUAL. LEGITIMIDADE CONCORRENTE DO SINDICATO PARA ATUAR. Nega-se provimento a recurso administrativo e homologa-se a promoção de arquivamento objeto da irresignação quando a denúncia reporta fatos relativos a direito de caráter individual e patrimonial, cuja reparação dos danos eventualmente sofridos não se encontra dentre as hipóteses legais de intervenção qualificada do Ministério Público do Trabalho, o que, alternativamente, pode também ser buscado pelo sindicato representante da categoria a que pertence o trabalhador. I RELATÓRIO Trata-se de Recurso Administrativo (fls. 106-110) apresentado pelo SINTHORESP Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Apart Hoteis, Motéis, Flats, 1
Restaurantes, Bares, Lanchonetes e similares de São Paulo e Região, tendo em vista decisão proferida pelo Órgão oficiante no sentido de indeferir a instauração de inquérito civil, por não tratar de hipótese de atuação do Ministério Público do Trabalho, diante da inexistência de lesão a interesses metaindividuais (fls. 95-97). este Relator (fl. 119). Remetidos os autos à CCR, foram sorteados e distribuídos a É, em síntese, o relatório. II ADMISSIBILIDADE Conheço do presente recurso, haja vista observância do prazo previsto no artigo 10-A da Resolução CSMPT nº 69/2007, bem como pelo inconformismo da manifestação do recorrente, essencial ao recurso. III VOTO Não merece reforma a promoção de arquivamento ora combatida. A Notícia de Fato n. 002119.2013.02.000/9 foi instaurada a partir de relatórios de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego emitidos no ano de 2011, com lavratura do auto de infração (fls. 80-81) em razão de: 2
a empresa SAX HOTEIS LTDA EPP deixar de efetuar os depósitos do FTGS dos seus 16 empregados; deixar de efetuar o depósito de FGTS referente à rescisão do contato de trabalho (23 empregados); deixar de efetuar o pagamento das verbas rescisórias no prazo legal (23 empregados); deixar de conceder o intervalo para refeição e descanso de seus empregados; deixar de conceder descanso semanal remunerado; apresentar RAIS incompleta; - a empresa G IONESCU deixar de submeter à assistência da autoridade competente o pedido de demissão ou recibo de quitação de rescisão do contrato de trabalho firmado por empregado com mais de 1 ano de serviço (28 empregados); deixar de depositar na conta vinculada os depósitos do FGTS; deixar de efetuar o pagamento das parcelas da rescisão no prazo legal de 14 empregados; admitir ou manter empregado sem registro em CTPS; deixar de conceder intervalo para repouso ou alimentação de no mínimo 1 hora; prorrogar a jornada normal de trabalho além do limite de 2 horas diárias; apresentar a RAIS com inexatidões; - a empresa ELETROX HOTÉIS LTDA admitir ou manter empregados sem registro em CTPS (23 empregados); A Procuradora do Trabalho Alline Pedrosa Oishi Delena, em sede de apreciação prévia (fls. 95-97), determinou o arquivamento do procedimento quanto aos temas referentes ao FGTS, atraso no pagamento de rescisão, registro em CTPS, RAIS e homologação sindical do pedido de demissão. Por outro lado, entendeu pela continuação da investigação quanto aos temas excesso de jornada e ausência de intervalo intrajornada, em razão destes refletirem na higidez física e mental do trabalhador. O recurso apresentado pelo SINTHORESP, inserto às fls. 106/111, apresentou as seguintes razões: 3
[...] Considerando que os direitos trabalhistas são indisponíveis, à luz do princípio da irrenunciabilidade, e considerando que a conduta denunciada na exordial suprimiu direitos dos trabalhadores em questão, aplica-se ao caso vertente o artigo 127 da Constituição Federal, o qual impõe a atuação do Ministério Público do Trabalho independentemente de haver ou não sindicato representativo da categoria prejudicada. [...] Em despacho proferido à fl. 117, o Membro oficiante manteve o arquivamento anteriormente promovido, enfatizando que os fatos denunciados não possuem relevância social a ensejar a atuação Ministerial, bem assim que apresentam natureza meramente patrimonial, o que poderá encontrar guarida na atuação do ente sindical representativo da categoria profissional atingida. Dos elementos constantes dos autos, verifico que assiste razão ao douto Membro oficiante. Sem dúvida, a atuação do Ministério Público do Trabalho somente é autorizada quando se tratar da defesa de interesses individuais indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos ou coletivos, perante os órgãos da Justiça do Trabalho, nos moldes traçados na Lei Complementar nº 75/93 (artigos 6º, VII, d, e 83, III) e na Constituição Federal (artigo 129, III), o que não se verifica na hipótese vertente. E, ainda que se possa cogitar da presença de interesses individuais homogêneos, necessário que sejam dotados de indiscutível relevância social, o que não é o caso. 4
Os fatos denunciados apresentam suposta lesão a direito de caráter individual e patrimonial, não havendo elementos outros que indiquem amplitude suficiente a ensejar a intervenção qualificada do Parquet Laboral. Ademais, como bem ressaltou a Procuradora do Trabalho que oficiou neste procedimento, poderá o sindicato representante da categoria profissional atuar na defesa do denunciante, que possui legitimidade para intentar o remédio jurídico adequado visando a sua observância perante a Justiça do Trabalho, valendo-se da condição de substituto processual da categoria, a teor da previsão contida no inciso III do art. 8º da Constituição Federal, que assegura tal legitimidade de forma ampla e irrestrita, segundo já sedimentado na jurisprudência do Excelso Supremo Tribunal Federal. Aliás, nesse sentido também é firme a jurisprudência do Colendo Tribunal Superior do Trabalho, conforme decorre, a título de exemplo, do seguinte julgado: RECURSO DE EMBARGOS. SINDICATO - SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL - LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM - HORAS EXTRAS, HORAS IN ITINERE, INTERVALO INTRAJORNADA, ADICIONAL DE PERICULOSIDADE, DENTRE OUTRAS VERBAS. Esta Corte, por meio de sua SBDI1, tem afirmado que o sindicato possui ampla legitimidade para pleitear, em juízo, todos e quaisquer direitos dos integrantes da categoria que representa. Com ressalva de entendimento pessoal. Recurso de embargos conhecido e desprovido. (E-RR - 63200-33.2007.5.03.0064, Relator Ministro: Renato de Lacerda Paiva, Data de Julgamento: 21/06/2012, 5
Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: 29/06/2012) Logo, o não provimento do recurso é medida que se impõe. IV CONCLUSÃO Pelo exposto, recebo o presente recurso administrativo e negolhe provimento, homologando, por consequência, o arquivamento do feito. Brasília, 18 de março de 2014. OTAVIO BRITO LOPES Membro da CCR - Relator 6