ANÁLISE DA SITUAÇÃO ATUAL E PERSPECTIVAS DA AVICULTURA DE CORTE

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Transcrição:

ANÁLISE DA SITUAÇÃO ATUAL E PERSPECTIVAS DA AVICULTURA DE CORTE Marcelo Miele, MSc Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Área de sócio-economia e doutorando no Cepan/UFRGS, Ademir Francisco Girotto, MSc, Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Área de sócio-economia No agronegócio brasileiro, a cadeia produtiva de aves de corte destacou-se nas últimas décadas por uma trajetória de incremento tecnológico e capacidade de coordenação entre os diferentes agentes que a compõem. A atividade assegura ao país posição de destaque no cenário mundial. A partir de 2004 passou a ser o maior exportador, à frente dos Estados Unidos da América (EUA), bem como o terceiro maior produtor, à frente dos 25 países da União Européia (UE). O modelo de produção integrada de frango foi em grande parte responsável pelo crescimento das últimas décadas e pelo atual baixo custo de produção. Assim, pela organização, uso de tecnologia e capacidade gerencial a avicultura brasileira tem sido um exemplo de sucesso para as demais cadeias de carnes. Essas competências observadas tanto no elo de produção, como nos elos relacionados ao processamento e à distribuição, têm contribuído sobremaneira para o desenvolvimento do país. A seguir são apresentados os principais indicadores dessa atividade, assim como uma avaliação das tendências futuras. I SITUAÇÃO ATUAL 1. - Consumo Nos últimos 20 anos ocorreu uma significativa mudança nos hábitos alimentares da população brasileira, com um maior consumo de proteína animal e, dentro desse item, um aumento considerável no consumo de carne de frango, que a partir de 2002 se aproximou do consumo de carne bovina, Figura 1 a seguir. Acredita-se que a qualidade do produto ofertado, a facilidade no seu preparo - importante nos dias de hoje, e um preço acessível levaram ao excepcional crescimento da participação da carne de frango. Em média, a partir de 1986, o consumo interno de carne de frango cresceu 1,34 kg/hab/ano, chegando a 35 kg/hab/ano em 2004. Nesse período, apenas nos anos de 1988, 1996 e 2003 ocorreu queda no consumo per capita em relação ao ano anterior, mas observou-se claramente um crescimento até 2002 e a partir de então tem apresentado certa estabilidade. O consumo mundial per capita é de 11 kg/hab/ano, sendo Hong Kong o maior consumidor per capita de carne de frango (50,4 kg/habitante/ano em 2003). O Brasil é o quarto colocado, superando o consumo de países como o Canadá, com renda per capita melhor que a brasileira (FAO). No tocante ao consumo absoluto, os EUA lideram, com 14,6 milhões de t, seguidos pela China, com 13,7 milhões de t mas com um potencial de crescimento muito superior. Após a UE, o Brasil ocupa a quarta posição, com 5,9 milhões de t.

45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 Kg / hab / ano 2000 2002 2004 Frangos Bovinos Suinos Fonte : UBA/ABIPECS/ABEF/CNPC Figura 1 Brasil Consumo de carnes em kg/habitante. 2. Produção O Brasil conquistou um espaço significativo na produção mundial de carne de frango, passando de 7% em 1990 para 13% em 2004. Do aumento de mais de 32,3 milhões de toneladas na produção mundial nesse período, coube ao Brasil 6,3 milhões de toneladas, ou 20% do acréscimo mundial na produção, Tabela 1 a seguir. Tabela 1 Produção Mundial de Carne de Frango (mil t). Ano \ País EUA China Brasil UE 25 UE 15 Mundo 1990 8.667 24% 2.663 8% 2.356 7% 5.605 16% 5.161 15% 35.465 1995 11.486 25% 6.056 13% 4.050 9% 6.676 14% 6.087 13% 46.560 2000 13.944 24% 9.025 15% 5.981 10% 7.853 13% 6.645 11% 59.087 2004 15.536 23% 9.475 14% 8.668 13% 8.282 12% 6.817 10% 67.719 Variação 1990-2004 79% 256% 268% 48% 32% 91% Fonte: FAO, 2004. Segundo a União Brasileira de Avicultura (UBA), houve um acréscimo de 8,3% na produção de carne de frango no Brasil em 2004, resultando em uma produção seis vezes maior do que há 20 anos, e quase quatro vezes maior do que há 10 anos. Os três estados do Sul do país são responsáveis por mais de 64 % dos abates de frangos, seguidos pela Região Sudeste com cerca de 22% e pelo Centro- Oeste, que detém cerca de 11% dos abates. Foi esta última região que apresentou nos últimos anos o melhor desempenho. Entre 1997 e 2003, o Centro-Oeste duplicou sua capacidade de alojamento de pintos, elevando sua participação de 6,4% para 9,9%. O impacto desse crescimento na produção nacional ainda é limitado em função de sua ainda pequena capacidade instalada. Por sua vez, e apesar de um menor crescimento, a Região Sul teve impacto significativo no cenário nacional em função da sua participação no total do volume de 2

pintos alojados no país, passando de 51,8% para 55,2% no mesmo período. Por outro lado, o Nordeste e o Sudeste apresentaram comportamento inverso, com decréscimos de 5,8 e 1,1 pontos percentuais, respectivamente. O Norte manteve sua participação no cenário nacional. Um dos aspectos favoráveis à ampliação da avicultura no Centro-Oeste é o menor custo da ração, tendo em vista esta ser uma região produtora de milho e soja, principais ingredientes da alimentação das aves. No entanto, o Sul continua sendo um grande produtor de aves, sustentado pelo pioneirismo e tradição dos criadores, sua estrutura de pequenas propriedades familiares e pelas agroindústrias já instaladas, com uma eficiente coordenação exercida pela integração das atividades. 3. Mercado O Brasil tem tido sucesso tanto na produção quanto na conquista do mercado externo. Isso ocorreu pela competitividade do nosso produto e, também, em função de fatores ocasionais e não controláveis como a crise da vaca louca, os surtos de febre aftosa e de outras enfermidades animais em diversas regiões e países do mundo. Esses eventos, de grande incerteza, prejudicaram o mercado das outras carnes e, felizmente, não afetaram a avicultura brasileira que passou a ocupar o primeiro lugar nas exportações mundiais, ver Tabela 2. Ano após ano, o Brasil tem buscado diversificar sua carteira de clientes, que segundo a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (ABEF) é composta por mais de 130 países. Essa maior diversificação aparece no crescimento das exportações para outros mercados, ver Tabelas 3. Tabela 2 Exportação Mundial de Carne de Frango (mil t). ANO BRASIL EUA EU CHINA TAILÂNDIA MUNDO 1999 771 2.080 776 375 285 4.442 2000 907 2.231 774 464 333 4.856 2001 1.249 2.520 724 489 424 5.589 2002 1.600 2.180 843 438 465 5.769 2003* 1.922 2.237 730 388 528 6.075 2004** 2.400 2.248 780 310 300 6.046 Fonte : Fonte: USDA / ABEF * Preliminar ** Previsão Tabela 3 Exportações brasileiras por destino (participação no total) e variação percentual no último ano. Destino 2004 2003 Variação 2003-4 Oriente Médio 31% 32% 20% Ásia 26% 24% 35% UE 11% 16% -13% Rússia 8% 11% -7% África 7% 6% 46% Mercosul 0,03% 0,4% -90% Outros 16% 11% 86% Total 100% 100% 23% Fonte : Abef, 2004. Os preços recebidos pela carne de frango brasileira nos últimos 20 anos oscilaram entre US$0,673 e US$ 1,250 para os frangos exportados inteiros e entre US$ 0,952 e US$ 1,847 para as exportações em partes. Considerando-se a média do período de US$ 0,939 e US$ 1,371 para frangos inteiros e em partes respectivamente, observa-se uma oscilação de aproximadamente 30% para mais e para menos, o que aponta para uma certa volatilidade nos preços praticados internacionalmente. Além disso, observa-se que o país poderia obter um acréscimo na receita das exportações de 3

aproximadamente US$ 2,84 milhões caso as vendas de frangos inteiros tivessem sido realizadas em partes (considerando os preços médios), agregando valor ao produto. A seguir, na Tabela 4, apresentase a título de ilustração, a evolução dos preços nominais, em moeda nacional, para alguns países. Tabela 4 - Preços correntes para carne de aves em mercados selecionados. País Moeda 1995 2000 2001 2002 2003 Brasil* R$/100 kg 85,0 157,5 153,9 155,1 164,9 Canadá CAD/100 kg pac 145,0 151,2 156,9 150,8 154,0 EUA USD/100 kg pac 124,2 123,9 130,3 122,6 136,5 Japão '000 JPY/100kg pad 107,0 116,0 117,5 124,7 125,5 UE 25 EUR/100 kg pac 99,2 98,4 107,6 97,7 103,6 Fonte: OCDE, 2004 e APA. (*) Valores para o Brasil foram corrigidos para novembro/04 tendo em vista que para os demais países há uma menor inflação. II - TENDÊNCIAS 1. - Consumo Estima-se que o aumento do consumo de carne de frango nesta década se concentrará nos países em desenvolvimento (FAO, OCDE e USDA), com um crescimento de 2,5% a.a., frente a 1,7% a.a. nos países desenvolvidos (OCDE). Entretanto, o mais importante para o setor é que se mantém a tendência de substituição das demais carnes pela de ave, a qual passará a representar 32% do consumo mundial de carnes em 2010, frente a 25% no início dos anos 1990 (FAO). Entretanto, países como os EUA, Canadá e Coréia do Sul também devem apresentar crescimento significativo, ver Tabela 5. Tabela 5 Estimativa de crescimento no consumo de carne de aves para países ou regiões selecionadas. País/região 2004-05 2004-10 2004-14 Rússia -1% 23% 43% África do Norte e Oriente Médio 3% 23% 41% Tailândia 6% 25% 40% Arábia Saudita 0% 19% 35% China 1% 15% 33% Brasil 3% 18% 33% México 1% 16% 29% Coréia do Sul 7% 18% 28% Canadá 3% 14% 25% EUA* 6% 15% 19% Europa Central e do Leste 3% 11% 16% Hong Kong 1% 5% 8% Japão 1% 5% 7% EU 15 0% -1% -1% * Projeção até 2013. Fonte: USDA 2004; OCDE 2002. 4

2. - Produção Estima-se que a produção mundial de carnes em 2010 será de aproximadamente 283 milhões de t, o que representa um incremento de 60 milhões de t, ou seja, 27% em relação à média 1998-2000. O setor de aves será o mais dinâmico, com um aumento de 24 milhões de t, seguido de suínos e depois de bovinos (FAO). Assim como para o consumo, o maior aumento na produção de aves deverá vir dos países em desenvolvimento, que devem apresentar um acréscimo entre 2% e 3% a.a., bem acima do desempenho nos anos 1990, que foi de 1,2% a.a. (FAO e OCDE). Os destaques nesse contexto são Brasil e China. Por sua vez, os países desenvolvidos deverão apresentar um crescimento da produção inferior ao da década de 1990, com uma expectativa entre 1,7% e 2,2% a.a. (FAO e OCDE). Destaca-se nesse contexto a expansão na produção nos EUA, voltada para atender uma maior demanda doméstica, mas com forte presença internacional, ver Tabela 6. Tabela 6 Estimativa de crescimento na produção de carne de aves para países ou regiões selecionadas País/região 2004-05 2004-10 2004-14 Rússia 10% 26% 39% Arábia Saudita 4% 29% 39% Tailândia 5% 22% 39% África do Norte e Oriente Médio 4% 23% 37% Brasil 3% 19% 32% China 1% 14% 31% México 1% 16% 31% EUA* 5% 14% 19% Coréia do Sul 5% 12% 19% Canadá -5% 3% 12% Europa Central e do Leste 3% 8% 12% Japão 1% 5% 6% UE 15 0% 0% 0% Hong Kong -1% -11% -18% * Projeção até 2013. Fonte: USDA 2004; OCDE 2002. 3. - Mercado Internacional O comércio internacional de carnes até 2010 deverá ser pautado cada vez mais por produtos de maior valor agregado e de cortes especiais (FAO). Além disso, acredita-se que três fatores que afetaram esse fluxo comercial nos anos 1990 devem persistir até 2010, são eles: a) mudanças nas estruturas de custos e maior coordenação das cadeias produtivas nos países em desenvolvimento, aumentando a sua competitividade; b) liberalização crescente com maior participação dos países em desenvolvimento e; c) instabilidade crescente no mercado devido aos problemas de sanidade (vaca louca, aftosa e influenza). Nesse cenário, o comércio mundial de carnes em 2010 possivelmente será de 21 milhões de t, limitado a 7% do consumo, sendo mais da metade para países em desenvolvimento. Entretanto, o crescimento será bem inferior ao da década de 1990, sobretudo porque os condicionantes da elevação na demanda russa e chinesa não devem se repetir (FAO). O crescimento do comércio de aves deverá ser de 3% a.a. nesta década, frente aos 16% a.a. na década de 1990. Mesmo assim, responderá por metade do aumento no comércio mundial de carnes, com destaque para Brasil, Tailândia e China como os principais vendedores mundiais, Tabela 7 a seguir, bem como para a Ásia e a América Central e México como os principais compradores mundiais, Tabela 8 a seguir. 5

Tabela 7 Estimativa de crescimento nas exportações de carne de aves para países ou regiões selecionadas. País 2004-05 2004-10 2004-13 Arábia Saudita 5% 24% 38% Tailândia 4% 19% 31% Hungria 3% 19% 28% Brasil 3% 19% 28% EUA 2% 13% 18% UE 15* 1% 10% 15% China -5% -18% -25% Soma maiores exportadores 2% 13% 19% * Para a UE 15 é desconsiderado o comércio intra-bloco. Fonte: USDA 2003. Tabela 8 Estimativa de crescimento nas importações de carne de aves para países ou regiões selecionadas. País 2004-05 2004-10 2004-13 Canadá 6% 37% 55% Coréia do Sul 6% 34% 51% Rússia 0% 30% 51% China 2% 15% 23% Arábia Saudita -6% 6% 22% México 2% 13% 19% Hong Kong 2% 10% 15% UE 15* 1% 7% 11% Japão 1% 4% 6% Soma maiores importadores 1% 16% 27% * Para a UE 15 é desconsiderado o comércio intra-bloco. Fonte: USDA 2003. Por fim, apresenta-se na Tabela 9, uma estimativa para o crescimento dos preços da carne de aves em alguns mercados selecionados (aqueles cuja moeda é considerada forte ). Destaca-se uma certa estabilidade nos EUA e no Canadá e, por outro lado, preços decrescentes tanto na UE quanto no Japão, o que indica uma maior pressão competitiva nesses mercados. Por sua vez, a FAO estima que os preços reais ficarão abaixo dos praticados nos anos 1990, apesar da pressão de alta nos preços no curto prazo em função da instabilidade sanitária. Tabela 9 Estimativa de crescimento nos preços da carne de aves para países selecionados. País Moeda 2004-05 2004-10 2004-13 EUA USD/100 kg rtc 0% 2% 3% Canadá CAD/100 kg rtc -2% 1% 2% UE 25 EUR/100 kg rtc -4% -5% -6% Japão '000 JPY/100 kg rwt 0% -4% -7% Fonte: OCDE. 4. - Análise da posição do Brasil a partir de uma matriz crescimento-participação A matriz de crescimento-participação foi desenvolvida nos anos 1970 pelo Boston Consultig Group, por isso também é conhecida como matriz BCG. Propõe um método simples para analisar o ambiente externo e o interno a partir de apenas duas dimensões - o crescimento do negócio e a participação relativa de mercado. Acredita-se que essa técnica possa ser estendida para mapear as 6

potencialidades de expansão ou as limitações às exportações brasileiras de carne de aves. A matriz identifica quatro situações (ou quadrantes), conforme abaixo. A baixo crescimento com alta participação, denominada de vaca leiteira visto que os lucros nesse mercado (em função da alta participação) devem ser direcionados para explorar mercados com alto potencial de crescimento mas nos quais se tem pequena participação (quadrante C). B alto crescimento com alta participação, denominada de estrela, situação na qual os lucros devem ser novamente investidos nesse mesmo mercado visto seu potencial e a necessidade de consolidar a posição de liderança. C alto crescimento com baixa participação, denominada de criança problema, visto que o potencial do mercado não está sendo plenamente explorado, o que requer recursos adicionais, vindos da situação A. D - baixo crescimento com baixa participação, denominada de cão, situação considerada pelos proponentes da matriz como um fracasso. A partir desse esquema conceitual pode-se analisar o perfil das exportações brasileiras de carne de aves para os principais mercados importadores, Figura 2 a seguir. Nessa adaptação, o potencial de crescimento equivale ao volume esperado de crescimento das importações entre 2004 e 2013 (USDA). Por sua vez, a participação de mercado equivale à relação entre o volume exportado pelo Brasil para determinado país e as importações totais deste país no ano de 2004 (USDA e Aliceweb). Figura 2 Matriz BCG de crescimento-participação para as exportações brasileiras de carne de aves. Participação de mercado em 2004 (%) Matriz BCG Alta Baixa adaptada < 100 80 60 50 30 <10 Crescimento potencial em 2004-13 (mil t) Alto Baixo > 110 100 80 60 40 <20 Hong Kong B A Arábia Saudita EU 15 C Rússia China México Canadá Coréia Japão do Sul D Fonte: a partir de dados do USDA e do Aliceweb, modelo conceitual adaptado de Henderson 1979. Há várias limitações ao se tentar utilizar uma metodologia de análise de empresas para a análise do desempenho de países. Entretanto, acredita-se válido o exercício como mais um subsídio à tomada de decisão. Assim, consideramos que em função da alta participação do produto brasileiro mas do menor potencial de crescimento, Hong Kong e a EU 15 são classificados no quadrante A ( vaca leiteira ), ou seja, são posições a serem mantidas mas cujos recursos deveriam ser destinados para consolidar outras posições no mercado internacional. Isso se reforça caso se confirme a expectativa de queda nos preços apontada na Tabela 9 (OCDE). Por sua vez, a Arábia Saudita se classifica no 7

quadrante B (estrela), ou seja, é uma posição a ser mantida com os próprios recursos gerados nesse mesmo mercado. Países como Rússia e China e, em menor grau o México, são classificados no quadrante C ( criança problema ), visto que apresentam alto potencial de crescimento no volume importado mas, por outro lado, são mercados nos quais o produto brasileiro não tem posição de liderança consolidada (ausente nas importações mexicanas). Por fim, os mercados classificados no quadrante D são Japão, Canadá e Coréia do Sul. Além de apresentarem baixo potencial de crescimento, também apresentam pouca abertura para o produto brasileiro. Se considerada a metodologia aqui proposta, seriam classificados de fracasso. Entretanto, acredita-se que a baixa participação do produto brasileiro em C e em D ocorra sobretudo devido a acordos comerciais e barreiras não tarifárias. Nesse caso, os recursos a serem investidos seriam de ordem diplomática e política no âmbito das negociações internacionais, para então utilizar-se recursos de caixa advindos dos mercados denominados vacas leiteiras. III - Considerações Finais Os dados e informações acima expostos apontam para a competitividade do país no mercado nacional e internacional de aves. Esses indicadores refletem o passado da cadeia produtiva de aves, ou seja, sua competitividade revelada a partir das condições existentes e das ações estratégicas e sistêmicas desenvolvidas nas últimas décadas. Apesar das tendências e projeções (FAO, OCDE e USDA) apontarem para o avanço do país nesse segmento, nada garante que esse desempenho se repetirá no futuro. Para tanto, são necessárias ações por parte dos governos e dos diversos setores que compõem a cadeia produtiva no sentido de garantir as condições de competitividade futura. Essas ações estão sendo debatidas e propostas pela Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Milho e Sorgo, Aves e Suínos, ligada ao Conselho do Agronegócio (http://www.cnpsa.embrapa.br/setorial/). É importante ressaltar que a sustentação do desempenho recente da avicultura brasileira está mais associado ao aumento nas exportações do que no consumo interno. Assim, são fundamentais as negociações para a ampliação ou abertura dos mercados compradores, o que leva tempo e se constitui em uma alternativa de pouca ingerência, sobretudo porque depende dos resultados das negociações no âmbito da OMC. Também é fundamental destacar a importância do milho, que historicamente tem tido um forte impacto nos custos de produção e, por conseqüência, nos resultados da cadeia produtiva. Em relação ao mercado interno, acredita-se que a transferência da elevação dos custos para o consumidor provavelmente afetará a demanda num mercado onde a cadeia bovina de corte dá mostras de fortalecimento da articulação entre seus elos, resultando no aumento da qualidade dos produtos ofertados e na redução dos custos de transação. Tais observações relembram a situação enfrentada pela atividade suinícola nos anos de 2002 e 2003. Essa atividade, fortemente relacionada à cadeia produtiva de aves, sofreu perdas nesse período que chegaram a uma dimensão qualificada no meio produtivo como historicamente inigualável. Acredita-se que a suinocultura não estabeleceu a devida articulação entre os elos, dificultando o planejamento de ações que, se não evitassem a queda nos preços ou mesmo o aumento dos insumos, ao menos harmonizassem o impacto das perdas entre os principais agentes da cadeia. 8