Registro: 2013.0000167422 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 0021388-47.2010.8.26.0506, da Comarca de Ribeirão Preto, em que é apelante PREFEITURA MUNICIPAL DE RIBEIRAO PRETO, são apelados JOSE GALATI JUNIOR (ESPÓLIO) e WANDA CEOLOTTO GALATI (INVENTARIANTE). ACORDAM, em 18ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores OSVALDO CAPRARO (Presidente sem voto), ROBERTO MARTINS DE SOUZA E BEATRIZ BRAGA., 21 de março de 2013 MOURÃO NETO RELATOR Assinatura Eletrônica
Apelação com revisão n. 0021388-47.2010.8.26.0506 Voto n. 3.122 Comarca: Apelante: Apelada: Ribeirão Preto Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto Espólio de José Galati Júnior Tributário. Ação anulatória. Discussão quanto ao tributo devido (IPTU x ITR). Interpretação conjunta dos critérios topográficos e de destinação do imóvel. Imóvel destinado à atividade rural. Comprovação. Incidência de ITR. Entendimento jurisprudencial do C. STJ. Recurso não provido. I Relatório. Trata-se de recurso de apelação interposto pela Prefeitura Municipal de Sorocaba contra a sentença de fls. 174/176, que julgou procedente a ação anulatória ajuizada pelo Espólio de José Galati Júnior, sob o fundamento de que é inexigível a cobrança de IPTU (exercício de 2006), pois comprovado que o então se destinava à atividade rural. No intuito de ver reformada a decisão recorrida, sustenta a apelante (a) que a perícia se baseou em imagem capturada no ano de 2005 para constatar a destinação rural dos imóveis referente ao exercício de 2006; (b) que os imóveis não são destinados à exploração comercial; (c) que a perícia foi inconclusiva; (d) que não há a averbação de 20% de reserva legal referente aos imóveis rurais. Recebido o recurso (fls. 186), foram apresentadas contrarrazões. (fls. 190/194) II Fundamentação. Apelação nº 0021388-47.2010.8.26.0506 - Ribeirão Preto - VOTO Nº 3122 2/9
O recurso não merece prosperar. Compulsando os autos, verifica-se que a controvérsia se restringe à possibilidade de lançamento do IPTU pela Municipalidade apelante, na medida em que sustenta, em síntese, que o imóvel está localizado em zona urbana. A Constituição Federal estabelece rígida repartição de competências tributárias, delimitando o campo de atuação de cada ente tributante. Quanto à propriedade imóvel, a Constituição prevê a instituição de dois impostos, o IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano, de competência dos Municípios (artigo 156, inciso I), e o ITR - Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural, de competência da União (artigo 153, inciso VI). O artigo 32 do Código Tributário Nacional impõe, como critério para que o imóvel seja considerado de zona urbana do Município, a existência de pelo menos dois dos melhoramentos indicados em seus incisos: meio fio o calçamento, com canalização de águas pluviais; abastecimento de água; sistema de esgotos sanitários; rede de iluminação pública, com ou sem posteamento para distribuição domiciliar; escola primária ou posto de saúde a uma distância máxima de 3 (três) quilômetros do imóvel considerado. E, sem prejuízo, admite o lançamento de IPTU, independentemente desses melhoramentos, se o imóvel se situar em área definida em lei como urbanizável ou de expansão urbana, desde que situado em loteamento aprovado ( 2º). Quanto ao ITR, para imóveis rurais, dispõe o artigo 29 do Código Tributário Nacional: O imposto, de competência da União, sobre a propriedade territorial rural tem como fato gerador a propriedade, Apelação nº 0021388-47.2010.8.26.0506 - Ribeirão Preto - VOTO Nº 3122 3/9
o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, como definido na lei civil, localizado fora da zona urbana do Município.. Todavia, o Decreto-lei n. 57/66, recepcionado pela Constituição Federal com o status de lei complementar, por versar normas gerais de direito tributário, em especial sobre o ITR, abrandou o critério territorial: o IPTU não incide, independentemente da localização do imóvel, se destinado à exploração extrativa vegetal, agrícola, pecuária ou agro-industrial, casos em que incide o ITR. Ou seja, prevalece o critério da destinação. Daí porque, ao contrário do asseverado pela apelante, se conclui que a definição do imposto cabível depende da aplicação conjunta dos critérios topográfico e de destinação, mas com prevalência deste último sobre o primeiro. Ou seja, só incidirá IPTU se, de um lado, estiverem satisfeitos os requisitos do artigo 32 do CTN e ausentes os elementos do artigo 15 do Decreto-Lei nº. 57/66. Portanto, cabia ao apelado comprovar a destinação do imóvel e os documentos por ele apresentados confirmam a destinação rural que dá ao imóvel. Entre os documentos, o apelado apresentou: a) certificado de inscrição no cadastro rural (fls. 27); b) declaração de ITR e comprovantes de pagamento, referentes ao exercício de 2006 (fls. 29/48). Ademais, para corroborar a tese da destinação rural do imóvel, a própria apelante concedeu isenção tributária aos apelados nos exercícios de 2007 a 2009 (fls. 20/25). Cumpre consignar que a apelante em suas razões recursais apenas se insurge contra o laudo pericial de fls. 133/151. Apelação nº 0021388-47.2010.8.26.0506 - Ribeirão Preto - VOTO Nº 3122 4/9
O laudo pericial tem duas conclusões, cada qual suficiente, per se, para a procedência da demanda: (i) os imóveis que deram azo à tributação não se situam em zona urbana (mas, sim, em zona de expansão urbana), não se encontram em loteamento e não são servidos por pelo menos dois dos cinco melhoramentos exigidos pelo CTN (cf. fls. 142 e 145); e (ii) em relação ao exercício de 2006, os imóveis tinham destinação rural, notadamente a exploração hortifrutigranjeira (fls. 143). Conforme apontado pelo perito, as imagens utilizadas datam de 2005 (o que é incontroverso, eis que a própria apelante afirma tal fato), mas, ao contrário daquilo sustentado pela apelante, tal fato não tem o condão de afastar a conclusão a que se chegou. A vistoria do imóvel ocorreu em 6/5/2011, ou seja, mais de cinco anos após a ocorrência do fato gerador do tributo sob discussão (IPTU do exercício de 2006). Assim, somente por intermédio de imagens é que o perito poderia analisar as redondezas dos imóveis para a elaboração do laudo. Pelas conclusões do perito, a situação fática não se alterou muito até os dias de hoje, sendo que, além disso, no transcurso de um ano (entre 2005 e 2006) dificilmente haveria tempo hábil para a realização de obra pública a fim de ser implementado outro melhoramento (do qual não se tem notícia). Não obstante, o laudo pericial deve ser analisado em conjunto com todo o acervo probatório (artigo 436 do Código de Processo Civil), o qual demonstra que na época do lançamento tributário (exercício de 2006), os imóveis tributados tinham destinação eminentemente rural. Além disso, salta aos olhos o fato de a apelante não ter Apelação nº 0021388-47.2010.8.26.0506 - Ribeirão Preto - VOTO Nº 3122 5/9
formulado nenhum quesito a ser respondido pelo perito, bem como não se manifestou sobre o laudo, nem mesmo para requerer esclarecimentos. Cabe observar, a este respeito, que, ao contrário do suscitado pela apelante, a lei não exige a destinação econômica como um requisito para a não incidência do IPTU, sendo plenamente possível a exploração da terra pelo contribuinte somente para a subsistência de sua família. Ademais, o artigo 15 da Decreto-lei n. 57/66 não traz essa obrigatoriedade, não podendo se confundir a exploração econômica com a exploração extrativa vegetal, agrícola, pecuária ou agro-industrial, visto que estas podem estar relacionada à subsistência da família do contribuinte, sem cunho comercial. Nesta esteira, ressalta-se que o C. Superior Tribunal de Justiça já pacificou entendimento no sentido de que a definição do tributo devido (IPTU ou ITR) é determinada pela destinação dada ao imóvel, porque prevalece o critério estabelecido pelo artigo 15 do Decreto-lei n. 57/66, por isso que recepcionado pela Constituição Federal de 1967 com o status de lei complementar e, portanto, validamente ressalvando o disposto no artigo 32 do CTN e se sobrepondo a regras postas em leis ordinárias, como ocorreu o artigo 6º e parágrafo único da Lei n. 5.868/1972, declarados inconstitucionais e com execução suspensa pela Resolução n. 313/83, do Senado Federal. Superior Tribunal de Justiça: A propósito, vale trazer à baila precedentes do C. TRIBUTÁRIO. IMÓVEL NA ÁREA URBANA. DESTINAÇÃO RURAL. IPTU. NÃO-INCIDÊNCIA. ART. 15 DO DL 57/1966. RECURSO REPETITIVO. ART. 543-C DO CPC. 1. Não incide IPTU, mas ITR, sobre imóvel localizado na área urbana do Município, desde que comprovadamente utilizado em exploração extrativa, vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial Apelação nº 0021388-47.2010.8.26.0506 - Ribeirão Preto - VOTO Nº 3122 6/9
(art. 15 do DL 57/1966). TRIBUNAL DE JUSTIÇA 2. Recurso Especial provido. Acórdão sujeito ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução 8/2008 do STJ. (REsp 1.112.646/SP 1ª Seção Rel. Min. Herman Benjamin J 26/8/2009). TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. IPTU. ITR. INCIDÊNCIA. CRITÉRIO DA LOCALIZAÇÃO DO IMÓVEL INSUFICIENTE. NECESSIDADE DE SE OBSERVAR, TAMBÉM, A DESTINAÇÃO DO IMÓVEL. PRECEDENTES. 1º DO ART. 32 DO CTN. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. MATÉRIA DE PROVA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. 1. O critério da localização do imóvel não é suficiente para que se decida sobre a incidência do IPTU ou ITR, sendo necessário observar-se, também, a destinação econômica, conforme já decidiu a Egrégia 2ª Turma, com base em posicionamento do STF sobre a vigência do Decreto-Lei 57/66. 2. Precedentes: AgRg no REsp 679.173/SC, Rel. Min. Denise Arruda, DJ 18.10.2007; REsp 738.628/SP, Rel. Min. Castro Meira, DJ DJ 20.06.2005; AgRg no Ag 498.512/RS, Rel. Min. Francisco Peçanha Martins, DJ 16.05.2005; REsp 492.869/PR, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ 07.03.2005; REsp 472.628/RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ 27.09.2004. 3. Necessidade de comprovação perante as instâncias ordinárias de que o imóvel é destinado à atividade rural. Do contrário, deve incidir sobre ele o IPTU. Incidência da Súmula 7/STJ, haja vista que para se adotar entendimento diverso faz-se necessário o revolvimento de material fático-probatório. 4. Agravo regimental nãoprovido. (AgRg no A.I 993.224 - SP (2007/0292272-7), Rel. Min. José Delgado, DJ 04.06.2008). Na mesma linha, já decidiu esta Câmara: Ação anulatória de lançamento fiscal c.c. repetição de indébito e pedido de tutela antecipada. IPTU e ITR. Imóvel localizado em área urbana, mas destinado a atividades rurais. Comprovação da atividade tipicamente rural. Questão de incidência do tributo. Critério geográfico ou destinação econômica do imóvel. Prevalência da atividade econômica. Não incidência do IPTU, mas de ITR. Precedentes do STJ. Nega-se provimento ao recurso. (Apelação Apelação nº 0021388-47.2010.8.26.0506 - Ribeirão Preto - VOTO Nº 3122 7/9
n. 0054322-42.2010.8.26, Rel. Des. Beatriz Braga, j. 14/6/2012) Assim, ainda que se entenda que os imóveis eram abastecidos por dois dos melhoramentos previstos na legislação tributária (artigo 32 do Código Tributário Nacional), não há que se falar em incidência do IPTU, justamente em razão da destinação rural do imóvel. Em caso semelhante, também referente ao Município de Ribeirão Preto, o entendimento desta Câmara foi o mesmo: Ação anulatória de lançamento. IPTU. Os imóveis utilizados na exploração das atividades previstas no art. 15 do Decreto-Lei 57/66 estão sujeitos à incidência do ITR (Imposto Territorial Rural), independentemente de sua localização precedentes do STJ. O não recolhimento do imposto federal e de eventuais contribuições relacionadas à atividade rural é irrelevante para o deslinde da causa, pois o que se discute é única e exclusivamente a incidência ou não do imposto municipal. Também não interfere na solução da controvérsia a ausência de cadastro do INCRA, na Receita Federal e no INSS. Verba honorária mantida. Nega-se provimento aos recursos. (TJSP; Apelação n. 9102295-84.2008.8.26.0000; Rel. Des. Beatriz Braga; 18ª Câmara de Direito Público; julgado em 25/10/2012) Por fim, salienta-se que a inexistência de averbação do percentual correspondente à reserva legal na matrícula dos imóveis não tem relevância para fins de incidência ou não do IPTU, sendo que eventual descumprimento enseja, em tese, consequências de outra ordem. Portanto, andou bem o MM. Juiz de Direito ao julgar procedente a demanda. III Conclusão. Apelação nº 0021388-47.2010.8.26.0506 - Ribeirão Preto - VOTO Nº 3122 8/9
Diante do exposto, nega-se provimento ao recurso. MOURÃO NETO Relator Apelação nº 0021388-47.2010.8.26.0506 - Ribeirão Preto - VOTO Nº 3122 9/9