CONTROLE AMBIENTAL EM PEQUENOS E MÉDIOS LATICÍNIOS DE MINAS GERAIS - UMA PESQUISA APLICADA

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Transcrição:

CONTROLE AMBIENTAL EM PEQUENOS E MÉDIOS LATICÍNIOS DE MINAS GERAIS - UMA PESQUISA APLICADA Aloísio de Araújo Prince (1) Graduado em Engenharia civil pela UFMG (1968). Mestre em Saneamento e Meio Ambiente pelo DESA/UFMG (1993). Pesquisador da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC), desde 1980. Gerente da URMG da CETESB, de 1975 a 1980. Márcia Maria Silva Casseb Graduada em Engenharia Civil pela PUC-MG (1987). Especialista em Planejamento Territorial e Urbano pela PUC-MG e Universidade de Bolonha, Itália (1990). Mestre em Saneamento e Meio Ambiente pelo DESA/UFMG (1996). Consultora da ECODINÂMICA e da COBRAPE no PROSAM-BH. Rosângela Moreira Gurgel Machado Graduada em Engenharia Civil (1980). Mestre em Saneamento e Meio Ambiente pelo DESA/UFMG (1997). Pesquisadora da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais - CETEC desde 1980. Coordenadora do Setor de Controle da Poluição. Patrícia Cristina da Silva Graduada em Engenharia Química pela UFMG (1993). Mestre em Saneamento e Meio Ambiente pelo DESA/UFMG (1996). Engenheira Química da LIMNOS Hidrobiologia e Limnologia Ltda (1997-98). Pesquisadora da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC). Valdir Honório Freire Graduado em Engenharia Química pela UFMG (1993). Mestrando em Saneamento e Meio Ambiente no DESA/UFMG. Pesquisador da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC). Endereço (1) : Fundação CETEC - Av. José Candido da Silveira, 2000 - Horto - Belo Horizonte - MG - CEP: 31170-000 - Brasil. RESUMO O presente trabalho apresenta o diagnóstico do Projeto Pesquisa tecnológica para controle ambiental em pequenos e médios laticínios de Minas Gerais, etapa integrante de um projeto maior denominado Minas Ambiente. São apresentados os resultados referentes a efluentes líquidos, resíduos sólidos e emissões atmosféricas. Constatou-se que os efluentes líquidos representam a principal fonte de poluição nestas indústrias, principalmente com relação ao soro, que possui elevada quantidade de matéria orgânica. 25 % dos laticínios na safra fazem descarte do soro nos cursos d`água, o que corresponde a 160.000 litros de soro/dia. Com relação aos resíduos sólidos, os mesmos se apresentam em pequena quantidade, porém com destinações nem sempre adequada, como a disposição em lixões (49% dos laticínios) ou a queima. As emissões atmosféricas, a princípio, não representam problemas, devido ao pequeno porte das caldeiras e ao fato de que a maioria das indústrias (64 %) se situam na periferia das cidades ou na zona rural. PALAVRAS-CHAVE: Indústrias de Laticínios, Resíduos, Poluição Industrial. INTRODUÇÃO ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 386

A cadeia agroindustrial de leite no Brasil é uma das mais importantes tanto sob a ótica econômica quanto pela social. O segmento da indústria nacional é amplo e diversificado; estão presentes empresas de laticínios de vários portes, desde pequenas fabriquetas captando reduzido volume de leite até as multinacionais e cooperativas centrais, que processam centenas de milhares de litros por dia. Minas Gerais é historicamente o estado que mais produz leite no país, seguido de São Paulo, Rio Grande do Sul, Goiás e Paraná. Segundo o SEBRAE (1997), são 1253 indústrias que atuam formalmente no setor de laticínios em Minas Gerais, sendo que 90% desses laticínios são de pequeno e médio porte. O Projeto Laticínios é um projeto de pesquisa tecnológica para controle ambiental em pequenos e médios laticínios de Minas Gerais, sendo um dos componentes de um projeto maior denominado Projeto Minas Ambiente. A finalidade do projeto é propor soluções tecnológicas para a redução do impacto ambiental gerado pelas indústrias, abrangendo desde a busca de tecnologias voltadas ao processo produtivo e destinadas à minimização da geração de rejeitos líquidos, sólidos e gasosos, até o tratamento e a disposição final dos despejos cujo aproveitamento não seja viável. O presente trabalho tem como objetivo apresentar os resultados obtidos na primeira fase do projeto, já concluída, mostrando uma caracterização quantitativa e qualitativa dos principais resíduos gerados na indústria de laticínios e sua destinação final. Esses resultados serão norteadores das medidas a serem tomadas por esse importante segmento da economia mineira, visando a minimização dos impactos ambientais gerados na atividade e a regularização da situação destas empresas junto ao órgão ambiental do Estado. METODOLOGIA Em comum acordo com as instituições que cooperam tecnicamente para a execução do Projeto, ficou estabelecido que, para o efeito do Projeto Laticínios, seriam considerados como indústrias de pequeno e médio porte os laticínios que atendessem aos seguintes critérios: laticínios de cooperativa: aqueles com capacidade nominal de recebimento de leite até 100.000 litros/dia laticínios independentes: aqueles com capacidade nominal de recebimento de leite de até 60.000 l/dia Foram identificadas 03 (três) formas de adesão ao projeto, descritas a seguir: por intermédio da Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (OCEMG) ou do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Estado de Minas Gerais (SILEMG): por exigência do processo de obtenção de inscrição no SIF (Serviço de Inspeção Federal): após a fiscalização da FEAM (Fundação Estadual do Meio Ambiente) ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 387

Na etapa do projeto contemplada por este trabalho foram visitados pela equipe técnica do projeto 68 indústrias de laticínios, distribuídas por diversas macroregiões de planejamento do Estado, conforme demonstrado na Tabela 1. Esse agrupamento baseia-se na necessidade de definir a área de influência do Projeto, ou seja, de todo o Estado de Minas Gerais. O Estado possui peculiaridades que permitem sua regionalização, identificadas pelos órgãos que tratam do planejamento das ações do governo. As principais finalidades das visitas foram o conhecimento da situação tecnológica, o conhecimento da situação ambiental e a identificação dos pontos a merecer atenção especial nas demais etapas do projeto (levantamento do estado da arte, estudo de alternativas tecnológicas para o processo industrial e estudo de alternativas para o tratamento de efluentes). Os dados necessários à elaboração do diagnóstico foram obtidos mediante a aplicação de um questionário em todos as indústrias de laticínios participantes do projeto. Trabalhouse com informações e dados secundários fornecidos diretamente pelas indústrias. O levantamento dos dados de campo foi realizado no período de 30/09/97 a 16/01/98. As informações levantadas no trabalho de campo foram todas tabuladas em forma de Banco de Dados, formato Access para Windows 95, versão 7.00, sendo posteriormente sistematizadas em forma de gráficos e tabelas, que permitiram uma análise da situação tecnológica e ambiental do universo de indústrias visitadas e formando um panorama aplicável a todos os pequenos e médios laticínios do Estado de Minas Gerais. Tabela 1 - Número de laticínios visitados por macroregião Macroregião Laticínios Visitadas Sul 17 Zona da Mata 14 Central 12 Centro-Oeste 5 Rio Doce 4 Jequitinhonha/Mucuri 2 Alto Paranaíba 5 Triângulo 5 Norte 1 Noroeste 3 Total 68 RESULTADOS A natureza e abrangência das informações coletadas permitiram análises que abordaram diversos temas importantes para o setor de laticínios, tais como capacidade de recepção e processamento de leite, capacidade ociosa, produtos fabricados, limpeza e desinfecção, situação junto ao SIF (Serviço de Inspeção Federal), geração de empregos, consumo de energia, abastecimento de água (fontes de abastecimento, tratamento da água, consumo de água), localização e disponibilidade de áreas livres. O presente trabalho abordará os resultados referentes aos impactos ambientais gerados pelos resíduos no processo industrial, divididos em efluentes líquidos, resíduos sólidos e emissões atmosféricas. 1 - Efluentes líquidos ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 388

Durante o desenvolvimento do diagnóstico, nas fases de elaboração e aplicação dos questionários, diversas perguntas foram direcionadas para a quantificação e qualificação dos efluentes gerados nas indústrias visitadas, bem como para as formas de disposição final mais utilizadas. No processamento do leite, constatou-se que as operações geradoras de despejos significativamente poluentes são: lavagem e desinfecção de equipamentos, latões e caminhões tanques, lavagem de ambientes, principalmente dos pisos; quebra de embalagens contendo leite; e perdas nas máquinas e lubrificação dos transportadores. Os efluentes líquidos são constituídos principalmente por leite, materiais sólidos do leite, detergentes, desinfetantes e lubrificantes. Foram considerados os seguintes efluentes, sistematizados e analisados em dois blocos distintos em função de sua natureza. Soro. Água de chuva, esgotos sanitários e águas de lavagem de piso e equipamentos. 1.1 - Soro A figura 1 apresenta para o soro, as destinações observadas em função do percentual das indústrias de laticínios visitadas. O soro, parte líquida obtida na fabricação do queijo, se constitui no resíduo que causa maior preocupação pela sua alta taxa de matéria orgânica. A utilização do soro e a minimização do seu descarte constituem tópico importante do Projeto, uma vez que o soro possui alto valor nutricional. Além disto, seu descarte as unidades de tratamento acarretaria altos custos de construção já que seria muito maior o aporte de matéria orgânica aos reatores biológicos, onde esta matéria orgânica será tratada. Do levantamento efetuado pode-se verificar que: a maioria das indústrias de laticínios adotam a prática da doação e/ou venda do soro, sendo que a fabricação de ricota aparece como a segunda alternativa mais utilizada para a destinação do soro. 25 % dos laticínios fazem descarte do soro na safra para os cursos d`água. Este fato gera preocupação, pois este descarte corresponde a aproximadamente 160.000 litros por dia de soro sendo lançado nos cursos d água. têm sido adotados destinos menos nobres para o soro, como por exemplo, na alimentação animal (10 % dos laticínios na safra), em detrimento a destinações mais nobres, como a fabricação de bebida láctea (apenas 3 % das indústrias na safra). ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 389

Doação/venda Ricota Lançado curso d'água Alimentação Animal (na indústria) Rede de esgoto Devolução ao produtor Bebida Láctea Lançado céu aberto Lançado lagoa/lago Comercialização (p/outras indústrias) 0% 6% 4% 4% 0% 0% 0% 1 9% 10% 25% 4 44% 4 40% Entressafra Safra 0% 10% 20% 30% 40% 50% % das indústrias de laticínios visitadas Figura 1 Destinação do soro por laticínios visitados no Estado 1.2 - Água de chuva, esgotos sanitários e água de lavagem de piso e equipamentos. A Figura 2 apresenta o resultado global das formas utilizadas para a condução das águas pluviais, dos esgotos sanitários e das águas de lavagem dos pisos e equipamentos nos laticínios visitados. Um resumo das informações obtidas permite as seguintes observações: as águas pluviais são conduzidas diretamente ao curso d água em canalizações de drenagem em 39 indústrias (57%); são conduzidas juntamente aos esgotos domésticos nas redes de esgotos municipais em 8 indústrias (12%); lançadas diretamente no solo em 21 laticínios (3); ou seguem conjuntamente aos efluentes industriais para um sistema de tratamento em 1 indústria, sendo neste caso usado um desarenador; os esgotos sanitários são lançados diretamente no curso d água em conduto separado em 39 indústrias (57%); nas redes de esgotos municipais em 13(19%); diretamente no solo em 6 indústrias (9%); ou recebem tratamento em 10 indústrias (15%). Os tipos de tratamento utilizados são: fossa séptica (2); fossa séptica seguida de lançamento direto no solo (4); fossa negra seguida de sumidouro (1); lagoa anaeróbia (1). Para o tratamento conjunto com efluentes industriais (lavagem de piso e equipamentos, soro e leitelho) são utilizadas lagoa anaeróbia (1) ou lodo ativado por aeração prolongada (1). Neste último caso, a indústria realiza monitoramento de parâmetros físicoquímicos do esgoto bruto e tratado sem uma freqüência muito precisa. Os dados existentes serão utilizados em uma fase posterior dos trabalhos; as águas de lavagem são conduzidas em condutos separados para os cursos d água em 57 indústrias (8); para as redes de esgotos municipais em 9 (1); diretamente para o solo em 2 (); ou é conduzida a estações de tratamento conjuntas em 2 laticínios, como explicado no item anterior, em 2 (). ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 390

Curso d'água 57% 57% 84% Rede de esgoto municipal 12% 19% 1 Águas pluviais Esgoto Sanitário Solo 9% 3 Água de Lavagem de equipamentos e Piso Tratamento 15% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% % das indústrias de laticínios visitadas Figura 2 Destinação das águas pluviais e das águas servidas dos laticínios visitados no Estado 2 - Resíduos sólidos A constituição dos resíduos sólidos gerados nas indústrias de laticínios visitadas, embora sendo em pequena quantidade, é muito variada, sendo esta variação função da linha de produção. Os principais resíduos produzidos são: embalagens plásticas, embalagens de papel, cinzas de caldeira, aparas de queijo, gorduras, latas e lixo doméstico. Na Figura 3 são apresentas as principais destinações dos resíduos sólidos produzidos nas indústrias de laticínios visitadas. Lixão 49% Queima 22% Aterro 6% Lanç. céu aberto 4% Enterrrado Comercialização Outros Doação Área própria 2% Reciclagem 2% Lanç. corpo d'água 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% % das indústrias de laticínios visitadas Figura 3 - Destinação final dos resíduos sólidos nos laticínios visitados ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 391

Das informações levantadas, foi possível observar que: Os resíduos sólidos dos laticínios localizados próximos à área urbana são coletados pela prefeitura e dispostos junto com os resíduos urbanos. Como a maioria das cidades brasileiras dispõe seus resíduos sólidos de forma sanitariamente incorreta em lixões, pode-se considerar uma incidência de 49 % dos laticínios visitados dispondo seus resíduos sólidos em lixões. Na Figura 3 observa-se que materiais potencialmente recicláveis, como o plástico, estão sendo descartados. Uma solução não adequada que se observou, foi a queima dos resíduos sólidos. Os dados obtidos, mostram que 22% dos laticínios adotam a queima como destino para alguns de seus resíduos. Apenas 5 % dos laticínios adotam a reciclagem ou comercialização como destinação final para alguns resíduos sólidos. 3 - Emissões atmosféricas Na indústria de laticínios, as emissões atmosféricas originam-se da queima de combustíveis nas caldeiras destinadas á geração de vapor de água, o qual, por sua vez, é empregado para a elevação da temperatura do leite e seus derivados em diversas fases do processo produtivo tais como: pasteurização; fabricação de queijos e similares; limpeza das instalações industriais; e limpeza dos vasilhames e tanques empregados no transporte do leite. A Tabela 2 apresenta as informações levantadas sobre a distribuição das caldeiras instaladas nas indústrias visitadas tais como sua localização, tipo de combustível e equipamentos de controle de emissões. Tabela 2 - Distribuição das caldeiras segundo a capacidade, tipo de combustível e equipamentos de controle de emissões Localização Caldeiras Caldeiras reservas Controle de emissões À lenha A óleo Total À lenha A óleo Tipo I Tipo II Tipo III Cidade 16 (28%) 20 (45%) 36 (36%) 2 2 1 10 1 Periferia 29 (5) 14* (32%) 43 (4) 1 2-2 2 Zona rural 12 (2) 10 (2) 22 (22%) - 4-3 - Total 57 (100%) 44 100%) 101 (100%) 3 8 1 15 3 Tipo I = ciclone; Tipo II = catafuligem; Tipo III = ciclone e catafuligem * inclui uma caldeira a óleo diesel Da tabela acima observa-se que: A maioria das caldeiras localizam-se na periferia ou zona rural (65 %) 18 % das caldeiras possuem algum tipo de equipamento de equipamento de controle de emissões, sendo o catafuligem o principal deles. A maioria das caldeiras utiliza a lenha como combustível (57%) CONCLUSÕES No que se refere aos efluentes líquidos, constatou-se que o principal problema é a destinação dada à parcela não aproveitada do soro, com o seu lançamento diretamente nos cursos d água. Considerando o alto potencial poluidor do soro fresco, esta prática se constitui no mais grave impacto ambiental gerado pelos laticínios. A busca da otimização do processo industrial, com vistas à diversificação da utilização do soro, ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 392

deverão levar a um efluente composto basicamente de águas de lavagem de pisos e equipamentos, que poderá ser somado aos esgotos sanitários para o tratamento em reatores biológicos. Em relação aos resíduos sólidos constatou-se, pelos levantamentos efetuados, que este ramo industrial apresenta, a exemplo de outros que atuam no Brasil, grande carência de dados quantitativos e qualitativos dos resíduos sólidos gerados. Como o volume de resíduos sólidos é geralmente reduzido, soluções cômodas e simples de disposição final têm sido adotadas, sem a utilização de critérios técnicos, podendo significar perdas econômicas e agressões ao meio ambiente. Diante da carência de dados existente, é recomendável que se selecionem alguns laticínios cujas linhas de produção sejam diversificadas, para que se faça a completa caracterização qualitativa e quantitativa dos diversos resíduos gerados. Espera-se que, a partir dessa caracterização e do levantamento do estado da arte, seja possível avaliar as soluções disponíveis para a sua disposição final. Novas alternativas devem ser buscadas, visando o reaproveitamento dos resíduos mediante a reciclagem e a proteção dos recursos naturais. Pelo porte das caldeiras, não é de se esperar, para a maioria dos laticínios, grandes problemas no que se refere às emissões atmosféricas, desde que se possa garantir a adequada operação e manutenção desses equipamentos de geração de vapor. Também o fato de as caldeiras a lenha serem em maior número contribui para a melhoria do cenário, tendo em vista o menor teor de enxofre presente na lenha em relação aos óleos comuns, bem como o fato de que o consumo de lenha é pouco significativo devido ao pequeno porte das caldeiras. Contudo, preocupa a constatação de a grande maioria dos laticínios que usam a lenha como combustível não dispor de adequadas condições de armazenamento dessa mesma lenha, de modo a garantir que esta esteja permanentemente seca, o que é fundamental inclusive para a minimização da emissão de material particulado. Outro aspecto favorável ao menor impacto ambiental das emissões atmosféricas é o fato de a maioria das caldeiras (65%) situar-se em periferias de cidades ou na zona rural. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. SANTOS, João B.M.S. Panorama Setorial; indústria de laticínios. São Paulo; Centro de informações da Gazeta Mercantil, 1997. 255p 2. SEBRAE / MG. Diagnóstico da indústria de laticínios do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte, 1997. 270p 3. SEBRAE / MG. Diagnóstico da pecuária leiteira do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte, 1997. 102p ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 393