São Paulo, 31 de agosto de 2012.



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Transcrição:

São Paulo, 31 de agosto de 2012. Discurso do Diretor de Assuntos Internacionais, Gestão de Risco Corporativo e Regulação Financeira do Banco Central, Luiz Awazu Pereira da Silva, no 22º Congresso APIMEC O Brasil no Longo Prazo: Elementos da Nossa Agenda Regulatória e Financeira 1

Boa tarde a todos, Em nome do Banco Central, parabenizo inicialmente a Apimec pela realização deste 22º Congresso, no qual discutimos alguns dos maiores desafios, especialmente de longo prazo, do nosso cenário econômico nacional e global. Vou falar de alguns elementos da nossa agenda regulatória e financeira mas antes fazer um breve retrospectiva. O Brasil está atravessando bem um clássico ciclo de negócios. Em 2008-2009, no momento mais grave da crise global, o Brasil, devido a seus fundamentos macro-financeiros sólidos, pôde usar e usou instrumentos anticíclicos e teve uma rápida recuperação, a qual produziu pressões de demanda. Estas foram endereçadas por um amplo leque de políticas restritivas para recolocar nossa inflação na meta e dar uma base sustentável ao nosso crescimento. Os riscos para a estabilidade do Sistema Financeiro Nacional foram detectados e tratados. Esse período de crise global foi e permanece complexo, com muita volatilidade: e naturalmente, houve excesso de exuberância, assim como de pessimismo em relação ao Brasil. A exuberância levou a um crescimento excessivo de certos segmentos do crédito, alimentado em parte por fluxos de capital que poderiam impactar a estabilidade do nosso sistema financeiro: isso foi solucionado rapidamente com incentivos, limites regulatórios e regras prudenciais. O pessimismo foi alimentado pelas incertezas ainda presentes no quadro externo que tendem naturalmente a reforçá-lo e influenciar a velocidade da nossa recuperação. Chegouse a falar de esgotamento do nosso modelo e questionar a capacidade do nosso crescimento limitado por excesso de endividamento das famílias. O Banco Central está permanentemente atento a sinais de risco sistêmico, mas é preciso sempre distinguir as tendências estruturais dos movimentos cíclicos e conjunturais. Por exemplo, o processo de aprofundamento financeiro que ocorreu em outros países, ainda está em curso no Brasil. O nosso crédito cresce rapidamente, mas ainda representa um percentual baixo em relação ao nosso PIB e em relação a outros países comparáveis. Tecnicamente falando, o nosso creditto-gdp gap ainda comporta espaço de crescimento com segurança. Era preciso, nesse contexto de risk-on e risk-off, rigor analítico para estar, por exemplo, atento aos problemas estruturais de sobre-endividamento dos países avançados. Não foi por sorte e muito menos por aposta que o Banco Central há exatamente um ano, usando seu julgamento e a sua autonomia operacional, foi capaz de recalibrar tempestivamente sua política de juros para uma deterioração previsível das condições macro-financeiras globais e implementar com sucesso um ciclo de afrouxamento das nossas condições monetárias. Com isso reduziu-se os riscos de uma deterioração, a nossa recuperação foi incentivada e está em curso, num contexto complicado mas bem mapeado, impulsionada por uma forte dinâmica da demanda interna, sustentada por emprego, renda e maior inclusão social, impulsionada pelo efeito cumulativo da redução de juros e spreads e reforçada por políticas de oferta de infraestrutura que vão aumentar nossa produtividade. E essa recuperação dá-se sem prejuízo da manutenção e fortalecimento de nossos fundamentos. Tivemos e temos espaço para utilizar políticas contra-cíclicas de demanda e as estamos reforçando com políticas de oferta. Essa combinação é comum a todas as experiências internacionais exitosas e a sua implementação coordenada garante a sustentabilidade do nosso crescimento e, no médio-longo prazo, o aumento da nossa produtividade. 2

O Brasil tem uma agenda ampla em implementação: estabilidade macroeconômica com inclusão social; solidez do sistema financeiro; aumento da produtividade e da qualidade do capital humano e da infraestrutura; e melhora do nosso arcabouço institucional regulatório. E temos instrumentos e instituições já exaustivamente testados com sucesso por crises no Brasil: colchões de liquidez apoiando nosso regime de câmbio flutuante, regras fiscais responsáveis institucionalizadas e um bem sucedido regime de metas para a inflação. A consolidação da estabilização macro-financeira, a ancoragem das expectativas e a boa gestão do ciclo de negócios permitem avançar com segurança na agenda de melhora da nossa infraestrutura e intermediação financeiras para (a) suprir as enormes necessidades e oportunidades de investimento (particularmente em infraestrutura), (b) elevar a poupança interna e (c) induzir a sua alocação eficiente em projetos de longo prazo de maturação; elementos esses fundamentais ao crescimento econômico. Os sucessos no curto prazo fornecem as bases para nossa agenda de médio e longo prazo. Do ponto de vista de nossa infraestrutura, temos um Sistema Financeiro Nacional que foi muito bem avaliado pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial, no chamado Financial Stability Assessment Program (o FSAP), e considerado como sólido, estável e com baixo nível de riscos. O nosso Sistema de Pagamentos (SBP) se adequa às melhores práticas internacionais e requer liquidação e registro de operações em contrapartes centrais; isso fornece aos reguladores e supervisores um amplo conjunto de informações (e.g., sobre créditos no SCR, derivativos etc.) que permite o monitoramento constante do SFN e de seus riscos. Nossas instituições encontram-se bem capitalizadas, permitindo que absorvamos choques extremos de atividade ou de falência de conglomerados econômicos mantendo a conformidade aos padrões internacionais de capital e liquidez. A supervisão do sistema financeiro, especialmente dos conglomerados bancários, foi avaliada como forte e sofisticada, tendo recebido a avaliação mais elevada entre os países do G-20 no que se refere à adequação às melhores práticas internacionais. Como exemplo, destaca-se o amplo poder conferido ao BC pela regulamentação em vigor para fazer alertas preventivos em caso de descumprimento de normas e exigir a correção imediata de problemas identificados pela supervisão, limitando-se o risco da deterioração da saúde financeira de uma instituição. Ademais, nossos diferentes órgãos reguladores atuam em regime de estreita cooperação. O Coremec (entidade que congrega as quatro agências de supervisão financeira, inclusive a CVM, aqui representada) é o centro de coordenação para tomada de medidas visando não só a estabilidade financeira como também o aumento da eficiência e a proteção dos investidores. Do ponto de vista da intermediação financeira, estamos progredindo no processo de alongamento e desindexação. É um processo gradual e que deve ser conduzido de maneira coordenada e programada. A experiência internacional demonstra que esse movimento decorre e é parte inerente dos processos exitosos de estabilização, tendendo a caminhar pari passu com a sua consolidação. Com essa consolidação, ocorre a tendência de redução dos juros básicos, dos prêmios de risco e de melhor ancoragem das expectativas de inflação, movimentos que estão em curso no Brasil. Naturalmente, a queda tendencial do juro real neutro não elimina a necessidade de gerenciamento dos ciclos de negócios. Mas estamos observando no Brasil as mesmas características que antecederam e acompanharam o processo de alongamento de ativos financeiros e desindexação que ocorreu em outras economias. A combinação no curto prazo do trinômio rentabilidade-liquidez-segurança começa a deslocar-se. A percepção 3

de oportunidades de melhor rentabilidade, boa liquidez e igual segurança move-se gradualmente para prazos mais longos e os agentes econômicos procedem a uma readequação das suas expectativas de remuneração, facilitando a colocação de papéis prefixados de mais longo prazo. Esse processo tende já de si a provocar o desejado alongamento dos prazos (e da duration) no mercado financeiro. Mas ele pode ser incentivado. Na mesma direção, o Tesouro Nacional vem reduzindo gradativamente o percentual indexado ao juro de curto prazo da dívida pública e ampliando o seu prazo. A melhora do perfil da dívida pública é o reflexo mais evidente de que iniciamos um novo estágio do processo de alongamento e desindexação, com a redução de risco sistêmico, materializado também nas reavaliações positivas do nosso risco soberano. Não obstante os avanços produzidos até aqui, o aprofundamento do processo de desenvolvimento financeiro no Brasil, notadamente do nosso mercado de capitais e do financiamento a projetos de longo prazo, segue representando um desafio de monta. O número de firmas com acesso ao mercado tanto de bolsa quanto de títulos é ainda pequeno, havendo grande dependência do crédito bancário. A estrutura de captação dos agentes econômicos privados segue sendo de curto prazo ou, quando mais longa, indexada a taxas de curtíssimo prazo. Mas na ponta dos provedores de recursos para o mercado de capitais, os investidores institucionais poderão e deverão contribuir para aumentar a liquidez do mercado. Para acelerar essa trajetória, diversas ações vêm sendo realizadas, tendo como contexto uma queda tendencial dos juros nominais, assim como a eliminação de assimetrias e o oferecimento de incentivos que permitam uma maior assunção de risco pelos agentes econômicos. Por exemplo, a recente alteração da estrutura de remuneração dos depósitos de poupança, ao relacionar a remuneração da modalidade a percentual da taxa básica de juros, eliminou potencial entrave à continuidade da trajetória declinante das taxas de mercado. A propósito, com a redução paulatina das taxas de juros e incorporação de grandes segmentos da população à classe média, o funding tradicional para o crédito imobiliário não deve crescer a velocidade suficiente para atender ao crescimento da demanda de financiamentos imobiliários, o que nos impulsiona em direção à busca de fontes alternativas, como a securitização de ativos. Assim, tornam-se mais relevantes ainda iniciativas como a criação dos Certificados de Recebíveis Imobiliários os CRIs e os Fundos de Recebíveis FDIC. No que se refere à redução de assimetrias e oferecimento de incentivos, destaco a criação das Letras Financeiras, que procurou suprir a carência das instituições financeiras por instrumento padronizado de captação de longo prazo, diante da ineficácia dos depósitos a prazo para atender essa necessidade. Uma característica distintiva das LFs é a não incidência de recolhimento compulsório, reduzindo o custo de captação e permitindo o oferecimento de taxas mais atrativas e adequadas ao seu prazo mínimo de resgate de 24 meses. Recentemente o Conselho Monetário incentivou de forma mais incisiva esse alongamento, ao permitir, entre outras inovações, que LFs com prazos superiores a 48 meses pudessem incorporar cláusula de recompra que pode ser exercida a cada 6 meses. No campo tributário, destaco a iniciativa de isenção de imposto de renda a pessoas naturais na aplicação em debêntures de sociedades de propósito específico voltadas para o financiamento de infraestrutura, assim como de investidores estrangeiros na aplicação em títulos destinados ao financiamento de investimentos. 4

Sras. e Srs., A consolidação da estabilidade macro-financeira e a gestão do ciclo econômico não esgotam as tarefas do policy-maker. Temos desafios, no âmbito regulatório financeiro cuja resolução representa um win-win para clientes, operadores e firmas do sistema financeiro nacional. E nós os estamos enfrentando respaldados pelas bases sólidas de nossos fundamentos. Do ponto de vista regulamentar, o Banco Central segue, em sintonia com as outras agências reguladoras, em sua missão de buscar um sistema financeiro sólido e eficiente, atuando para desenvolver mercados, ampliar a concorrência, reduzir assimetrias de informação e aprofundar a inclusão financeira. Estamos certos de que assim damos contribuição fundamental ao processo de consolidação da estabilidade econômica, oferecendo previsibilidade, segurança, alternativas e conhecimento para que os agentes econômicos tomem as melhores decisões de investimento e poupança necessárias ao processo de desenvolvimento com justiça social. Muito obrigado. 5