1.2. Agronegócio do milho no Brasil. 12 A Cultura do Milho Irrigado

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Transcrição:

12 A Cultura do Milho Irrigado por hectare (Resende et al., 1990) e que é possível a obtenção de produtividades em torno de oito a nove toneladas de grãos por hectare, essa cultura deixa de ser vista apenas como cultivo para rotação e passa, então, a ser economicamente viável. Entretanto, as tecnologias hoje recomendadas para a cultura do milho são quase todas destinadas a condições de sequeiro, em que a expectativa de produção está em torno de quatro a seis toneladas por hectare. O grande risco de ocorrência de veranicos leva o agricultor a investir menos em tecnologia, uma vez que não há garantia de produção estável. Com a aquisição dos equipamentos de irrigação, adicionam-se aos custos de produção os custos relativos ao consumo de energia, investimento, manutenção e operação do sistema de irrigação. Porém, a disponibilidade de água deixa de ser um fator limitante, permitindo ao produtor o uso de tecnologia mais avançada, visando a obtenção de altas produtividades de forma sustentável, sistema aqui denominado de agricultura irrigada. Portanto, essa concepção é diferente de agricultura de sequeiro mais água, normalmente praticada na grande maioria dos sistemas irrigados. A irrigação permite a suplementação de água nos períodos de estiagem e a utilização contínua da área, possibilitando de duas a três safras por ano, dependendo da espécie cultivada. Portanto, o milho cultivado num sistema de sucessão e rotação oferece algumas vantagens em comparação com outras gramíneas; por ser uma cultura já tradicionalmente cultivada no período de verão, produz boa quantidade de restos culturais, que podem ser incorporados ou deixados na superfície, em plantio direto. Entretanto, a rentabilidade da cultura do milho irrigado é baixa, quando comparada com culturas como hortaliças, frutas, café e outras de maior valor comercial. 1.2. Agronegócio do milho no Brasil A produção mundial de milho na safra 1998/99 atingiu 604,8 milhões de toneladas. O Brasil é o terceiro maior produtor mundial, superado pelos Estados Unidos e pela China, os quais são responsáveis por 70% da produção mundial. O consumo mundial é estimado em cerca de 583 milhões de toneladas, dos quais 183 milhões são consumidas nos Estados Unidos, que também são os maiores exportadores desse cereal. Os estoques mundiais vinham aumentado nos últimos anos, repercutindo negativamente sobre os preços e as cotações do milho na Bolsa de Chicago, que são afetados principalmente pelas variações nesse estoque. Entretanto, recentemente, esse estoque reduziu-se consideravelmente, provocando aumento dos preços.

14 A Cultura do Milho Irrigado Nordeste, onde condições desfavoráveis de clima determinam baixos rendimentos, no resto do país, a utilização de insumos modernos ainda é relativamente baixa. Estima-se que, da área total cultivada, somente em cerca de 70% são utilizadas sementes melhoradas; em 25 a 30% é utilizado o controle de plantas daninhas; em cerca de 30% é utilizado o tratamento de sementes contra pragas do solo, em 30% é utilizada alguma forma de controle de pragas na lavoura. O uso de fertilizantes nas lavouras de milho ainda é baixo, cerca de 217 kg ha -1, contra 294 kg ha -1 aplicados na soja. O grande desafio para a elevação do rendimento agrícola e o aumento da competitividade do milho produzido no Brasil é o ajuste de sistemas de produção, de forma a atender diferentes condições produtivas e de seu uso. Dentre esses aspectos, podem ser citados: produção de forragem para alimentação de bovinos; plantio direto; safrinha; produção de grãos em condições de estresse mineral e de clima e com maior resistência a pragas e doenças. Além disso, é necessário um grande esforço na transferência e ajuste dos conhecimentos existentes para sua utilização pela grande maioria dos agricultores, que ainda não os incorporaram aos seus sistemas de produção, principalmente o irrigado. Em algumas regiões do Sul, do Triângulo Mineiro, de São Paulo e, de maneira geral, no Centro-Oeste, são observados os maiores rendimentos da cultura do milho, no Brasil. Esses rendimentos estão geralmente associados a maiores lavouras, de orientação comercial, onde normalmente é conduzido um sistema de rotação milho-soja e é mais freqüente o uso do plantio direto. A agricultura de subsistência, por não ter sido capaz de incorporar essas modificações e por ser cada vez mais onerada pela escassez de mão-de-obra, tem sua competitividade diminuída e reduzida sua importância no abastecimento do mercado brasileiro. Existem exceções a essa regra, como a região Oeste de Santa Catarina, onde, com o estímulo comercial da criação de suínos e aves, os pequenos produtores têm conseguido incorporar novas tecnologias e obtido ganhos de produtividade. 1.3. Produção potencial da cultura do milho A produção de uma cultura é função principalmente de dois conjuntos de fatores: os ambientais e os genéticos. Dentre os fatores ambientais, pode-se destacar principalmente o clima (radiação solar, temperatura etc.), nutrientes, água e outros. Alguns fatores ambientais podem ser controlados através do manejo. A genética é

16 A Cultura do Milho Irrigado devido aos altos investimentos no sistema de irrigação e ao elevado custo operacional da irrigação (30 a 35 % do custo de produção de grãos), devem-se também utilizar cultivares de milho com altos potenciais de produção, geralmente híbridos simples ou triplos. De modo geral, para a cultura do milho, o custo de produção de uma lavoura irrigada é bem mais elevado que em condições de sequeiro. Os investimentos e a energia representam um forte componente nos custos. Na natureza, a energia solar é fixada como biomassa, via processo de fotossíntese, o qual pode ser sumarizado pela seguinte equação: H 2 O + CO 2 luz - CH 2 O + O 2 Diariamente, uma certa quantidade do CH 2 O é utilizada para a respiração de manutenção da cultura que, para os cereais, corresponde a aproximadamente 1,5% do peso da matéria seca. Conseqüentemente, a porção remanescente dos carboidratos, (CH 2 O)rem, pode se representada pela seguinte equação: Em que: (CH O)rem carboidrato remanescente 2 A = assimilação W = peso da matéria seca Para cereais, 30 % dessa porção remanescente são perdidos para a síntese das estruturas da planta. Portanto, a produção da cultura pode ser sintetizada pela equação: produção da cultura = assimilação respiração A produção potencial da cultura do milho, em condições totalmente controladas, em que todos os fatores de produção estão disponibilizados em seus níveis ótimos, pode alcançar quase 30 toneladas de grãos por hectare. Atualmente, essas condições somente podem ser alcançadas em condições de pesquisa. Entretanto, em concursos de produtividade da cultura de milho, no Estado de Minas Gerais, coordenados pela Emater MG, nos últimos dez anos, pequenos e médios produtores têm alcançado produtividades de até 16 toneladas de grãos por hectare, enquanto a produtividade média está pouco acima de 6 toneladas (Figuras 1.1 e 1.2 e Tabela 1.1). Contudo, as produtividades médias de lavouras no estado e no país, apesar de virem crescendo ao longo dos anos, estão muito aquém desses valores (Figura 1.2). Essa variação nas

18 A Cultura do Milho Irrigado Figura 1.2. Evolução da produtividade da cultura do milho no Estado de Minas Gerais, da safra total (1ª e 2ª safras), de 1990/91 a 2000/01 (Conab, citada por RC.W Consultores Ltda., 2003). Tabela 1.1. Concurso de produtividade de milho em Minas Gerais (Emater MG, 1993, 1995, 1996 e 1998). 1.4. Fatores limitantes Lei do Mínimo Justus von Liebig (1803 1873), ao analisar amostras de plantas, desenvolveu a base para conceitos modernos em nutrição de plantas. Liebig propôs a lei do mínimo, afirmando que o crescimento da planta é proporcional à quantidade disponível do nutriente mais limitante. A expansão desse conceito levou à inclusão de água, temperatura e condições do solo como possíveis fatores limitantes, juntamente com os nutrientes para as plantas. Essa teoria sugere que os aumentos do crescimento das plantas são obtidos pelo

20 A Cultura do Milho Irrigado adequada, para se alcançarem bons resultados. Num sistema de produção irrigado, ocorrem muitas interações entre os diferentes fatores de produção, como, por exemplo, a dinâmica de água e nutrientes, e a interação entre eles são muito afetadas pelo conteúdo de umidade no solo. Portanto, recomenda-se seguir as recomendações obtidas através da pesquisa para cada ecossistema ou condição. Ainda com relação à agricultura irrigada é necessário ressaltar dois pontos: o primeiro é o desenvolvimento de um sistema de produção para cada cultura, sob irrigação; o segundo é um sistema de exploração agrícola para uma determinada gleba, que leve em conta a rotação e a sucessão de culturas, o manejo da palhada, o manejo integrado de pragas, doenças e o controle de plantas daninhas. 1.6. Produtividade e rentabilidade de outras culturas O custo de um sistema de irrigação, incluindo captação de água, distribuição e equipamento de irrigação, é relativamente alto e, para que o empreendimento seja rentável, é importante que seja utilizado com culturas mais rentáveis, chamadas cash crops. Essas culturas geralmente são frutas, hortaliças, flores ou mesmo o café. Os grãos, em geral, oferecem menor rentabilidade; no entanto, os programas de irrigação na década de setenta e oitenta favoreceram o crescimento da cultura do feijão irrigado, no Brasil. Naquela ocasião, a produção de feijão era muito instável, sujeita a flutuações climáticas e, a partir de então, a cultura de feijão tornou-se um empreendimento com alto retorno econômico. Entretanto, com o crescimento da área irrigada, houve uma estabilidade da produção e, conseqüentemente, dos preços desse produto. O milho irrigado, para a produção de grãos, apesar da menor rentabilidade, oferece maior vantagem comparativa que o feijão, hortaliças e outras, no plantio de verão, devido à possibilidade de ocorrência de vários dias consecutivos com chuva. Portanto, no período chuvoso, a cultura do milho é mais adequada que as demais, principalmente pela menor incidência de doenças e por ser naturalmente uma cultura de verão. A cultura do milho deixa também um grande volume de palhada no solo, contribuindo para o aumento da matéria orgânica nesses sistemas intensivos de produção. Além disso, nesse período, a irrigação é apenas suplementar, reduzindo consideravelmente os custos operacionais. Portanto, a cultura do milho se torna uma boa alternativa em um sistema de produção irrigado, em sucessão e rotação com o feijão e hortaliças. A Tabela 1.2 apresenta um estudo comparativo da produtividade física de diversas culturas, incluindo grãos, frutas, hortaliças, flores e

22 A Cultura do Milho Irrigado 1.7. Literatura citada BRASIL.Ministério da Agricultura e da Reforma Agrária. Secretaria de Desenvolvimento Rural. Programa de apoio à produção e exportação de frutas, hortaliças e flores ornamentais FRUPEX - Programa de trabalho. Brasília, 1993. 30p. EMATER-MG. Resultados do concurso estadual de produtividade e panorama do milho no Estado de Minas Gerais 92/93. Belo Horizonte, 1993. 45p. EMATER-MG. Resultados do concurso estadual de produtividade e panorama do milho 94/95. Belo Horizonte, 1995. 32p. EMATER-MG. Resultados do concurso estadual de produtividade e panorama do milho 95/96. Belo Horizonte, 1996. 27p. RESENDE, M.; FRANÇA,G.E.; COUTO, L.. Cultura do milho irrigado. Sete Lagoas: EMBRAPA-CNPMS, 2000. 39p. (EMBRAPA-CNPMS. Circular Técnica, 6). PINAZZA, L.A. Resgatando o sonho. Agroanalysis, Rio de Janeiro, v.19, n.1, p.12-17, 1999. RC. W CONSULTORES LTDA. RCW radar: banco de dados do milho - Minas Gerais: histórico da safra total de milho 1990 a 2001. Disponível em : http://www.rawconsultores.com.br/radamilho / ban_1b09.htm Acesso em: 10 de mar. 2003. RESENDE, M.; FRANÇA,G.E.; ALVES,V.M.C. Considerações técnicas sobre a cultura do milho irrigado. Sete Lagoas: EMBRAPA-CNPMS, 1990. 24p. (EMBRAPA-CNPMS.Documentos,7).

24 A Cultura do Milho Irrigado A agricultura começou ao longo do Nilo, 6.000 anos A. C., e na Mesopotâmia. As técnicas de conservação e limpeza de canais já eram praticadas no ano 4.000 A. C. A irrigação por inundação já era praticada ao longo do rio Indus, 2.500 anos A. C. Na China, há informações relativas à prática de agricultura irrigada desde o ano 2.627 A.C. e, no Peru, desde 1.000 anos A. C. Os chineses, egípcios, maias, astecas e incas foram civilizações que alcançaram elevado desenvolvimento cultural e que declinaram até a quase total extinção quando fracassaram as colheitas agrícolas, a água escasseou e o solo, empobrecido, se desertificou (Gulhati & Smith,1967). Desde essa remota origem, a agricultura tem sofrido uma evolução contínua, procurando sempre favorecer a espécie de seu interesse. A agricultura dita moderna surgiu nos séculos XVIII e XIX, a partir da intensificação dos sistemas rotacionais com plantas forrageiras, e da fusão das atividades agrícola e pecuária. Nessa fase, conhecida como Primeira Revolução Agrícola, a introdução de plantas forrageiras nos sistemas produtivos, além de servir como fonte alimentar para os animais, possibilitou melhorias na fertilidade dos solos, principalmente quando se empregaram plantas leguminosas, capazes de fixar o nitrogênio atmosférico (Veiga, 1991). Em meados do século XIX, o químico alemão Justus von Liebig (1803-1873), com base em experimentos laboratoriais, afirmava que todas as exigências nutricionais das plantas poderiam ser supridas por um conjunto balanceado de substâncias químicas. Suas descobertas introduziram a prática da adubação química na agricultura e abriram um amplo mercado para o setor industrial. Para os agricultores, esses produtos possibilitaram a substituição da fertilização promovida pela rotação de culturas e pelo esterco animal, trazendo as seguintes vantagens: simplificação do processo produtivo e aumento da produtividade das lavouras (Romeiro, 1992). Nas primeiras décadas do século XX, além da fertilização dos solos, outras etapas do processo produtivo passaram a ser assumidas ou apropriadas pelo setor industrial emergente. Nessa fase, os sistemas de cultivos rotacionais, integrados com a produção animal, foram substituídos, em larga escala, por sistemas especializados, baseados no emprego crescente de energia fóssil e de insumos industriais, como os adubos químicos, os agroquímicos, os motores de combustão interna e as variedades vegetais de alto potencial produtivo. Esse conjunto de inovações, que mais tarde caracterizou o padrão produtivo da Segunda Revolução Agrícola, elevou de forma exponencial tanto os rendimentos físicos das lavouras quanto a produtividade do trabalho (Romeiro, 1992).

26 A Cultura do Milho Irrigado Santos (1998), a área irrigada brasileira, embora represente apenas cerca de 5% da área total cultivada, contribui com 16% da produção agrícola e representa 35% do valor total da produção. Pode-se, portanto, concluir que cada hectare irrigado equivale a 3 ha de sequeiro, em produtividade física, e a 7 ha de sequeiro, em produtividade econômica. A área total irrigada no mundo, em 1984, era estimada em 221 Mha, equivalente a 464 m 2 /habitante, e, em 1995, a área total foi estimada em 255 Mha, equivalendo a 449 m 2 /habitante. Enquanto a área total irrigada cresceu 15,6%, a área per capita decresceu 3,2% no mesmo período (Christofidis, 1998). Ainda segundo a mesma fonte, na Conferência Mundial sobre Alimentação, promovida pela FAO, em 1974, havia uma previsão de que a fome seria erradicada no mundo em dez anos. Na conferência seguinte realizada pela FAO, sobre o mesmo tema, em 1996 (22 anos mais tarde), constatou-se a existência de 840 milhões de pessoas famintas no globo, equivalente a 14,5% da população mundial, de 5,8 bilhões naquele ano. Estudo conduzido pela PAI ( Population Action International ), citado pelo autor, estima que haverá um contingente de famintos no mundo da ordem de 2,5 bilhões, em 2025. Em relatório apresentado pela ICID (Comissão Internacional de Irrigação e Drenagem), na reunião de Cape Town, em outubro de 2000, para se prevenir contra o cenário de fome previsto para 2025, será necessário aumentar a produção de alimentos no mundo em 100% nos próximos 25 anos, o que significará um incremento da ordem de 15 a 20% no suprimento de água para a agricultura. Considerando a baixa produtividade comparativa da agricultura de sequeiro e o fato de que os excedentes comercializáveis de alimentos, em âmbito mundial, representam apenas 10% da produção global, a grande maioria desse incremento de produção deverá ter sua origem na agricultura irrigada. 2.3. Sustentabilidade agrícola Do ponto de vista ambiental, a substituição dos sistemas de rotação com alta diversidade cultural por sistemas simplificados, baseados no emprego de insumos industriais químicos, motomecânicos e de variedades vegetais geneticamente melhoradas e padronizadas, afetou drasticamente a estabilidade ecológica da produção agrícola (Romeiro, 1992). A destruição das florestas e da biodiversidade genética, a erosão dos solos e a contaminação dos recursos naturais e dos alimentos tornaram-se quase inerentes à produção agrícola. Essa

28 A Cultura do Milho Irrigado um manejo sustentável, a FAO constituiu um grupo internacional de trabalho para estabelecer a base do entendimento e do conceito de manejo sustentável. Para esse grupo (Smyth et al., 1993), manejo sustentável combina tecnologias, políticas e atividades, integrando princípios sócio-econômicos com preocupações ambientais, de modo que se possa, simultaneamente: manter ou melhorar a produção e os serviços (produtividade); reduzir o nível de risco da produção (segurança); proteger o potencial dos recursos naturais e prevenir a degradação da qualidade do solo e da água (proteção); ser economicamente viável (viabilidade); ser socialmente aceitável (aceitabilidade). Estes cinco objetivos, ou seja, produtividade, segurança, proteção, viabilidade e aceitabilidade, são os pilares (fundação) sobre os quais o paradigma do manejo sustentável é construído. Para se atingir a sustentabilidade completa, é necessário alcançar todos os cinco objetivos. 2.4. Agricultura irrigada e sustentabilidade O conceito de agricultura sustentável pode ser resumido em três objetivos principais: 1) melhorar o ambiente e proteger os recursos naturais; 2) aumentar a renda do produtor; 3) melhorar a eqüidade social e econômica da sociedade rural. Consiste em utilizar conhecimentos derivados de vários ramos científicos, porém, sobretudo da ecologia, da fisiologia vegetal e da ciência do solo, para criar campos cultivados que funcionem o mais próximo possível de um campo natural. No que se refere à agricultura irrigada, observa-se que, na maioria das vezes, quando se introduz um sistema irrigado em uma área, isso traz um impacto positivo tão grande no aspecto econômico, para o agricultor, que ele é levado a prestar pouca atenção aos outros aspectos. Assim, seleção de espécies e cultivares mais adaptadas, práticas adequadas de manejo do solo e da água, monitoramento da qualidade do solo e da água e uma preocupação constante com a preservação ambiental normalmente são relegados a um segundo plano. Contudo, para praticar uma agricultura sustentável, se requer uma visão de sistema, interpretando sistema em seu sentido mais amplo.

30 A Cultura do Milho Irrigado Deve-se enfatizar que a agricultura sustentável é um processo, uma maneira de pensar, e não uma técnica. Muitas tecnologias contribuem para criar uma agricultura mais sustentável e as técnicas empregadas podem variar com as condições ambientais e sócio-econômicas, com o tipo de exploração e também com o tempo. A situação pessoal do produtor, as condições de sua exploração, a região em que produz e os sinais do mercado vão determinar, em cada caso, quais são os passos necessários para fazer a transição até uma agricultura mais sustentável, e com que velocidade isso deve ocorrer. Trata-se de dar muitos passos, pequenos e médios, que ajudem a preservar os recursos e a aumentar o bem-estar do produtor. Porém, o produtor deve tomar consciência de que cada passo, cada melhoria, por menor que seja, é uma contribuição em direção a um mundo mais sustentável. Para cada situação, para cada tempo e para cada lugar, o produtor terá que decidir quais são as combinações de tecnologias que maximizem os três objetivos de toda prática agrícola sustentável: aumentar a renda do produtor, conservar os recursos naturais e aumentar a eqüidade social e econômica da sociedade (Doran et al., 1998). Adotar a irrigação, dentro de um enfoque de praticar uma agricultura sustentável, implica mais informação, mais gerenciamento e mais atenção ao detalhe. É por isso que se afirma que a agricultura sustentável não é uma tecnologia, porém uma maneira de ver as coisas, um enfoque ético de se fazer agricultura. Vale ressaltar, também, que não é só o produtor que tem que contribuir para criar uma agricultura sustentável. Todo os agentes do sistema, desde o produtor até o consumidor, deverão tomar medidas para fazer com que esse próprio sistema se torne mais sustentável. O esforço deve ser de todos e, dessa maneira, os benefícios também serão para todos. 2.5. Literatura citada ACTON, D., GREGORICH,L.J. The Health of our Soils: Toward Sustainable Agriculture in Canada. Agric. Agri-food Can.Otawa.1995.138p. CHRISTOFIDIS, D. Water, irrigation and the food crisis.water Resources Development, Vol 14, No. 3: 405-415, 1998.

34 A Cultura do Milho Irrigado diminuem o rendimento em mais de 20%, quatro a oito dias diminuem em mais de 50%. O efeito da falta de água, associado à produção de grãos, é particularmente importante em três estádios de desenvolvimento da planta: a) iniciação floral e desenvolvimento da inflorescência, quando o número potencial de grãos é determinado; b) período de fertilização, quando o potencial de produção é fixado; nessa fase, a presença da água também é importante para evitar a desidratação do grão de pólen e garantir o desenvolvimento e a penetração do tubo polínico; c) enchimento de grãos, quando ocorre o aumento na deposição de matéria seca, o qual está intimamente relacionado à fotossíntese, desde que o estresse vai resultar na menor produção de carboidratos, o que implicaria menor volume de matéria seca nos grãos (Magalhães et al., 1995). Portanto, a importância da água está relacionada também com a fotossíntese, uma vez que o efeito do déficit hídrico sobre o crescimento das plantas implica menor disponibilidade de CO2 para fotossíntese e limitação dos processos de elongação celular (Devlin, 1975; Salisbury & Ross, 1982; Transpiração, 1984). A falta de água é sempre acompanhada por interferência nos processos de síntese de RNA e proteína, caracterizada por um aumento aparente na quantidade de aminoácidos livres, como a prolina. A manutenção da pressão de turgescência celular, através do acúmulo de solutos (ajustamento osmótico), é um mecanismo de adaptação das plantas para seu crescimento ou sobrevivência em períodos de estresse de água. Apesar do alto requerimento de água pela planta de milho, ela é eficiente no seu uso para conversão de matéria seca (Klar, 1984 ; Salisbury & Ross, 1982; Aldrich et al., 1982). Para um eficiente manejo de irrigação, de nutrientes e de outras práticas culturais, é de fundamental importância o conhecimento das diferentes fases de crescimento do milho com suas diferentes demandas. Portanto, este capítulo enfatiza os diversos estádios de crescimento da planta de milho, desde a sua emergência até a maturidade fisiológica, em plantio de verão. As considerações feitas neste tópico, com o genótipo de milho, referem-se a um material de ciclo normal, cuja floração acontece aos 65 dias após a emergência. Todas as plantas de milho seguem um mesmo padrão de desenvolvimento, porém, o intervalo de tempo específico entre os estádios e o número total de folhas desenvolvidas pode variar entre híbridos diferentes, ano agrícola, data de plantio e local.

36 A Cultura do Milho Irrigado profundidade onde elas se encontram depende da profundidade do plantio. O crescimento dessas raízes, também conhecido como sistema radicular temporário, diminui após o estádio VE e praticamente inexiste no estádio V3. O ponto de crescimento da planta de milho, nesse estádio, está localizado cerca de 2,5 a 4,0 cm abaixo da superfície do solo e se encontra logo acima do mesocótilo. Essa profundidade onde se acha o ponto de crescimento é também a profundidade onde vai-se originar o sistema radicular definitivo do milho, conhecido como raízes nodais ou fasciculadas. A profundidade do sistema radicular definitivo independe da profundidade de plantio, uma vez que a emergência da planta vai depender do potencial máximo de alongamento de mesocótilo, conforme pode ser visto na Figura 3.1 (Ritchie & Hanway, 1989). Figura 3.1. Duas profundidades de plantio, mostrando detalhe do alongamento do mesocótilo. (Adaptado de Ritchie & Hanway, 1989). O sistema radicular nodal se inicia, portanto, no estádio VE e o alongamento das primeiras raízes se inicia no estádio V1, indo até o R3, após o qual muito pouco crescimento ocorre (Magalhães et al., 1994).

38 A Cultura do Milho Irrigado Figura 3.2. Estádio de três folhas completamente desenvolvidas. (Foto: Paulo César Magalhães) Figura 3.3. Planta no estádio V3, mostrando o ponto de crescimento abaixo da superfície do solo. (Adaptado de Ritchie & Hanway, 1989).

40 A Cultura do Milho Irrigado Figura 3.4. Estádio de seis folhas completamente desenvolvidas. (Adaptado de Ritchie & Hanway, 1989). Figura 3.5. Planta no estádio V6, mostrando o ponto de crescimento acima da superfície do solo. (Foto: Paulo César Magalhães)

42 A Cultura do Milho Irrigado Próximo ao estádio V10, a planta de milho inicia um rápido e contínuo crescimento, com acumulação de nutrientes e peso seco, os quais continuarão até os estádios reprodutivos. Há uma grande demanda no suprimento de água e nutrientes para satisfazer as necessidades da planta (Magalhães & Jones,1990a). Figura 3.6. Estádio V9, mostrando detalhes de várias espigas potenciais. (Adaptado de Ritchie & Hanway, 1989). 3.2.6. Estádio V12 (doze folhas desenvolvidas) O número de óvulos (grãos em potencial) em cada espiga, assim como o tamanho da espiga, são definidos em V12, quando ocorre perda de duas a quatro folhas basais. Pode-se considerar que, nessa fase, iniciase o período mais crítico para a produção, o qual estende-se até a polinização. O número de fileiras de grãos na espiga já foi estabelecido; no entanto, o número de grãos/fileira só será definido cerca de uma semana antes do florescimento, em torno do estádio V17 (Magalhães et al., 1994). Em V12, a planta atinge cerca de 85% a 90% da área foliar, e observa-se o início do desenvolvimento das raízes adventícias ( esporões ). Devido ao número de óvulos e tamanho da espiga serem definidos nessa fase, a deficiência de umidade ou nutrientes pode reduzir seriamente o número potencial de sementes, bem como o tamanho

44 A Cultura do Milho Irrigado desenvolvimento da espiga, pode haver problemas na sincronia entre emissão de pólen e recepção pela espiga. Caso o estresse seja severo, ele pode atrasar a emissão do cabelo até a liberação do pólen terminar, ou seja, os óvulos que porventura emitirem o cabelo após a emissão do pólen não serão fertilizados e, por conseguinte, não contribuirão para o rendimento (Magalhães et al., 1994; Magalhães et al., 1995; Magalhães et al., 1999). Híbridos não prolíficos (produzem apenas uma espiga) produzirão cada vez menos grãos com o aumento da exposição ao estresse, porém, tendem a render mais que os prolíficos em condições não estressantes. Os prolíficos (produzem duas ou três espigas), por sua vez, tendem a apresentar rendimentos mais estáveis em condições variáveis de estresse, uma vez que o desenvolvimento da espiga é menos inibido pelo estresse (Aldrich et al., 1982; Ritchie & Hanway, 1989). 3.2.9. Pendoamento, VT Esse estádio inicia-se quando o último ramo do pendão está completamente visível e os cabelos não tenham ainda emergido. A emissão da inflorescência masculina antecede de dois a quatro dias a exposição dos estilo-estigmas; no entanto, 75% das espigas devem apresentar seus estilos-estigmas expostos, após o período de 10 a 12 dias posterior ao aparecimento do pendão. O tempo decorrente entre VT e R1 pode variar consideravelmente, dependendo do híbrido e das condições ambientais. A perda de sincronismo entre a emissão dos grãos de pólen e a receptividade dos estilos-estigmas da espiga concorre para o aumento da porcentagem de espigas sem grãos nas extremidades. Em condições de campo, a liberação do pólen geralmente ocorre nos finais das manhãs e no início das noites. Nesse estádio, a planta atinge o máximo desenvolvimento e crescimento. Estresse hídrico e temperaturas elevadas (acima de 35 o C) podem reduzir drasticamente a produção. Um pendão de tamanho médio chega a ter 2,5 milhões de grãos de pólen, o que equivale dizer que a espiga em condições normais dificilmente deixará de ser polinizada pela falta de pólen, uma vez que o número de óvulos está em torno de 750 a 1000 (Magalhães et al., 1994; Magalhães et al., 1999; Fancelli, 2000). A planta apresenta alta sensibilidade ao encharcamento nessa fase, o excesso de água pode contribuir inclusive com a inviabilidade dos grãos de pólen.

46 A Cultura do Milho Irrigado Figura 3.8. Estádio R1, estilos-estigmas captando grãos de pólen. (Foto: Paulo César Magalhães) O grão de pólen, uma vez em contato com o cabelo, demora cerca de 24 horas para percorrer o tubo polínico e fertilizar o óvulo; geralmente, o período requerido para todos os estilos-estigmas em uma espiga serem polinizados é de dois a três dias. Os cabelos da espiga crescem cerca de 2,5 a 4,0 cm por dia e continuam a se alongar até serem fertilizados (Ritchie & Hanway, 1989; Magalhães et al., 1994). O número de óvulos que será fertilizado é determinado nesse estádio. Óvulos não fertilizados evidentemente não produzirão grãos. Estresse ambiental nessa fase, especialmente o estresse hídrico, causa baixa polinização e baixa granação da espiga, uma vez que, sob seca, tanto os cabelos como os grãos de pólen tendem à dissecação. Não se deve descuidar de controlar insetos, como a lagarta-da-espiga, que se alimentam dos cabelos. Deve-se combater essas pragas, caso haja necessidade. A absorção de potássio nessa fase está completa, enquanto nitrogênio e fósforo continuam sendo absorvidos. A liberação do grão de pólen pode se iniciar ao amanhecer, estendendo-se até o meio-dia; no entanto, esse processo raramente exige mais de quatro horas para sua complementação. Ainda sob condições favoráveis, o grão de pólen pode permanecer viável por até 24 horas. Sua longevidade, entretanto, pode ser reduzida quando submetido a baixa umidade e altas temperaturas (Magalhães et al., 1994).

48 A Cultura do Milho Irrigado estádio. A umidade de 85% nos grãos, nessa fase, começa a diminuir gradualmente até a colheita (Magalhães & Jones, 1990 a,b; Magalhães et al., 1994). Figura 3.9. Grãos no estádio R2, conhecidos como bolha d água. (Adaptado de Ritchie & Hanway, 1989). 3.3.3. Estádio R3 (grão leitoso) Esta fase é iniciada normalmente 12 a 15 dias após a polinização. O grão se apresenta com uma aparência amarela e, no seu interior, um fluido de cor leitosa, o qual representa o início da transformação dos açúcares em amido, contribuindo, assim, para o incremento de matéria seca. Tal incremento ocorre devido à translocação dos fotoassimilados presentes nas folhas e no colmo para a espiga e grãos em formação. A eficiência dessa translocação, além de ser importante para a produção, é extremamente dependente de água (Magalhães & Jones, 1990b; Magalhães et al., 1998). Embora, nesse estádio, o crescimento do embrião ainda seja considerado lento, ele já pode ser visto, caso haja uma dissecação. Esse estádio é conhecido como aquele em que ocorre a definição da densidade dos grãos (Magalhães et al., 1994; Fancelli, 2000). Os grãos, nessa fase, apresentam rápida acumulação de matéria seca e cerca de 80% de umidade (Figura 3.10), sendo que as divisões celulares dentro do endosperma apresentam-se essencialmente completas. O crescimento, a partir daí, é devido à expansão e ao enchimento das células do endosperma com amido. O rendimento final depende do número de grãos em desenvolvimento e do tamanho final que eles alcançarão. Um estresse hídrico nessa fase, embora menos crítico que na fase anterior, pode afetar a produção. Com o processo de maturação dos grãos, o potencial de redução na produção final de grãos, devido ao estresse hídrico, vai

50 A Cultura do Milho Irrigado 3.3.4. Estádio R4 (grão pastoso) Esse estádio é alcançado cerca de 20 a 25 dias após a emissão dos estilos-estigmas, os grãos continuam se desenvolvendo rapidamente, acumulando amido. O fluido interno dos grãos passa de um estado leitoso para uma consistência pastosa (Figura 3.11), e as estruturas embriônicas de dentro dos grãos encontram-se já totalmente diferenciadas. A deposição de amido é bastante acentuada, caracterizando, dessa feita, um período exclusivamente destinado ao ganho de peso por parte do grão. Em condições de campo, tal etapa do desenvolvimento é prontamente reconhecida, pois, quando os grãos presentes são submetidos à pressão imposta pelos dedos, mostram-se relativamente consistentes, embora ainda possam apresentar pequena quantidade de sólidos solúveis, cuja presença em abundância caracteriza o estádio R3 (grão leitoso) (Magalhães et al., 1994). Os grãos se encontram com cerca de 70% de umidade em R4 e com cerca da metade do peso que eles atingirão na maturidade. A ocorrência de adversidades climáticas, sobretudo falta de água, resultará numa maior porcentagem de grãos leves e pequenos, o que comprometeria definitivamente a produção. Figura 3.11. Grãos no estádio R4, pastoso (Adaptado de Ritchie & Hanway, 1989). 3.3.5. Estádio R5 ( formação de dente) Este período é caracterizado pelo aparecimento de uma concavidade na parte superior do grão, comumente designada de dente, coincide normalmente com o 36 o dia após o princípio da polinização (Figura 3.12).

52 A Cultura do Milho Irrigado Materiais destinados à silagem devem ser colhidos nesse estádio. O milho colhido nessa fase apresenta as seguintes vantagens: significativo aumento na produção de matéria seca por área; decréscimo nas perdas de armazenamento pela diminuição do efluente e aumento significativo no consumo voluntário da silagem produzida (Fancelli, 2000). 3.3.6. Estádio R6 (maturidade fisiológica) Esse é o estádio em que todos os grãos na espiga alcançam o máximo de acumulação de peso seco e vigor; ocorre cerca de 50 a 60 dias após a polinização. A linha do amido já avançou até a espiga e a camada preta já foi formada. Essa camada preta ocorre progressivamente da ponta da espiga para a base (Figura 3.14). Nesse estádio, além da paralisação total do acúmulo de matéria seca nos grãos, acontece também o início do processo de senescência natural das folhas das plantas, as quais, gradativamente, começam a perder a sua coloração verde característica (Ritchie & Hanway, 1989; Magalhães et al., 1994). Figura 3.14. Detalhe do desenvolvimento da camada preta (ponto da maturidade fisiológica) (Adaptado de Ritchie & Hanway, 1989). O ponto de maturidade fisiológica caracteriza o momento ideal para a colheita, ou ponto de máxima produção, com 30 a 38% de umidade, podendo variar entre híbridos. No entanto, o grão não está ainda em condições de ser colhido e armazenado com segurança, uma vez que deveria estar com 13 a 15% de umidade, para evitar problemas com a armazenagem. Com cerca de 18 a 25% de umidade, a colheita já pode acontecer, desde que o produto colhido seja submetido a uma secagem artificial antes de ser armazenado.

54 A Cultura do Milho Irrigado MAGALHÃES, P.C.; RESENDE, M.; OLIVEIRA, A.C. de; DURÃES, F.O.M.; SANS, L.M. A caracterização morfológica de milho de diferentes ciclos. In: CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO, 20, 1994, Goiânia, GO. Centro-Oeste: cinturão do milho e do sorgo no Brasil: resumos. Goiânia: ABMS/EMBRAPA-CNPMS/UFG/EMATER- GO, 1994, p.190. RITCHIE, S.; HANWAY, J.J. How a corn plant develops. Ames: Iowa State University of Science and Technology/Cooperative Extension Service, 1989. (Special Report, 48) SALISBURY, F.B.; ROSS, C.W. The Potosynthesis-transpiration compromisse. In: CAREY, J.C. (Ed.) Plant physiology. 2 ed. Belmont: Wadsworth, 1982. p.32-46.

56 A Cultura do Milho Irrigado preparo de solo, quando este apresenta condições inadequadas de umidade. É comum observar, em área com agricultura intensiva e sob irrigação, um estágio avançado de degradação, em que o solo se apresenta bastante compactado, com um processo de erosão instalado e com produtividade aquém da esperada. Mesmo sob essas condições, observa-se, muitas vezes, o desconhecimento e, o que é mais grave, o desinteresse por parte do agricultor em reverter esse quadro. Somente com a retomada de consciência sobre a necessidade em preservar esse recurso, será possível reverter o quadro, praticando uma agricultura mais racional, maximizando o uso da terra e os rendimentos e preservando o meio ambiente. Com o propósito de minimizar o impacto negativo de uma agricultura intensiva sob condições de irrigação, deve-se sempre ter em mente que as atividades de manejo do solo devem contemplar, de maneira harmoniosa, não somente o solo, mas também as suas interações com a água, com vistas ao planejamento integrado, visando a sustentabilidade da atividade. Nesse contexto, será dada ênfase a alguns temas importantes sobre o manejo e a conservação do solo e da água, os quais revestem-se de maior importância, por se tratar do uso intensivo de área irrigada, criando uma situação reconhecidamente mais frágil em relação à degradação dos solos. 4.2. Planejamento de uso do solo Para toda situação de uso da terra, não somente sob irrigação, o manejo adequado do solo tem de ser buscado, com vistas a que o produto das práticas adotadas seja uma agricultura rentável, tecnicamente correta e sustentável. Para que isso seja alcançado, o primeiro fator a ser considerado é o reconhecimento das classes de solos presentes e que essas sejam caracterizadas de modo a se conhecerem as suas limitações e potenciais quanto ao uso. Com isso, é possível fazer o planejamento de condicionamento da área à proposta de agricultura, decidindo-se pelo melhor uso e manejo, objetivando maximizar o uso da terra, ao mesmo tempo que permita a sua permanência como bem não degradado. O planejamento conservacionista passa necessariamente pela locação dos meios de acesso, que, sendo possível, deverão ser construídos num nível acima daquele do terreno agricultável. Esse cuidado, embora possa onerar o projeto num dado momento, vai evitar que as estradas se transformem num fator concentrador de enxurrada, o que fará aumentar a erosão e os gastos com a manutenção, além de dificultar o trânsito. As estradas devem ser locadas preferencialmente

58 A Cultura do Milho Irrigado hiperférrico (latossolo roxo), indicou que os plantios em dezembrojaneiro apresentam o maior potencial de perdas por erosão, mas que, para a semeadura a partir de fevereiro, os riscos são bastante reduzidos (De Maria, 1995). Para as condições de safrinha, isto é, sem irrigação, em São Paulo, a perda potencial do solo preparado com grade é o dobro da perda do solo com plantio direto (De Maria e Duarte, 1997), enquanto que, na cultura de verão, o preparo do solo com a grade aradora tem um potencial de erosão bem mais elevado. As perdas de solo e água em um latossolo vermelho típico, submetido a diferentes métodos de manejo de solo para o cultivo do milho, estão apresentadas na Tabela 4.1. Essa tabela indica que o sistema de plantio direto promoveu uma redução de sete vezes nas perdas de solo e de três vezes nas perdas de água, em relação aos métodos convencionais de preparo: arado de discos e arado de aiveca. Isso demonstra a eficiência do método conservacionista, do plantio direto, para a sustentabilidade do solo, contribuindo, dessa maneira, para a preservação do meio ambiente e para a economia de água. Tabela 4.1. Perdas de solo e de água em um latossolo vermelho típico do município de Sete Lagoas, MG, submetido a diferentes métodos de manejo (Alvarenga et al., 1998). A capacidade de a vegetação e os resíduos vegetais interceptarem a chuva ou absorverem água pode retardar o início do escorrimento. Outro fator relevante é a ocorrência de chuva após uma irrigação, em que o maior conteúdo de umidade reduzirá o tempo para que haja início do escorrimento superficial, aumentando o risco de erosão. A erosão hídrica é o principal fator de degradação dos solos agrícolas e está presente, em maior ou menor intensidade, em toda a área cultivada. Além dos prejuízos que causa às atividades agrícolas, ela também traz prejuízos a diversas outras atividades econômicas e especialmente ao meio ambiente, devido à poluição. O impacto da gota de água de chuva ou de irrigação na superfície do solo quebra os agregados e desprende partículas que ficam em suspensão. Não havendo transporte dessas partículas, à medida que a água vai se infiltrando, elas se depositam na superfície de maneira orientada, de

60 A Cultura do Milho Irrigado erosão. Em agricultura irrigada, raramente será economicamente viável utilizar algumas práticas como o pousio ou a adubação verde, que não apresentam retorno imediato, embora se reconheçam os seus benefícios ao solo. Entretanto, é possível racionalizar o uso de várias outras práticas, de tal maneira que se consigam maiores lucros, ao mesmo tempo que haja a proteção do solo, minimizando a erosão e mantendo ou melhorando a sua qualidade. O manejo das plantas pode ser direcionado para que confira maior resistência contra os agentes de degradação do solo e é conhecido como as práticas vegetativas de conservação do solo. Por exemplo, no Brasil, o espaçamento adotado na cultura do milho é muito variável, de 1,0 m a 0,8 m, mas verifica-se uma tendência de se utilizarem, cada vez mais, espaçamentos menores, pelas seguintes razões: aumento no rendimento de grãos, por propiciar uma distribuição melhor de plantas na área, aumentando a eficiência na utilização de luz solar, água e nutrientes; melhor controle de plantas daninhas, em função do mais rápido fechamento da cultura; redução da erosão, pela cobertura antecipada da superfície do solo (Cruz, 1999). Para isso, já existem colhedoras de milho que permitem a colheita em espaçamentos de até 0,5 m. É possível fazer coincidir o período de precipitação mais intensa do verão com culturas já estabelecidas, o que aumentará a densidade de vegetação nessa época de maior risco de erosão. Para as condições do início da primavera, quando os acréscimos em erosividade são significativos, devido à maior freqüência de chuvas convectivas (de curta duração e alta intensidade), a irrigação pode viabilizar a antecipação do plantio, de modo que haja uma vegetação mais densa nessa época. Marques et al. (1998) observaram que, em janeiro, na região de Sete Lagoas, MG, apesar de haver alta erosividade das chuvas, as culturas bem desenvolvidas contribuíram para diminuir a erosão, em conseqüência da cobertura do solo por elas. Nas últimas décadas, destaque tem sido dado ao sistema de plantio direto como prática conservacionista. É definido como o processo de semeadura em solo não revolvido, no qual a semente é colocada em sulcos ou covas, com largura e profundidade suficientes para a adequada cobertura e contato das sementes com a terra. Assim, promove-se a eliminação/redução das operações de preparo do solo. Como resultado, há maior manutenção dos atributos físicos do solo, melhorando a sua estrutura, evitando compactação, com melhoria da taxa de infiltração da água e manutenção da umidade, melhorando o

62 A Cultura do Milho Irrigado preparo do solo, cujos resultados obtidos para a infiltração básica foram os seguintes: preparo com plantio direto, 45 mm/h (100%); preparo com arado escarificador, 35 mm/h (78%); e somente 26 mm/ h (58%) em preparo convencional. Infiltração total proveniente de altas precipitações pluviométricas só é possível com 100% de cobertura do solo. Para tanto, são necessárias 4 a 6 t/ha de cobertura morta (Derpsch et al., 1991). Deve ser ressaltado que a cultura do feijão, uma das principais culturas produzidas com irrigação, deixa uma pequena quantidade de palha após a colheita. Assim, a presença do milho em sucessão a culturas irrigadas é altamente desejável para que o plantio direto possa atingir maior eficiência, pois ele normalmente produz entre 8 e 12 t ha -1 de palha (Figura 4.1). Para uma mesma quantidade de água perdida por escorrimento, esta transporta muito menos solo em plantio direto do que no sistema convencional. Entretanto, alguns casos de erosão significativa têm sido observados em área de plantio direto, devido à baixa cobertura do solo com resíduos, à retirada do sistema de terraceamento e ao plantio sem respeitar as curvas de nível (Vieira, 1985). Figura 4.1. Palhada de milho em cultura de feijão sob plantio direto. Foto: Ramom Costa Alvarenga Outro efeito da cobertura morta em plantio direto é a redução das perdas de água por evaporação, em conseqüência de três aspectos: a) reduz a quantidade de radiação solar direta que atinge a superfície do

64 A Cultura do Milho Irrigado Tabela 4.3. Teor de umidade nos 5 cm superficiais de um latossolo vermelho típico, cultivado com milho, em sistema de plantio direto, em função do prolongamento do período de veranico. Vale lembrar que o excesso de palha poderá causar algum problema operacional durante o plantio e na emergência das plântulas e irá requerer maior atenção para com a adubação nitrogenada, devido à imobilização desse nutriente pelos microrganismos, podendo causar deficiência às plantas. O escoamento superficial de água é fortemente influenciado pelo declive, pois a probabilidade de haver erosão aumenta com o aumento da declividade do terreno, existindo um comprimento crítico do declive a partir do qual a erosão hídrica atinge níveis inaceitáveis, sendo necessário interceptar o escoamento, para que o fenômeno da erosão seja minimizado; a maneira mais eficaz é o secionamento do comprimento do declive, através da construção de um sistema de terraceamento. Embora a sua eficiência seja inegável, deve-se ter em mente que terraço não é sinônimo de conservação do solo; por isso, deve ser sempre empregado em associação com outras técnicas de manejo e conservação do solo e da água. Excepcionalmente, em condições de plantio direto, há uma corrente de pensamento que defende a retirada dos terraços; entretanto, em alguns casos, essa prática tem causado o retorno da erosão, principalmente em áreas com solos de textura média. Pode haver necessidade de manutenção dessas estruturas mesmo em áreas sob o sistema de plantio direto, como forma de minimizar os prejuízos advindos da erosão, pois, a partir de determinado comprimento de rampa, o volume da enxurrada aumenta e passa a escorrer por baixo da camada de resíduos, erodindo o solo (Bertol et al., 2000).

66 A Cultura do Milho Irrigado de 50 mm h -1 ; declividade de 0,08 m m -1, sistema de culturas de milho e soja em rotação, além de outras características do terreno, da equação de chuvas intensas e de construção do terraço (Alvarenga et al., 1999). Como resultado, o espaçamento obtido entre terraços foi de 35,4 m, para o sistema de plantio direto, e de 17,7 m, para o convencional com grade. Por outro lado, usando-se os dados apenas de tabelas, o espaçamento seria de 18 m para qualquer sistema de manejo. Isso mostra como o sistema de manejo do solo, a seqüência de culturas e as características locais de relevo, de solo e de clima podem interferir no sistema de terraceamento. Em razão disso, o custo de implantação de um sistema de terraceamento na área considerada para o sistema de plantio direto foi aproximadamente a metade daquele da área do sistema convencional com grade pesada. Teoricamente, os problemas operacionais advindos da presença dos terraços cairiam à metade quando o sistema de plantio direto fosse adotado. 4.5. Compactação do solo A habilidade das plantas em explorar o solo, em busca de água e nutrientes, depende grandemente da distribuição de raízes no perfil desse solo que, por sua vez, depende das condições físicas e químicas, as quais são passíveis de alterações em função do manejo aplicado. Portanto, o manejo do solo pode afetar em graus variados tanto as características intrínsecas quanto as extrínsecas do solo, em que a compactação tem papel de destaque. Ela é reconhecida como uma das principais conseqüências do manejo inadequado do solo, aparecendo geralmente abaixo da camada cultivada pela ação dos implementos de preparo do solo ou na superfície, devido ao tráfego. No caso dos tratores, a área de contato com o solo são as rodas, e no caso dos implementos, como o arado e as grades, são os discos. Por esse motivo, as rodas e esses implementos são considerados agentes causadores de compactação, pois o peso total do equipamento é distribuído em uma área muito pequena, ou seja, os gomos dos pneus ou extremidades dos discos criam uma pressão elevada sobre o solo. Na camada compactada, as características químicas e principalmente as características físicas do solo são modificadas. Assim, após uma pressão no solo, exercida pelas rodas dos tratores e por máquinas agrícolas, ocorre a quebra de agregados. Com isso, há o aumento da densidade do solo, ocorrendo simultaneamente redução da porosidade (especialmente de poros grandes); diminuição de trocas gasosas (oxigênio e dióxido de carbono); limitação do movimento de nutrientes;

68 A Cultura do Milho Irrigado teor de umidade de máxima compactação. Outro fato importante a notar é que, à medida que a energia de compactação aumenta, é necessária uma quantidade menor de água para se alcançar o máximo de compactação; isto serve de alerta para o uso de equipamentos mais pesados. Uma outra variável a ser considerada no processo de compactação é a textura do solo. Solos cuja constituição seja de partículas do mesmo tamanho são menos suscetíveis ao processo de compactação, comparados àqueles em que há mistura de argila, silte e areia de diversos tamanhos. Isto se deve ao fato de as partículas de tamanhos diferentes se arranjarem e preencherem os poros, quando o solo é submetido a uma pressão, quebrando, assim, os agregados. Alguns neossolos quartzarênicos servem para ilustrar essa situação, em que a fração areia fina se ajusta bem nos espaços, provocando alto grau de compactação, principalmente em solos intensivamente trabalhados em áreas irrigadas. A identificação da camada compactada pode ser feita no campo, por meio de observações práticas, ou utilizando-se equipamentos apropriados, destacando-se a determinação da densidade do solo, que é o método de maior precisão e largamente utilizado, uma vez que busca avaliar a proporção do espaço poroso em relação ao volume de solo. Apesar de muitas limitações, a resistência à penetração é freqüentemente usada para indicação comparativa de graus de compactação, por causa da facilidade e rapidez para realizar um grande número de medidas. Entretanto, quando forem feitas comparações dessas determinações, a textura e o teor de umidade terão que ser semelhantes, pois essas medidas são afetadas por esses atributos do solo. A presença da compactação pode ser notada também através de observações dos sintomas visuais que são provocados em plantas e no solo. 4.5.1. Sintomas visuais da compactação 4.5.1.1. Sintomas visuais no solo: Encrostamento ou selamento superficial do solo - É observado na superfície do solo desprovido de cobertura morta, em forma de placas constituídas geralmente por material mais fino de solo, apresentando trincas devido à contração e à expansão (Figura 4.2).