Costa do Marfim: a caminho do relançamento económico



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Transcrição:

Building business bridges worldwide 1 o Trimestre 2009 Costa do Marfim: a caminho do relançamento económico Entrevista com Yemisi Dooshima Suswam, Primeira Dama do Benue State (Nigéria) - pg. 3 Resultados do «EMRC Africa Finance & Investment Forum» - pgs. 4-8 EMRC-Rabobank Project Incubator Award - pg. 6 Capacitação de recursos humanos: a chave para o desenvolvimento do continente Africano - pg. 10 Relançamento económico da Costa do Marfim - pg. 11-16 Jacques Attali, EMRC Africa Finance & Investment Forum, Paris - Dez.08 Published quarterly by

P refácio A segurança alimentar em África exige novos esforços de investimento Michel Clavé, Director do Departamento Agrícola e Agro-alimentar, Crédit Agricole Há hoje um consenso geral de que África já não é o parente pobre do crescimento mundial. Com efeito, a década de 1995-2008 marca uma ruptura. Mesmo que seja inferior ao dos países asiáticos, o crescimento é claramente positivo, a inflação está controlada e os défices orçamentais também. Os investimentos estão a progredir e o FMI considera que a crise financeira e económica, que abala actualmente a economia mundial, deverá ter um impacto menor na África Subsariana por estar pouco integrada nos circuitos financeiros internacionais. Por conseguinte, o crescimento prosseguir-se-á, mas a um ritmo mais contido. Impõem-se duas observações: estas considerações optimistas sobre o esforço de investimento a reactivar neste continente parecem-nos preocupantes, uma vez que o continente Africano poderia ver-se privado da formidável redistribuição da riqueza a nível mundial que resultará do novo sistema económico, energético e ambiental pós crise; além disso, esta evolução positiva não permitiu resolver de forma efectiva todas as dificuldades sentidas no continente, nomeadamente, as relacionadas com os problemas de extrema pobreza e alimentação. É por isso que o Grupo Crédit Agricole prossegue o seu combate pela segurança alimentar em África. Nesse sentido, depois de ter participado activamente no lançamento da Fundação para a Agricultura e Ruralidade no Mundo (FARM), o Crédit Agricole S.A. criou, com o Professor Yunus, a Fundação Microfinance Grameen bank Crédit Agricole, de que Jean-Luc Perron, o seu Director Geral, falou amplamente na sua intervenção no último Fórum «Africa Finance & Investment» organizado pela EMRC. O nosso apoio ao desenvolvimento de verdadeiras políticas de actividades agrícolas e agro-alimentares nos diferentes países africanos apoia-se na transferência de competências e, ao mesmo tempo, na disponibilização de instrumentos de investimento diversificados. Próximos Eventos EMRC: Missão Económica, Angola, Primavera 2009 Estudo de Viabilidade agrícola, Tchad, Fevereiro 2009 Próxima edição da Revista Dialogues, destaque especial Província de Logone Oriental, Tchad, Segundo trimestre 2009 Fórum EMRC Agribusiness 2009, Cidade do Cabo, África do Sul, 14-17 Junho 2009 EMRC- Rabobank Project Incubator Award, Cidade do Cabo, África do Sul, 16 Junho 2009 Building business bridges worldwide Published quarterly by Directora: Idit Miller Chefe de redacção: Philippe van Maldeghem Jornalistas: Jeanne McCaul, Pierre Coetzer Designer: Bird PUBLICIDADE Resp. Comunicação: Seán Kerrigan Tel: +32 (0)2 626 15 17 Fax: +32 (0)2 626 15 16 Email: sk@emrc.be or dialogues@emrc.be EMRC International Av. Louise, 283/22 Brussels 1050, Belgium Tel: +32 (0)2 626 15 15 Fax: +32 (0)2 626 15 16 Email: info@emrc.be Website: www.emrc.be The views expressed in this issue of Dialogues are the private views of individuals and are not necessarily those of EMRC International, its executive committee, or members of its business network. Reproduction in whole or in part is permitted, providing that any such reproductions, whether in whole or in part, are not sold, unless they are incorporated in other works. 2 - DIALOGUES - EMRC

Entrevista Yemisi Dooshima Suswam Primeira Dama do Estado de Benue na Nigéria e Presidente da Fundação SEV-AV Paris, Dezembro 2008 Dialogues: Devido ao seu papel fundamental no Estado de Benue e na Nigéria, como define a sua missão e quais os seus principais objectivos e prioridades para a Fundação que dirige? Yemisi Dooshima Suswam: Sinto-me bastante entusiasmada com a minha missão e por ver tantas oportunidades. Vejo recursos naturais a perderem-se; vejo terrenos férteis e inexplorados bons para a agricultura e pessoas com necessidades extremas; e vejo também as múltiplas doenças que dizimam os nossos trabalhadores. O VIH/Sida é uma dessas doenças e queremos controlar a sua disseminação para termos pessoas saudáveis que possam desenvolver as suas potencialidades. Temos de defender muito a educação e dar atenção à mudança de atitude da nossa população. Estamos a aumentar a consciencialização do vírus da Sida, divulgando a palavra nas línguas e dialectos locais, porque a maior parte das pessoas a quem nos dirigimos não têm instrução e queremos assegurar-nos de que toda a gente obtém informação sobre a doença. O meu marido foi empossado como Governador do Estado de Benue em 29 de Maio de 2007 e eu gostaria de garantir que este governo está a ter um grande impacto junto da população. O Governador mostra um grande entusiasmo pela criação de infra-estruturas no Estado. Quer construir estradas rurais, trazer água potável e abrir todas as estradas para as zonas rurais, especialmente onde se localizam as explorações agrícolas. Também se esforçou pela entrada em funcionamento da electricidade nas zonas rurais e o meu papel é apoiar e complementar os seus esforços através da Fundação SEV-AV. A nossa Fundação foi criada em Janeiro de 2008 e lançada pela esposa do Presidente da República da Nigéria, Primeira Dama da Nigéria, Sua Excelência a Sr.ª Turai Umaru Yar Adua. A Fundação visa três problemas principais: primeiro, uma coligação das mulheres contra o VIH e outras epidemias, dando especial atenção à transmissão de mãe para filho; segundo, a criação de centros de transformação de produtos agrícolas e terceiro, o aumento das escolas técnicas e de aquisição de competências. A agricultura é a principal ocupação da população do Benue e a variedade de produtos agrícolas pode abrir portas ao comércio e transformação industrial. Cerca de 70% dos agricultores são mulheres. São as mais vulneráveis ao VIH/Sida devido à pobreza e a factores culturais: como dependem do salário dos maridos, algumas mulheres não podem ter acesso a cuidados de saúde sem autorização Cerca de 70% dos agricultores de Benue são mulheres (...) a variedade de produtos agricolas existentes pode constituir oportunidades de transformação industrial. dos respectivos maridos. Os homens podem ter duas ou três mulheres, mas são as mulheres que têm a responsabilidade da formação dos filhos. Se acontece alguma coisa ao marido, a mulher passa a ser uma viúva sem possibilidades de os educar. É por isso que na maior parte dos casos, devido a factores económicos, temos níveis elevados de abandono escolar e muitos diplomados das universidades sem emprego. Por estas razões, a minha Fundação toma conta dessas mulheres e nesta altura já lhes demos formação para que tenham objectivos e interesses na vida. Estas três áreas de actividade exigem importantes financiamentos para se poder criar qualquer coisa, especialmente quando se fala de construir um Centro de Formação Técnica e Aquisição de Competências, uma clínica para tratamento do VIH ou instalações industriais nas 23 áreas de governo locais. Mas pouco a pouco o nosso sonho vai ganhando forma. Dialogues: Quais são os meios de financiamento de que a Fundação dispõe? YS: Somos uma organização com fins caritativos, por isso temos necessidade de muito financiamento para conseguirmos atingir os nossos objectivos. Parte desse financiamento vem do governo ou de doadores privados. Estamos à procura de pessoas com um sentido filantrópico, bancos e instituições que gostam de ajudar a humanidade, mas isso leva tempo e não podemos realizar tudo ao mesmo tempo. Mas logo que criarmos o primeiro regime-piloto do Centro de Transformação de Produtos Agrícolas, criaremos fundos e serão concedidas facilidades às pessoas do Centro a taxas subsidiadas. Todos os rendimentos do primeiro Centro serão aplicados para desenvolver projectos e reinvestir noutros serviços da Fundação. Dialogues: O que é que sente ao receber o Prémio EMRC, pelo reconhecimento do trabalho que está a realizar? Estou especialmente grata e aprecio o facto de uma organização na Europa ter observado os nossos esforços, mesmo num Estado remoto como o nosso na Nigéria. Este prémio foi uma surpresa, por isso fiquei embaraçada e muito encorajada ao mesmo tempo, porque a Fundação ainda não tem um ano e o pouco que conseguimos fazer foi identificado a este nível. Estou muito emocionada com tudo isto e para mim é um incentivo para fazer mais. Gostaria de elogiar a iniciativa da EMRC de organizar este tipo de Fóruns e aprecio bastante que se centrem em África, onde as necessidades são enormes. É a única forma de podermos trabalhar em conjunto, como uma população única e com um objectivo único em todo o mundo. Primeiro Trimestre 2009-3

Fórum África Finance & Investment 2008: Financiar oportunidades de negócio ao longo da cadeia de valor Paris, França No contexto da crise financeira internacional, o Fórum da EMRC (7 a 9 de Dezembro) reflectiu uma mudança positiva no contexto dos negócios africanos. Estiverem presentes mais de 200 participantes de 29 países, com o objectivo de criar parcerias, e de promover as relações comerciais internacionais. A EMRC gostaria de expressar a sua sincera gratidão aos patrocinadores, Rabobank, FMO, Africa Agri, Crédit Agricole, Progis, UNAIDS, ADCON e Global Fund. Agradece especialmente ao Crédit Agricole pela sua parceria e apoio continuado à preparação do Fórum e às organizações de apoio, o INSEAD, a Millennium Promise, a Universidade de Columbia e a Escola de Gestão de Maastricht. O Fórum Africa Finance & Investment 2008 serviu de plataforma para apresentação de case studies e de práticas correntes destinadas a reforçar o sector privado africano. Também permitiu um diálogo estimulante entre os principais intervenientes: empresas africanas e europeias, instituições de financiamento para o desenvolvimento, bancos, representantes governamentais, fundações e ONG. Outro exemplo de boa colaboração entre os sectores privado e o não lucrativo é a PharmAfrican. A empresa tem colaborado com a Fundação BDA, sendo que o antigo Primeiro-Ministro Canadiano, Joe Clark, delineou os métodos e objectivos do projecto: a PharmAfrican é uma empresa mista, afirma Clark, que tem de lidar com uma empresa com fins lucrativos, a PharmAfrican, e uma fundação sem fins lucrativos. Considero ser esta uma solução de empreendedorismo social inovador para o desenvolvimento sustentável em África. Um dos ilustres oradores da conferência foi Jacques Attali, Presidente do grupo PlaNet Finance. Segundo Jacques Attali, o papel dos pequenos empréstimos/microfinanciamento é fundamental em África e desempenhará um papel crucial no desenvolvimento futuro. O grupo PlaNet Finance presta assistência técnica na angariação de fundos para instituições relacionadas com o microfinanciamento em todo o mundo. José Briosa e Gala, Conselheiro especial e Representante pessoal para África do Presidente da Comissão Europeia, considerou que o continente Africano poderá ser menos afectada pela crise económica por estar menos exposta às Arthur Levi, antigo Responsável para a Europa da IFC - Sociedade Financeira Internacional, concentrou a sua intervenção no desenvolvimento do investimento em África. Um factor essencial do desenvolvimento em África é o empreendedorismo a nível local, mas este só pode prosperar num contexto transparente e que apoie as empresas, afirma Arthur Levi, que insta as comunidades empresariais a empreender reformas que permitam a cada país enveredar rumo ao progresso nos próximos anos. Bart-Jan Krouwel, Director Geral de Responsabilidade Social no Rabobank, falou da promoção do comportamento ético, tanto no sector público como no privado. Este princípio deve ser respeitado em termos de ecologia, atacando as causas em vez das consequências. Um ponto importante a ter em conta é a viabilidade e rentabilidade de investimentos eticamente responsáveis. Na sua apresentação, Lee Yallot, que trabalha para Medical Care Development International, demonstrou o papel crucial que desempenham as parcerias público-privadas. Segundo o orador, há muitas vantagens numa parceira entre a Marathon Oil Corporation e uma organização como a sua, nomeadamente um acesso mais fácil à administração do Estado, ao apoio financeiro e logístico e à vantagem de conhecer o mercado local. Da esquerda para a direita: Vincent Gadou Kragbé, Magloire N Dakon, Joe Clark, José Muluma Bucassa, Anne Gazeau-Secret, Manuel de Sousa Calado, Jacques Attali. Missão de peritos da EMRC no Tchad Na sequência de contactos estabelecidos em anteriores Fóruns EMRC, o Governo do Tchad convidou uma delegação de peritos EMRC para desenvolver projectos agro-industriais na sua província meridional, Logone Oriental (região de Doba), de 13 a 22 de Dezembro de 2008. A próxima publicação de Dialogues realçará as suas principais oportunidades no domínio da agricultura, economia rural e pescas. 4 - DIALOGUES - EMRC

Africa FORUM 2009 Finance Investment flutuações dos mercados financeiros. Notando que haverá algumas mudanças drásticas, que a crise impõe, Briosa e Gala assegurou ser absolutamente necessário rejeitar o proteccionismo e concluir o infindável Ciclo de Doha. Agri Business Estes sinais encorajadores também tiveram eco noutras apresentações. Apesar de sofrer de muitos conflitos políticos, África tem feito progressos, afirma Anne FORUM Gazeau-Secret, Directora Geral da Cooperação e Desenvolvimento 2009 Internacional no Ministério dos Negócios Estrangeiros francês. Anne Gazeau-Secret assegura que o continente será mais estável à medida que melhorem as condições de vida das pessoas, aumente a democracia e diminua a corrupção. Investir hoje em África pode fazer-se através de parcerias ganhadoras, a constituir entre empresas francesas ou europeias e empresas africanas. Esta confiança em África foi partilhada pelo Professor Sadoulet da IN- SEAD Business School: Eu penso que vai haver uma grande oportunidade, em parte porque os mercados em África são mercados de fronteira e são esses que asseguram retornos mais elevados. Não estão isentos de riscos, mas as empresas são compelidas a seguir nessa direcção. Um representante do sector privado, Refael Dayan, Presidente da Green 2000, também vê oportunidades para investimentos viáveis: Tanto quanto me é dado ver, a situação em África está a prosperar bem e esta crise não afecta o que lá se passa. Penso que África é a futura nova fonte de alimentos para o mundo inteiro, acredito que o mundo vai investir em África e encontrar cada vez mais projectos, especialmente na agricultura. Contudo, o Fórum serviu para destacar uma questão recorrente em África que entrava o progresso: o acesso limitado ao financiamento de um número cada vez maior de pessoas. Segundo Marilou Uy, Directora do sector privado e financeiro em África no Banco Mundial, a situação varia de país para país, mas há um potencial elevado para mais africanos acederem ao sistema bancário, se forem feitas reformas. Foram apresentados exemplos concretos de oportunidades potenciais de investimento por José Severino, Presidente da Associação Industrial de Angola, e José Luís Domingos, Director de Investimentos da Agência Nacional para o Investimento Privado de Angola (ANIP). Ambos debateram as possibilidades em áreas como o desenvolvimento de infra-estruturas, turismo e exportações agrícolas. Manuel Calado, Presidente da ENDIAMA descreveu as vantagens do actual investimento em Angola. A empresa parte do princípio que a prosperidade económica e financeira faz parte integrante da Comunidade Angolana. Neste contexto, a ENDIAMA criou a Fundação Brilhante como entidade que visa monitorizar todas as acções de responsabilidade social executadas pela ENDIAMA, essencialmente através de programas de saúde pública. Houve outras apresentações e discussões sobre o investimento e a investigação em África e os delegados tiveram a oportunidade de participar em encontros individuais. A pedido reiterado dos nossos membros, o nosso próximo Fórum sobre a AgriBusiness terá lugar em África, mais precisamente na Cidade do Cabo, África do Sul, de 14 a 17 de Junho de 2009. Desde já, contamos com a sua presença. Vencedores Prémios EMRC 2008 Robert LEVI, Administrador e Director Geral, TRUST MERCHANT BANK, RDC. Laureado pelo trabalho no âmbito do MicroFinanciamento, pela contribuição para o desenvolvimento do nível de vida e de pequenas empresas comerciais na República Democrática do Congo. Yemisi Dooshima SUSWAM, Primeira Dama, Governo do Estado de Benue e Presidente da Fundação SEV-AV, Nigéria. Laureada pela criação de um centro de agro-transformação naquele Estado, e de uma clínica e um centro de artesanato e de competências, chamado SEV-AV, que se traduz como Yemisi Novo Dooshima Amanhecer. SUSWAM, First Lady, Government of Benue State, President of the SEV-AV Mohamadou Fondation, Bayero Nigeria FADIL, Presidente e Director Geral, Mohamadou GRUPO FADIL. Bayero Conhecido FADIL, como President grande industrial and e líder empresarial General, nos Camarões, Groupe contribuiu Fadil directamente para Director Robert o desenvolvimento LEVI, Administrator, socioeconómico TRUST do seu MERCHANT país. BANK, Congo RDC Christian Christian BONGO, Administrator Administrador e Director and Geral (representado General, no Fórum por BANQUE Pierre-Marie GABONAISE NTOKO, Vice-Director DE Director DEVELOPPEMENT, Geral), BANQUE GABONAISE Gabon DE DEVELOPPEMENT, Gabão. Conhecido pelo seu apoio aos sectores financeiros e de microfinanciamento. Primeiro Trimestre 2009-5

EMRC Rabobank Project Incubator Award Está nas suas mãos! Para incentivar a inovação, o empreendedorismo e o desenvolvimento económico na África rural, esta iniciativa premeia o projecto com o impacto económico e social mais eficaz sobre as comunidades locais. O vencedor recebeu 10 000 dólares dos EUA e a possibilidade de ter um sólido parceiro financeiro para o seu projecto. Da esquerda para a direita: Pierre Van Hedel, Director Geral da Fundação Rabobank; Augustin Yemene, Presidente do MUPECI; Alexandre de Carvalho, Administrador da LEA; Idit Miller, VP & Directora Geral da EMRC. O vencedor do «EMRC-Rabobank Project Incubator Award» foi Augustin Yemene, Presidente do Conselho de Administração da MUPECI (Sociedade Mútua para a Promoção da Poupança e do Crédito de Investimento). Reconhecimento especial para o projecto Living Energies Africa (LEA) Esta sociedade mútua de crédito e de poupança assiste as mulheres e os jovens dos Camarões e, graças à colecta de fundos, lança projectos de desenvolvimento agrícola, de luta contra a pobreza e de criação de emprego nos meios rurais. O projecto apresentado pela MUPECI consiste em financiar a produção de soja nas diferentes regiões dos Camarões: Adamaoua, Centro, Extremo-Norte, Norte e Oeste. Este projecto foi considerado como particularmente relevante por duas razões: a necessidade de aumentar a produção nacional de soja para transformação em óleo e bagaço de soja (hoje, produzse apenas 2,5-4% das necessidades nacionais e o resto é importado); este aumento da produção de soja permitiria aumentar a produção numa fábrica que colabora com a MUPECI e que só transforma actualmente 3 000 toneladas/ano, em relação a uma capacidade total de 10 000. Com o tempo, este projecto deverá criar cerca de 2 500 empregos directos, permitindo atingir uma produção de 10 000 toneladas de soja por ano e aumentar a agro-transformação (nomeadamente em óleo e bagaço de soja). A cultura desta planta contribuiria também para assegurar um suplemento alternativo de proteínas aos Camaroneses. Ao recompensar este projecto, a EMRC e a Fundação Rabobank quiseram promover uma iniciativa com efeitos económicos e sociais sustentáveis e dar um apoio moral às comunidades rurais, que assumem um papel determinante para o desenvolvimento económico do continente Africano. A empresa Franco-Senegalesa LEA tem por objectivo reforçar o acesso à energia um factor essencial de desenvolvimento no Sudeste do Senegal. Juntamente com a MOZDAHIR, uma ONG local bem implantada, a LEA cultiva 50 000 hectares de Jatropha e desenvolve um projecto de produção para beneficiar mais de 250 000 pessoas. Graças às parcerias estratégicas da LEA com organizações experientes em Jatropha, foram plantados 200 hectares em 2008 e atribuídos 13 000 ao programa pelos Conselhos Rurais. A credibilidade da ONG garante acesso à terra e um envolvimento sustentável das comunidades, dois factores importantes de sucesso. A LEA e a MOZDAHIR criaram uma Empresa Social conjunta em partes iguais (50/50), empenhada em reinvestir a parte dos benefícios da ONG em programas de desenvolvimento local. O programa prestará Serviços Energéticos Rurais (RES) através de moinhos, bombas de água, geradores, tractores e equipamento de transporte. Receitas complementares protegerão a LEA contra a volatilidade dos preços do petróleo: financiamento do carbono, RES e partilha do excedente agrícolas. 6 - DIALOGUES - EMRC

Africa Invest Fund Management A agricultura como instrumento de desenvolvimento FMO Promover o sector privado como motor de crescimento O Relatório do Banco Mundial de 2008 sobre desenvolvimento, refere a agricultura como um instrumento fundamental para o crescimento sustentável nos países emergentes. Salienta que a agricultura foi negligenciada pelos programas oficiais de ajuda e revela, igualmente, o facto extraordinário de o crescimento do PIB resultante da agricultura ser cerca de quatro vezes mais eficaz para aumentar os rendimentos das pessoas em pobreza extrema do que o crescimento do PIB criado fora do sector. A agricultura, assume, portanto, um grande potencial em termos de redução da pobreza e de desenvolvimento sustentável. Também é cada vez maior o consenso em torno da ideia de que a empresa privada faz parte de qualquer estratégia de desenvolvimento. Um exemplo de sucesso de combinação do espírito empresarial com a agricultura é o fundo Africa Invest Fund Management. Esta sociedade gere um projectopiloto de 4 milhões de dólares no Malawi, designado Africa Invest Malawi Ltd, com três objectivos básicos: demonstrar a viabilidade do investimento numa empresa agrícola africana lucrativa, criar emprego e dar atenção às camadas mais vulneráveis da população. Jon Maguire, Director do Africa Invest Fund Management, iniciou este projecto no Malawi há menos de quatro anos, depois de uma visita exploratória a este país da África Austral, onde chegou a acordo com as autoridades locais para criar uma exploração agrícola e iniciar um programa alimentar. Desde aí o projecto Africa Invest Malawi tem-se expandido e gere agora oito explorações em todo o país. Para assegurar a sustentabilidade financeira e a segurança alimentar, incentiva os proprietários de pequenas explorações a plantarem culturas de elevado rendimento comercial para exportação (como a paprica), juntamente com a cultura de um produto de base. Hoje o Africa Invest Malawi emprega directamente 2000 pessoas e assegura a subsistência de outros 8000 agricultores independentes. No total, o programa beneficia um número de pessoas estimado em 100 000. No início de 2008, o programa Africa Invest Malawi lançou dois fundos para financiar os projectos em curso, conseguindo obter 18,5 milhões de dólares num clima financeiro difícil. O seu êxito valeu ao Africa Invest Malawi dois prémios internacionais concedidos pela EMRC e pelo Commonwealth Business Council. A agricultura é uma área a que deve ser dada especial atenção se os países africanos quiserem atingir os objectivos de desenvolvimento do milénio previstos para 2015, que visam o desenvolvimento sustentável e a redução da pobreza. O modelo do Africa Invest Malawi vai ser reproduzido na África subsariana, com um novo fundo designado Africa Transformational Agri Fund. Este fundo, que será lançado no primeiro trimestre de 2009, pretende captar mais de 13,3 mil milhões de dólares para investimentos que serão conduzidos por empresas na África subsariana. O último ano talvez tenha sido o mais exigente de sempre para os mercados financeiros e para o sector bancário a nível mundial. Quase ninguém escapou ileso e em todo o mundo está a ser revisto o processo de avaliação de risco. Neste contexto difícil, a prestação de serviços financeiros e bancários em países emergentes pode ser considerada, talvez erradamente, como especialmente imprudente. A Netherlands Development Finance Company (FMO) constitui o exemplo de uma instituição determinada a resistir a estas águas agitadas e a manter-se ao lado dos seus parceiros em África e noutras partes do mundo emergente, oferecendo capital de risco e outras formas de financiamento numa altura em que as fontes de financiamento secaram em muitos lados. Com o apoio do governo Holandês, que é o seu maior accionista individual, a FMO pode assumir riscos mais elevados do que os financiadores comerciais e ajudar a apoiar a criação de empresas, o que se assume como essencial para o crescimento económico. Embora este tipo de assistência não seja a única actividade da FMO, é especialmente importante no continente africano, onde investiu a maior parte da sua carteira mundial de investimentos, com 921 milhões de euros em todo o continente. O acesso ao capital e ao conhecimento é essencial para incentivar a criação de microempresas, que estão a surgir como uma das forças impulsionadoras do crescimento económico no mundo em desenvolvimento, especialmente em África. A FMO investiu, por exemplo, 20 milhões de euros no fundo do sector financeiro Africinvest, criado especificamente para apoiar o desenvolvimento de jovens instituições financeiras em África. É cada vez maior o consenso sobre o papel do sector privado para qualquer estratégia de desenvolvimento: a ideia de erradicar a pobreza através de lucros, tal como vulgarizada por C.K. Prahalad da Universidade de Michigan, começa a ganhar terreno. Com a sua carteira de investimentos mundiais de 3,4 mil milhões de euros, a FMO é um dos maiores bancos bilaterais de desenvolvimento em todo o mundo. Nas quatro áreas em que se concentra, a saber, a habitação, a energia, o financiamento e o capital de risco, oferece conhecimentos especializados e soluções financeiras inovadoras para os seus parceiros e clientes. A sua estratégia a longo prazo é criar um impacto máximo nas comunidades locais, assegurando benefícios concretos a cada nível da base tripartida: económica, social e ambiental. Primeiro Trimestre 2009-7

Alimentação, bioenergia e ambiente: crise ou oportunidade? ADCON e PROGIS têm a resposta. As palavras actualmente mais pronunciadas são a crise da água, a escassez alimentar, energética, a utlização de biocombustíveis os problemas ambientais. Juntamente com o aumento dos preços do diesel, dos adubos e dos produtos agroquímicos, o cenário é de facto alarmante, embora não totalmente justificado. O que se devia verdadeiramente ouvir falar era de agricultura de precisão: logística assistida por computador, utilização de orto-imagens e de sistemas de informação geográfica (SIG), de sistemas para apoiar as decisões de escolha de melhor pulverização e de irrigação de precisão, tudo em benefício da economia e da ecologia. Hoje em dia, a maior parte dos processos de produção industrial foram optimizados ao extremo. Mas a agricultura também oferece um enorme potencial de eficiência, se reduzirmos a utilização excessiva de máquinas, pesticidas, fertilizantes e água, bem como de combustível se melhorarmos a logística. Deverá ainda haver uma aposta na formação a todos os níveis do processo de produção e de planeamento, desde o agricultor individual até ao Ministério da Agricultura, passando por organizações internacionais como a FAO e a ONU. Walter Mayer, Director Geral da PROGIS, uma conceituada empresa de consultoria, fornecedora de software de SIG, centrada em aplicações para a agricultura, silvicultura e ambiente, salienta: Os imperativos de fornecer alimentos a 10 mil milhões de pessoas e de cuidar ao mesmo tempo e de forma adequada do ambiente não têm de estar em contradição. São estes elementos impulsionadores que nos orientam para uma melhor agricultura e mais adequados modelos de gestão. Com os modelos correctos, os cerca de 3 mil milhões de agricultores de todo o mundo podem atingir todos estes objectivos de maneira sustentável. A PROGIS dedica-se, há vários anos, ao desenvolvimento de aplicações técnicas adequadas para uma gestão eficaz da agricultura, silvicultura e ecologia e da afectação dos solos. Muitas empresas e organizações de grande dimensão, como a alemã Machine Cooperatives, com 250 escritórios e 200.000 agricultores que trabalham em 7 milhões de hectares, já beneficiam destes conhecimentos e podem servir de exemplos e de referência. Walter Mayer salienta que o modelo básico de gestão é semelhante para explorações individuais, grupos de agricultores ou grandes cooperativas. O tema da gestão das zonas rurais é inseparável do imperativo de sustentabilidade ambiental. O cultivo dos campos, pastagens ou florestas tem efeitos directos não apenas na alimentação humana e animal e na bioenergia, mas também na atmosfera, solos, água e recursos biológicos da Terra. Juntamente com o SaRAM, um programa específico de ensino e formação, a PROGIS lançou recentemente uma gama de produtos que designou AGROffice complete. Recorrendo a um balcão único, todas as necessidades em matéria de TIC das zonas rurais podem ser satisfeitas: desde documentação e geo-rastreabilidade até ao equilíbrio de nutrientes e mesmo de CO 2, ao cálculo de custos-benefícios e mapas. Bernard Pacher, Director Geral da ADCON, uma empresa que fornece sensores para utilização na agricultura, afirma: Do lado agronómico da equação, é importante não só que os agricultores compreendam as relações entre plantas, solo, água e meteorologia, mas que tenham também os dados adequados e um sistema de apoio para a tomada de decisões que lhes permita actuar sobre esses dados. A ADCON Telemetry da Áustria introduziu a sua primeira estação de controlo sem fios da meteorologia e dos solos em 1993. Desde aí, a empresa passou a ser o primeiro fornecedor de estações meteorológicas para grandes empresas agrícolas, cooperativas e Ministérios da Agricultura em todo o mundo. O equipamento fornecido pela ADCON recolhe, transmite e processa automaticamente os dados meteorológicos e dos solos, analisa-os em função de várias doenças e modelos de irrigação e fornece aos agricultores uma série de recomendações para as suas operações agrícolas diárias. Estas recomendações são fornecidas por e-mail, por navegador web ou por telefone, móvel ou fixo. Experiências anteriores em países como a África do Sul, Egipto, México e outros demonstraram que se podem poupar quantidades enormes de pesticidas e de fungicidas (até 70%!), de água e de adubos (até 50%!). As duas empresas estão de acordo: Não existe qualquer razão para agricultores, consumidores e ambientalistas serem inimigos. No fim de contas, todos temos as mesmas preocupações. Quando o rio vai poluído a montante, toda a gente sofre a jusante. O modelo para o futuro exige que sejam tidas em conta por igual todas as necessidades. Daqui resulta que todos têm interesse em respeitar os nossos preciosos recursos como o solo ou a água e em investir na sua gestão correcta. E, salientam, este desafio é idêntico tanto nos países desenvolvidos como em desenvolvimento, porque o mundo é só um. 8 - DIALOGUES - EMRC

Agri FORUM 2009 Business Fórum AgriBusiness 2009 14 a 17 de Junho de 2009 Cidade do Cabo, África do Sul Fórum AgriBusiness 2009 Para debater as últimas tendências, o desenvolvimento e os meios para aumentar a produção e tornar competitivos os sectores agro-alimentares de África, a EMRC, em parceria com a ABC - Agricultural Business Chamber da África do Sul, vai organizar o Fórum AgriBusiness 2009 na Cidade do Cabo, África do Sul. Centrado no recurso ao sector privado para melhorar a produtividade e aumentar a segurança alimentar, o Fórum apresentará soluções alternativas para o rápido e sustentável crescimento dos sectores agrícola e agro-alimentar. Como sugeriu Ban Ki-Moon, Secretário-Geral da ONU: O mundo tem de aumentar a produção alimentar em 50% até ao ano 2030 para satisfazer o aumento da procura. Temos uma oportunidade histórica de revitalizar a agricultura especialmente em países onde os ganhos de produtividade foram reduzidos nos últimos anos. A EMRC partilha esta visão e, através de mais uma edição do AgriBusiness 2009, analisará a crise alimentar não como uma ameaça, mas como uma oportunidade para as pequenas explorações agrícolas aumentarem a sua produção. Prémio EMRC-Rabobank Project Incubator Para incentivar o empreendedorismo em África, a EMRC e a Fundação Rabobank lançaram o Prémio para incubadoras de projectos para recompensar o projecto que se apresente como mais viável do ponto de vista económico e social. A Fundação Rabobank oferece 10 000 dólares ao próximo vencedor do prémio, que será anunciado no jantar de Gala do Fórum Agribusiness 2009. Quem participa no Fórum? O evento reunirá um conjunto de representantes dos sectores privado e público, empresários, investidores, banqueiros, consultores, multinacionais, fundações e organizações internacionais de África, Europa, América e Ásia. A EMRC dá as boas-vindas a quem procura oportunidades de projectos viáveis e deseja reforçar o nível de empreendedorismo em África, tornando forte e atractivo o seu sector agro-alimentar. Para obter mais informações sobre o programa e inscrições, visite o nosso sítio na Internet www.emrc.be ou contacte Inês Bastos: ib@ emrc.be; Tel: +32 26 26 15 15; Fax: +32 26 26 15 16 Primeiro Trimestre 2009-9

E ntrevista As Universidades Europeias e Africanas têm um papel fundamental a desempenhar As diferentes visões de três académicos sobre o continente Africano. Da esquerda para a direita: Prof. John Mullins, London Business School; Prof. Ronald Tuninga, Maastricht School of Management, Prof. Sebastião Luvumbu, Universidade Agostinho Neto Luanda; Prof. Loïc Sadoulet, INSEAD Fontainebleau No seguimento da conferência Africa Finance & Investment Forum, no passado mês de Dezembro em Paris, a EMRC convidou três membros de diferentes instituições académicas para exprimirem a sua opinião sobre o desenvolvimento de capacidades em áreas vitais da aprendizagem e da divulgação do conhecimento. Os Professores Sadoulet, Tuninga e Luvumbu aceitaram partilhar as suas opiniões connosco sobre este assunto. As instituições académicas na Europa e em África têm um papel preponderante a desempenhar Falando do papel que as suas respectivas instituições devem desempenhar na formação dos responsáveis africanos pela tomada de decisão, os três professores são unânimes em afirmar que as suas instituições podem contribuir preponderantemente para ajudar a remodelar os futuros empresários líderes em África. O Professor Sadoulet refere que o INSEAD deseja promover a mobilidade de cérebros e ideias também precisamos de mais perspectivas africanas. E as tendências são sem dúvida incentivadoras: como observa o Professor Sadoulet para sua grande satisfação, a proporção de estudantes africanos no programa MBA da INSEAD duplicou nos dois últimos anos. E acrescenta, com uma certa ironia, que a crise económica é uma oportunidade, dado as pessoas que se voltavam para Singapura, Londres e Dubai serem agora obrigadas a alargar o seu horizonte, e isto pode ser benéfico para o Continente Africano. Por outro lado, o Professor Tuninga sublinha que a formação em gestão, assume-se como essencial na formação de futuros líderes Africanos. Na realidade, como ele sublinha, a Escola de Gestão de Maastricht proporcionou, durante mais de duas décadas, formação em gestão em vários países africanos: Foram formados mais de 300 estudantes africanos através do nosso programa MBA. Advertiu, no entanto, que será necessário fazer muito mais nos países africanos para melhorar as normas e aproximá-las dos níveis internacionais. Do ponto de vista da perspectiva africana, o Professor Luvumbu evoca o papel crucial da Universidade Agostinho Neto, a única instituição pública do género em Angola, que está empenhada na formação e educação dos futuros líderes de Angola. E frisou o facto de os especialistas que formam estes futuros líderes não serem só oriundos de Angola mas do mundo inteiro. Este facto é particularmente importante, por demonstrar que a globalização e a mobilidade de cérebros e de ideias não é apenas uma realidade no Norte rico, mas é-o cada vez mais também no Sul. Os modelos de financiamento devem ser melhorados Tanto o Professor Sadoulet como o Professor Tuninga sublinham que os novos modelos de financiamento devem ser incentivados a formar não só os mais privilegiados, mas também os mais talentosos para se tornarem os futuros líderes de África. A pura verdade, como sublinha o Professor Sadoulet, é que os custos do ensino nas instituições de topo, correspondem por vezes a vários anos de salário de muitos dirigentes de alto nível em África. Temos de explorar abordagens de financiamento inovadoras, fomentando a eficácia das parcerias, e da nossa rede de universitários, exprime o Sadoulet. Além disso, é necessário mais esforço por parte das empresas que exercem actividades em África, para patrocinar o seu pessoal a estudar em instituições como a INSEAD, e criar oportunidades internas em África. O Professor Tuninga também é de opinião que será necessário mais investimento do sector privado, como também de instituições governamentais e não governamentais, em especial para expandir a formação em termos de gestão. O desenvolvimento só terá um verdadeiro impacto no terreno se o problema das questões financeiras for solucionado adequadamente, como sublinha o Professor Luvumbu, o qual pensa também que será necessário mais investimento para financiar cursos especializados de pós-graduação para os professores universitários. Mensagem para o futuro Os três professores concordam em dizer que o fórum da EMRC em Paris deu a todos os participantes a oportunidade de estabelecer novas redes e reforçar a interacção entre as redes existentes. Isto aumentou a sua consciencialização de que prevalecem problemas e que são bem-vindas intercâmbios estimulantes de ideias e discussões. Relativamente ao futuro, cada um dos nossos convidados tem uma visão positiva a revelar. Para o Professor Luvumbu, o desenvolvimento de capacidades começa antes de mais com as bases, tais como a erradicação do analfabetismo, que ele considera uma das principais causas da pobreza e uma barreira ao acesso ao conhecimento, especialmente à ciência e à tecnologia. O Professor Tuninga, por seu lado, está convencido que há muito espaço ainda para um contributo melhor e mais significativo para a formação e a educação dos futuros empresários constituírem empresas fortes nos seus países. Segundo o Professor Sadoulet: É tempo de desmistificar África e enterrar definitivamente a sua imagem de continente desorganizado. A África actual é um palco de enormes oportunidades e há histórias de liderança e inovação que merecem mais notoriedade. Eu acredito também que o sector privado será um instrumento valioso na ajuda a um desenvolvimento sustentável a longo prazo. 10 - DIALOGUES - EMRC

Costa do Marfim, porta de acesso à África Ocidental 2009, ano de normalização Apesar de um contexto internacional difícil, marcado, por um lado, pela crise financeira global e, por outro, pela volatilidade do preço do petróleo, associado aos aumentos dos preços dos principais produtos agrícolas, a Costa do Marfim conseguiu terminar o seu ano fiscal de 2008 com um crescimento real do PIB de 2,9%. Além disso, o processo de paz foi revitalizado pela assinatura, em 2007, do Acordo Político de Uagadugu, que pôs termo a cinco anos de instabilidade política. O Governo assumiu esse desafio apoiando esse processo através da mobilização e fornecimento dos fundos necessários à organização de eleições presidenciais em 2009. Havia a necessidade de restaurar a confiança do país, tanto no interior como no exterior, com destaque para a normalização da situação macroeconómica e a melhoria da gestão dos fundos públicos. Por conseguinte, um programa de assistência pós-conflito ajudou o país a consolidar as suas relações financeiras internacionais, que vaticinam uma forte retoma nos próximos anos. O sector privado em primeiro lugar Para preparar o país para o seu relançamento económico, o sector privado costa-marfinense tem um papel central a desempenhar. As multinacionais, as pequenas e médias empresas e as empresas públicas também devem colaborar estreitamente para manter e melhorar a competitividade da nossa economia. Segundo o Ministro das Finanças, Charles Koffi Diby, para alcançar este objectivo, é necessário melhorar as competências existentes e adoptar novas tecnologias. Naturalmente, a retoma do trabalho está a verificar-se em todo o país, graças à abertura da Costa do Marfim a competências e investimentos estrangeiros directos. Vários sectores interessantes estão receptivos à entrada de capital: minas, petróleo, turismo e transformação de produtos agrícolas (café, cacau, borracha, óleo de palma e frutos tropicais). Relativamente à sua imagem passada de Manhattan de África, Abidjan tem muitas vantagens genuínas a oferecer: uma rede rodoviária funcional, um porto de mar em plena actividade, um aeroporto internacional moderno e o fornecimento estável de electricidade. Tudo isto aliado a incentivos fiscais atractivos e mão-de-obra bem formada. Que pedir mais? *Flash Eco informação do Ministério da Economia e Finanças, Abidjan, 2008. A nossa prioridade é a adopção de politicas fiscais que promovam um sentimento de confiança junto dos investidores, sector privado e restantes entidades Charles Koffi Diby, Ministro das Finanças, citação da ultima edição da revista Dialogues (October 2008) Comemoração do dia da Independência Côte d Ivoire Dossier Costa do Marfim Capital: Yamoussoukro Lingua oficial: Francês Moeda: Franco CFA África-Ocidental Governo Republica - Presidente Laurent Gbagbo - Primeiro Ministro Guillaume Soro Independente de França : 7 Agosto 1960 Área 322.460 km 2-124.502 sq mi População - 2008 estimado 18.373.060-1999 census 10.815.694 - Densidade 42/km 2-145/sq mi PNB 2008 FCFA 10.144,60 biliões ( 15.48 biliões) Taxa de Inflação +3,8% em Junho 2008 Crescimento real +2,9% em Junho 2008 Variação produção agrícola 2007-2008 Cacau +15,6% Banana -4,9% Borracha +7,5% Ananaz -17,12% Açúcar +9,0% Café -63,3% Primeiro Trimestre 2009-11

Entrevista Martin Djedjes Director Geral do BIAO-CI, Banco Internacional da África Ocidental Abidjan, Outubro 2008 Dialogues: Que análise faz do potencial de investimento da diáspora costa-marfinense, depois de ter aberto recentemente uma nova filial em França? Martin Djedjes: O potencial de investimento da diáspora é importante. Residem em França mais de 127 000 nacionais da Costa do Marfim. Esta diáspora faz parte dos nossos clientes-alvo. A decisão de instalar um escritório de representação em Paris, em parceria com o banco francês Banque d Escompte, inserese na política de proximidade do BIAO. Esta decisão baseou-se igualmente em estudos realizados na sequência do nosso patrocínio da primeira Jornada da Diáspora Costa-marfinense, organizada em Maio último pela Coordenação-Geral desta diáspora. Durante este evento compreendemos qual era a sua principal necessidade: investir no imobiliário na sua pátria. Organizámos por isso a nossa primeira Feira do Imobiliário para a Diáspora, em 4 de Outubro de 2008, em parceria com os promotores imobiliários de maior renome da Costa do Marfim. A nossa estratégia era dissociar-nos da concorrência, posicionando-nos claramente como um banco capaz de conseguir soluções eficazes para a diáspora da Costa do Marfim no que se refere ao investimento no sector imobiliário. Para além dos actuais serviços bancários, como as contas de poupança e à ordem, oferecemos transferências de dinheiro, empréstimos para aquisição de casa em condições especiais e seguros. Dialogues: Fazendo parte da NSIA, um grupo segurador regional, que garantias oferece quanto à realização desses empreendimentos imobiliários? MD: É importante salientar que o BIAO está por detrás da organização desta Feira Imobiliária. Convidámos os melhores promotores imobiliários que pudessem garantir o nível de qualidade das obras e a conclusão dos programas. A função do BIAO consistirá na concessão de crédito aos promotores para financiarem os programas imobiliários, bem como oferecer empréstimos aos compradores. Além da garantia de seriedade e fiabilidade, o facto de pertencermos ao grupo NSIA permitenos igualmente oferecer seguros aos nossos clientes. A nossa oferta de empréstimos para aquisição de casa inclui igualmente um seguro de vida e um seguro de habitação multiriscos. Por outro lado, foram concebidos produtos específicos para a diáspora costa-marfinense: repatriamento dos mortos e seguro de funeral. Dialogues: Que actividades e inovações recentes do BIAO lhe permitem aumentar a quota de mercado em relação aos seus concorrentes? MD: O BIAO é um banco com enorme potencial, ainda não plenamente explorado. Só num Representantes do Sector Imobiliário da Costa do Marfim durante a Feira Nacional Imobiliária 2008: ABRI 2000, BATIM- CI, GFCI, ORIBAT, SCI LES FIGUIERS, SICOGI. ano passámos da quinta para a terceira posição num total de 20 bancos no país, de acordo com a classificação da APBEFCI (Associação Profissional de Bancos). O nosso lema é a inovação e em 2008 continuámos a impulsionar uma nova dinâmica no mercado bancário da Costa do Marfim. No início do ano passado concluímos uma parceria com o Movimento das Pequenas e Médias Empresas (MPME) da Costa do Marfim para criar um fundo de garantia conjunto, que servirá de caução às PME da Costa do Marfim que pretendem financiar os seus projectos através do BIAO. Em Julho último foi lançado o Adiantamento sobre o salário, um produto inovador que permite a qualquer funcionário público beneficiar de um adiantamento do salário até 70% da remuneração mensal esperada. Este projecto foi apoiado pelo Governo da Costa do Marfim. Depois lançámos as nossas actividades em França para a diáspora: abertura de um escritório de representação em Paris e organização da Feira do Imobiliário. Por último acabamos de concluir uma parceria com a TOTAL Côte d Ivoire, que nos permitirá alargar a nossa rede, instalando miniagências ou máquinas automáticas de pagamento nas 157 estações de serviço TOTAL. Trata-se de uma rede muito vasta que nos permitirá prestar esses serviços mesmo em locais longínquos, contribuindo assim para o processo de divulgação da banca junto das populações. Além disso, decidimos envolver-nos plenamente no financiamento da produção de cacau. Com efeito, no final de 2008 financiámos cerca de 80 000 toneladas de cacau, ou seja, o triplo do que tínhamos feito na campanha anterior. Por último, mas não menos importante, em 15 de Dezembro de 2008 o BIAO procedeu a um aumento de capital através de subscrições em numerário até 10 mil milhões de FCFA, passando o capital social do banco para 20 mil milhões de FCFA. Este reforço do seu capital próprio proporciona ao banco um aumento dos meios financeiros, permitindo-lhe participar na restauração da economia do país. Dialogues: Sendo um grande banco na Costa do Marfim, quais são as suas perspectivas de expansão regional? MD: O grupo NSIA, de que o BIAO-CI faz parte, é o primeiro grupo segurador na África Ocidental e Central. Lançou a sua actividade na África de língua inglesa através da abertura de uma sucursal no Gana. O BIAO-CI integra-se naturalmente nesta estratégia de desenvolvimento regional. Mas de momento a prioridade é consolidar a nossa posição na Costa do Marfim, continuando ao mesmo tempo a explorar todas as oportunidades para desenvolver a nossa rede na sub-região a médio prazo. 12 - DIALOGUES - EMRC

Dossier Costa do Marfim Entrevista Stéphane Eholié Director Geral da SIMAT República da Costa do Marfim Abidjan, Outubro 2008 Quando Stéphane Eholié fundou a sua sociedade SIMAT em 2001, com o objectivo de fornecer um serviço logístico de manutenção e de trânsito no aeroporto e no porto de Abidjan, não imaginava um sucesso tão rápido e tão grande neste sector de actividade, tanto mais que a SIMAT passou recentemente a estar cotada na Bolsa em Paris, na Euronext. Dialogues: Como se sente ao ter superado este desafio? Stéphane Eholié: É um sentimento de orgulho pela concretização de uma carreira individual e de ter contribuído para o sucesso colectivo da organização. África só conseguirá superar o desafio do subdesenvolvimento com o aparecimento de empresários e de quadros dirigentes africanos. Sempre referi que o continente Africano só poderá ter um crescimento sustentável mediante o princípio da parceria Norte-Sul, ou mesmo Sul-Sul, graças ao dinamismo das PME s locais. África é um dos últimos continentes virgens onde tudo está por fazer, por construir ou mesmo por reconstruir. É em África que se encontra o potencial de crescimento e de valor acrescentado do próximo decénio. Enquanto operador económico, o meu objectivo é desempenhar um papel importante na cadeia de valor no sector dos transportes. Dialogues: A cotação na Bolsa em Paris de 20% do capital da SIMAT foi uma opção estratégica. Qual é o contributo desta capitalização e quais são as perspectivas para o vosso capital mais tarde? SE: A Costa do Marfim atravessou uma crise sociopolítica grave, que só se poderá estabilizar depois das eleições. Apesar da perda de confiança das organizações financeiras, o crescimento manteve-se, o que prova bem que existe potencial. Mas para que se possa aproveitar o efeito deste potencial é preciso, evidentemente, voltar a integrar o sistema internacional, para trazer de novo os investimentos directos estrangeiros. É preciso conseguir restabelecer a confiança, uma vez que os níveis de alerta em termos de segurança já baixaram e baixarão ainda mais depois das eleições. Como o comércio é global e internacional, empresas locais como as nossas não podem entrar em concorrência directa com as multinacionais, excepto se compreenderem que também podem passar a ser empresas modernas, com instrumentos de gestão modernos e recursos humanos capazes de prestarem serviços de qualidade. A nossa entrada na Euronext, filial da Bolsa Valores de Nova Iorque, foi uma escolha estratégica e um sinal forte para o mercado africano e para os costa-marfinenses. O facto de entrarmos na bolsa europeia antes de estarmos na bolsa aqui constitui certamente uma opção estratégica, porque visa inspirar confiança na estabilidade das nossas actividades. Na segunda fase, no primeiro trimestre de 2009, esperamos entrar na Bolsa Regional de Valores Mobiliários da Costa do Marfim, com um aumento de capital de 15% a 20%, visto que é o nosso mercado natural. Dialogues: Qual é a sua perspectiva para o crescimento futuro da SIMAT? SE: A especificidade da SIMAT tem residido num crescimento de dois algarismos, mas limitado ao interior do país. Continuamos a ganhar quota de mercado, mas aguardamos que o crescimento económico da Costa do Marfim seja mais positivo para poder adaptar o nosso modelo. Depois, num segundo tempo, procuraremos oportunidades de negócio, como a gestão do terminal de adubos do porto de Abidjan. Esta gestão em parceria permitir-nos-à fomentar as nossas actividades no Burquina Faso e no Mali graças ao transporte multimodal em comboio ou camião. Actualmente, pretendemos adquirir barcos com maior capacidade, para descarregarmos maiores quantidades de mercadorias. Por último, num terceiro tempo, vamos desenvolvernos na região, seja através de parcerias, seja pela aquisição de empresas locais. A vocação óbvia da Costa do Marfim é assegurar a importação e a exportação de mercadorias para os países sem litoral. A concorrência é muito grande, mas visamos actualmente um crescimento interno e parece-me que a estratégia funciona, porque os clientes estão satisfeitos. Dialogues: A SIMAT torna-se o símbolo de uma África empreendedora e dinâmica. Que estratégia utiliza para alargar o âmbito dos vossos serviços? SE: Se sou um símbolo, é o do trabalho. África só conseguirá um crescimento sustentável se os próprios africanos acreditarem no seu continente. Uma vez que as nossas actividades são auxiliares (transportes, manutenção, trânsito, conciliação e armazenagem), a satisfação do cliente prevalece, bem como a obrigação de resultado. A SIMAT procura fazer face a este desafio do subdesenvolvimento graças à sua estratégia de penetração nos mercados. É por isso que esperamos obter a certificação ISO no primeiro trimestre de 2009. É preciso que a SIMAT seja vista como uma empresa africana, mas sem ser de forma pejorativa, porque trabalhamos como um grupo europeu. É preciso acabar com a imagem negativa de África através de exemplos de excelência e de sucesso empresarial. Actualmente, qualquer empresa que queira ser séria e concorrer a nível mundial deve ser certificada ISO, porque é uma garantia moderna de qualidade. Para uma empresa como a nossa, é uma necessidade vital para obter contratos cada vez mais globais ou até mesmo na sub-região. Dialogues : Quais são os valores de gestão que preconiza? SE: Creio que o êxito não é espontâneo. Gostaria de preconizar a excelência pelo trabalho, porque África só conseguirá ter êxito se trabalhar. O salário é o fruto de um trabalho, portanto para ganhar mais é preciso poder trabalhar mais. Estou mais interessado em conquistar mercados do que em enriquecer. É esse o meu desafio: todos os lucros são reinvestidos. Gostaria que dissessem do meu grupo: «Com esta empresa podemos trabalhar.» Assim, a confiança aparecerá naturalmente. Primeiro Trimestre 2009-13

Entrevista Kassoum Fadika Director-Geral PETROCI Abidjan, Outubro 2008 Kassoum Fadika trabalhou cerca de 7 anos para duas sociedades petrolíferas americanas nos EUA: OCEAN ENERGY, que tinha actividades de exploração na Costa do Marfim, e depois para a ENRON, durante alguns meses. De regresso ao seu país, em 2002, foi nomeado conselheiro especial do Presidente da República, Laurent Gbagbo, para o sector das minas, da energia e do petróleo. Após três anos passados na Presidência, entrou em 2005 na sociedade nacional de operações petrolíferas, PETROCI, como Director Geral. Dialogues: A Costa do Marfim iniciou uma fase de reestruturação monumental, tanto ao nível político como económico, para voltar a ocupar um lugar entre os países motores da sub-região francófona. Como é que identifica a sua missão à frente da PE- TROCI, instrumento avançado da política energética da Costa do Marfim? Kassoum Fadika: A nossa missão é muito simples: explorar o potencial estimado na nossa bacia sedimentar, que está localizado principalmente em offshore, para sermos um dia membros da OPEP. Na verdade, o nosso objectivo coloca-se mais em termos de nível de produção do que de ser membro da OPEP. Foi esta preocupação que sempre orientou a nossa actividade e foi por isso que o desenvolvimento do sector petrolífero se iniciou nos anos 60 com a construção da SIR (Société Ivoirienne de Raffinage), depois a criação da PETROCI e da SMB nos anos 70, seguida da GESTOCI, encarregada da gestão das reservas petrolíferas. Face a todas estas iniciativas do Estado, a Costa do Marfim ambiciona posicionar-se no centro da dinâmica de desenvolvimento petrolífero na sub-região. O nosso país, mesmo não sendo um produtor importante de petróleo, conseguiu impor-se tão bem no sector que os países limítrofes, quando têm necessidade de importar produtos petrolíferos, se viram primeiro para nós antes de procurarem outras fontes fora da sub-região. Só no começo do segundo semestre de 1990 é que a Costa do Marfim deu início a uma verdadeira política de desenvolvimento do seu subsolo, a fim de valorizar o potencial mineiro, petrolífero e energético. É por isso que em comparação com outros países vizinhos podemos acusar algum atraso na exploração do nosso subsolo. Se olharmos para a evolução da Costa do Marfim nos últimos 40 anos, o desenvolvimento do país assentava principalmente na agricultura e exploração, entre outros do café, cacau, árvore-da-borracha, banana, ananás, entre outros. Actualmente, podemos dizer que a Costa do Marfim está a entrar numa fase de transição, de diversificação da economia, caminhando para uma maior industrialização e para a exploração de outros recursos naturais, como o petróleo e minérios. Por conseguinte, é a PETROCI que deve orientar e executar esta política petrolífera. Neste sentido, contamos atingir resultados de produção de aproximadamente 150 a 200 000 barris por dia, o que será verdadeiramente positivo em termos de impacto para o Estado, para a PETROCI e para o conjunto da economia. Dialogues: Qual é o papel que o gás natural fornecido pela PETROCI, assume no conjunto global de energia da Costa do Marfim? KF: Actualmente, o bloco Foxtrot, de que a PETROCI tem 40% e o Estado cerca de 10%-15%, fornece 80% ou mesmo 90% do gás natural destinado à alimentação de electricidade. O gás natural trouxe-nos uma vantagem considerável, porque a sua exploração coincidiu com os problemas hidroeléctricos. O gás natural representa hoje cerca de 70% da produção de electricidade nacional, o que não é negligenciável. É por isso que não há cortes de electricidade e que exportamos electricidade para o Gana, o Mali e o Burquina Faso. Temos a vantagem de ter pensado muito rapidamente em valorizar esta energia, em comparação com outros países petrolíferos que têm muito gás mas não o exploram. A PE- TROCI interessa-se, igualmente, por outras fontes alternativas, como a energia solar, os biocarburantes ou a bioenergia. Dialogues: Qual é a importância dos investidores estrangeiros na Costa do Marfim e qual é a vossa estratégia para atrair novos parceiros? KF: O país sempre esteve aberto aos investidores estrangeiros e na zona da CEDEAO - Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, não existem muitos países onde o investimento estrangeiro seja tão elevado como na Costa do Marfim. Mas seremos agora capazes de inverter esta tendência? Pensamos que não. É verdade que o contexto se alterou em relação aos últimos 5 ou 10 anos. Perante isso, era preciso provavelmente rever a estrutura de parceria entre os investidores e a Costa do Marfim em geral, assim como a PETROCI em particular. O contexto dinâmico da indústria petrolífera faz com que necessariamente seja preciso rever os Contratos de Partilha de Produção, ou seja, a estrutura de funcionamento dos contratos petrolíferos. Mas isso não significa que queiramos fechar a porta aos investidores estrangeiros! Eles continuam a ser bem-vindos. Há simplesmente que encontrar um equilíbrio com os recursos naturais, que continuam a ser propriedade do país, e quem faz investimentos iniciais e traz mesmo a tecnicidade. Este equilíbrio deve satisfazer os interesses de ambas as partes. A flexibilidade que queremos introduzir no Objectivos para 2016 Produção /Exploração /Distribuição Petróleo : produção de 300.000 barris por dia, prestando serviço a 100 estações em todo o território Gás Natural : extensão dos serviços às zonas industriais de Abidjan e duplicação do número de clientes Gás Butano : atingir 200.000 toneladas (67% quota de mercado) e aumentar a capacidade de armazenagem Projectos futuros Transportar os hidrocarbonetos via a pipeline Abidjan-Yamoussoukro-Bouaké Criar a segunda refinaria do país, com capacidade para 60.000 barris/dia numa primeira fase Construir um pipeline Abidjan-Takoradi, um complexo electrico agri-biodiesel, bem como um terminal de armazenagem em mar e lagoa 14 - DIALOGUES - EMRC

Dossier Costa do Marfim nosso quadro jurídico evitará as negociações artigo a artigo do contrato, desde a assinatura até à produção. Porque tudo isto faz com que a obtenção de uma licença na Costa do Marfim seja menos dificultada do que noutros sítios. Esta flexibilidade também nos permitirá, quando o contexto se alterar, reajustar melhor as condições de todos os interesses em presença. Damos prioridade à colaboração a longo prazo, para renegociar a rendibilidade económica de uns e de outros. Consideremos o exemplo de um contrato assinado quando o barril estava entre 15 e 20 dólares e actualmente está a 100 dólares (era este o nível de preços do barril no momento da entrevista). É por isso que sugerimos activamente ao Estado uma renegociação dos contratos. De momento, os nossos parceiros estrangeiros na exploração são independentes, comparado com companhias mais importantes como a CHEVRON, a EXXON ou a TOTAL: a PETROCI forma um conglomerado com a BOUYGUES e a EDF-GDF. Além disso, estão presentes as sociedades LUKOIL (russa), Emirati Al Thani (Emiratos Arabes Unidos) e EDISON (italiana). Para a exploração do petróleo, a CNR (Canadian National Ressources) é actualmente o maior produtor de petróleo bruto, com dois blocos no país, e a americana DE- VON. Por muito estranho que possa parecer, devido à nossa h i s t ó r i a comum com a Franç a, a TOTAL não está presente. Continuamos a aguardar uma resposta às propostas que lhe fizemos. A BP participou nos primeiros trabalhos de exploração no país, entre os anos de 1959 e 1970. Ironia do destino, os blocos que estão actualmente a produzir foram descobertos graças a estes trabalhos, mas como não eram rentáveis no contexto económico da época foram abandonados. Dialogues: Quais são as vossas prioridades para 2009? KF: A nossa primeira preocupação consiste em restabelecer o nível de produção do final de 2005/ início de 2006, com o campo «Baobab», que era de cerca de 80 000 barris/ dia. Estamos actualmente a fazer obras para voltar a pôr poços em funcionamento, o que nos permitirá estabilizar em 60 000 80 000 barris/dia. Depois precisamos de intensificar as perfurações de exploração, mas mais provavelmente em 2010 devido à tensão actual nos mercados de perfuração. Foi por isso que adiámos as duas perfurações previstas para 2009 para o início do ano seguinte. Estes custos de perfuração estão associados à procura, à disponibilidade de equipamentos de perfuração e ao preço do barril, evidentemente. A seguir, dois projectos de novas refinarias destinam-se a fazer da Costa do Marfim o principal país de refinação da sub-região. Precisamos igualmente de concluir a construção do oleoduto entre Abidjan e Bouaké, que representa um investimento de 110 mil milhões de FCFA (cerca de 165 milhões de euros), de momento financiado na totalidade pela PETROCI. O financiamento será aberto a outros parceiros se o Governo nos autorizar. Além disso, estamos a reflectir sobre os biocarburantes e as bioenergias, na medida em que a sua produção não está prevista em qualquer quadro jurídico. De facto, se os agricultores que contribuem para assegurar a segurança alimentar na Costa do Marfim abandonarem as culturas alimentares para se virarem para a produção de purgueira, por exemplo, com o pretexto de que é mais rendível, ficamos em perigo. Temos interesse, portanto, em propor rapidamente ao governo um quadro de reflexão e de gestão para evitar um desequilíbrio mais que certo. Dialogues: Qual o papel social da PE- TROCI junto das populações rurais? KF: É verdade que para além do desenvolvimento do nosso sector temos um papel social muito importante e para o tornar mais visível criámos a Fundação PETROCI, destinada sobretudo às nossas gerações futuras. A Fundação fará apelo aos nossos parceiros e terá por função contribuir para o desenvolvimento humano dos costa-marfinenses, onde quer que possa, em temas que tenham a ver com a educação, a saúde ou as infra-estruturas sociais. Arrancando com meios modestos, desenvolverá depois actividades de maior alcance, à volta de 2 mil milhões de FCFA. Além disso, queremos que seja toda a população costamarfinense a beneficiar e não apenas as populações localizadas perto da bacia sedimentar da Costa do Marfim, no sul do país. Dialogues: Para concluir, a Costa do Marfim pode ser definida como uma plataforma de crescimento, que tem em conta as preocupações sociais. Como é que vê a economia da Costa do Marfim nos próximos cinco anos? KF: É preciso redefinir uma série de coisas, podendo seguir-se duas opções: privilegiar os esforços locais ou recorrer ao investimento estrangeiro. Pensamos que é necessário um equilíbrio entre as duas, porque como referi mais acima, a nossa e c o n o - mia está essencialmente nas mãos de investidores estrangeiros. É preciso reequilibrar isto em actividades com muito maior criação de valor. No que diz respeito à PE- TROCI, temos um certo número de prioridades para acelerar o desenvolvimento. De qualquer modo, o sector energético é, evidentemente, um dos pilares do desenvolvimento do país. A Fundação PE- TROCI irá apoiar igualmente a educação, que é outro sector prioritário. Pessoalmente, temos orgulho no estado de espírito que reina na PETROCI, entre os colaboradores. É preciso dar uma nova ambição à PETROCI, que será adoptada pelos seus quadros para que se sintam envolvidos na sua realização. Pensamos que é base do êxito de qualquer empresa, pública ou privada, e o trabalho de equipa é por isso primordial. Primeiro Trimestre 2009-15