FÁBULA PRODUÇ Ã O T EXT UAL 1ª SERIE E.M. Tradições: grega, latina, francesa e brasileira. A forma de tratamento

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Transcrição:

FÁBULA PROF. EDSON SANTOS PRODUÇ Ã O T EXT UAL 1ª SERIE E.M Tradições: grega, latina, francesa e brasileira. A forma de tratamento Elementos da narrativa: o tempo e o espaço Releitura de valores

A FÁBULA NA TRADIÇÃO GREGA As fábulas são transmitidas pelos povos desde o século VIII a.c. A fábula ocidental mais antiga que se conhece é O rouxinol e o falcão, parte do poema Os trabalhos e os dias, de Hesíodo, poeta didático daquela época.

Observação: O texto já apresentava uma preocupação didática, embora ainda não apresentasse todas as características da fábula clássica; era uma advertência em relação à ambição desmedida No século VI a.c., as fábulas ganharam um difusor na Grécia: Esopo. Com elas, o fabulista divertia, criticava, satirizava, moralizava e instruía. O contexto era propício: a mentalidade grega se modificava em razão do desenvolvimento da filosofia e de uma crise éticoreligiosa. A biografia de Esopo é controvertida. Ao que tudo indica, foi escravo alforriado que viajou muito e tornou-se bastante popular como fabulista. Como não havia indicações precisas sobre a autoria de muitas das fábulas que circulavam até então, tornou-se comum atribuí-las a Esopo, considerado o pai da fábula.

A FÁBULA NA TRADIÇÃO LATINA No início do século I, as fábulas de Esopo foram retomadas por Fedro, que registrou em versos tanto as fábulas atribuídas a Esopo como outras de sua autoria. Foi o primeiro escritor a escrever fábulas em versos latinos, forma corrente na época. Assim, distinguiu-se da tradição grega, que era de escrever fábulas em prosa. Além disso, introduziu na poesia latina versos mais livres, de seis pés. Pés eram sequências de sílaba com determinada distribuição de longas e breves (duas sílabas breves equivalem a uma longa); ele empregou o pé jâmbico, que apresenta uma sílaba longe e outra breve. Os versos de seis pés eram também chamados de hexâmetros. Na poesia portuguesa, correspondem aos versos heroicos ou decassílabos.

A FÁBULA NA TRADIÇÃO FRANCESA O poeta francês Jean de La Fontaine (1621-1695) criou novas fábulas e outras versões para as antigas, com as características da época. Frequentava os salões da corte de Luís XIV, onde contava fábulas; era poeta com grande domínio da língua. A fábula que você lerá conta de uma livro dedicado ao filho de Luís XIV e Maria Teresa, quando ele tinha seis anos. A opção foi manter os versos, até porque La Fontaine era poeta de mão cheia.

A FÁBULA NA TRADIÇÃO BRASILEIRA No Brasil, no século XX, Millôr Fernandes (1923-2012) investiu no fabulário tradicional, trazendo-o para a realidade brasileira. O autor foi um intelectual preocupado com as questões políticas e sociais do Brasil, valendo-se da ironia e da sátira para criticar o poder e as forças dominantes do país. Em seu trabalho como escritor, além de crônicas e contos, adaptou e criou fábulas, reunidas em diferentes obras: Fábulas fabulosas (1963), Novas fábulas fabulosas (1973) e Novas fábulas e contos fabulosos. Em 2000, foi lançado o site Millôr online, com muitas produções disponíveis, incluindo o Fábulas fabulosas, com ilustrações feitas pelo próprio autor. http://www2.uol.com.br/millor/fabulas/004.htm ( O lobo e o cordeiro )

O TEMPO E O ESPAÇO DA FÁBULA Ambos os elementos da narrativa apresentam-se de forma imprecisa, geralmente, nas fábulas. Tempo: cronológico x psicológico Espaço: geográfico x social *ATENÇÃO: há a possibilidade de coexistência!

RELEITURA DE VALORES As fábulas sofreram mutações e adaptações através dos tempos. Em cada momento histórico-social, questões específicas preocuparam a sociedade e levaram as fabulistas a fazer diferentes interpretações da temática original, tendo em vista o objetivo pretendido por seus leitores. Também interferiram o desenvolvimento da literatura e a influência dos quadrinhos, do cinema de animação e do vídeo.

EXERCÍCIOS As questões a seguir embasam-se nas diferentes versões de O lobo e o cordeiro apresentadas. 1) Analise o diálogo entre o lobo e o cordeiro: indique como são construídos os argumentos do lobo e do cordeiro; de que lado fica o fabulista? 2) Interdiscursividade é o diálogo temático entre dois discursos construídos de formas diferentes. Compare a moral das fábulas de Esopo e de Fedro e explique se há interdiscursividade entre elas. 3) A versão de Fedro contém uma conclusão a) Qual sua função? b) Que relação essa conclusão tem com a moral? c) Que sentido é criado pelo uso de itálico e do travessão no início dessa parte? 4) Intertextualidade é o processo de incorporação de elementos de um texto no outro. Na releirura que Fedro fez da fábula de Esopo, há intertextualidade? Justifique sua resposta.

5) Esopo, Fedro e La Fontaine apresentaram lobo e cordeiro apresentando um tratamento específico para se dirigirem um ao outro. Cada autor empregou as forma que atendiam aos respectviso momentos históricos. Considere esse aspecto ao responder. Verifique, para cada caso: a) Qual foi o tratamento empregado; b) em que ele interferiu na caracterização da relação oprimido versus opressor. 6) As fábulas já estudadas são narradas do ponto de vista do lobo: Vendo um bolo que certo cordeirinho matava a sede num regato, imaginou um pretexto qualquer para devorá-lo. (Esopo) O quadrúpede voraz/ Busca de rixa um pretexto / E assim prorrompe falaz: (Fedro) Tinha a barriga vazia, / não comera o dia inteiro. (La Fontaine) Millôr Fernandes, contudo, narra a fábula do ponto de vista do cordeiro: Estava o cordeirinho bebendo água, quando viu refletida no rio a sombra do lobo. Considerando tal aspecto, identifique no texto palavras (emprego dos adjetivos e dos tempos verbais) que mostram diferenças entre as atitudes do lobo e as do cordeiro 7) Nas duas fábulas, de Millôr Fernandes e de Esopo, justifique as diferenças entre as morais propostas. 8) Como Millôr Fernandes caracteriza a relação entre o opressor e o oprimido?