PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2009 Estabelece que imóvel localizado em terreno de marinha não está sujeito a foro ou taxa de ocupação, no caso em que especifica. O CONGRESSO NACIONAL decreta: Art. 1º O imóvel localizado em terreno de marinha, assim definido pelo Decreto-Lei nº 9.760, de 5 de setembro de 1946, não se sujeita a foro ou taxa de ocupação, desde que obedecidos os requisitos definidos nesta Lei. Art. 2º A obtenção do direito à não-sujeição ao pagamento de foro ou taxa de ocupação a que se refere o art. 1º depende de: a) o foreiro ou o ocupante estar no imóvel há cinco anos ou mais, contados da data de apresentação do requerimento previsto na alínea e; b) sobre o imóvel aforado ou ocupado incidir o imposto previsto no inciso I do art. 156 da Constituição da República; c) inexistir débito vencido de taxas de ocupação, foros ou laudêmios anteriores relativos ao imóvel; d) inexistir débito vencido referente a tributo incidente sobre o imóvel; e) requerimento apresentado pelo foreiro ou ocupante do imóvel ao órgão do Poder Executivo incumbido de 1
administrar o patrimônio imobiliário da União; f) ato do órgão do Poder Executivo incumbido de administrar o patrimônio imobiliário da União que reconheça o cumprimento das exigências previstas nesta Lei. Art. 3º O direito à não-sujeição ao pagamento à União de foro ou taxa de ocupação será efetivo a partir da data da apresentação do requerimento a que se refere a alínea e do art. 2º ou da data em que esta Lei começar a produzir efeitos, o que for posterior. Parágrafo único. No caso de aditamento ao requerimento ou de apresentação de documentos adicionais, considerar-se-á como data de apresentação a data da protocolização do último documento anterior ao ato que reconhecer o direito referido no caput. Art. 4º O Poder Executivo, com vistas ao cumprimento do disposto nos arts. 5º, II, 12 e 14 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, estimará o montante da renúncia fiscal decorrente do disposto nesta Lei e o incluirá no demonstrativo a que se refere o 6º do art. 165 da Constituição, que acompanhará o projeto de lei orçamentária, cuja apresentação se der após decorridos sessenta dias da publicação desta Lei. Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Parágrafo único. Esta Lei somente produzirá efeitos a partir do primeiro dia do exercício financeiro subseqüente ao cumprimento do estabelecido no art. 4º. JUSTIFICAÇÃO Os terrenos de marinha e seus acrescidos são bens imóveis de domínio da União, definidos nos arts. 2º e 3º do Decreto-Lei nº 9.760, de 5 2
de setembro de 1946. Os terrenos de marinha e seus acrescidos situados na faixa de segurança, a partir da orla marítima, sujeitam-se, obrigatoriamente, ao instituto da enfiteuse, por determinação contida no 3º do art. 49 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. O foro é cobrado dos foreiros, ou enfiteutas, de terrenos da União e está previsto no caput do art. 101 do Decreto-Lei nº 9.760, de 5 de setembro de 1946, que dispõe sobre os bens imóveis da União e dá outras providências, verbis: Art. 101. Os terrenos aforados pela União ficam sujeitos ao foro de seis décimos por cento do valor do respectivo domínio pleno, que será anualmente atualizado. O mesmo diploma legal, mediante o caput do art. 127 impõe o pagamento da taxa de ocupação para os ocupantes dos imóveis da União, verbis: Art. 127. Os atuais ocupantes de terrenos da União, sem título outorgado por esta, ficam obrigados ao pagamento anual da taxa de ocupação. No caso do foreiro, mediante o instituto da enfiteuse, a União, proprietária do terreno, atribui a terceiro, de forma gratuita ou onerosa, mediante um contrato bilateral, o respectivo domínio útil, perdendo, pois, o domínio pleno e passando a ser apenas detentora do domínio direto sobre ele. Em decorrência desse ajuste contratual, o retorno pecuniário que a União tem é irrisório e nada representa de significante para o Erário. Mas, com relação aos foreiros, o laudêmio pagamento devido ao senhorio direto (a União), quando da alienação de propriedade imobiliária usufruída em regime de enfiteuse, pode ter peso efetivo em suas finanças, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas. A União não tem condições e interesse para fiscalizar e disciplinar a correta utilização dessas áreas, tarefa que, na prática, acaba sendo dos municípios, os quais, como é lógico, tributam os foreiros com o imposto predial e territorial urbano (IPTU), mas têm dificuldade de atender 3
as reivindicações de melhorias por parte do poder público municipal em razão de ser a União detentora do domínio direto desses imóveis. Tais terrenos da União integram, em geral, áreas urbanas, sobre as quais incidem as normas do Plano Diretor, no que se refere a zoneamentos e edificações. Dada ainda a sua condição urbana, cabe ao município não apenas dotá-las de infraestrutura, mas também mantê-las limpas e conservadas. Contudo, se forem áreas ainda não edificadas, por pertencerem à União, o município não pode lançar sobre elas qualquer tributo, mercê da imunidade tributária recíproca consagrada na Constituição Federal (art. 150, VI, a). E mesmo quando existam edificações, a base tributável deve sempre excluir o valor correspondente ao domínio direto da União, incidindo apenas sobre o domínio útil de que é titular o enfiteuta ou foreiro. Em resumo, no que se refere ao município, a permanência dessas áreas na propriedade da União só acarreta ônus e prejuízos, com reduzida contrapartida em termos de arrecadação tributária. É bem verdade, contudo, que a cobrança de foro e taxa de ocupação não se reveste da natureza jurídica de tributo, passando ao largo da definição do art. 3 do Código Tributário Nacional, a saber: tributo é toda prestação pecuniária compulsória em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Isso significa que não há se cogitar da incidência da imunidade tributária estabelecida no art. 150, VI, b, da Constituição em casos tais. Destarte, o foro não é caracterizado como tributo porque não surge de forma impositiva, nem tampouco está ligado a uma atividade pública plenamente vinculada. Consiste o aforamento em uma espécie de contrato que depende da livre manifestação de vontade do postulante do título de aforamento interessado em ingressar no uso e gozo de determinado patrimônio da União, sendo necessária a anuência da Administração, que, por intermédio da Secretaria de Patrimônio da União (SPU), emitirá o ato administrativo concessivo de foro, emprazamento ou enfiteuse. Semelhante argumento aplica-se à taxa de ocupação. 4
Em outras palavras, embora não possam ser considerados tributos na acepção jurídica do termo, o foro e a taxa de ocupação têm gerado tantas ou mais aflições aos cidadãos do que comumente o fazem as espécies tributárias, já que, para estas, o legislador constituinte assegurou um rol de princípios e direitos fundamentais em favor do contribuinte. Só para exemplificar, tem-se que um tributo não pode ser cobrado no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que o instituiu ou aumentou, por força do chamado princípio da anterioridade (art. 150, III, b, CF); ao passo que os valores exigidos como foro e taxa de ocupação não encontram limitações desta ordem, podendo ser reajustados e cobrados no mesmo exercício financeiro. Em suma: os foreiros e ocupantes estão mais vulneráveis ao poder arrecadatório do Estado, vez que despidos de garantias constitucionais próprias do direito tributário, construídas ao longo da afirmação histórica dos direitos humanos. O nosso projeto objetiva, assim, suprimir o pagamento do foro ou da taxa de ocupação relativo ao imóvel da União aforado ou legalmente ocupado, quando sobre ele recair a cobrança do IPTU. Desse modo, serão beneficiados todos os foreiros e ocupantes de imóveis urbanos da União. Convicto da justiça e do acerto da proposição que ora apresento, peço o apoio dos nobres Senadores para sua aprovação. Sala das Sessões, Senador ROBERTO CAVALCANTI 5