RELATÓRIO. O Sr. Des. Fed. FRANCISCO WILDO (Relator):

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Transcrição:

PROCESSO Nº: 0801938-93.2013.4.05.8300 - APELAÇÃO APELANTE: REFRESCOS GUARARAPES LTDA ADVOGADO: BRUNO DE ALBUQUERQUE BAPTISTA APELADO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (e outro) ADVOGADO: ANDRÉA MARIA CAVALCANTI MARTINS RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL FRANCISCO WILDO LACERDA DANTAS - 1º TURMA RELATÓRIO O Sr. Des. Fed. FRANCISCO WILDO (Relator): A PARTE AUTORA busca, com a presente demanda, que o INSS modifique o benefício de auxílio-doença acidentário concedido à segunda ré em 18.01.2013, transformando-o em auxíliodoença comum, desde a data de sua concessão, ante o entendimento de que a doença de que é portadora a litisconsorte Jailma Alves não tem nexo de causalidade com as atividades laborais desenvolvidas por ela na empresa autora, bem como, ao ter seu contrato laboral rescindindo a mesma encontrava-se em perfeitas condições de saúde, sendo certo que, para a concessão de auxílio-doença acidentário é necessário que a enfermidade incapacitante tenha decorrido diretamente do trabalho. A sentença entendeu que existe nexo de causalidade entre a enfermidade incapacitante de que é portadora a segunda ré, e o exercício de suas atividades laborais junto à empresa autora, concluindo por julgar improcedente a pretensão autoral. As razões recursais, por sua vez, pugna pela reforma da sentença aduzindo que não restou demonstrado nos autos a ocorrência de acidente de trabalho, razão porque se faz necessária a transformação do auxílio doença acidentário, concedido à litisconsorte passiva, em auxílio doença comum. Aponta que durante todo o contrato de trabalho (de 03.06.1991 a 02.01.2013) a funcionária jamais se afastou da empresa por motivo de doença por motivo superior a 15 dias, não tendo havido sequer consulta ambulatorial na empresa nos meses que antecederam a sua demissão, tendo, inclusive, seu exame médico demissional constatado sua boa aptidão física e mental, além de riscos ocupacionais específicos. Reforça, também, que a segunda ré somente requereu o benefício de auxílio doença mais de 15 dias após a sua demissão, levando à conclusão que a referida somente veio a ser acometida pela patologia depois de deixar a empresa, o que reforça a ausência de nexo causal entre a sua enfermidade e o trabalho anteriormente exercido na autora. Sem contrarrazões. Éo relatório. PROCESSO Nº: 0801938-93.2013.4.05.8300 - APELAÇÃO APELANTE: REFRESCOS GUARARAPES LTDA ADVOGADO: BRUNO DE ALBUQUERQUE BAPTISTA APELADO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (e outro) ADVOGADO: ANDRÉA MARIA CAVALCANTI MARTINS

RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL FRANCISCO WILDO LACERDA DANTAS - 1º TURMA VOTO O Sr. Des. Fed. FRANCISCO WILDO (Relator): A PARTE AUTORA busca, com a presente demanda, que o INSS modifique o benefício de auxílio-doença acidentário concedido à segunda ré em 18.01.2013, transformando-o em auxíliodoença comum, desde a data de sua concessão, ante o entendimento de que a doença de que é portadora a litisconsorte Jailma Alves não tem nexo de causalidade com as atividades laborais desenvolvidas por ela na empresa autora, bem como, ao ter seu contrato laboral rescindindo a mesma encontrava-se em perfeitas condições de saúde, sendo certo que, para a concessão de auxílio-doença acidentário é necessário que a enfermidade incapacitante tenha decorrido diretamente do trabalho, o que não é o caso dos autos. Em consequência, pleiteia que seja o INSS condenado na obrigação de fazer, consistente na transformação do benefício de auxílio-doença acidentário (espécie B91) em auxílio-doença comum (espécie B31), a contar de 18.01.2013. Do exame das provas produzidas na presente demanda, entendo que nenhum reparo merece o decisum impugnado, tendo em vista que minha compreensão sobre a matéria guarda estreita consonância com aquela esposada pelo Juízo de Primeiro Grau, motivo pelo qual adoto, como razões de decidir, os termos da r. sentença (doc. nº 4058300.852518): "Objetivando uma melhor compreensão da questão posta à análise nos autos, oportuno ressaltar, de logo, que os artigos 19 a 21 da Lei 8.213/91 conceituam e qualificam o acidente do trabalho nos seguintes termos, verbis: 'Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. 1º A empresa é responsável pela adoção e uso das medidas coletivas e individuais de proteção e segurança da saúde do trabalhador. 2º Constitui contravenção penal, punível com multa, deixar a empresa de cumprir as normas de segurança e higiene do trabalho. 3º É dever da empresa prestar informações pormenorizadas sobre os riscos da operação a executar e do produto a manipular.

4º O Ministério do Trabalho e da Previdência Social fiscalizará e os sindicatos e entidades representativas de classe acompanharão o fiel cumprimento do disposto nos parágrafos anteriores, conforme dispuser o Regulamento.' Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas: I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social; II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I. 1º Não são consideradas como doença do trabalho: a) a doença degenerativa; b) a inerente a grupo etário; c) a que não produza incapacidade laborativa; d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho. 2º Em caso excepcional, constatando-se que a doença não incluída na relação prevista nos incisos I e II deste artigo resultou das condições especiais em que o trabalho é executado e com ele se relaciona diretamente, a Previdência Social deve considerá-la acidente do trabalho. Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei: I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação; II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em consequência de: a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho; b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao trabalho; c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho; d) ato de pessoa privada do uso da razão; e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior; III - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade; IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho:

a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa; b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito; c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão de obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado; d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado. 1º Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado é considerado no exercício do trabalho. 2º Não é considerada agravação ou complicação de acidente do trabalho a lesão que, resultante de acidente de outra origem, se associe ou se superponha às consequências do anterior.' A diferença básica entre os benefícios, portanto, consiste na verificação do nexo de causalidade entre a enfermidade apresentada pelo trabalhador e a atividade desenvolvida. Assim, no intuito de perquirir a correção da concessão do auxílio acidentário pela autarquia previdenciária, passo a considerar a totalidade das provas produzidas ao longo da marcha processual, sendo certo que, nos termos do art. 131 do Código de Ritos, o juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias dos autos. Nesse contexto, observo, inicialmente, pela ficha de registro de empregados acostada pela parte autora (Num. 151219), que a ré foi admitida em 03/06/1991 e demitida em 02/01/2013, período no qual exerceu as funções de auxiliar administrativo, assistente de produção, secretaria, analista de produção, analista de processo e analista de projetos. Já supostamente enferma, após a rescisão do contrato de trabalho, a segunda ré apresentou Comunicação de Acidente de Trabalho - CAT emitida pelo sindicato, donde se extrai que se encontrava acometida de tendinopatia de ombros e cotovelo (Num. 222590), e requereu em 18/01/2013 a concessão de benefício previdenciário. Submetida a perícia médica junto ao INSS em 20/02/2013, atestou-se a sua incapacidade, pela constatação de espondilite lateral à direita (cotovelo de tenista), CID10 M771, e o nexo entre a doença e o trabalho desempenhado, motivo porque concedido o auxílio combatido, NB n.º 600.351.242-7. Atrelado à moléstia supra narrada, verifica-se pela documentação carreada aos autos que a litisconsorte passiva apresentava, ainda, as seguintes enfermidades: cervicalgia, dorsalgia muscular, tendinite e síndrome do túnel do carpo. Como forma de valer-se da garantia do emprego estabelecida pelo art. 118 da Lei 8.213/91, a parte ré ajuizou Ação Trabalhista, tombada sob o n.º 0000328-2013.5.06.0144, onde foi submetida a novo exame pericial. Naquela oportunidade, concluiu o experto (Num. 310095): 'A pericianda é portadora de cervicalgia e Dorsalgia muscular, Tendinite do supraespinhoso e longo bíceps no ombro direito; Epicondilite medial no cotovelo direito e Seqüela de cirurgia para correção de Síndrome do Túnel do Carpo.

Há nexo de causalidade com o trabalho que exercia na empresa reclamada com a cervicalgia e dorsalgia muscular e a epicondilite medial direita por permanecer durante longos períodos digitando em posição de flexão da região cervical e a utilização dos músculos e tendões flexores do antebraço direito. Há causalidade entre a atividade laboral e a Síndrome do túnel do carpo, como já fundamentado. Não foi estabelecido nexo de causalidade ou concausalidade com as patologias do ombro direito. No caso em tela, há uma perda funcional correspondente a 50% da mobilidade do ombro, ou seja, uma repercussão de 12,5% na capacidade anatômica/funcional da pericianda. Há incapacidade parcial e temporária. A limitação do movimento do punho direito são devidos à cirurgia realizada recentemente neste segmento.' Por outro lado, nos presentes autos foi igualmente determinada a realização de perícia médica. Contudo, de forma diversa ao anteriormente transcrito, o experto nomeado pelo Juízo concluiu que as enfermidades da parte ré não são ocupacionais. Para tanto, fundamentou que o quadro clínico revelado pelo exame físico e exames complementares dá a devida idéia de que trata-se de doença de caráter generalizado, agravado pelo transtorno emocional (Num. 647607 pág. 3). Em esclarecimentos adicionais, corroborou a tese de que, tendo a ré apresentado doenças de forma generalizada, seja queixas dorsais, seja no ombro, seja nos cotovelos, seja nos punhos, restaria descaracterizada a hipótese de doença provocada pelas ações restritas no ambiente de trabalho (Num. 784634). Ocorre que, distintamente ao fundamento do perito do Juízo, não se faz necessário, para caracterização da doença do trabalho, que todas as mazelas do empregado tenham nexo de causalidade com a atividade desempenhada, bastando que alguma delas tenha sido adquirida ou desencadeada pela relação direta com as condições especiais em que o trabalho é realizado, nos termos do inciso II, do art. 20, da Lei 8.213/91. Assim, entendo que a forma como foi conduzida a prova pelo experto do Juízo não se revela a mais adequada ao caso, diferente do ocorrido com a perícia realizada no INSS e na Ação Trabalhista alhures narrada, onde houve o destrinchamento das enfermidades e a análise individualizada do nexo de causalidade com o trabalho desempenhado pela ré. Corroborando ainda aquela referida conclusão, observo que a médica coordenadora do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO da empresa autora, ao interpor recurso junto ao INSS objetivando a modificação do benefício, descreveu o histórico de saúde funcional da ré, donde se extrai que esta apresentou quadro de tendinite em ombro e no antebraço direito ano de 2004, sendo encaminhada à função compatível, realizando tratamento fisioterápico no ano de 2005, com atestado de Epicondilite no cotovelo direito em 2010 (Num. 151219, pág. 5 e 6). Dessa cronologia, percebo que a parte autora tinha conhecimento do quadro clínico da funcionária, inclusive da Epicondilite no cotovelo direito, desde o ano de 2010, enfermidade atestada pelo INSS em 2013 como causa para concessão do auxílio-doença acidentário, situação reafirmada na Ação Trabalhista. Por tudo, não estando o juiz adstrito às conclusões do laudo pericial, afasto a prova pericial produzida nos autos e considero correta a concessão em favor da segunda ré do auxílio acidentário NB n.º 600.351.242-7, por entender existente o nexo de causalidade entre a enfermidade incapacitante e o exercício da atividade laboral.

Por tais razões, tenho que desnecessária a realização da audiência pleiteada pela demandada. À luz dessas considerações, julgo improcedente o pedido e extingo o processo com resolução do mérito, nos termos do art. 269, I, do CPC. Custas na forma da lei. Condeno a parte autora ao pagamento de honorários sucumbenciais, que arbitro em R$ 2.000,00 (dois mil reais), com supedâneo no artigo 20, 4º, do Código de Processo Civil, a ser rateado igualmente entre as rés." (grifos nossos) Ressalto, outrossim, que o Supremo Tribunal Federal já firmou entendimento no sentido de que a motivação referenciada (per relationem) não constitui negativa de prestação jurisdicional, tendose, pois, por cumprida a exigência de fundamentação das decisões judiciais. Nesse sentido: "DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DIREITO CIVIL. VEICULAÇÃO DE IMAGEM SEM AUTORIZAÇÃO. DANOS MORAIS. INDENIZAÇÃO. SUPOSTA AFRONTA AOS ARTS. 5º, IV, IX E XIV, 93, IX, E 220 DA CARTA MAIOR. MOTIVAÇÃO REFERENCIADA (PER RELATIONEM). AUSÊNCIA DE NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. ACÓRDÃO REGIONAL EM QUE ADOTADOS E TRANSCRITOS OS FUNDAMENTOS DA SENTENÇA LASTREADA NO CONJUNTO PROBATÓRIO. SÚMULA 279/STF. INTERPRETAÇÃO DE NORMAS DE ÂMBITO INFRACONSTITUCIONAL. EVENTUAL VIOLAÇÃO REFLEXA NÃO VIABILIZA O MANEJO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO. Consoante pacificada jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal, tem-se por cumprida a exigência constitucional da fundamentação das decisões mesmo na hipótese de o Poder Judiciário lançar mão da motivação referenciada (per relationem). Precedentes. (...) (AI 855829 AgR, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, j. em 20/11/2012, DJe-241 DIVULG 07-12-2012 PUBLIC 10-12-2012)" Acrescente-se, ainda, que o Anexo da Instrução Normativa INSS nº 98, de 05.12.2003, que trata da atualização clínica das Lesões por Esforços Repetitivos (LER) Disturbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), traz o seguinte conceito: "Entende-se LER/DORT como uma síndrome relacionada ao trabalho, caracterizada pela ocorrência de vários sintomas concomitantes ou não, tais como: dor, parestesia, sensação de peso, fadiga, de aparecimento insidioso, geralmente nos membros superiores, mas podendo acometer membros inferiores. Entidades neuro-ortopédicas definidas como tenossinovites, sinovites, compressões de nervos periféricos, síndromes miofaciais, que podem ser identificadas ou não. Freqüentemente são causa de incapacidade laboral temporária ou permanente. São resultado da combinação da sobrecarga das estruturas anatômicas do sistema osteomuscular com a falta de tempo para sua recuperação. A sobrecarga pode ocorrer seja pela utilização excessiva de determinados grupos musculares em movimentos repetitivos com ou sem exigência de esforço localizado, seja pela permanência de segmentos do corpo em determinadas posições por tempo prolongado, particularmente quando essas posições exigem esforço ou resistência das estruturas músculo-esqueléticas contra a gravidade. A necessidade de concentração e atenção do trabalhador para realizar suas atividades e a tensão imposta pela organização do trabalho, são fatores que interferem de forma significativa para a ocorrência das LER/DORT.

O Ministério da Previdência Social e o Ministério da Saúde, respectivamente, por meio do Decreto nº 3.048/99, anexo II e da Portaria nº 1.339/99, organizaram uma lista extensa, porém exemplificativa, de doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo relacionadas ao trabalho." Quanto aos Fatores de Risco e Diagnóstico, a referida norma assim esclarece: "4. FATORES DE RISCO O desenvolvimento das LER/DORT é multicausal, sendo importante analisar os fatores de risco envolvidos direta ou indiretamente. A expressão "fator de risco" designa, de maneira geral, os fatores do trabalho relacionados com as LER/DORT. Os fatores foram estabelecidos na maior parte dos casos, por meio de observações empíricas e depois confirmados com estudos epidemiológicos. Os fatores de risco não são independentes. Na prática, há a interação destes fatores nos locais de trabalho. Na identificação dos fatores de risco, deve-se integrar as diversas informações. Na caracterização da exposição aos fatores de risco, alguns elementos são importantes, dentre outros: a) a região anatômica exposta aos fatores de risco; b) a intensidade dos fatores de risco; c) a organização temporal da atividade (por exemplo: a duração do ciclo de trabalho, a distribuição das pausas ou a estrutura de horários); d) o tempo de exposição aos fatores de risco. Os grupos de fatores de risco das LER podem ser relacionados com (Kuorinka e Forcier, 1995): a) o grau de adequação do posto de trabalho à zona de atenção e à visão. A dimensão do posto de trabalho pode forçar os indivíduos a adotarem posturas ou métodos de trabalho que causam ou agravam as lesões osteomusculares; b) o frio, as vibrações e as pressões locais sobre os tecidos. A pressão mecânica localizada é provocada pelo contato físico de cantos retos ou pontiagudos de um objeto ou ferramentas com tecidos moles do corpo e trajetos nervosos; c) as posturas inadequadas. Em relação à postura existem três mecanismos que podem causar as LER/DORT: c.1) os limites da amplitude articular; c.2) a força da gravidade oferecendo uma carga suplementar sobre as articulações e músculos; c.3) as lesões mecânicas sobre os diferentes tecidos; d) a carga osteomuscular. A carga osteomuscular pode ser entendida como a carga mecânica decorrente:

d.1) de uma tensão (por exemplo, a tensão do bíceps); d.2) de uma pressão (por exemplo, a pressão sobre o canal do carpo); d.3) de uma fricção (por exemplo, a fricção de um tendão sobre a sua bainha); d.4) de uma irritação (por exemplo, a irritação de um nervo). Entre os fatores que influenciam a carga osteomuscular, encontramos: a força, a repetitividade, a duração da carga, o tipo de preensão, a postura do punho e o método de trabalho; e) a carga estática. A carga estática está presente quando um membro é mantido numa posição que vai contra a gravidade. Nesses casos, a atividade muscular não pode se reverter a zero (esforço estático). Três aspectos servem para caracterizar a presença de posturas estáticas: a fixação postural observada, as tensões ligadas ao trabalho, sua organização e conteúdo; f) a invariabilidade da tarefa. A invariabilidade da tarefa implica monotonia fisiológica e/ou psicológica; g) as exigências cognitivas. As exigências cognitivas podem ter um papel no surgimento das LER/DORT, seja causando um aumento de tensão muscular, seja causando uma reação mais generalizada de estresse; h) os fatores organizacionais e psicossociais ligados ao trabalho. Os fatores psicossociais do trabalho são as percepções subjetivas que o trabalhador tem dos fatores de organização do trabalho. Como exemplo de fatores psicossociais podemos citar: considerações relativas à carreira, à carga e ritmo de trabalho e ao ambiente social e técnico do trabalho. A "percepção" psicológica que o indivíduo tem das exigências do trabalho é o resultado das características físicas da carga, da personalidade do indivíduo, das experiências anteriores e da situação social do trabalho. 5. DIAGNÓSTICO Reproduzimos abaixo, parte do fascículo 105, Série A. Normas e Manuais Técnicos, do Ministério da Saúde (2001), que detalha procedimentos diagnósticos. "O diagnóstico de LER/DORT consiste, como em qualquer caso, nas etapas habituais de investigação clínica, com os objetivos de se estabelecer a existência de uma ou mais entidades nosológicas, os fatores etiológicos e de agravamento: a) história da moléstia atual - As queixas mais comuns entre os trabalhadores com LER/DORT são a dor localizada, irradiada ou generalizada, desconforto, fadiga e sensação de peso. Muitos relatam formigamento, dormência, sensação de diminuição de força, edema e enrijecimento muscular, choque, falta de firmeza nas mãos, sudorese excessiva, alodínea (sensação de dor como resposta a estímulos não nocivos em pele normal). São queixas encontradas em diferentes graus de gravidade do quadro clínico. É importante caracterizar as queixas quanto ao tempo de duração, localização, intensidade, tipo ou padrão, momentos e formas de instalação, fatores de melhora e piora, variações no tempo. O início dos sintomas é insidioso, com predominância nos finais de jornada de trabalho ou durante os picos de produção, ocorrendo alívio com o repouso noturno e nos finais de semana. Poucas vezes o paciente se dá conta de sua ocorrência precocemente. Por serem intermitentes, de curta duração e de leve intensidade, passam por cansaço passageiro ou "mau jeito". A

necessidade de responder às exigências do trabalho, o medo de desemprego, a falta de informação e outras contingências, principalmente nos momentos de crise que vivemos, estimulam o paciente a suportar seus sintomas e a continuar trabalhando como se nada estivesse ocorrendo. Aos poucos, os sintomas intermitentemente tornam-se presentes por mais tempo durante a jornada de trabalho e, às vezes, passam a invadir as noites e finais de semana. Nessa fase, há um aumento relativamente significativo de pessoas que procuram auxílio médico, por não conseguirem mais responder à demanda da função. No entanto, nem sempre conseguem receber informações dos médicos sobre procedimentos adequados para conter a progressão do problema. Muitas vezes recebem tratamento baseado apenas em antiinflamatórios e sessões de fisioterapia, que "mascaram" transitoriamente os sintomas, sem que haja ação de controle de fatores desencadeantes e agravantes. O paciente permanece, assim, submetido à sobrecarga estática e dinâmica do sistema músculo-esquelético, e os sintomas evoluem de forma tão intensa, que sua permanência no posto de trabalho se dá às custas de muito esforço. Não ocorrendo mudanças nas condições de trabalho, há grandes chances de piora progressiva do quadro clínico. Em geral, o alerta só ocorre para o paciente quando os sintomas passam a existir, mesmo por ocasião da realização de esforços mínimos, comprometendo a capacidade funcional, seja no trabalho ou em casa. Com o passar do tempo, os sintomas aparecem espontaneamente e tendem a se manter continuamente, com a existência de crises de dor intensa, geralmente desencadeadas por movimentos bruscos, pequenos esforços físicos, mudança de temperatura ambiente, nervosismo, insatisfação e tensão. Às vezes, as crises ocorrem sem nenhum fator desencadeante aparente. Essas características já fazem parte de um quadro mais grave de dor crônica, que merecerá uma abordagem especial por parte do médico, integrado em uma equipe multidisciplinar. Nessa fase, dificilmente o trabalhador consegue trabalhar na mesma função e várias de suas atividades cotidianas estão comprometidas. É comum que se identifiquem evidências de ansiedade, angústia, medo e depressão, pela incerteza do futuro tanto do ponto de vista profissional, como do pessoal. Embora esses sintomas sejam comuns a quase todos os pacientes, com longo tempo de evolução, às vezes, mesmo pacientes com pouco tempo de queixas também os apresentam, por testemunharem problemas que seus colegas nas mesmas condições enfrentam, seja pela duração e dificuldade de tratamento, seja pela necessidade de peregrinação na estrutura burocrática da Previdência Social, seja pelas repercussões nas relações com a família, colegas e empresa. Especial menção deve ser feita em relação à dor crônica dos pacientes com LER/DORT. Trata-se de quadro caracterizado por dor contínua, espontânea, atingindo segmentos extensos, com crises álgicas de duração variável e existência de comprometimento importante das atividades da vida diária. Estímulos que, a princípio não deveriam provocar dor, causam sensações de dor intensa, acompanhadas muitas vezes de choque e formigamento. Os achados de exame físico podem ser extremamente discretos e muitas vezes os exames complementares nada evidenciam, restando apenas as queixas do paciente, que, por definição, são subjetivas. O tratamento convencional realizado para dor aguda não produz efeito significativo, e para o profissional pouco habituado com o seu manejo, parece incompreensível que pacientes há muito tempo afastados do trabalho e sob tratamento, apresentem melhora pouco significativa e mantenham períodos de crises intensas.

Essa situação freqüentemente desperta sentimentos de impotência e "desconfiança" no médico, que se julga "enganado" pelo paciente, achando que o problema é de ordem exclusivamente psicológica ou de tentativa de obtenção de ganhos secundários. Do lado de alguns pacientes, essa evolução extremamente incômoda e sofrida, traz depressão e falta de esperança, despertando o sentimento de necessidade de "provar a todo o custo" que realmente têm o problema e que não se trata de "invenção de sua cabeça". b) Investigação dos diversos aparelhos - como em qualquer caso clínico, é importante que outros sintomas ou doenças sejam investigados. A pergunta que se deve fazer é: tais sintomas ou doenças mencionados podem ter influência na determinação e/ou agravamento do caso? Lembremos de algumas situações que podem causar ou agravar sintomas do sistema músculo-esquelético e do sistema nervoso periférico, como por exemplo: trauma, doenças do colágeno, artrites, diabetes mellitus, hipotireoidismo, anemia megaloblástica, algumas neoplasias, artrite reumatóide, espondilite anquilosante, esclerose sistêmica, polimiosite, gravidez e menopausa. Para ser significativo como causa, o fator não-ocupacional precisa ter intensidade e frequência similar àquela dos fatores ocupacionais conhecidos. O achado de uma patologia não-ocupacional não descarta de forma alguma a existência concomitante de LER/DORT. Não esquecer que um paciente pode ter dois ou três problemas ao mesmo tempo. Não há regra matemática neste caso: é impossível determinar com exatidão a porcentagem de influência de fatores laborais e não laborais e frequentemente a evolução clínica os dá maiores indícios a respeito. Do ponto de vista da legislação previdenciária, havendo relação com o trabalho, a doença é considerada ocupacional, mesmo que haja fatores concomitantes não relacionados à atividade laboral. c) Comportamentos e hábitos relevantes - hábitos que possam causar ou agravar sintomas do sistema músculo-esquelético devem ser objeto de investigação: uso excessivo de computador em casa, lavagem manual de grande quantidade de roupas, ato de passar grande quantidade de roupas, limpeza manual de vidros e azulejos, ato de tricotar, carregamento de sacolas cheias, polimento manual de carro, o ato de dirigir, etc. Essas atividades acima citadas geralmente agravam o quadro de LER/DORT, mas dificilmente podem ser consideradas causas determinantes dos sintomas do sistema músculo-esquelético, tais como se apresentam nas LER/ODRT, uma vez que são atividades com características de flexibilidade de ritmo e tempos. Além do mais, não se tem conhecimento de nenhum estudo que indique tarefas domésticas como causas de quadros do sistema músculo-esquelético semelhantes aos quadros das LER/DORT; em contraposição, há vários que demonstram associação entre fatores laborais de diversas categorias profissionais e a ocorrência de LER/DORT. As tarefas domésticas não devem ser confundidas com atividades profissionais de limpeza, faxina ou cozinha industrial. Estas últimas são consideradas de risco para a ocorrência de LER/DORT. d) antecedentes pessoais - história de traumas, fraturas e outros quadros mórbidos que possam ter desencadeado e/ou agravado processos de dor crônica, entrando como fator de confusão, devem ser investigados. e) Antecedentes familiares - existência de familiares co-sangüíneo com história de diabetes e outros distúrbios hormonais, "reumatismos, deve merecer especial atenção. f) História ocupacional - Tão fundamental quanto elaborar uma boa história clínica é perguntar

detalhadamente como e onde o paciente trabalha, tentando ter um retrato dinâmico de sua rotina laboral: duração de jornada de trabalho, existência de tempo de pausas, forças exercidas, execução e freqüência de movimentos repetitivos, identificação de musculatura e segmentos do corpo mais utilizados, existência de sobrecarga estática, formas de pressão de chefias, exigência de produtividade, existência de prêmio por produção, falta de flexibilidade de tempo, mudanças no ritmo de trabalho ou na organização do trabalho, existência de ambiente estressante, relações com chefes e colegas, insatisfações, falta de reconhecimento profissional, sensação de perda de qualificação profissional. Fatores como ruído excessivo, desconforto térmico, iluminação inadequada e móveis desconfortáveis contribuem para a ocorrência de LER/DORT. Deve-se observar, também, empregos anteriores e suas características, independente do tipo de vínculo empregatício. Cabe ao médico atentar para os seguintes questionamentos: - houve tempo suficiente de exposição aos fatores de risco? - houve intensidade suficiente de exposição aos fatores de risco? - os fatores existentes no trabalho são importantes para, entre outros, produzir ou agravar o quadro clínico? As perguntas acima não podem ser compreendidas matematicamente. Estudos conclusivos, por exemplo, de tempo de exposição a fatores predisponentes necessário e sufuciente para o desencadeamento de LER/DORT não nos parecem ser de fácil execução, uma vez que mesmo atividades semelhantes nunca são executadas de forma igual, mesmo que aparentemente o sejam. Em condições ideais, a avaliação médica deve contar com uma análise ergonômica, abrangendo o posto de trabalho e a organização do trabalho." g) Exame físico h) Exames complementares - exames complementares devem ser solicitados à luz de hipóteses diagnósticas e não de forma indiscriminada. Seus resultados devem sempre levar em conta o quadro clínico e a evolução, que são soberanos na análise e conclusão diagnóstica. Conclusão diagnóstica: a conclusão diagnóstica deve considerar o quadro clínico, sua evolução, fatores etiológicos possíveis, com destaque para a anamnese e fatores ocupacionais. É importante lembrar sempre que os exames complementares devem ser interpretados à luz do raciocínio clínico. Um diagnóstico não-ocupacional não descarta LER/DORT." Assim, entendo correta a não utilização dos fundamentos do Laudo do Pericial pelo julgador monocrático, posto que verifica-se que ele não foi elaborado com o detalhamento técnico orientado na Instrução Normativa INSS nº 98/2003, transcrita parcialmente acima, para formação do diagnóstico.

O Laudo Pericial Judicial produzido nos autos da Ação Trabalhista movida pela segunda ré contra a ora autora traz análise minuciosa e detalhamento técnico criterioso, e, quanto ao nexo de causalidade assim concluiu (doc. nº 4058300.310095, pág. 3): Resposta ao quesito B do Juízo: "Foi possível identificar nexo de causalidade do trabalho desenvolvido - em que a pericianda passava longos períodos digitando com flexão da região cervical, utilização dos tendões e músculos flexores do antebraço na digitação - com as seguintes patologias: Cervicalgia e Dorsalgia muscular, Epicondilite medial direita. Há concausalidade do trabalho de digitação, que atuou como agravante, na Síndrome do Túnel do Carpo Direito, em concurso com o biótipo da pericianda, o sexo, e idade, que favorecem o desenvolvimento desta Síndrome. Não foi evidenciado nexo de causalidade ou concausalidade com as tendinites do ombro direito, posto que a pericianda não realizava movimentos repetitivos de elevação do ombro ou abdução forçada desta articulação contra resistência." Referido laudo pericial ainda concluiu que houve uma perda funcional correspondente a 50% da mobilidade do ombro, ou seja, uma repercussão de 12,5% na capacidade anatômica/funcional da periciada (doc. nº 4058300.310095, pág. 4). Diante do exposto, não vislumbro amparo legal à pretensão formulada na exordial, confirmandose a sentença ora recorrida. Postos tais fundamentos, nego provimento à apelação. Écomo voto. PROCESSO Nº: 0801938-93.2013.4.05.8300 - APELAÇÃO APELANTE: REFRESCOS GUARARAPES LTDA ADVOGADO: BRUNO DE ALBUQUERQUE BAPTISTA APELADO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (e outro) ADVOGADO: ANDRÉA MARIA CAVALCANTI MARTINS RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL FRANCISCO WILDO LACERDA DANTAS - 1º TURMA EMENTA PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO DOENÇA ACIDENTÁRIA. PEDIDO DA EMPREGADORA PARA CONVERSÃO EM AUXÍLIO DOENÇA COMUM. IMPROCEDÊNCIA ANTE O

RECONHECIMENTO DO NEXO CAUSAL ENTRE A PATOLOGIA E O EXERCÍCIO DAS FUNÇÕES LABORAIS. 1. É firme a jurisprudência da nossa Suprema Corte no sentido de que a motivação referenciada ("per relationem") não constitui negativa de prestação jurisdicional, tendo-se por cumprida a exigência constitucional da fundamentação das decisões judiciais. 2 - A PARTE AUTORA busca que o INSS modifique o benefício de auxílio-doença acidentário concedido à segunda ré em 18.01.2013, transformando-o em auxílio-doença comum, desde a data de sua concessão, ante o entendimento de que a doença de que é portadora a litisconsorte Jailma Alves não tem nexo de causalidade com as atividades laborais desenvolvidas por ela na empresa autora, sustentando que, ao ter seu contrato laboral rescindindo, a mesma encontravase em perfeitas condições de saúde, e certo que, para a concessão de auxílio-doença acidentário é necessário que a enfermidade incapacitante tenha decorrido diretamente do trabalho. 3 - O Laudo Pericial Judicial produzido nos autos da Ação Trabalhista movida pela segunda ré contra a ora autora traz análise minuciosa e detalhamento técnico criterioso, e, quanto ao nexo de causalidade concluiu ter identificado nexo de causalidade do trabalho desenvolvido pela litisconsorte passiva (- em que a pericianda passava longos períodos digitando com flexão da região cervical, utilização dos tendões e músculos flexores do antebraço na digitação -)com as patologias de que é portadora (Cervicalgia e Dorsalgia muscular, Epicondilite medial direita.), além do que há concausalidade do trabalho de digitação (agravante) na Síndrome do Túnel do Carpo Direito. Referido laudo pericial ainda concluiu que houve uma perda funcional correspondente a 50% da mobilidade do ombro, ou seja, uma repercussão de 12,5% na capacidade anatômica/funcional da periciada. 4 - A Instrução Normativa INSS nº 98, de 05.12.2003, em seu anexo, que trata da atualização clínica das Lesões por Esforços Repetitivos (LER) Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), e esclarece que a conclusão diagnóstica deve considerar o quadro clínico, sua evolução, fatores etiológicos possíveis, com destaque para a anamnese e fatores ocupacionais. 5 - Reconhecido o nexo de causalidade entre a enfermidade incapacitante e o exercício da atividade laboral na empresa autora por mais de 21 anos, correta foi a concessão do benefício de auxílio-doença acidentário à segurada. 6 - Apelação improvida. ACÓRDÃO Vistos, etc. Decide a Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, negar provimento à apelação, nos termos do Relatório, Voto e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Recife, 18 de junho de 2015.