CUSTOS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA Os dados e análises deste relatório são de autoria de pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, e fazem parte do projeto Ativos do Campo Grãos, desenvolvido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Custos de produção da soja podem subir com força na safra 2015/16 A safra 2015/16 da soja pode ter um dos maiores custos operacionais dos últimos anos, conforme indicam cálculos do Cepea. Além da forte valorização do dólar frente ao Real, os reajustes da mão de obra e a alta nos juros de custeio, dos combustíveis e da energia elétrica já elevaram os gastos de produtores no final da temporada 2014/15. Por outro lado, a recente queda da taxa de câmbio abre alguma expectativa de que, nos próximos meses, pelo menos os insumos atrelados ao dólar tenham algum ajuste para baixo. Se isso se confirmar, a estratégia de postergar as compras que, de fato, estão atrasadas em relação aos anos anteriores se mostrará eficaz. Tomando-se como base os preços dos insumos agrícolas no mês de abril/15 e os coeficientes técnicos coletados em painel pelo Cepea, o desembolso médio com a lavoura da soja resistente ao herbicida glifosato foi de R$ 2.077,47/ha na região de Rio Verde (GO), quase 15% superior ao de abril de 2014, quando o desembolso era de R$ 1.815,35/ha. O Gasto com defensivos e fertilizantes, que têm preços atrelados ao dólar, subiram mais de 11% neste período na região goiana. Adotando-se os mesmos parâmetros de comparação, em Sorriso (MT) e em Uberaba (MG), os custos operacionais de produção de soja subiram 17,8% e 8,6%, respectivamente. Sorriso, para se cultivar um hectare de soja em abril/15, o desembolso foi de R$ 2.045,63, contra R$ 1.737,21 em abril/14. Em Uberaba, desembolso foi de R$ 1.955,94/ha em abril/15, contra R$ 1.800,53/ha um ano atrás. Novamente, defensivos e fertilizantes foram os insumos mais influenciaram as altas dos custos de produção. Em Sorriso, o aumento com fertilizantes e defensivos foi de 24,7% e, em Uberaba, de 14,5%. No Sul do Brasil, o cenário é semelhante. Em Cascavel (PR), em abril/15, o desembolso com a soja resistente ao herbicida glifosato foi de R$ 1.899,28/ha, 6,5% maior que o estimado em abril do ano passado, de R$ 1.803,09/ha. Em Carazinho (RS), o custo foi para R$ 1.875,65/ha, contra R$ 1.639,11/ha em abril/14, aumento de 14,4%. O gasto com fertilizantes e defensivos subiu 15%, em média, nas duas regiões do Sul. Essa elevação dos custos explica, em parte, o atraso na compra de insumos para a safra 2015/16. Com as estimativas de custos e preços a serem recebidos, o produtor se depara com margens apertadas, podendo ser insuficientes para saldar as depreciações e a remuneração do capital investido.
Figura 1. Comparativo dos custos operacionais (R$/ha) da soja entre abril/14 e abril/15 em Cascavel (PR), Sorriso (MT), Rio Verde (GO), Uberaba (GO) e Carazinho (RS). Figura 2. Comparativo dos gastos com fertilizantes (R$/ha) da soja entre abril/14 e abril/15 em Cascavel (PR), Sorriso (MT), Rio Verde (GO), Uberaba (GO) e Carazinho (RS).
Figura 3. Comparativo dos gastos com defensivos (R$/ha) da soja entre abril/14 e abril/15 em Cascavel (PR), Sorriso (MT), Rio Verde (GO), Uberaba (GO) e Carazinho (RS). Segunda safra de milho no Brasil pode ter boa produtividade A segunda safra de milho no Brasil caminha em bom ritmo nas principais regiões produtoras do cereal. Apesar de alguns problemas com o clima durante o plantio em algumas praças, principalmente nas do Sul do País, em março e em abril, as condições estiveram favoráveis em grande parte das regiões, garantindo o bom desenvolvimento das lavouras. No Paraná, o atraso no semeio do milho segunda safra aconteceu principalmente devido ao excesso de chuvas na colheita da soja, o que reduziu a janela ideal de plantio do milho de inverno. Porém, as lavouras semeadas mais tardiamente vêm se desenvolvendo bem, sem indícios de maiores consequências para a produtividade. De qualquer forma, o atraso para o plantio e os preços não muito atrativos do cereal acabaram por diminuir a área cultivada no estado. Neste período de desenvolvimento da safra, o maior problema até então apontado pelos colaboradores do Cepea tem sido a incidência do percevejo barriga-verde, com mais intensidade no oeste paranaense. Com isso, o número de aplicações para controle dessa praga está muito superior na atual temporada, variando de 2 a 4 pulverizações, o que tende a aumentar custos. No norte do estado, algumas áreas sofreram com tempestades e ventos, que causaram perdas ainda não quantificadas. Nessa mesma região, parte das lavouras estava atrasada de 20 a 25 dias em relação à janela ideal de plantio, mas ainda sem relatos de problemas no desenvolvimento. Nesse contexto, as expectativas de produtividade no Paraná são de aumento em relação à safra anterior, que foi de 96,7 sc/ha (5.800 kg/ha). De acordo com colaboradores do Cepea, as chuvas no estádio de pendoamento foram essenciais para o bom desenvolvimento das lavouras. Em Mato Grosso, as chuvas observadas em abril também foram favoráveis ao milho da segunda safra vem se confirmando a expectativa de bons rendimentos. As precipitações naquele mês ocorreram justamente nos períodos de maior demanda das lavouras por água. Isso favoreceu o desenvolvimento inicial das lavouras, principalmente das que foram plantadas até
final de fevereiro (final da janela ideal) e que correspondem a 80% do total, segundo dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). Chuvas no início de maio devem beneficiar especialmente o milho que foi plantado até o final de março. Quanto à sanidade da lavoura, tem sido baixa a incidências de pragas e doenças. De modo geral, colaboradores do Cepea indicam a ocorrência da lagarta-do-cartucho na cultura, mas produtores têm controlado bem a praga. Segundo dados da Conab, a área de segunda safra de milho diminuiu 1,8% em Mato Grosso em relação à anterior, o mesmo patamar que deve cair a produção de milho segunda safra, 1,73%, saindo de 17,62 milhões de toneladas para 17,32 milhões de toneladas na temporada atual. Colaboradores do Cepea indicam uma safra com produtividades de aproximadamente 100 sacas/ha. Nas demais regiões produtoras de milho segunda safra, as condições climáticas também têm sido favoráveis. No Triângulo Mineiro (Uberaba-MG) e no Sudoeste Goiano (Rio Verde- GO), as chuvas têm sido frequentes, sinalizando boas produtividades até mesmo nas áreas semeadas mais tardiamente. Nas regiões de fronteira, em Balsas (MA), as lavouras se encontram em estágio menos avançado de desenvolvimento, mas também em boas condições. Produtividade da soja deve ser boa em quase todas as regiões do País A colheita da soja está praticamente finalizada em Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul e na maioria das regiões do Sul do Brasil. No Oeste da Bahia, Maranhão e em Minas Gerais, os trabalhos estão na reta final, também boas as perspectivas frente a anos anteriores. Na região de Primavera do Leste (MT), segundo agentes consultados, a produtividade média deve ser de 52 sc/ha para a soja convencional resistente a herbicidas. Já para a soja resistente a herbicidas e a lagartas, o rendimento ficou próximo a 60 sc/ha. Em Sorriso (MT), a produtividade média apontada foi de 53 sc/ha para todas as tecnologias. Em Campo Novo do Parecis (MT), mesmo com chuvas que atrapalharam a colheita, o rendimento médio foi semelhante ao de Sorriso, com 53 sc/ha para todas as variedades. Em linha, dados do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária apontam produtividade média de 52,4 sc/ha, um pouco acima da média estadual na temporada 2013/14 (51,9 sc/ha). De acordo com dados da Conab, em Mato Grosso, maior produtor brasileiro de soja, a produção deve ter aumento de 5,4% em relação à temporada 2013/14, totalizando 27,87 milhões de toneladas. Em todo o País, devem ser produzidas 95,1 milhões de toneladas, aumento de 10,4% em relação à safra anterior. Na região de Rio Verde (GO), segundo colaboradores do Cepea, a colheita da primeira temporada já está finalizada, com produtividade entre 42 e 44 sc/ha, um pouco abaixo da verificada na safra anterior, de 45 sc/ha. Ocorreram perdas de até 20% da produção devido à seca no começo do ciclo, além da incidência da lagarta falsa medideira (Chrysodeixis includens), principalmente do meio para o final do desenvolvimento das lavouras. Na região de Luís Eduardo Magalhães (BA), a colheita teve início em março e a produtividade média vem surpreendendo, chegando a 50 sc/ha, um salto em relação à safra 13/14 (45 sc/ha). No final do ciclo, a mosca branca (Bemisia tabaci) começou a prejudicar as lavouras, mas as chuvas constantes na região ajudaram a controlar a praga.
No Sul do Brasil, apesar de alguns problemas com excesso de chuva, o resultado também é positivo. Colaboradores do Cepea apontaram a ferrugem asiática como o maior problema na safra de soja do Rio Grande do Sul, devido à alta umidade e às temperaturas amenas. Porém, o produtor que conseguiu fazer o manejo da doença no momento certo não sofreu com perdas; já os que tiveram dificuldades de aplicação e/ou optaram por fazer um menor número de aplicações devem registrar queda de produtividade. Para controlar a ferrugem, sojicultores consultados pelo Cepea indicaram que houve necessidade de serem realizadas, em média, quatro aplicações de fungicida, meio aplicação em média a mais que na safra passada. Segundo dados do Consórcio Antiferrugem, até o início do mês de maio, 118 focos de ferrugem asiática haviam sido confirmados no Rio Grande do Sul, ante 75 em toda temporada passada. Focos de lagartas também foram constatados, sendo a falsa-medideira a de mais difícil controle mesmo assim, requer, quatro aplicações de inseticidas. No Paraná, na média das regiões de Londrina, Castro, Cascavel e Guarapuava, o quadro foi semelhante ao do Rio Grande do Sul, com bons resultados. Segundo agentes consultados pelo Cepea, em média, estas regiões devem colher 58 sacas de soja, um pouco acima do estimado até o começo de maio pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab) de 55,45 sacas por hectare como média estadual. Esse número divulgado pela Seab é 11,8% maior que o da temporada passada. No estado, também aumentaram os casos de ferrugem asiática comparativamente à safra 2013/14, indo de 75 para 90 na temporada corrente. O destaque negativo fica para a região de Guarapuava, onde segundo os agentes consultados, a ferrugem gerou perdas de aproximadamente 10% frente a safra passada. Câmbio favorece redução dos preços em abril, mas aumento em um ano ainda é grande O enfraquecimento do dólar frente ao Real de março para abril, de 3,27%, aliviou um pouco os custos ao produtor. Apesar de o preço de muitos fertilizantes ainda superar o de um ano atrás, em algumas regiões e para alguns produtos, as cotações de abril foram as menores de 2015. Com isso, pode se intensificar o ritmo de aquisição de insumos para a safra 2015/16, que estava enfraquecido até o final de abril, bem abaixo do verificado em anos anteriores. CERRADO - De acordo com informações coletadas pelo Cepea, em Mato Grosso, o preço do cloreto de potássio caiu 10,2% na média das regiões pesquisadas, passando de R$ 1.567,12/t em março para 1.407,26/t em abril. Porém, se comparado a abril do ano passado, esse fertilizante esteve 18,8% mais caro. Quanto aos nitrogenados, a maior desvalorização foi observada para o sulfato de amônio granulado, cotado a R$ 1.138,07/t em março e a R$ 1.272,30/t em abril, baixa de 10,6%. Entre os fosfatados, o MAP teve média de R$ 1.843,91/t em abril, queda de 7,2% em relação ao mês anterior, quando foi negociado a R$ 1.987,51/t no mesmo estado. Já frente a abril do ano passado, esteve 20,6% maior há um ano, tinha média de R$ 1.528,70/t em Mato Grosso. Na região de Balsas, o cloreto de potássio, muito utilizado na cultura da soja, teve forte queda de 8,1% de um mês para outro, passando de R$ 1.538,18/t em março para R$ 1.413,60/t em abril. Este valor, no entanto, ainda está 34% superior à média de abril do ano passado. Para os fosfatados, a maior queda de março para abril foi de 9,1%, para o super triplo, que passou de R$ 1.603,37/t para R$ 1.457,93/t.
Também segundo levantamentos do Cepea, até o final de abril, produtores de Mato Grosso haviam comprado cerca de 40% do adubo a ser usado na safra 2015/16. Na safra passada, no mesmo período, 74% do insumo já havia sido adquirido. Nas demais regiões, o quadro é semelhante; em Balsas, porém, é um pouco mais crítico. Em abril do ano passado, mais de 60% do fertilizante para a safra já havia sido negociado e, em abril/15, apenas 5%. REGIÃO SUL No Paraná, os fertilizantes nitrogenados foram os que apresentaram as maiores desvalorizações de abril/15 para março/15. A ureia teve queda de 13,8%, passando de R$ 1.453,84/t em março para R$ 1.253,13/t em abril, o que ainda representa 10,7% acima da média de abril/14, que foi de R$ 1.131,83/t. A queda dos adubos potássicos foi menor, mas também significativa. O cloreto de potássio vendido no estado baixou 9,4% entre março e abril, mas continuou 24,7% superior a abril de 2014. Já em relação aos fosfatados, os preços tiveram comportamentos variados. Enquanto as cotações do MAP se mantiveram estáveis de março/15 para abril/15, o super simples se desvalorizou 7,8%, com o preço médio da tonelada indo de R$ 963,90/t em março para R$ 888,99/t em abril. De abril/14 para abril/15, no entanto, o super simples se valorizou 25,6% e o MAP 34,6%. O ritmo de comercialização de insumos no Paraná também está atrasado. Pouco mais de 15% dos fertilizantes foram negociados até o final de abril, contra 32% há um ano. Figura 4. Preço médio do MAP nos estados do Paraná, Mato Grosso e Maranhão (Balsas) de abril/14 a abril/15.
Figura 5. Preço médio da ureia nos estados do Paraná, Mato Grosso e Maranhão (Balsas) de abril/14 a abril/15. Figura 6. Preço médio do Cloreto de Potássio (KCL) nos estados do Paraná, Mato Grosso e Maranhão (Balsas) de abril/14 a abril/15.