DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO Origem: PRT 6ª Região Interessado(s) 1: Sigiloso Interessado(s) 2: TKS Segurança Privada Ltda. Interessado(s) 3: Ministério Público do Trabalho Assunto(s): Fraudes Trabalhistas 03.02.02. Temas Gerais 09.06.02.02. - 09.06.03.04. - 09.14.01. 09.14.08. Procuradora oficiante: Lorena Pessoa Bravo JORNADA LABORAL. NÃO PAGAMENTO DE VALE REFEIÇÃO E VALE-TRANSPORTE. ATRASO NO PAGAMENTO DE FÉRIAS. RECIBO DE FÉRIAS ASSINADO COM DATA RETROATIVA. Não é o número de empregados presumivelmente lesados que baliza a caracterização da Relevância ou Repercussão Social, mas sim a gravidade e a matéria enfocada. Não homologação da promoção de arquivamento em exame. RELATÓRIO Trata-se de inquérito civil instaurado com gênese em denúncia sigilosa formulada em face da empresa TKS Segurança Privada Ltda., dando conta das seguintes irregularidades: a) necessidade de fazer trabalho extra quando da folga da jornada 12x36; b) não pagamento de vale refeição e vale-transporte; 1
c) férias pagas em atraso; d) recibo de férias assinado com data retroativa. Narra a denúncia (fl. 02): Descrição: eu trabalho 12hrs.por 36 de folga quando estou de folga tenho que fazer extra pela empresa o extra custa pelo sindicato a empresa so pagar 45 reais não da passagem não o tickets do almoço quando pagar AS ferias pagar atrasada e mandar agente assinar o recibo de ferias com a data retroativa a 31 de cada mês quando o funcioanarios sair de ferias tem outra bronca tem um policial militar que não tem carteira assinada fica ameaçando os vigilantesa com uma pistola na cintura ja foi comunicado a empresa e ao sindicato e ano tomaram providencia, sobre as hora extra e pedir os recibos que agente assinar com o valor das horas extra. O ilustre Órgão ministerial promoveu o arquivamento deste feito, conforme decisão de fls. 17/18 anverso e verso, verbis: Procedimento instaurada a partir de denúncia sigilosa (fls. 02) narrando as seguintes irregularidades: i)necessidade de fazer trabalho extra quando da folga da jornada 12x36; ii) não pagamento de vale refeição; iii) não pagamento de valetransporte; iv) pagamento de férias com atraso; v) assinatura do recibo do pagamento de férias com data retroativa. A denúncia narra, ainda, que haveria um policial militar que fica ameaçando os vigilantes com uma pistola na cintura, e que o fato já havia sido comunicado à empresa e ao sindicato profissional para que tomassem providências. Apreciação Prévia de fls. 06/07, notificando-se a empresa para comparecer em audiência. A assentada não chegou a ser realizada, eis que não foi enviada a intimação à empresa. Recebido em redistribuição no dia 25/02/2013 (fls. 16). 2
Considero desnecessária a continuidade da investigação, por concluir que a defesa destes direitos individuais, ainda que venham a se qualificar como homogêneos, não deve ser feita pelo Ministério Público do Trabalho, nos termos do Precedente 17 do CSMPT. Isso porque, para que aflore a legitimidade do Ministério Público do Trabalho é necessário que o fato denunciado importe em lesão a direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos de uma coletividade de trabalhadores, pois somente na defesa desses direitos deve o Parquet atuar, inclusive mediante a proposição de ações civis públicas ou coletivas (art. 129, inciso III, da CF/88). A só lesão trabalhista, quando não atinge um grupo pelo menos significativo de trabalhadores e não chega ao ponto de configurar violação de natureza difusa, coletiva ou individual homogênea, não é suficiente para provocar a intervenção do MPT, restando a sua defesa pelo próprio trabalhador, via ação individual. Destaque-se, ainda, a possibilidade de intervenção do sindicato profissional, que está também autorizado a defender judicialmente os almejos coletivos (co-legitimados), cabendo a ele a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas (art. 8 o, III, da CF). Logo, quanto à denúncia especifica encartada nestes autos, tanto o sindicato representativo da classe supostamente lesada quanto os trabalhadores alvos das condutas aqui denunciadas como irregulares estão legitimados ao exercício do direito de ação com vistas à cessação da suposta irregularidade, não comportando, por ora, a atuação direta do Ministério Público do Trabalho. Ressalta-se, no que tange à suposta ameaça contra empregados da empresa, que esta não era praticada pela empresa ou por representantes desta, consoante clara narração da denúncia. Em verdade, a mesma seria feito por um policial militar, sendo bastante confusa a narração da denúncia neste particular, mas ficou claro, ao menos, que a empresa tinha sido comunicado do fato e que a pessoa não seria representante do empregador. Logo, foi equivocada a inserção, no tema do procedimento, do item 03.02.02, eis que a suposta coação não decorreria de ato do empregador, mas sim de uma terceira pessoa. 3
autos a esta Relatora (fl. 24). Face ao exposto, diante da clara ausência de repercussão social significativa dos fatos denunciados, decido pelo arquivamento do presente IC. com fulcro no art. 10 da Resolução n. 69/2007. do Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho. Por distribuição deste feito na CCR/MPT, vieram os É o relatório. VOTO-FUNDAMENTAÇÃO Examinando o feito, a ilustre colega oficiante promoveu o arquivamento deste inquérito civil, sob o fundamento de que: Considero desnecessária a continuidade da investigação, por concluir que a defesa destes direitos individuais, ainda que venham a se qualificar como homogêneos, não deve ser feita pelo Ministério Público do Trabalho, nos termos do Precedente 17 do CSMPT. - Isso porque, para que aflore a legitimidade do Ministério Público do Trabalho é necessário que o fato denunciado importe em lesão a direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos de uma coletividade de trabalhadores, pois somente na defesa desses direitos deve o Parquet atuar, inclusive mediante a proposição de ações civis públicas ou coletivas (art. 129, inciso III, da CF/88). - A só lesão trabalhista, quando não atinge um grupo pelo menos significativo de trabalhadores e não chega ao ponto de configurar violação de natureza difusa, coletiva ou individual homogênea, não é suficiente para provocar a intervenção do MPT, restando a sua defesa pelo próprio trabalhador, via ação individual. - Destaque-se, ainda, a 4
possibilidade de intervenção do sindicato profissional, que está também autorizado a defender judicialmente os almejos coletivos (co-legitimados), cabendo a ele a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas (art. 8 o, III, da CF). Discordo, respeitosamente, de tal conclusão, uma vez que se constata que a Procuradora oficiante procedeu ao arquivamento sumário do feito, invocando ausência de repercussão social dos prováveis delitos trabalhistas, por não abranger número expressivo de trabalhadores, na forma do Precedente nº 17 do CSMPT. Ademais, entende que a tutela prévia dos títulos laborais a garantir é atribuível ao sindicato profissional representativo da categoria profissional. A ausência, nestes autos, de ação persecutória mais eficaz, no que respeita ao efetivo e comprovado número de empregados da investigada e a dimensão das lesões denunciadas faz incompleta a necessária instrução investigatória. A limitação legal da jornada de trabalho é importante instrumento de prevenção à fadiga física e mental dos trabalhadores, e, quando extrapolada, pode causar danos à saúde e à vida do empregado. Dessa forma, havendo a notícia de que os empregados praticam jornada exaustiva, não pode o Ministério Público do Trabalho quedar-se inerte. 5
Ademais, s.m.j., não se pode afirmar que a questão dos autos não importa em lesão a direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos de uma coletividade de trabalhadores, porquanto inexiste nos autos qualquer informação que comporte a assertiva da d. Procuradora oficiante, mormente quando não há no feito indicativo da dimensão dos ilícitos supostamente praticados pela representada. De outro giro, em que pesem as corretas afirmações do ilustre Órgão oficiante no que pertine ao papel dos sindicatos na defesa dos interesses de seus filiados, bem como aos meios ou instrumentos processuais que os trabalhadores possuem para ver corrigidas as irregularidades em questão, entendo inafastável a atuação do Ministério Público do Trabalho sob tais argumentos. Os atributos trabalhistas, constantes da denúncia como afrontados, são derivados das obrigações principais do empregador. Por fim, concessa venia, não é o caso de aplicação do Precedente nº 17 do CSMPT, para adotar poder discricionário de arquivar o feito. No presente caso, não vislumbro irrelevância ou insignificância de repercussão social da lesão, diante da matéria tratada nestes autos, até mesmo porque não implementadas, ainda, as medidas necessárias à aferição da real magnitude das irregularidades denunciadas. 6
Assim, o arquivamento proposto às fls. 17/18 anverso e verso dos presentes autos não traduz segurança ao encerramento do feito e, consequente, à sua homologação. CONCLUSÃO Pelo exposto, voto no sentido de NÃO HOMOLOGAR a promoção de arquivamento firmada pela Exma. Procuradora do Trabalho, Dra. Lorena Pessoa Bravo, às fls. 17/18 anverso e verso, determinando o retorno dos autos à origem para as providências pertinentes e necessárias. Deixo, no entanto, de aplicar o inciso II, do 4º, do art. 10 da Resolução CSMPT nº69/07, devendo a designação atender às práticas da Regional. Brasília, 24 de outubro de 2013. VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora-Geral do Trabalho Coordenadora da CCR/MPT - Relatora sgs 7