RELATO DA TRAJETÓRIA INICIAL DO PROJETO DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA EM SANTA MARIA RS: Um sonho que aos poucos se torna realidade Diana Dias Sampaio 1 Resumo: Tudo começou com a ideia de levar o conhecimento das ciências econômicas para o cotidiano das pessoas, dada a necessidade de disseminar um pensamento crítico e consciente proporcionado pela disciplina de educação financeira, pois, o discurso da necessidade da busca pela sustentabilidade está incorporado e presente em nosso vocabulário cotidiano. No entanto, possuímos inúmeras dificuldades para colocarmos em prática o discurso da sustentabilidade. Isso não exclui nem mesmo os profissionais das áreas financeiras e afins. Há, porém, muito que se pensar acerca da teoria da sustentabilidade econômica e suas práticas. Isso ultrapassa o equilíbrio orçamentário, passando pela conscientização para uma produção racional e um consumo consciente que priorizem o uso, reuso, reciclagem dos recursos e o equilíbrio socioambiental. Desse modo, senti-me desafiada a pensar uma forma de elaborar, a partir de uma visão colaborativa, a construção coletiva de metodologias de ensino e disseminação da educação financeira. Esta oportunidade surgiu, efetivamente, de uma parceria com o programa de Educação Fiscal do Município de Santa Maria - RS, mediante convites para ministrar palestras e oficinas de sensibilização para o tema da Educação Financeira Sustentável, direcionadas aos professores da rede pública de ensino fundamental. Palavras-chave: Educação financeira; Sustentabilidade; Construção coletiva. Ao ler-se as diretrizes do ensino de educação financeira nas escolas (citar os doc...) percebe-se que não existe uma fórmula mágica para se aplicar às diferentes realidades, condições sociais, regionais e culturais. Especialmente, no Brasil de dimensões continentais e multiculturais. Portanto, o desafio torna-se ainda maior ao propor uma política pública de inserção de um conteúdo como o da educação financeira. Observa-se que após a crise econômica mundial de 2008, especialmente nos Estados Unidos, passou-se a ensinar educação financeira nas escolas da América do Norte para evitar problemas nas economias futuras. Contudo, o modelo norte americano não se aplica a realidade brasileira. Portanto, é necessário adaptarse a linguagem econômica para as realidades locais. 1 Economista Ms. Diana Dias Sampaio - Rede INTEGRARE, Centro de Educação, Universidade Federal de Santa Maria; e-mail: diana.sampaio@ufsm.br 1
Pesquisas realizadas pela Data Popular (2008) trazem números preocupantes em relação à organização financeira doméstica das famílias brasileiras, pois: 36% dos pesquisados declaram ter um perfil gastador; 54% não conseguiram honrar suas dívidas pelo menos uma vez na vida; e apenas 31% poupam regularmente para a aposentadoria. Observa-se, também, que uma parte crescente da renda familiar tem sido destinada ao consumo, o que torna as atuais taxas de poupança demasiadamente baixas. A educação financeira é o processo mediante o qual as pessoas melhoram sua compreensão dos conceitos que envolvem todas as suas relações econômicas como consumo (gastos do dia a dia com: alimentação, moradia, vestuário), renda (salário, mesada, pensão, auxílios e bolsas), trabalho (profissão), falta de dinheiro (contas a serem pagas) e planejamento (metas e sonhos para o futuro). Afinal, as ciências econômicas são, por definição, àquela área que busca balancear ou equacionar os recursos sempre escassos frente às necessidades cada vez maiores dos seres humanos, especialmente, no sistema capitalista, baseado na sociedade do consumo. Neste contexto, vários produtos e serviços financeiros estão a serviço dos nossos planos e projetos de vida, como por exemplo, o Fundo de Financiamento Estudantil - FIES. No entanto, é necessário compreendê-lo de forma crítica e consistente para que nossos sonhos não virem pesadelos no futuro. Nos dias de hoje, crianças, adolescentes e jovens têm muito mais acesso ao sistema financeiro que a geração dos nossos pais. Além disso, os produtos e serviços financeiros tais como auxílios, seguros, bolsas, previdências, consórcios e financiamentos, estão muito presentes em nossas vidas e são cada vez mais complexos. Desse modo, a Educação Financeira configura-se como tema transversal fundamental dentro do espaço escolar, pois colabora para a formação de cidadãos mais conscientes da relação de suas vidas com a economia. Pretende-se com o ensino de Educação Financeira: Levar um conjunto amplo de orientações sobre atitudes adequadas no planejamento e uso dos recursos financeiros; Disseminar a Educação Financeira para o maior número possível de pessoas para poder ajudá-las a resolver suas dificuldades econômicas; 2
Permitir, com o acesso ao conhecimento da Educação Financeira, que as pessoas planejem melhor suas vidas e tenham mais condições de alcançarem suas metas e sonhos. Formar cidadãos com mais consciência em sustentabilidade. Nesse sentido, as escolas têm como contribuir de forma significativa, pois, ao educarem os alunos financeiramente, eles levam esse conhecimento para suas famílias em um efeito multiplicador. Por isso, iniciou-se um processo de disseminação dos conceitos básico para estabelecer-se um diálogo com os educadores da rede, a fim de estruturar-se algumas formas de trabalhar os conteúdos da educação financeira transversalmente aos conteúdos da matemática, português, geografia, história, ciências e meio-ambiente. Desse modo, criando-se, em diferentes contextos, formas criativas de educar para um futuro sustentável, que promoverão verdadeiras mudanças no pensamento crítico e comportamento das crianças e adolescentes. A orientação teórica para o desenvolvimento desse processo de formação sustenta-se nos seguintes princípios de sustentabilidade: economia solidária, consumo consciente, comércio justo e formação empreendedora emancipatória. Desse modo, pretende-se disseminar informações sobre estes temas econômicos que se inter-relacionam com a Educação Financeira, a fim de contribuir para construção e elaboração de metodologias lúdicas para o seu ensino nas escolas. O objetivo geral deste projeto é promover a formação continuada de professores, em parceria com O Programa de Educação Fiscal do Município de Santa Maria RS, com apoio das Secretarias Municipal e Estadual de Educação, voltado, prioritariamente, para as escolas da rede pública de ensino. Entre os anos de 2014 e 2015 já realizamos algumas palestras e oficinas de formação com os professores da rede pública de Santa Maria RS e ministraremos o módulo V - Educação Financeira e Fiscal para o Curso de Formação em Docências de Tempo Integral do Programa Mais Educação da UFSM. 3
Figura 1 - Oficinas Pedagógicas PMEF Como objetivo específico pretende-se desenvolver nos alunos os valores e as competências necessárias que os tornem cidadãos mais conscientes das oportunidades e dos riscos para poderem fazer escolhas bem informadas, saber onde procurar ajuda e como adotar atitudes e ações que melhorem o sua qualidade de vida e gerem um bem estar coletivo. Figura 2 - Oficina de cofrinho/porquinho para poupar - com utilização de material reciclável. Consideramos que nossa trajetória junto ao programa formação continuada de professores em educação financeira e sustentabilidade esteja apenas começando, mas acreditamos que, frente às avaliações positivas que já obtivemos como retorno, nos sentimos motivados a continuar levando este processo de construção coletiva cada vez mais adiante. 4
Referências BAUMAN, Zygmunt. Vida para Consumo. Rio de Janeiro: Ed. Zahar. 2007. DATA POPULAR. A Educação Financeira no Brasil: relatório quali-quanti. 2008. Decreto nº 7.397, de 22 de dezembro de 2010 - Institui a Estratégia Nacional de Educação Financeira - ENEF. Fonte: http://www.vidaedinheiro.gov.br/imagem/file/selo_enef_edital_final.pdf Acesso em 11 maio 2015. MARSHALL, Thomas Humphrey. Cidadania, Classe Social e Status. Rio de Janeiro: Zahar Editores. 1967. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE/MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO/INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. Manual de Educação para o Consumo Sustentável. Brasília: Consumers International/MMA/MEC/IDEC, 2005. Disponível em http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao8.pdf Acesso em 08 maio 2015. MORIN, Edgar. Ciência com Consciência. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 1996. OCDE/OECD - Organisation for Economic and Co-Operation Development. Improving Financial Literacy. Analysis of Issues and Policies. Paris. 2005. PERRENOUD, Philippe. A Escola e a Aprendizagem da Democracia. Porto: Asa Editores. 2002. PINDYCK, Robert S. e RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. 6. Ed. São Paulo: Makron Books. 1994. SEN, Amartya. Desenvolvimento como Liberdade. São Paulo: Cia das Letras. 2007. 5