1 Utilização de Característica Agronômica Como Critério de Controle das Doses de Nitrogênio e de Potássio Para a Adubação do Tomateiro. Paulo Cezar Rezende Fontes 1 ; Jamil Abdalla Fayad 2 ; Rodrigo Neves Graça 1. 1 UFV Depto. de Fitotecnia, 36571-000, Viçosa-MG, Bolsista do CNPq. E-mail: pacerefo@ufv.br 2 EPAGRI-Estação Experimental de Caçador, Caixa Postal 591, 89500-000 Caçador-SC RESUMO O objetivo do trabalho foi avaliar a relação entre o acúmulo de N e K na matéria seca e características agronômicas do tomateiro e propor um método para estimar as doses de N e K com base em uma característica do tomateiro, em condições de campo. O experimento foi delineado em blocos ao acaso com quatro repetições e 8 tratamentos durante o período de março a julho, durante 120 dias a partir do transplante (DAT). Cada tratamento correspondeu a uma época de amostragem, realizada a cada 15 DAT. As plantas amostradas foram cortadas no nível do solo, sendo determinadas área foliar, comprimento do caule e números de frutos, folhas e cachos; em seguida, a planta foi dividida em caule, folha, cacho e fruto que foram secados e pesados. Essas foram as características agronômicas. Foram determinados os teores e calculados os conteúdos de N e K na parte aérea da planta. Cada variável dependente foi relacionada com a quantidade acumulada de N ou de K; o número de frutos foi a característica mais fácil de determinar e propiciou alto e significativo coeficiente de correlação. Com base na taxa de acúmulo por fruto é proposto um modelo para estimar as doses de N e K para a adubação do tomateiro. Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, tomate, absorção, acúmulo, nutrição de planta. ABSTRACT Utilizing agronomic plant traits as a criterion to control nitrogen and potassium rates in tomato plants fertilization. This study aimed at evaluating the relationship between nitrogen and potassium uptake in the shoot and agronomic tomato plant traits and also present a method based upon one plant characteristic to estimate N and K rates to fertilize tomato plant at field conditions. The experiment was set as a randomized blocks with four replicates and eight treatments, from March to July, during 120 days after transplantation (DAT). Each treatment corresponded to one sampling date, accomplished every 15 DAT. The sampled plant was harvested and evaluated the leaf area, stem length, and leaf, cluster, and fruit numbers; following, plant was divided in stem, leaf, cluster, and fruit which were oven dried and weighted. All those were the agronomic traits. N and K contents in the plant were
2 determined. Each dependent variable was related to N or K accumulated in the plant shoot; fruit number was the easiest characteristic to measure and led to high and significant correlation coefficient. Based upon uptake rate per fruit it is proposed a model to estimate N and K rates to fertilize tomato plants. Keywords: Lycopersicon esculentum, tomato, absorption, uptake, plant-nutrition. INTRODUÇÃO Normalmente, a adubação do tomateiro é manejada empiricamente, sendo a experiência do produtor ou doses pré-fixadas de NK os critérios utilizados. Isso leva a baixa eficiência no uso do fertilizante além de aumentar o impacto negativo de excesso de sais no solo. Diversos modelos tem sido propostos para predizer a resposta das plantas à aplicação de nutrientes e para estabelecer o requerimento de fertilizantes, principalmente nitrogênio (Greenwood, 2001). Normalmente, os modelos necessitam de vários parâmetros fisiológicos e edáficos, nem sempre fáceis de serem obtidos. Recentemente, Fontes et al. (sd) propõe a utilização das taxas de absorção de N e K, derivadas das respectivas curvas de absorção, para estimarem as doses destes nutrientes para a fertirrigação do pimentão em ambiente protegido. Uma medida mais simples e rápida que a curva de absorção e os índices nutricionais do solo e da planta, talvez possa ser utilizada para manejar o programa de adubação do tomateiro. Recentemente, foi proposto que característica agronômica pode ser usada para estimar o estado nutricional nitrogenado da planta (Fontes, 2001; Ronchi et al., 2001). Em analogia, alguma característica agronômica, medida em tempo real, no próprio campo, pelo produtor, talvez possa ser usada como índice no manejo de N e K. Em condição favorável à adequada produtividade de frutos, deve haver relação ótima entre o acúmulo de N e de K na matéria seca da parte aérea com alguma característica da planta. Assim, o objetivo do trabalho foi avaliar a relação entre o acúmulo destes nutrientes e características agronômicas do tomateiro e propor um método para estimar as doses de N e K para a adubação do tomateiro com base em uma característica da planta. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado em condição de campo e conduzido de março a julho. Os detalhes experimentais estão em Fayad (1998). Em linhas gerais, o experimento foi delineado em blocos casualizados com quatro repetições e oito tratamentos. Cada tratamento correspondeu a uma época de amostragem, realizada em intervalos de quinze dias, a partir do transplante. O solo, de textura argilosa apresentava 151 mg dm -3 de K trocável, teor considerado muito bom (Fontes, 1999).
3 Utilizou-se a cultivar Santa Clara, no espaçamento de 1,0 m entre linhas e 0,5 m entre plantas. No sulco, antes do transplante das mudas, efetuou-se a adubação de plantio com 10 t ha -1 de cama de aviário e 1,1 kg ha -1 de boro, 20 kg ha -1 de magnésio, 80 kg ha -1 de N, 360 kg ha -1 de P2O5 e 50 kg ha -1 de K2O nas formas de bórax, sulfato de magnésio, uréia, superfosfato simples e cloreto de potássio. As aplicações de adubo em cobertura foram realizadas aos 15, 30 e 50 dias após o transplante, manualmente, ao longo das linhas de plantio, utilizando-se, em cada uma, 80 kg ha -1 de N e 50 kg ha -1 de K2O. As plantas foram conduzidas com dois caules e tutoradas com bambu, no sistema de cerca cruzada, e podadas após o sexto cacho. O método de irrigação foi por sulco. As plantas amostradas em cada época foram cortadas no nível do solo, sendo determinadas altura do maior caule e números de folha, fruto e cacho. Em seguida, foi determinada a área foliar (LA). Posteriormente, a planta foi dividida em caule, folha, cacho e fruto que foram secados e pesados. Essas foram chamadas de características agronômicas e passaram a ser consideradas variáveis independentes. Amostra de cada tecido seco foi moído e analisado quimicamente. Foram determinados os teores e calculados os conteúdos de N e K em cada órgão da planta e em cada época de amostragem. Para as determinações, as amostras secas e moídas de cada órgão da planta foram submetidas à digestão nitricoperclórica para a análise de K e à digestão sulfúrica para a análise de N. O N foi determinado pelo método de Nessler e o teor de K, por fotometria de chama. A partir dos valores das matérias secas das folhas, caules, cachos e frutos e dos respectivos teores de N e K foram calculados o conteúdo e a taxa de acúmulo diário de N e K na planta. Foi realizada análise de correlação linear entre as variáveis escolhendo-se a variável agronômica que propiciou o maior valor do coeficiente de correlação linear. Com essa variável foi ajustada equação de regressão relacionando-a com o acúmulo de N ou de K na parte aérea do tomateiro; o termo independente, se positivo, foi a quantidade a ser adicionada no momento do transplante. Cada equação foi derivada para estimativa da taxa de acúmulo de N ou de K por unidade da caraterística agronômica. Utilizando-se essa taxa foi obtida a dose estimada (DE) de N ou de K por unidade da variável agronômica. O valor de DE foi multiplicado pelo fator de acúmulo (FA) 1,55 ou 0,41, proporcionando a dose corrigida (DC) de N ou de K em cada aplicação. RESULTADOS E DISCUSSÃO Por ser mais fácil de ser quantificado e por apresentar valores do coeficiente de correlação significativos (Tabela 1), escolheu-se o número de frutos como índice para estimar a dose (DE) dos dois nutrientes na cultura do tomateiro. As doses de N e K foram
4 estimadas no aparecimento de cada quatro frutos. Pelo método proposto, as doses estimada (DE) e corrigida (DC) de N seriam 169 e 261 kg ha -1, respectivamente; as doses correspondentes de potássio seriam 296 e 123 kg ha -1, respectivamente (Tabela 2). A dose estimada (DE) foi modificada para dose corrigida (DC) buscando-se considerar a quantidade do nutriente contido nas raízes, a capacidade do solo de suprir o nutriente e as eficiências de absorção e de utilização do fertilizante pela planta. Para tal, foi usado o fator (FA). Em termos gerais, a produção e o teor de N nos frutos de tomate aumentam pela aplicação de N, ao contrário, a qualidade do fruto (ph, sólidos solúveis total, acidez titulável) é pouco influenciada (Ferreira, 2001). Normalmente, o N aumenta tanto o peso médio quanto o número de Frutos por planta (Ferreira, 2001). Há casos, pouco comuns, de ausência de resposta da adubação de tomate a adição de N em solo com elevado teor de N (Wien & Miniotti, 1987). No presente trabalho, é proposta uma medida simples, número de frutos, possível de ser usada por produtores para o controle da dose de N e K a ser usada na adubação do tomate irrigado por sulcos. Com a presente proposta espera-se solucionar, em parte, a dificuldade confrontada por técnicos de como calcular e distribuir as doses de N e K em cada aplicação para satisfazer o requerimento ótimo do tomateiro em todo o ciclo. Contudo, é sabido que diferentes ambiente, genótipo, teor no solo, manejo, adição de matéria orgânica, época de plantio, entre outros fatores afetam o valor das doses recomendadas sendo oportuno, à medida que conhecimentos são obtidos, estender aqueles efeitos no cálculo das doses corrigidas que foram 199 e 398 mg fruto -1 planta -1 para N e K, respectivamente. LITERATURA CITADA FAYAD, J.A. Absorção de nutrientes, crescimento e produção do tomateiro cultivado em condições de campo e de estufa. 1998. 81p. (Tese Mestrado em Fitotecnia), UFV, Viçosa. FERREIRA, M.M.M. Índices de nitrogênio para o diagnóstico do estado nutricional do tomateiro em presença e ausência de adubação orgânica. 2001. 145p. (Tese de Doutorado em Fitotecnia), UFV, Viçosa. FONTES, P.C.R. Sugestões de adubação para hortaliças. In: RIBEIRO, A.C.; GUIMARÃES, P.T.G.; ALVAREZ V.; V.H. Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais. 5 a Aproximação. 1999. p.171-174. FONTES, P.C.R. Diagnóstico do estado nutricional de plantas. Editora UFV. 2001. 122p. FONTES, P.C.R.; DIAS, E.N.; GRAÇA, R.N. Curvas de acúmulo de nutrientes e proposição de modelo para estimar a dose de nitrogênio e de potássio na fertirrigação do pimentão em estufa. Submetido a Horticultura Brasileira em 03/2004 (sd).
5 GREENWOOD, D.J. Modelling N-reponse of field vegetable crops under diverse conditions with N_ABLE: a review. Journal Plant Nutrition, v.24, n.11, p.1799-1815, 2001. RONCHI, C.P.; FONTES, P.C.R.; PEREIRA, P.R.G.; NUNES, J.C.S.; MARTINEZ, H.E.P. Índices de nitrogênio e de crescimento do tomateiro em solo e em solução nutritiva. Revista Ceres, v.48, n.278, p.469-484, 2001. WIEN, H.C.; MINOTTI, P.L. Growth, yield and nutrient uptake of transplanted freshmarket tomatoes as affected by plastic mulch and initial nitrogen rate. Journal of the American Society of Horticultural Science, v.112, p.759-763, 1987. Tabela 1. Valor do coeficiente de correlação linear (r) da relação entre característica agronômica e conteúdos de nitrogênio (N) e potássio (K) na matéria seca da parte aérea do tomateiro. UFV, Viçosa, 2004. Característica agronômica Conteúdo de nutriente N K ----------Valor de r--------- Matéria seca total da parte aérea 0,992** 0,993** Matéria seca de fruto 0,979** 0,984** Matéria seca de cacho 0,977** 0,976** Matéria seca de caule 0,967** 0,968** Número de frutos 0,966** 0,956** Comprimento do caule 0,948** 0,927** Número de cachos 0,833* 0,784* Área foliar NS NS Número de folhas NS NS Matéria seca de folha viva NS NS Matéria seca de folha morta NS NS * e ** significativos a 5 e 1 %, respectivamente. Tabela 2. Cronograma de aplicação de doses estimadas e corrigidas de nitrogênio e potássio estabelecido com base na taxa de aparecimento de cada oito frutos do tomateiro
estabelecido para a aplicação a cada quatro frutos. UFV, Viçosa, 2004. 6 Número de frutos Dose Estimada Corrigida 1 Nitrogênio Potássio Nitrogênio Potássio ----mg planta -1 ---- --------kg ha -1 -------- Plantio 2180 1857 56 13 8 1596 3184 41 22 16 1596 3184 41 22 24 1596 3184 41 22 32 1596 3184 41 22 40 1596 3184 41 22 Total 10160 17777 261 123 1 Assumindo 16.667 plantas ha -1 e fatores de correção para N e K iguais a 1,55 e 0,41, respectivamente.