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Transcrição:

Portugalglobal Pense global pense Portugal Julho 2014 // www.portugalglobal.pt Entrevista Jorge Rosa Presidente da ACAP Indústria automóvel é estratégica 6 Destaque Componentes para automóveis Sector fortemente exportador 10 Mercados Chile, um país de oportunidades 22 Empresas R&D NESTER e Milestone Consulting 18

Julho 2014 // www.portugalglobal.pt sumário Entrevista // 6 A ACAP Associação Automóvel de Portugal representa 30 mil empresas do sector automóvel que asseguram 124 mil postos de trabalho directos. Em entrevista, Jorge Rosa, presidente desta Associação e CEO da Mitsubishi Fuso Truck Europe, SA, analisa a importância crescente do sector para a economia nacional. Destaque // 10 O sector da produção automóvel e dos componentes para automóveis apresenta-se como estratégico para a economia nacional, com forte impacto a nível das exportações e do investimento. Neste contexto, assume importância o artigo e a breve entrevista a Tomás A. Moreira, presidente da AFIA Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel. Empresas // 18 R&D NESTER: investigação e inovação na área de energia. MILESTONE CONSULTING: o desafio da internacionalização. Mercado // 22 Economia aberta e com um crescimento económico superior a 5 por cento, o Chile tem em curso um processo de modernização que abre um leque de oportunidades às empresas portuguesas. As análises do Embaixador de Portugal no Chile, Luís Lorvão, e do director do Escritório da AICEP no mercado, Jorge Salvador. Comércio Internacional // 38 Em foco, o acordo comercial entre a União Europeia e os Estados Unidos o Transtlantic Trade and Investment Partnership, que poderá abrir novas oportunidades para as empresas portuguesas, num artigo assinado por José Vital Morgado, administrador executivo da AICEP. Análise de risco por país COSEC // 40 Veja também a tabela classificativa de países. Estatísticas // 43 Investimento directo e comércio externo. AICEP Rede Externa // 46 Bookmarks // 48

EDITORIAL Revista Portugalglobal Av. 5 de Outubro, 101 1050-051 Lisboa Tel.: +351 217 909 500 Fax: +351 217 909 578 Propriedade aicep Portugal Global Rua Júlio Dinis, 748, 9º Dto 4050-012 Porto Tel.: +351 226 055 300 Fax: +351 226 055 399 NIFiscal 506 320 120 Conselho de Administração Miguel Frasquilho (Presidente), José Vital Morgado, Luís Castro Henriques, Pedro Ortigão Correia, Pedro Pessoa e Costa (Vogais). Sucesso global Directora Ana de Carvalho ana.carvalho@portugalglobal.pt Redacção Cristina Cardoso cristina.cardoso@portugalglobal.pt Vitor Quelhas vitor.quelhas@portugalglobal.pt Colaboram neste número Direcção Grandes Empresas da AICEP, Direcção de Informação da AICEP, Direcção Internacional da COSEC, Direcção PME da AICEP, Joana Peixoto, Jorge Rosa, Jorge Salvador, José Vital Morgado, Luís Lorvão, Philomène Dias, Tomás A. Moreira. Fotografia e ilustração Autoeuropa, Fotolia, Turismo Chile. Publicidade Cristina Valente Almeida cristina.valente@portugalglobal.pt Secretariado Cristina Santos cristina.santos@portugalglobal.pt Projecto gráfico aicep Portugal Global Paginação e programação Rodrigo Marques rodrigo.marques@portugalglobal.pt ERC: Registo nº 125362 As opiniões expressas nos artigos publicados são da responsabilidade dos seus autores e não necessariamente da revista Portugalglobal ou da aicep Portugal Global. A aceitação de publicidade pela revista Portugalglobal não implica qualquer compromisso por parte desta com os produtos/serviços visados. A actividade exportadora é essencial para o desenvolvimento económico do país e do seu tecido empresarial, tanto mais que é indicativa do aumento de escala, competitividade, qualidade total e sofisticação da produção das empresas exportadoras, nomeadamente na vertente tecnológica, requisitos indispensáveis para o acesso bem sucedido ao mercado global. Entre os sectores nacionais fortemente exportadores e geradores de emprego, o dos componentes para automóveis constitui, sem dúvida, um paradigma positivo em matéria de investimento, inovação e resiliência, sendo por isso de destacar, dado o seu volume de negócios agregado (não consolidado) em torno de 7 mil milhões de euros e a exportação, em 2013, de cerca de 83 por cento da sua produção. Transversal a um universo diversificado de indústrias e serviços, como fica patente nas palavras dos responsáveis das associações dos sectores automóvel e componentes ACAP e AFIA o sucesso internacional dos componentes fabricados em território nacional mostra também que há IDE a apostar no sector, assim como crescentes competências técnicas instaladas, incorporação de I&D e uma cooperação cada vez maior entre as empresas e universidades e centros de engenharia, bem como certificação em todas as áreas produtivas. A opção, nesta edição, pelo mercado chileno tem que ver com o facto de o cenário macroeconómico do país ser claramente positivo, apresentando uma taxa média de crescimento de 5,1 por cento nos últimos três anos. Por outro lado, o Chile tem uma população de quase 17 milhões de habitantes, factor que torna este mercado atractivo e competitivo devido ao crescimento dos níveis de consumo decorrentes do aumento do poder de compra, da reduzida taxa de desemprego e do acesso ao crédito. Contudo, o mercado chileno não deve ser encarado como um objectivo estratégico único pelas empresas portuguesas, mas também na óptica de uma plataforma privilegiada para terceiros mercados, já que o país dispõe de uma excelente rede de acordos comerciais com evidente peso global. Dadas as excelentes relações bilaterais entre Portugal e o Chile, o crescimento económico do país andino, bem como as oportunidades de negócio, a diversificação para a exportação de bens e serviços e como destino para o IDE português, este é um país e um mercado que não pode deixar indiferentes as empresas e os empreendedores portugueses que apostam no sucesso global. MIGUEL FRASQUILHO Presidente do Conselho de Administração da AICEP 4 // Julho 2014 // Portugalglobal

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ENTREVISTA JORGE ROSA - PRESIDENTE DA ACAP INDÚSTRIA AUTOMÓVEL UM TRANSPORTE COM FUTURO QUE DESPERTA PAIXÕES Há mais de um século que a Associação Automóvel de Portugal ACAP representa e defende o sector automóvel, actualmente um universo com 30 mil empresas e um volume de negócios de 18 mil milhões de euros, 124 mil postos de trabalho directos e 13,4 por cento do total das receitas fiscais do país. Em entrevista, Jorge Rosa, presidente da ACAP e CEO da Mitsubishi Fuso Truck Europe, SA, mostra como a indústria automóvel se reinventa e prospera, conquista mercados, apaixona os consumidores e se posiciona como o meio de transporte do futuro. 6 // Julho 14 // Portugalglobal

ENTREVISTA Quais são as grandes linhas de força do universo ACAP, e o que representa e congrega como associação do sector automóvel? A ACAP é a associação que, há mais de um século, representa o sector automóvel em Portugal nas vertentes indústria e comércio automóvel, seja grossista seja retalhista. A ACAP criou ainda as empresas Valorcar e Valorpneu que são as entidades gestoras dos veículos em fim de vida e de pneus usados, respectivamente. Nestas áreas de actuação, as duas entidades gestoras são consideradas uma referência no cumprimento das metas de recolha e de reciclagem definidas pelo Governo. Nas áreas de actividade representadas, e para além da indústria automóvel, encontram-se os sectores de comercialização de veículos, peças e acessórios, motociclos, máquinas agrícolas e industriais, pneus e náutica. Em matéria de intervenção, de que forma actua a ACAP e quais são os grandes temas do sector automóvel que a associação defende como estratégicos? Como associação representa o sector automóvel junto da comunicação social, das entidades oficiais, da opinião pública, assim como das mais diversas organizações. Na defesa dos interesses das empresas associadas, a ACAP defende uma economia de mercado onde se combata, de forma eficaz, a concorrência desleal, denunciando todo o tipo de práticas contrárias à legislação em vigor. Por outro lado, defendemos a competitividade da economia portuguesa face às economias concorrentes, quer ao nível da área laboral, da redução dos custos de contexto, assim como da burocracia. nosso país, superavitária, tal como pode ser constatado pela análise da taxa de cobertura das importações pelas exportações, em valor, que, em 2013, se cifrou em 107 por cento. O sector automóvel possui uma importância crescente na economia portuguesa, ascendendo já a 30 mil o número de empresas dedicadas a esta actividade, as quais asseguram 124 mil postos de trabalho directos, representando 2,7 por cento do emprego total. O volume de negócios anual do sector ultrapassa os 18 mil milhões de euros, gerando 4,8 mil milhões de receitas fiscais com um peso de 3 por cento no PIB. A balança automóvel é, no nosso país, superavitária, tal como pode ser constatado pela análise da taxa de cobertura das importações pelas exportações, em valor, que, em 2013, se cifrou em 107 por cento. O automóvel é cada vez mais um elemento central da mobilidade das pessoas e uma indústria global. Qual a importância e o peso da indústria automóvel, em todas as suas vertentes, para a economia portuguesa? Portugal possui uma indústria automóvel com alguma dimensão, sendo o número de veículos produzidos no país semelhante ao da Suécia e superior ao verificado noutros países da UE, como a Holanda, Finlândia ou Dinamarca. Segundo a ACEA Associação Europeia de Construtores de Na defesa das nossas posições realizamos, com regularidade, reuniões com os membros do Governo, com a Assembleia de República, parceiros sociais assim como com as organizações internacionais em que estamos filiados. Neste momento, e como forma de revitalização do sector, defendemos a reintrodução do incentivo ao abate de veículos em fim de vida. Recentemente, vimos os nossos esforços compensados quando a Comissão para a Reforma da Fiscalidade Verde propôs ao governo a reintrodução destes incentivos. Por outro lado, há bastante tempo, que defendemos uma harmonização da carga fiscal sobre o automóvel na União Europeia. Este é um tema em que não tem existido acordo entre os diversos Estados-membros, dada a complexidade da matéria. Contudo, pensamos que com essa harmonização, Portugal seria um país muito mais competitivo na atracção de investimento directo estrangeiro no sector da indústria automóvel. Pode traduzir a importância do sector automóvel em Portugal fabrico, vendas, emprego em números? Em 2013 foram produzidos em Portugal 154.016 veículos automóveis, 97,5 por cento dos quais foram destinados ao mercado externo. No mesmo período, foram vendidos no mercado interno 126.699 veículos. A balança automóvel é, no Portugalglobal // Julho 14 // 7

ENTREVISTA anos. Em 2014 é estimada uma recuperação que poderá chegar aos 30 por cento. Para os anos seguintes, e ultrapassada a fase de variação acentuada induzida pelo efeito do ano base, o mercado irá crescer de forma mais lenta, sendo, no entanto, pouco provável que alguma vez chegue a atingir de novo os valores de vendas registados em 1999 e 2000. Os factores subjacentes ao crescimento do mercado nesta fase são o crescimento económico, a retoma da confiança das famílias e o acesso em quantidade e qualidade ao crédito à aquisição de viaturas. Por outro lado, entre as medidas que poderiam ajudar a relançar as vendas destaca-se a reintrodução do programa de incentivos ao abate de veículos em fim de vida e a criação de um programa de financiamento ao sector. Ainda na área das vendas, como prevê que vá evoluir a exportação de automóveis fabricados em Portugal para os mercados tradicionais, nomeadamente para o mercado europeu, e quais são actualmente os novos países e mercados mais promissores? As exportações nacionais para o mercado europeu dependem, entre outros factores, da evolução do mesmo, sendo que as vendas na Europa registaram um crescimento de 6,5 por cento no primeiro semestre de 2014. As perspectivas são, pois, favoráveis. O sector automóvel possui uma importância crescente na economia portuguesa, ascendendo já a 30 mil o número de empresas dedicadas a esta actividade, sendo que o seu volume de negócios anual ultrapassa os 18 mil milhões de euros, gerando 4,8 mil milhões de receitas fiscais com um peso de 3 por cento no PIB. Automóveis, Portugal é o décimo quarto país da UE-28 com maior produção de veículos per capita. Os grandes problemas nacionais nos últimos anos têm sido os défices do Estado e da Balança de Transacções Correntes, e neste sentido o sector automóvel foi um dos que mais tem contribuído para a resolução dos desequilíbrios macroeconómicos que afectam o crescimento do país. Só as exportações da indústria automóvel representam 10 por cento do total das exportações nacionais e as receitas fiscais geradas pelo sector representam 13 por cento do total das receitas fiscais. A economia portuguesa encontra-se ainda em fase de retoma e as famílias e as empresas continuam com reduzido poder de compra. Neste sentido, como prevê que o mercado interno evolua e quais são os factores e medidas que o poderiam estimular e relançar? Após ter registado grandes perdas em 2011 (menos 30 por cento) e 2012 (menos 41 por cento), o mercado iniciou a recuperação em 2013 (mais 12 por cento), encontrando-se ainda num nível muito baixo em relação à média dos últimos 10 Apesar das exportações para a UE-28 representarem 76 por cento do total exportado, a China representa já cerca de 15 por cento, sendo um mercado bastante promissor nos próximos anos. Os fabricantes automóveis têm estado atentos às questões ambientais e têm vindo a introduzir alterações nos veículos reduzindo consideravelmente as emissões tóxicas. Os carros fabricados em Portugal são hoje mais amigos do ambiente? A ACEA (associação europeia dos fabricantes de automóveis) possui estudos que chegam às seguintes conclusões: Um automóvel dos anos 70 polui tanto quanto 100 automóveis de hoje; Um automóvel actual emite 28 vezes menos monóxido de carbono que um veículo de há 20 anos; Um automóvel recente consome 15 por cento menos combustível que 1 automóvel adquirido há 10 anos; O ruído proveniente da circulação automóvel foi reduzido em 90 por cento desde a década de 70. Estes indicadores são, por si só, bastante demonstrativos da evolução desta industria em termos ambientais. A reinvenção do sector automóvel é incontornável e, a todos os exemplos, impressionante, não só pela sua influência na sustentabilidade como na forma como esta reinvenção se vai reflectir no futuro das cidades, dos transportes públicos, economia e mobilidade das sociedades. Como vê o futuro deste meio de transporte? Os veículos, ligeiros e pesados, oferecem mobilidade e liberdade para todos permitindo um acesso directo à educação e ao emprego. A maioria dos serviços públicos essenciais, como os serviços postais, de emergência ou de recolha de 8 // Julho 14 // Portugalglobal

ENTREVISTA Mitsubishi Fuso Truck Europe, S.A. lixo, são efectuados por veículos automóveis. Os veículos de mercadorias permitem que os bens essenciais cheguem ao nosso dia a dia, transportando 75 por cento de todas as mercadorias que transitam por terra. O veículo automóvel é, assim, o meio de transporte do futuro, pois só com a mobilidade permitida por estes veículos as sociedades se poderão desenvolver e as economias se poderão tornar competitivas. Apesar das exportações para a EU-28 representarem 76 por cento do total exportado, a China representa já cerca de 15 por cento, sendo um mercado bastante promissor nos próximos anos. De que forma a evolução estética e a inovação tecnológica, bem como a exigência dos consumidores, estão a marcar os fabricantes de automóveis, por um lado, e, por outro, a indústria de componentes para automóvel? O sector automóvel é um sector que desperta muita paixão nos consumidores e isso é muito salutar. É um sector onde o design, aliado à alta tecnologia, é um importante factor de diferenciação do produto. Na Europa, o sector automóvel é o maior investidor em investigação e desenvolvimento, representando 25 por cento do total do investimento realizado. É de referir que a indústria automóvel é responsável pelo registo de 9.500 patentes anualmente. Esta é, assim, uma linha condutora do sector automóvel na sua globalidade. Na área do fabrico de automóveis e componentes verifica-se que há actualmente investimentos no terreno, encomendas a aumentar e até casos de geração de novos empregos. A que se deve este crescimento? Este é um sector de actividade bastante dinâmico e é por isso natural que existam investimentos no terreno e aumento de encomendas. Sendo um sector com forte componente exportadora e estando o mercado europeu com um crescimento de 6,5 por cento no primeiro semestre, é normal que se verifique esta dinâmica. Portugal pode capitalizar a menor atractividade crescente dos investimentos na Ásia na área do fabrico? Quais são os novos factores que nos tornam atractivos para o investimento, e em particular para o IDE no sector? Apesar dos problemas que tem atravessado nos últimos anos, a Europa continua a ser, em termos geoestratégicos, uma zona de grande estabilidade, com indústrias inovadoras e mão-de-obra qualificada. Portugal é um país que, há mais de cinco décadas, possuiu um importante sector da indústria automóvel. Destacamos, aqui, as fábricas de automóveis assim como os fabricantes de componentes. Por este motivo existe também, ao nível dos recursos humanos, uma grande qualificação nesta indústria. As universidades também adaptaram, ao longo dos anos, a sua oferta científica à área automóvel, sobretudo ao nível de pós-graduações, o que é muito significativo. Por último, a nossa localização geográfica permite também o aproveitamento de portos de grande qualidade, a nível mundial, para o escoamento da nossa produção. Estes factores, conjugados, constituem importantes mais valias de atracção de IDE para o nosso sector. Portugalglobal // Julho 14 // 9

DESTAQUE AFIA COMPONENTES PARA AUTOMÓVEIS UM MOTOR PARA A ECONOMIA A actividade do sector dos componentes para automóveis não só é estratégico para as exportações portuguesas, como constitui um bom indicador do comportamento da economia do país, pois percorre transversalmente um vasto universo de indústrias e serviços, e respectiva empregabilidade. Quando neste sector há mais investimento, nomeadamente de IDE, e mais exportação trata-se de uma indústria que exporta mais de 80 por cento da produção, fornecendo peças para a quase totalidade dos modelos de automóveis produzidos em países europeus bem como uma maior implementação de projectos de inovação e novos produtos, como está a acontecer actualmente, estes são sinais positivos de que a economia portuguesa está a crescer e que há retoma na Europa, o primeiro mercado de exportação para os componentes para automóveis de fabrico português. 10 // Julho 14 // Portugalglobal

DESTAQUE INDÚSTRIA AUTOMÓVEL SECTOR ESTRATÉGIGO COM FUTURO >JOANA PEIXOTO E PHILOMÈNE DIAS DIRECÇÃO DE GRANDES EMPRESAS DA AICEP O sector de produção automóvel e dos componentes para a indústria automóvel é um dos sectores com maior peso no volume e valor das exportações nacionais. O impacto deste sector no investimento e comércio externo tem, naturalmente, reflexo na actividade desenvolvida pela AICEP. No domínio do investimento, a actuação da Agência tem passado pela angariação de novos projectos de investimento estrangeiro, bem como pelo acompanhamento e gestão dos projectos de investimento apresentados pelas empresas já instaladas para obtenção de incentivos financeiros e fiscais. No âmbito do QREN Quadro de Referência Estratégico Nacional que agora terminou, muito relevantes do ponto de vista da sua localização, uma vez que se distribuem territorialmente por todo o país. Vale a pena referir que muitas destas empresas estrangeiras estão presentes em Portugal há décadas e que têm vindo continuadamente a investir na sua capacidade produtiva, consolidando competências e o aumento do valor produzido. O investimento promovido por este sector diferencia-se pela sua natureza inovadora, ao nível da engenharia de processo ou engenharia de produto, e assenta na incorporação dos resultados de actividades de I&D Tecnológico desenvolvidos na casa-mãe ou, cada vez mais, nas unidades locais em Portugal. AFIA O investimento promovido por este sector diferencia-se pela sua natureza inovadora, ao nível da engenharia de processo ou engenharia de produto, e assenta na incorporação dos resultados de actividades de Investigação & Desenvolvimento Tecnológico desenvolvidas na casa-mãe ou, cada vez mais, nas unidades locais em Portugal. Assim, este investimento contribui muito poa AICEP, enquanto organismo intermédio, apoiou, ao abrigo do SI Inovação, 67 projectos de investimento, representando mais de 1.178 milhões de euros de investimento elegível. Estes projectos representam um sinal claro de confiança dos investidores do sector e da sua aposta em Portugal, e sinalizam o crescimento e desenvolvimento económico assente no investimento. Trata-se de projectos promovidos por empresas estrangeiras, com diferentes origens de capital, e também nacionais, AFIA Portugalglobal // Julho 14 // 11

DESTAQUE AFIA sitivamente para o incremento do valor acrescentado e para a produtividade nacional, potenciando a criação de emprego qualificado, o aumento sustentado das exportações e uma crescente incorporação nacional. Trata-se de projetos-âncora com efeito multiplicador e de arrastamento nas PME o grosso do tecido empresarial português com impactos significativos na atividade produtiva a montante e a jusante, não só ao nível das regiões em que se encontram inseridos, mas também a nível nacional. Contribuem ainda para o aumento das compras de bens e aquisição de serviços, criação de emprego indireto, localização de novos investimentos e dinamização de clusters de fornecimento. É neste contexto que nasce a iniciativa Redes de Fornecedores Nacionais, uma aposta da AICEP na dinamização de encontros entre fornecedores nacionais que permitam aproximar clientes e fornecedores, bem como sensibilizálos para as vantagens do sourcing em Portugal, o qual assegura maior valor acrescentado nacional. A expansão internacional do país e a consistência da nossa base económica obrigam a que se redobre o esforço no sentido de criar condições que promovam a integração da indústria nacional, 12 // Julho 14 // Portugalglobal sobretudo das nossas PME, na cadeia de fornecimento de grandes empresas, quer no mercado nacional, subs- É neste contexto que nasce a iniciativa Redes de Fornecedores Nacionais e a aposta da AICEP na dinamização de encontros entre fornecedores nacionais que permitam aproximar clientes e fornecedores, bem como sensibilizá-los para as vantagens do sourcing em Portugal, o qual assegura maior valor acrescentado nacional. tituindo importações, quer no mercado internacional, pelo efeito âncora dos seus projectos de internacionalização. É uma aposta no desenvolvimento de sinergias e soluções conjuntas, que contou já com a colaboração de várias empresas do sector automóvel na dinamização de ações que contribuíram para que, nomeadamente, a Faurecia, a Hutchinson, a Bosch, a Volkswagen Autoeuropa, a Linamar Coporation e a BMW, entre outras, conheçam hoje melhor a oferta na- cional e possam incorporá-la na sua cadeia de valor. Esta incorporação da oferta nacional concorre para o aumento da produção interna e para a exportação de bens e serviços, bem como para a redução significativa do peso das importações na nossa balança comercial. A AICEP tem estado igualmente empenhada em promover a competitividade nacional através de plataformas de promoção internacional, como seja a participação na IZB - Internationale Zulieferbörse, considerada uma das feiras do sector com maior peso na Europa. Por outro lado, tratando-se de uma iniciativa e organização da Volkswagen, esta feira torna-se particularmente atractiva para a oferta industrial portuguesa de peças e componentes automóveis. Pela 4ª vez consecutiva, a AICEP organiza, também em 2014, a representação nacional nesta Feira com Pavilhão Nacional em que participa um conjunto de empresas representativas da oferta nacional do sector automóvel. A importância estratégica do sector automóvel e dos componentes é inequívoca e a AICEP, no desenvolvimento da sua missão, está empenhada em continuar a acompanhar a dinâmica deste sector e a promover acções e iniciativas que possam contribuir para o seu crescimento.

DESTAQUE COMPONENTES PARA AUTOMÓVEIS UM CLUSTER PORTUGUÊS EM CRESCIMENTO > TOMÁS A. MOREIRA PRESIDENTE DA AFIA - ASSOCIAÇÃO DE FABRICANTES PARA A INDÚSTRIA AUTOMÓVEL O fabrico de componentes para automóveis em Portugal iniciou-se nos anos 60 para fornecer as primeiras linhas de montagem, sujeitas a exigências de incorporação nacional. Actualmente este sector exporta mais de 80 por cento da sua produção, fornecendo peças para a quase totalidade dos modelos de automóveis fabricados na Europa. Nos anos 80 e 90, com os projectos Renault e Autoeuropa, nasceram as primeiras unidades de dimensão europeia, atraindo investidores estrangeiros e permitindo aos fabricantes de componentes ganhar escala. Coincidindo este período com a entrada na UE, toda a indústria começou a exportar e a desenvolver-se, tornando-se num cluster emblemático. As suas empresas distribuem-se por diferentes códigos de actividade e produtos, tornando exaustivo e impraticável listar toda a panóplia de componentes fabricados em território nacional, o que dificulta a percepção da real representatividade do sector, cuja dimensão é habitualmente subestimada. É por isso pouco divulgado que a indústria automóvel é hoje um dos maiores sectores exportadores nacionais, se considerarmos o somatório das suas diversas e complementares actividades, as quais abrangem o fabrico de moldes, de componentes e de automóveis. São conhecidos os elevados graus de exigência e de competitividade desta indústria, que obriga as empresas a recorrer a processos tecnológicos sofisticados, a manter uma dinâmica de contínuo desenvolvimento e inovação de produtos/tecnologias/processos, a seguir conceitos de qualidade total e de excelência nas operações, requerendo recur- sos humanos altamente qualificados, só possível através de formação contínua e valorização profissional nas empresas. O sector conta com uma elevada percentagem de investimento estrangeiro em Portugal mas em contrapartida também diversas empresas portuguesas se internacionalizaram, formando grupos multinacionais que actuam próximo dos seus clientes em quatro continentes. A indústria automóvel caracterizase por fortes efeitos estruturantes e multiplicadores em termos de desenvolvimento dos sectores a montante, elevado grau de cooperação entre as empresas e um importante relacionamento com universidades e centros de engenharia e I&D, todos integrados no Pólo de Competitividade das Indústrias da Mobilidade que tem como entidade gestora o CEIIA - Centro para a Excelência e Inovação na Indústria Automóvel. Apesar duma incorporação de mão-deobra relativamente elevada, a indústria automóvel portuguesa continua a in- Portugalglobal // Julho 14 // 13

DESTAQUE AFIA vestir continuamente em meios produtivos de última geração. Tem vindo a ganhar competitividade e a crescer graças à boa capacidade de adaptação da mão-de-obra, à contenção salarial, competências técnicas, inovação nas empresas, índices de qualidade de nível europeu, certificações em todas as áreas, bem como ao seu historial exportador, elevado grau de internacionalização e localização privilegiada de entrada e saída para mercados fora da UE. A evolução da indústria de componentes para automóveis dependerá da melhoria dos factores de competitividade da economia portuguesa, estando claramente identificados os obstáculos que têm limitado o desenvolvimento do sector: Exportando o grosso da sua produção para mercados totalmente abertos e globalizados, e concorrendo livremente com todos os outros países num contexto de enorme competitividade de preços, todas as questões ligadas a custos se revestem de extrema relevância. Apesar de Portugal ter os custos salariais mais baixos da Europa Ocidental, não se pode ignorar que competimos directamente contra países com custos de trabalho muito inferiores. Também o crescente custo da energia e a má qualidade do abastecimento 14 // Julho 14 // Portugalglobal eléctrico (cortes de energia causadores de paragens da produção) têm prejudicado a competitividade das empresas. Ao contrário doutros países nossos concorrentes, o actual quadro legal português ainda não permite às empresas, de uma forma suficientemente expedita, desburocratizada e sem custos extra, adaptarem a laboração às variações de curto prazo do fluxo de encomendas. Outro entrave ao desenvolvimento e aumento de competitividade do sector tem sido a complexidade das candidaturas ao QREN, o seu período de apreciação e de decisão, aliados a critérios de elegibilidade subjectivos e questionáveis, penalizando as candidaturas da indústria transformadora e não apoiando muito do investimento produtivo gerador de postos de trabalho. A justiça, burocracia, instabilidade legislativa, regulamentar e fiscal são factores unanimemente reconhecidos como principais perturbadores e inibidores da competitividade. Todas as possíveis melhorias nestes constrangimentos irão permitir à indústria de componentes aproveitar as enormes oportunidades de crescimento com que se depara. Maior incorporação nacional Prevê-se o aumento da produção de viaturas em Portugal, conjugado com uma ascensão na cadeia de valor, associada ao fornecimento de sistemas e módulos. Um esforço colectivo no sentido de os construtores aumentarem os respectivos volumes de compras em Portugal e incentivos públicos nesse sentido, teriam seguramente um efeito dinamizador. Novo IDE em Portugal Um potencial investimento numa nova fábrica de automóveis em Portugal abriria à indústria de componentes um enorme mercado adicional. Justifica-se que a AICEP e o Governo persigam proactivamente a possibilidade de cativar um fabricante de automóveis asiático. Espanha Prevê-se a curto prazo um forte crescimento do número de viaturas produzidas neste mercado onde a penetração dos fabricantes portugueses de componentes poderá ainda crescer. AFIA

DESTAQUE Restante mercado europeu Apesar da ligeira queda da produção automóvel na Europa em 2012/13, há expectativas fundadas de retoma, em 2014 e anos seguintes. A nossa penetração de mercado já é considerável mas poderá aumentar. Outros mercados A produção automóvel continua a crescer nos países emergentes. Através de exportação, de parcerias ou de investimento directo, as empresas portuguesas poderão aproximar-se dos clientes, conquistar mercados e ganhar dimensão e competitividade. A AFIA Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel está em contacto permanente com todas as entidades que têm poder para influenciar o sector, sensibilizando-as para estas realidades e incentivandoas no sentido das intervenções possíveis e desejáveis. O SECTOR EM NÚMEROS TOMÁS A. MOREIRA - PRESIDENTE DA AFIA Qual tem sido o crescimento da indústria portuguesa de componentes para automóveis e como prevê que vá evoluir nos próximos anos? A crise de 2008 afectou gravemente toda a indústria automóvel europeia. Em Portugal, a actividade do sector de componentes baixou 25 por cento entre 2007 e 2009. Entre 2009 e 2013, o sector cresceu 40 por cento, sobretudo através da exportação, ganhando quotas de mercado na Europa, e ultrapassando já os níveis pré-crise, demostrando o sucesso desta estratégia. Prevê-se manter o crescimento nos próximos anos, graças à já visível recuperação do mercado automóvel europeu, que entrou numa curva ascendente aparentemente sustentável. Em termos de curto prazo, é sintomático e um bom sinal que a produção total de automóveis na Europa acumulada no final de Maio esteja 6,2 por cento superior a 2013. Quando se produzem mais carros, o impacto sobre a indústria de componentes é automático e imediato. Pode quantificar a actividade do sector, da produção à exportação? A indústria automóvel em Portugal é muito forte e tem um peso importantíssimo no emprego e no PIB nacionais. É constituída por três áreas de actividade complementares, todas elas de dimensão muito significativa: fabrico de moldes, fabrico de componentes e fabrico de viaturas automóveis. Na sua totalidade, a indústria automóvel agrega mais de 300 empresas, com um volume de emprego directo superior a 50.000 pessoas e, em 2013, as suas vendas terão rondado os 8 mil milhões de euros, dos quais mais de 90 por cento foram exportados, representando assim mais de 12 por cento do total das exportações nacionais de produtos. Dentro deste total, o sector de fabrico de componentes, que a AFIA representa, tem claramente o maior peso, sendo constituído por cerca de 180 empresas, com um volume de negócios agregado (não consolidado) em torno dos 7 mil milhões de euros. Quais são os principais mercados de destino dos componentes para automóveis fabricados em Portugal? O sector de componentes exportou em 2013 cerca de 83 por cento da sua produção, não estando portanto demasiado dependente das linhas de montagem automóvel implantadas em Portugal. As empresas do sector fornecem peças para a quase totalidade dos modelos de automóveis fabricados na Europa. Por ordem decrescente, na maior parte dos casos os componentes são vendidos directamente aos fabricantes de automóveis, noutros casos através de integradores de sistemas e numa terceira situação as peças destinam-se ao mercado de reposição. Os maiores mercados e respectivas quotas-partes nas nossas exportações são a Alemanha (28 por cento) maior produtor europeu de viaturas, seguida da Espanha (24 por cento), França (16 por cento) e Reino Unido (7 por cento). Cerca de 9 por cento das exportações vão para os países do Leste da Europa e 8 por cento para fora da Europa (Ásia, Américas e África). Portugalglobal // Julho 14 // 15

DESTAQUE NOVO INVESTIMENTO FAZ CRESCER REDE DE FORNECEDORES E EMPREGO A Volkswagen Autoeuropa, uma das fábricas de produção automóvel do grupo Volkswagen, iniciou a sua produção em Portugal em 1995. Situada no parque industrial de Palmela, representa o maior investimento directo estrangeiro até hoje feito no país, tendo um impacto determinante na economia portuguesa, sobretudo ao nível das exportações. Actualmente, a Volkswagen Autoeuropa exporta a maior parte da sua produção para os mercados alemão e chinês, tendo um peso significativo na economia nacional, sendo de salientar o facto de ser a terceira empresa que mais exporta em Portugal, com um peso de 1 por cento no PIB português. É também um caso em que estão resolvidas as questões competitivas, pois a fábrica de Palmela mede-se bem com a concorrência do sector, tem capital humano qualificado, boa gestão e eficiência colectiva. Em Abril passado, a empresa assinou um contrato de intenção de investimento com o governo português, através da AI- CEP, formalizando a decisão da casa-mãe de investir 677 milhões de euros na unidade portuguesa. A mais-valia deste investimento é que se destina a preparar a fábrica para uma nova tecnologia de plataformas em que poderão ser construídos 16 // Julho 14 // Portugalglobal modelos de uma nova geração. O novo investimento permitirá a criação de 500 empregos directos e, tendo em conta o rácio dos anos anteriores, poderá significar cerca de 1.500 novos postos de trabalho na rede de fornecedores da fábrica. A Volkswagen Autoeuropa irá assim acrescentar pelo menos um novo modelo aos que produz actualmente: os Volkswagen Scirocco, Sharan e Eos e o Seat Alhambra. A empresa sempre definiu como prioridade o desenvolvimento da rede de fornecedores nacionais, incrementando a incorporação local no fabrico dos seus modelos, o que contribui para o desenvolvimento da indústria automóvel em Portugal. Em 2012, a Volkswagen Autoeuropa comprou aos fornecedores nacionais 839 milhões de euros de material para produzir os modelos da marca. Com estas compras, a incorporação nacional nos modelos produzidos pela empresa atingiu os 62 por cento, sendo que nos anos anteriores foi de 60 por cento (em 2011) e 58 por cento (em 2010). No que toca ao volume de vendas provenientes de fábricas sedeadas em Portugal ao grupo Volkswagen, é de realçar que entre 2011 e 2012 a facturação aumentou 178 por cento, passando dos 163 milhões para os 453 milhões de euros, sendo que o número de fornecedores também aumentou de 12 para 14. Assim, passados 23 anos e 3,5 mil milhões de euros de investimento, a Volkswagen Autoeuropa tem um papel essencial na criação do cluster automóvel nacional e na respectiva rede de pequenas e médias empresas fornecedoras de componentes para automóvel. Foram estas PME, em que cerca de metade delas são portuguesas, que investiram e criaram emprego, gerando riqueza e aumentando o consumo na região de Palmela, no distrito e a nível nacional.

EMPRESAS R&D NESTER INVESTIGAÇÃO E INOVAÇÃO NA ÁREA DE ENERGIA A construção de uma plataforma de conhecimento internacional de soluções para aplicação ao planeamento de redes de transporte de energia é um dos objectivos do Centro R&D NESTER, nascido de uma parceria constituída entre a REN e a State Grid Corporation of China. Com pouco mais de um ano de existência, o R&D NESTER já apresentou resultados de vendas de serviços prestados e tem na China, Europa e PALOP os seus principais clientes. Constituído em Maio de 2013, o R&D NESTER nasceu de uma parceria entre a REN SGPS, S.A. e a State Grid Corporation of China (SGCC) (recém accionista de referência da REN SGPS, S.A.) para o desenvolvimento de projectos de inovação e de I&D na área da energia. Esta parceria vem no seguimento da penúltima fase de privatização da REN SGPS, S.A., em 2012, nos termos da qual a SGCC se comprometeu a constituir em Portugal um centro de inovação e de investigação e desenvolvimento. Embora se encontre ainda em fase de consolidação da sua actividade, o R&D NESTER apresentou em 2013 (com apenas cerca de seis ou sete meses de actividade) vendas e serviços prestados já de montante relevante tendo em conta o curto período de actividade, conforme revela Nuno Souza e Silva, administrador delegado do R&D NESTER. Este primeiro ano de vida do R&D NES- TER foi extremamente positivo e gratificante. Por um lado, atingiram-se todos os objectivos a que a equipa se tinha proposto, incluindo a criação da marca, elaboração do primeiro Plano de Negócios, definição e início dos primeiros projectos e dotação de recursos humanos para as diversas actividades tanto nacionais como estrangeiros, afirma Nuno Souza e Silva, administrador delegado do R&D NESTER. O R&D NESTER conta actualmente com cerca de 15 colaboradores a tempo inteiro, num total de mais de 20 que colaboram nos seus projectos, prevendo-se a contratação de outros tantos durante os próximos tempos. O referido responsável realça que o corpo de investigadores integra quatro doutorados e dez mestrados. Criado há pouco mais de um ano, o Centro R&D NESTER desenvolve as 18 // Julho 14 // Portugalglobal

EMPRESAS suas actividades através de três interdependentes vectores orientadores: investigação, desenvolvimento, demonstração e inovação na área de sistemas de energia; serviços de consultoria no âmbito das actividades de I&D; e serviços de formação. China, Europa e PALOP são os mercados-alvo do R&D NESTER, que tem por objectivo, em termos de internacionalização, a criação de uma plataforma de conhecimento internacional, catalisadora de soluções e abordagens inovadoras, aplicadas à operação e planeamento das redes de transporte de energia. O administrador delegado adianta que, nesse sentido, será estabelecido um triângulo estratégico que inclui Universidades, Centros de I&D e parceiros industriais, tanto a nível nacional como internacional. tos de investigação: ferramentas de gestão de sistema na presença de elevados níveis de energia renovável; subestação do futuro; planeamento de redes com armazenamento de energia; e simulação em tempo real, planeamento e operação de redes de energia eléctrica. Em paralelo, o R&D NESTER tem vindo a desenvolver contactos com entidades nacionais e internacionais do sector universitário (Aalborg University, Dinamarca), de I&D (LNEG) e empresarial (APREN) com vista à constituição de consórcios nacionais para submissão de projectos no âmbito de programas nacionais e europeus, designadamente o Programa Horizonte 2020. R&D NESTER Centro de Investigação em Energia REN - State Grid, S.A. Rua Cidade de Goa, nº 4-B - 2685-038 Sacavém Portugal Tel.: +351 210 011 300 +351 210 011 710 info@rdnester.com www.rdnester.com Serão, além disso, celebradas parcerias com instituições internacionais de investigação e desenvolvimento, no sentido de estabelecer uma rede tecnológica global de I&D que pode tornar-se no braço tecnológico dos accionistas, nos negócios internacionais. Neste contexto, o Centro propõe-se desenvolver novas ferramentas e estratégias, sintonizadas com as necessidades dos accionistas, devendo os resultados dos projectos de I&D promover a criação de sistemas de energia mais eficientes e sustentáveis, nas vertentes económica, ambiental e social. Os projectos de I&D serão igualmente orientados para o negócio, de forma a catalisar serviços especializados (ex.: consultoria e formação) a fornecer aos accionistas e a entidades externas. Daqui para a frente há que consolidar as equipas, continuar a entregar os resultados planeados e reforçar o posicionamento do R&D NESTER, e consequentemente da REN, como uma entidade com ambição de contínua melhoria do sistema energético nacional, garantindo a sua robustez e sustentabilidade, acrescenta o administrador delegado do R&D NESTER. Neste momento, o R&D NESTER tem em fase de desenvolvimento quatro projec- Portugalglobal // Julho 14 // 19

EMPRESAS MILESTONE CONSULTING O DESAFIO DA INTERNACIONALIZAÇÃO A Milestone Consulting presta serviços de consultoria em tecnologia SAP e Microsoft, desenvolvendo competências inovadoras que lhe tem permitido obter uma taxa média de crescimento superior a 22 por cento desde a sua criação em 2010. A empresa aposta no mercado nacional, mas a internacionalização faz parte da sua estratégia destacando-se, para já, presenças no Peru e na Suíça. Fundada em 2010, a Milestone Consulting é uma empresa que presta serviços de consultoria em tecnologia SAP e Microsoft e faz desenvolvimento de produto, trabalhando essencialmente com clientes da indústria automóvel, energia, papel, sector mineiro, farmacêutica, química, banca e seguros, transportes e serviços profissionais. 20 // Julho 14 // Portugalglobal A empresa mantém uma forte aposta no mercado nacional mas estendeu a sua oferta ao mercado externo, estando presente no Peru e na Suíça. Desde a sua constituição, a Milestone Consulting regista uma taxa média de crescimento acima dos 22 por cento, tendo atingido, em 2013, uma facturação superior a 2 milhões de euros. A prestação de serviços de elevada qualidade visando a satisfação do cliente é o principal objectivo desta empresa, que considera que a combinação de competências SAP e Microsoft é diferenciadora no mercado por permitir uma integração tecnológica única, sendo igualmente diferenciadoras as referências em tecnologia SAP de que é pioneira no mercado nacional e mesmo europeu e no universo Microsoft as competências em Cloud/Azure, afirma uma fonte da Milestone. A fonte realça também a grande experiência dos consultores como factor diferenciador que permitiu à empresa acumular mais de 200.000 horas em prestação de serviços de consultoria e