Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos

Transcrição

1 Dezembro de 2015 Abertura de mercado e câmbio depreciado impulsionarão as exportações brasileiras de carnes no ano que vem Priscila Pacheco Trigo Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos O crescimento na produção do complexo carnes ocorrerá nos principais mercados produtores, impulsionados pelas vendas ao mercado externo. A produção mundial de carnes (bovina, suína e avícola) deve crescer 1,0% em 2016, segundo estimativa do USDA, ao passo que as exportações deverão subir 3,3%. Destacamos o desempenho positivo dos Estados Unidos em carne bovina e avícola e da Rússia em carne suína. A Índia também deverá ganhar participação no mercado mundial de carne bovina. Pelo lado negativo, a Austrália terá uma produção menor de carne bovina, implicando menor volume exportado. No mesmo sentido, o deverá registrar crescimento das exportações superior ao da produção. A abertura do mercado brasileiro para diversos países (Estados Unidos, Arábia Saudita, China e México) e o câmbio em patamar depreciado permitirão aos produtores destinarem maior parcela da produção ao mercado externo. Nesse caso, o destaque ficará com os embarques de carne bovina, ganhando do mercado australiano. As exportações Assim, os embarques australianos de carne bovina deverão recuar em 190 mil toneladas, a despeito da expectativa de alta das exportações mundiais. Isso abrirá espaço para expansão das de todo o complexo subirão cerca de 5% no próximo ano. Dessa forma, a participação do no mercado exportador global passará de 22,0% para 22,4% entre 2015 e 2016, ainda atrás dos Estados Unidos (que exportam 24% da produção). Carne bovina A produção mundial de carne bovina deverá subir 1% em 2016 para 59,2 milhões de toneladas, conforme estimativa do USDA. O desempenho será puxado pelo avanço dos Estados Unidos (4,9%), da Índia (7,1%) e do (1,9%). Somente esses países adicionarão um milhão de toneladas na produção mundial. Essa será a primeira expansão do abate nos Estados Unidos desde, como reflexo do aumento do rebanho que vem ocorrendo desde, das condições climáticas favoráveis e da redução dos gastos com ração. Em sentido contrário, a produção na Austrália deverá encolher em 250 mil toneladas no próximo ano, como reflexo do ciclo de retenção de fêmeas na região, postergado pela seca nos últimos anos Austrália Índia Produção de Carne Bovina dos maiores exportadores - em mil toneladas exportações de outros países, com destaque para o, cujas vendas externas passarão de 16,9% para 17,9% das exportações mundiais entre 2015 e A abertura dos mercados da 1

2 China, dos Estados Unidos, da Arábia Saudita e do Japão garantirá tal desempenho, de forma que as exportações somem 1,77 milhão de toneladas em 2016, com alta de 9,2%. Ainda que a cota para os Estados Unidos seja pequena e que depende de inspeção sanitária e entrega de certificado sanitário, o acordo acaba possibilitando a abertura para outros mercados, como Coreia. A Índia, no mesmo sentido, deve ampliar a participação do comércio mundial de carne bovina, passando de 20,8% para 21,9% no mesmo período, com ampliação dos mercados sulasiático e africano Austrália Índia Exportação de carne bovina em países selecionados (em mil toneladas) No mercado brasileiro, o consumo deve subir apenas 0,3%, respondendo à restrição nos orçamentos das famílias, diante do enfraquecimento do mercado de trabalho. Além disso, a retomada do mercado externo deverá manter os preços domésticos da carne bovina em elevado patamar, limitando a expansão do consumo interno. Assim, as exportações responderão por 18,5% da produção doméstica em 2016, participação que deverá atingir 17,2% neste ano. 180,0 160,0 140,0 120,0 109,6 106,9 108,4 125,2 150,7 148,3 Preços do boi gordo - São Paulo (em R$ por arroba) 100,0 80,0 60,0 40,0 20,0 jan/02 42,2 jan/03 51,7 jan/04 Carne avícola jan/05 jan/06 61,8 93,3 74,5 A produção global de carne de frango deverá registrar expansão de 1,6% em 2016, totalizando 89,34 milhões de toneladas. Tal desempenho será puxado pelo incremento dos dois maiores players de mercado, Estados Unidos e, que detêm jan/07 jan/08 jan/09 jan/10 jan/11 jan/12 90,8 jan/13 97,0 jan/14 jan/15 jan/16 dez/16 Fonte e projeção: CEPEA ESALQ, Bloomberg 20,6% e 15,1%, respectivamente. Cada um deverá adicionar 400 mil toneladas à produção mundial. Na China, terceiro maior produtor, a alta deverá ser menos intensa, de 0,6%, o que garantirá ao a segunda colocação no ranking global, posição atingida em 2015, conforme estimativas do USDA. 2

3 China Produção de carne de frango dos maiores produtores (em mil toneladas) As exportações globais, por sua vez, deverão crescer 4,5%, uma vez que esses principais países já estão com consumo mais consolidado. Dessa forma, os embarques de carne avícola norteamericanos devem subir 7,7% e o brasileiro outros 3,7%. Ainda assim, o lidera o ranking das exportações no mundo, com participação de 28,8%. No mercado brasileiro, a maior rentabilidade das exportações e os elevados preços de carne bovina deverão significar preços também favoráveis ao produtor de carne avícola. O orçamento restrito das famílias favorece a alteração do mix de consumo de carnes, a favor da proteína avícola, de menor valor. De fato, o relativo de preços entre as carnes de frango e de bovino encontra-se em patamar historicamente baixo, beneficiando o consumo de frango UE Exportações de carne de frango dos maiores exportadores (em mil toneladas) Preços do frango vivo - praça Paraná (em R$ por kg) Fonte: DERAL 2,8 2,6 2,4 2,2 2,0 1,8 1,6 1,4 1,2 1,0 0,8 1,37 1,29 jan/03 jan/04 jan/05 1,62 jan/06 1,12 jan/07 1,81 1,27 jan/08 jan/09 jan/10 1,40 1,84 jan/11 2,46 1,65 jan/12 jan/13 2,44 2,00 1,85 jan/14 2,56 2,31 2,15 2,14 jan/15 dez/15 3

4 40,0% 35,0% 34,6% 38,7% 33,8% relação de preços média histórica Relativo de preços entre as carnes de frango e bovina ,8% 30,0% 26,4% 25,0% 25,7% 28,6% 28,0% 26,0% 24,4% 27,0% 20,0% jan/12 mar/12 mai/12 jul/12 set/12 nov/12 jan/13 mar/13 mai/13 jul/13 set/13 nov/13 jan/14 mar/14 mai/14 jul/14 set/14 nov/14 jan/15 mar/15 21,8% mai/15 jul/15 set/15 nov/15 Fonte: Deral e Cepea Carne suína No mundo, a produção de carne suína deverá atingir 111,962 milhões de toneladas no próximo ano, o que representa incremento de 0,5% em relação aos 111,458 milhões de toneladas produzidos em Destaque para os Estados Unidos, cuja adição na produção deve somar 156 mil toneladas de carne. Na China, a estimativa de alta de apenas 0,2% da produção representará o incremento de 125 mil toneladas no próximo ano, uma vez que o país detém mais de 50% da produção mundial de carne suína. O desempenho ligeiramente positivo interrompe três anos consecutivos de retração da produção chinesa, após a queda dos preços de ração e elevação dos preços de carnes ao consumidor, garantindo maior rentabilidade ao produtor China UE Produção da carne suína dos maiores produtores (em mil toneladas) Entre as novas fronteiras, destaque para a produção russa, que deve se elevar em 150 mil toneladas, refletindo os investimentos em ampliação da capacidade instalada e consolidação da indústria nos últimos anos. Dessa forma, a Rússia continua reduzindo a dependência de carne suína importada. De fato, o coeficiente de importação de carne suína passou de 32% do consumo russo em para 7% em 2016, conforme as estimativas do USDA. Nesse período, a produção avançou 3,4%. Como o consumo nesses países cresce em ritmo menor do que a produção, as exportações devem ganhar mais força, de forma que o USDA estima que os embarques globais aumentem em 1,6% em A alta virá principalmente dos Estados Unidos, que deve adicionar 100 das 115 mil toneladas de exportações no próximo ano. 4

5 UE - 27 Canadá Exportações da carne suína dos maiores exportadores (em mil toneladas) No, as expectativas são de aumento de 59 mil toneladas na produção, ou o equivalente ao aumento de 1,7% em relação a este ano. As exportações, no mesmo sentido, devem subir 2,7%, após a maior abertura dos mercados chinês e mexicano. No consumo doméstico, por sua vez, devemos observar uma mudança no mix dos produtos, saindo de embutidos de maior valor agregado para os mais baratos. Por fim, para o produtor no, a pressão com custos de ração e a maior rentabilidade das exportações nos levam a esperar que os preços domésticos mantenham-se em patamar elevado. Conclusão Em suma, no próximo ano o produtor brasileiro de carnes será beneficiado principalmente pela abertura do mercado externo e pela retração da produção australiana de carne bovina. Isso permitirá o incremento da produção de carnes no País, com foco a atender a demanda externa. O produtor ainda será favorecido pelo câmbio depreciado, que melhora a rentabilidade do exportador e pressiona os preços internos, dada a concorrência entre os mercados externo e doméstico. Mesmo assim, não esperamos elevação significativa dos preços internos de carnes. Primeiro porque já se encontram em elevado patamar. Ademais, as famílias se deparam cada vez mais com restrições no orçamento, diante do enfraquecimento do mercado de trabalho. Assim, o consumo de frango será favorecido em detrimento da carne bovina, ao mesmo tempo em que esperamos migração do consumo de embutidos de maior valor agregado para os de menor valor. Por fim, a margem dos produtores de carnes seguirá pressionado, diante do elevado preço do bezerro e dos custos com ração, em razão dos preços de milho no mercado doméstico. 5

6 Perfil do setor Carne avícola Oferta, China e respondem por 50% da produção total; e respondem por 65% das exportações mundiais; O exporta 30% da sua produção e os 20%; Demanda China,, União Europeia e são os maiores consumidores mundiais, com 55% do mercado; Os maiores importadores são: Japão, Arábia Saudita e União Europeia, que juntos respondem por 1/3 das importações mundiais; O Japão importa 40% do seu consumo interno e a Rússia 15%; Mercado Externo Os principais países de destino das exportações brasileiras de carne avícola são: Arábia Saudita 16%, União Europeia 10%, Japão 10% e China 6%. Carne suína Oferta China e União Europeia respondem por 70% da produção total;, União Europeia e Canadá respondem por 80% das exportações mundiais; A UE exporta 10% da sua produção e os 20%; O Canadá não é um grande produtor mundial (2%), porém exporta 60% da sua produção interna e, portanto configura como o 3º maior exportador; é o 4º exportador mundial e exporta 20% da sua produção. Demanda China e União Europeia são os maiores consumidores mundiais, com 70% do mercado; Os maiores importadores são Japão e China, que juntos respondem por 35% das importações mundiais; O Japão importa 50% do seu consumo interno e a Rússia 12%. A China importa 2% do seu consumo doméstico. Mercado Externo Os principais mercados de destino das exportações de carne suína são: 38% Rússia e 23% Hong Kong. Carne bovina Oferta, e Europa respondem por 50% da produção total; Índia,, Austrália e respondem por 70% das exportações mundiais; é o segundo exportador mundial, atrás da Índia e exporta 20% da sua produção. Demanda, e Europa são os maiores consumidores mundiais, com 50% do mercado; Os maiores importadores são, Rússia e Japão, que juntos respondem por 40% das importações mundiais; A Rússia importa 40% do seu consumo interno, os 12% e o Japão importa 60% do seu consumo interno. Mercado Externo Os principais mercados de destino das exportações de carne bovina são: 25% Hong Kong, 20% Rússia, 11% Venezuela, 11% Egito, 8% Europa. 6

7 Equipe Técnica Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Marcelo Cirne de Toledo - Superintendente executivo Economia Internacional: Fabiana D Atri / Felipe Wajskop França / Daniela Cunha de Lima / Thomas Henrique Schreurs Pires Economia Doméstica: Igor Velecico / Andréa Bastos Damico / Ellen Regina Steter / Myriã Tatiany Neves Bast / Ariana Stephanie Zerbinatti Análise Setorial: Regina Helena Couto Silva / Priscila Pacheco Trigo / Leandro de Oliveira Almeida Pesquisa Proprietária: Fernando Freitas / Leandro Câmara Negrão / Ana Maria Bonomi Barufi Estagiários: Davi Sacomani Beganskas / Henrique Neves Plens / Mizael Silva Alves / Gabriel Marcondes dos Santos / Wesley Paixão Bachiega / Carlos Henrique Gomes de Brito / Gustavo Assis Monteiro O BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. Desse modo, ressaltamos que todas as consequências ou responsabilidades pelo uso de quaisquer dados ou análises desta publicação são assumidas exclusivamente pelo usuário, eximindo o BRADESCO de todas as ações decorrentes do uso deste material. Lembramos ainda que o acesso a essas informações implica a total aceitação deste termo de responsabilidade e uso. A reprodução total ou parcial desta publicação é expressamente proibida, exceto com a autorização do Banco BRADESCO ou a citação por completo da fonte (nomes dos autores, da publicação e do Banco BRADESCO). 7