RESENHA SEMANAL E PERSPECTIVAS Comunicado do FED reforça a possibilidade de alta na taxa de juros ainda esse ano. No Brasil, os dados de confiança seguem mostrando recuperação. Nos EUA, a reunião do FED (Banco Central americano) reforçou nosso cenário de mais uma alta dos FED funds neste ano. O comunicado emitido após o comitê mostrou que os riscos de médio prazo para a economia diminuíram e houve um tom mais favorável para a economia no geral. No entanto, evidências recentes ainda colocam em dúvida a sustentabilidade do ritmo de recuperação da economia americana. O PIB do 2º trimestre veio abaixo do esperado, com alta de 1,2% em termos anualizados, mais uma vez o destaque foi a recuperação do consumo das famílias (+4,2%), enquanto investimentos (-9,6%) seguem ainda fragilizados. Por outro lado, os dados de confiança continuam elevados, puxados pela alta na avaliação da situação corrente, enquanto as expectativas continuam mostrando recuo. Esse movimento é reflexo das incertezas vindas das eleições presidenciais de novembro e do efeito BREXIT no mundo. No âmbito político, foi confirmado o cenário da disputa eleitoral americana, com Hillary Clinton como candidata do Partido Democrata e Donald Trump do Partido Republicano. Pesquisas de intenções de votos da população seguem muito divididas, mas pelas simulações por delegados de Estados, a candidata democrata ainda segue na frente. Na Europa, os dados divulgados confirmaram a moderação da atividade no segundo trimestre. O PIB cresceu 0,3%, após alta de 0,6% no período anterior, em linha com o esperado. A taxa de desemprego ficou estável em 10,1%, sinalizando um esgotamento da melhora vista nos últimos períodos. Nesse sentido, os dados de inflação ao consumidor (CPI) continuam sendo chave para as decisões de política monetária. O CPI subiu 0,20% contra o mesmo período do ano anterior, longe da meta de 2,0%. A cautela do Banco Central Europeu (BCE) é reforçada pelas incertezas causadas pelo BREXIT. 1
Na Ásia, as notícias mais otimistas vieram da promessa de injetar 28 trilhões de ienes na economia feita pelo primeiro ministro japonês, Shinzo Abe, sem maiores detalhes. Por outro lado, o BoJ (Banco Central do Japão) decepcionou o mercado não cortando os juros, como também não elevou o montante total de compras de títulos da dívida japonesa. Somente aumentou volume de fundos de ações (ETFs na sigla em inglês) de 3,3 tri de ienes para 6,0 tri, conforme era esperado. Nos mercados emergentes o destaque fica por conta da primeira prévia do PIB mexicano. A primeira leitura do PIB mexicano para o segundo trimestre registrou uma alta de 2,4% em termos interanuais (em linha com o consenso de mercado e levemente inferior ao resultado do primeiro trimestre, em 2,6%), em comparação com o trimestre anterior o índice registrou a primeira contração em três anos (-0,3%), com desaceleração dos serviços e queda nas exportações. Na Europa Emergente o cenário segue sendo de inflação baixa e distante da meta dos bancos centrais em um contexto de taxas de juros nas mínimas históricas. Na Polônia, o índice de preços ao consumidor registrou queda de 0,9% em termos interanuais (o consenso de mercado esperava deflação de 0,8%, seguindo o resultado de junho) no mês de julho e segue em deflação. Na Hungria, o Banco Central decidiu pela manutenção da sua taxa de referência em 0,9% ao ano com o discurso de que tal nível de juros é compatível com a convergência da inflação para meta de 3,0% ao ano (a inflação corrente registrou deflação de 0,2% interanual no mês de junho). No Brasil, com o objetivo de dar maior transparência às suas decisões, o Copom reformulou seus principais canais de comunicação. A ata ganhou um formato mais conciso e foi dividida em seções que seguem a lógica do processo decisório da política monetária. O texto começa com uma avaliação da conjuntura economia (doméstica e internacional) e segue com exercícios numéricos de simulação para a trajetória da inflação (cenários de referência e mercado). Na sequência o Comitê destina uma seção para avaliar os riscos atrelados ao seu cenário básico de inflação. Ao final, há uma discussão sobre a condução da política monetária em si e, finalmente, a decisão. Através dessa nova estrutura de comunicação, a nova diretoria do Banco Central deixou uma mensagem dura, avaliando que o processo de desinflação deve ocorrer em ritmo aquém do desejado. A inflação apenas se aproxima de 4,5% ao final de 2017 no cenário em que há estabilidade da taxa de juros. No entanto, a seção seguinte nos revela dos riscos de alta e de baixa associados ao cenário básico de inflação e, nesse aspecto, ao se projetar o ambiente em que as próximas decisões de política monetária serão tomadas vislumbramos espaço para um ciclo de corte de juros. Dito de outra maneira, nosso cenário central contempla a materialização de alguns dos riscos de baixa listados pelo Comitê, especialmente o que diz respeito a um ritmo mais intenso de desinflação na hipótese de estabilidade nominal da taxa 2
de câmbio em um ambiente de elevada taxa de desemprego. Assim o Copom deve iniciar o ciclo de queda dos juros ainda este ano, na reunião de novembro, com corte de 50 b.p., levando a Selic para 13,75% ao ano. O ajuste da conta corrente perdeu força em junho. Após um saldo positivo em maio de US$ 1,2 bilhão, o resultado de junho ficou negativo em US$ 2,5 bilhões. Grande parte dessa queda pode ser explicada pela desaceleração do saldo da balança comercial, de US$ 6,3 bilhões de em maio para US$ 3,8 bilhões em junho. A sazonalidade fraca no embarque de produtos agrícolas em julho e uma aceleração das importações foram destaque nesse resultado. Porém para julho, os dados semanais mostram perda de dinâmica nas importações e melhora nas exportações, assim, o saldo comercial deve voltar a melhorar em julho. O fraco desempenho da demanda doméstica vem sendo refletido em um ajuste rápido em algumas contas de serviços e rendas, como viagens e remessas de lucros e dividendos. Alguma rigidez nos contratos de serviços de aluguel de equipamentos e o aumento das remessas de juros não permitem um ajuste ainda mais rápido nessa rubrica. O investimento direto estrangeiro ficou em US$ 3,9 bilhões. Assim, esperamos que o fraco crescimento econômico mantenha o déficit em conta corrente bastante comportado e facilmente financiável pelo investimento direto estrangeiro. O Governo Central registrou déficit de R$ 10,8 bilhões em junho, após déficit de R$ 15,5 bilhões em maio e déficit de R$ 8,25 bilhões na comparação interanual. O resultado ficou abaixo de nossa expectativa (-R$ 6,1 bilhões) e acima da expectativa do mercado (-R$ 14,5 bilhões). No mês, as receitas líquidas e as despesas recuaram 5,0% e 4,7%, respectivamente, em termos reais, na comparação interanual. No acumulado do ano, também em termos reais, a receita líquida totaliza queda de 5,2% enquanto as despesas registram alta de 0,4%. Pelo lado das receitas prevalece o fraco desempenho em virtude da queda do nível de atividade econômica, impostos e contribuições recuaram 7,7% e as receitas da previdência 6,3%. O resultado agregado só não foi pior em virtude da receita extraordinária de R$ 5,2 bilhões referente à parcela da outorga da venda de usinas hidrelétricas em dezembro do ano passado, que totalizou R$ 17 bilhões. Pelo lado das despesas, apesar das quedas nas despesas com pessoal (-2,9%) e discricionárias (-5,7%), o aumento real nas despesas previdenciárias (5,5%) e obrigatórias (1,5%) elevaram as despesas totais em 0,4% no ano. O congelamento do salário do funcionalismo explica o recuo nas despesas com pessoal no ano, no entanto, essa dinâmica será invertida em agosto, quando ocorrerá o reajuste do funcionalismo. A elevação do salário mínimo em 11,6% e mudança do calendário de pagamento do abono salarial explicam o aumento das 3
despesas previdenciárias e obrigatórias em 2016. No acumulado dos últimos 12 meses, a Governo Central registra déficit de R$ 145,5 bilhões (-2,4% do PIB), com o déficit da Previdência totalizando R$ 112,5 bilhões (-1,9% do PIB). Para o restante do ano, esperamos que as receitas continuem apresentando deterioração em decorrência da recessão econômica. Com isso, o déficit do Governo Central deve acelerar ao longo do segundo semestre, encerrando o ano com déficit de R$ 170,5 bilhões (-2,7% do PIB). O setor público consolidado registrou déficit de R$ 10,1 bilhões em junho após déficit de R$ 18,1 bilhões em maio e R$ 10,1 bilhões em junho de 2015. O resultado de junho ficou em linha com a nossa expectativa e abaixo da expectativa do mercado (-R$ 15,3 bilhões). Em oposição ao déficit do governo central, os governos regionais e empresas públicas registraram superávit de R$ 389 milhões. Para o restante do ano, acreditamos na gradual deterioração do resultado do setor público nos próximos meses, o qual deve encerrar o ano com déficit de 2,9% do PIB. A continuidade a recessão econômica e a renegociação das dívidas dos estados justificam a nossa expectativa. A dívida bruta ficou praticamente estável em junho, encerrando o mês em 68,5% do PIB frente 68,6% no mês anterior, acelerando de 66,5% em dezembro de 2015. Influenciado pela apreciação câmbio em junho, a dívida líquida acelerou para 42% do PIB de 39,6% em maio e de 36,2% em dezembro de 2015. Dados referentes à atividade econômica seguem apontando um ritmo menor de contração econômica e índices de confiança FGV sinalizam alguma estabilização no início do terceiro trimestre. A confiança da indústria subiu 4,44% em julho, os estoques permaneceram relativamente estáveis em 89,9 pontos e houve ligeira melhora da utilização da capacidade instalada do setor. Pelo lado do consumidor os sinais seguem a mesma direção, com alta de 7,57% na confiança do consumidor em julho depois de crescer 5,01% em junho. Dessa forma, as condições para a estabilização do crescimento econômico no segundo semestre estão se formando. Por outro lado, os últimos dados divulgados referentes ao segundo trimestre corroboram a expectativa de que houve nova contração do PIB no período. O Caged referente a junho mostrou destruição de 91 mil postos de trabalho no período, superando a mediana do mercado 59 mil. Excluídos os efeitos sazonais a destruição mostrou um ritmo ainda mais elevado, com destruição de 168 mil postos de trabalho. Ainda sobre o mercado de trabalho, a PNAD Contínua para o mês de junho corroborou o cenário de piora apontado pelo Caged, a taxa de desemprego mostrou nova elevação (em 11,3%, em comparação à 11,2% em maio) bem como acentuação na queda do rendimento médio real (em queda de 4,2% interanual, em comparação à contração de 2,7% no mês anterior) e recuo interanual de 1,5% na população ocupada. 4
Na próxima semana o destaque fica por conta dos dados de mercado de trabalho nos EUA, da reunião do Banco da Inglaterra, e da divulgação da produção industrial no Brasil. A próxima semana será marcada pela divulgação dos dados de confiança pelo mundo, com a divulgação dos PMIs da China e do Japão no domingo bem como do PMI industrial da Zona do Euro e do ISM industrial dos EUA na segunda feira. Na Europa, haverá a divulgação dos dados de vendas no varejo para o mês de junho, mas o principal destaque será a reunião do Banco da Inglaterra (BoE) que deve apontar a direção da sua política monetária pós-referendo do BREXIT. A expectativa de mercado é que o comitê do BoE decida pelo corte de 25 b.p. na sua taxa de juros bem como outros estímulos de relaxamento monetário. Nos EUA o destaque fica por conta do dado de criação de vagas de emprego formal (Payroll) do mês de julho, na sexta feira, para o qual a expectativa do mercado é de um resultado positivo, com criação de 180 mil vagas, refletindo a melhora no mercado de trabalho (principalmente após o dado do mês anterior, bem acima do esperado). No Brasil, além da divulgação da balança comercial para o mês de julho, na terça feira, haverá a publicação da Pesquisa Industrial mensal para o mês de junho, que deve apresentar alta de 1,7% na margem (em termos trimestrais deve apresentar a primeira alta desde junho de 2013). 5
INDICADORES DE MERCADO 6
CALENDÁRIO E PROJEÇÕES 7
MARCELO CIRNE DE TOLEDO Economista Chefe marcelotoledo@bram.bradesco.com.br ANA PAULA ALMEIDA ana.almeida@bradesco.com.br ANDRE NASCIMENTO NOGGERINI andrenoggerini@bram.bradesco.com.br DANIEL XAVIER FRANCISCO danielxavier@bram.bradesco.com.br HUGO RIBAS DA COSTA hugo@bram.bradesco.com.br JOSE LUCIANO DA SILVA COSTA lucianocosta@bram.bradesco.com.br MARIANNE KOMORI GEHRINGER marianne.e.komori@bram.bradesco.com.br THIAGO NEVES PEREIRA thiagopereira@bram.bradesco.com.br Tel.: 2178-6600 economia@bram.bradesco.com.br Material produzido em 29/07/2016 às 17h00 Outras edições estão disponíveis no Site: www.bradescoasset.com.br, item Informações aos Investidores / Nossa visão / Informativos de Macroeconomia. As opiniões, estimativas e previsões apresentadas neste relatório constituem o nosso julgamento e estão sujeitas a mudanças sem aviso prévio, assim como as perspectivas para os mercados financeiros, que são baseadas nas condições atuais de mercado. Acreditamos que as informações apresentadas aqui são confiáveis, mas não garantimos a sua exatidão e informamos que podem estar apresentadas de maneira resumida. Este material não tem intenção de ser uma oferta ou solicitação de compra ou venda de qualquer instrumento financeiro. BRAM - Bradesco Asset Management é a empresa responsável pela atividade de administração de recursos de terceiros do Banco Bradesco S.A. BRAM - Bradesco Asset Management - Todos os direitos reservados. 8