Estruturas de mercado Prof. Ms. Marco A. E-mail: marco.arbex@live.estacio.br Blog: www.marcoarbex.wordpress.com Na aula anterior conhecemos a lei da oferta e demanda, compreendida como um mecanismo de ajuste do mercado. De acordo com a lei da oferta e demanda, quando há excesso de oferta de um bem no mercado, o seu preço tende a cair; da mesma forma, quando há excesso de demanda por um bem no mercado, seu preço tende a subir. Porém, embora a lei da oferta e demanda seja uma boa forma de explicar como os preços são determinados, nem todos os mercados (setores da economia) funcionam eficientemente regidos apenas pela lei da oferta e demanda. Ou seja, a economia, na vida real, não funciona plenamente de acordo com mão invisível. Por isso, o Estado desenvolve iniciativas para amenizar as falhas do mecanismo de mercado. Mercados diferentes possuem formas ou estruturas diferentes. Nesse sentido, a estrutura e a formação de preços em um mercado depende fundamentalmente de 3 características: a)número de empresas que compõem esse mercado; b)tipo do produto (se as firmas fabricam produtos idênticos ou diferenciados); c)se existem barreiras ao acesso de novas empresas nesse mercado. 1
As estruturas de mercado estudadas aqui são: a) Concorrência perfeita b) Monopólio c) Oligopólio d) Concorrência monopolística conc. perfeita conc. monopolística oligopólio monopólio No diagrama anterior, quanto mais à esquerda, mais perfeito o mercado, ou seja, melhor é o funcionamento da lei da oferta e demanda Quanto mais à direita no diagrama, mais imperfeito é o mercado, ou seja, pior é o funcionamento da lei da oferta e demanda Mercados mais perfeitos Mercados mais imperfeitos Concorrência perfeita Concorrência perfeita Existe grande número de empresas, de forma que nenhuma, isoladamente, tem o poder de afetar a oferta de mercado e, consequentemente, o preço de equilíbrio. Exemplo de um mercado que se aproxima desse conceito: mercado hortifrutigranjeiro Os produtos são homogêneos (sem diferenciação). Ignora-se embalagem, qualidade ou preferências por marca. As barreiras à entrada são praticamente inexistentes (outras empresas entram facilmente nesse mercado) O mercado é transparente, ou seja, as informações são conhecidas por todos os participantes (como participação de mercado, margem de lucro, preços, etc.) A concorrência perfeita, segundo Vasconcellos e Garcia (2009), é um modelo idealizado, que dificilmente encontraremos na vida real. Em geral, os mercados possuem algumas falhas ou imperfeições. 2
Concorrência monopolística Concorrência monopolística Assim como na concorrência perfeita, há muitas empresas produzindo determinado bem ou serviço; - Exemplos de mercados que se aproximam da concorrência monopolística: Porém, cada empresa produz um produto diferenciado ou focados em públicos específicos. Exemplos de diferenciação: design, marca, excelência na qualidade, etc. Esses diferenciais dão um pequeno poder monopolista para a empresa determinar preços, porém, a margem de manobra para fixação dos preços não é tão alta, pois existem produtos substitutos no mercado (permitindo que ocorra o efeito substituição ). Monopólio O oposto da concorrência perfeita é o monopólio. Neste mercado, existe uma única empresa no mercado que vende a todos os consumidores. Não há concorrência nem substitutos próximos. Os preços, portanto, não estão sujeitos à oferta e demanda do mercado, o que possibilita que a empresa tenha lucros extraordinários. Para existir o monopólio, devem haver barreiras à entrada de novas empresas. Algumas condições que criam tais barreiras estão no slide a seguir. Monopólio: barreiras à entrada 1)Monopólio natural: elevado volume de capital necessário para entrar no mercado limita a entrada de outras empresas. Ocorre em setores onde há necessidade de alta escala de produção para obtenção de retorno financeiro. Nesses casos, o governo pode deixar que haja monopólio e regular sua atuação e preços. Exemplos: Companhias transmissoras de energia elétrica Companhias de saneamento (água e esgoto) 3
Monopólio: barreiras à entrada Monopólio 2)Existência de patentes que impeçam a difusão de determinada tecnologia. Exemplo: Indústria farmacêutica; indústria de eletroeletrônicos. 3)Controle de matérias-primas Exemplo: monopólio na exploração de petróleo ( quebrado em 1997 no Brasil) 4) Monopólio estatal ou institucional: protegido pela legislação, normalmente em setores estratégicos ou de infraestrutura. Exemplos: monopólio dos Correios para entrega de correspondências pessoais; ECADE. Algumas particularidades: - Quando uma empresa possui concorrentes, mas domina grande parte do mercado, pode-se também considerar que há poder de monopólio; - Nesses casos o governo, através de órgãos específicos, pode interferir em processos de fusão e aquisição de empresas - Exemplos: Oligopólio O oligopólio ocorre em duas situações: - Existência de pequeno número de empresas no mercado (como no setor automobilístico) - Existência de grande número de empresas, mas com o domínio de poucas (como no mercado de cervejas) - Os oligopólios podem ser de produtos diferenciados (como o automobilístico) ou de produtos homogêneos (como o de cimento ou de distribuição de combustíveis). Oligopólio Por ser um mercado dominado por poucas empresas, o oligopólio possibilita que haja coordenação e cooperação entre as empresas dominantes para determinar o preço de mercado. Essa prática leva o nome de CARTEL. O cartel é uma organização (formal ou informal) de produtores dentro de um setor, visando fixar preços e repartir (determinar cotas) do mercado entre as empresas. O governo pode condenar empresas pela formação de cartel, desde que hajam provas dessa prática. 4
Uma particularidade: A teoria dos jogos e a cooperação como estratégia entre competidores É interessante observar que para as empresas, o melhor caminho é realmente a cooperação, uma vez que estas não precisam entrar em uma briga por preços, chamada pela teoria econômica de dente por dente. Ao cooperar, as empresas conseguem manter o mercado estável e reduzir o poder de negociação dos consumidores. Essa constatação de que faz bem para as empresas concorrentes manterem práticas cooperativas está explicitada na teoria dos jogos. O dilema dos prisioneiros O exemplo clássico para explicar a teoria dos jogos é o dilema do prisioneiro. Esse dilema é ilustrado nos livros de economia da seguinte maneira: Dois suspeitos, A e B, são presos pela polícia. A polícia tem provas insuficientes para condená-los, mas, separando os prisioneiros, oferece a ambos o mesmo acordo: se um dos prisioneiros testemunhar para contra o outro e o outro permanecer em silêncio, o que colaborar sai livre o cúmplice silencioso cumpre 5 anos de sentença. O dilema dos prisioneiros O dilema dos prisioneiros Se ambos ficarem em silêncio, a polícia só pode condená-los a 1 ano de cadeia cada um. Se ambos se acusarem um ao outro, cada um será condenado a 2 anos de cadeia. Cada prisioneiro faz a sua decisão sem saber o que o outro vai decidir. Nenhum tem certeza de como o outro vai reagir e que decisão irá tomar. Em um mercado oligopolista, porém, a possibilidade de coordenação e cooperação entre empresas existe. Quando exercida, normalmente mantém as empresas em situação estável e minimiza os riscos de ter que lidar com a concorrência. A questão que o dilema propõe é: o que vai acontecer? Como reagir? Dado que nenhum deles pode ter a certeza da cooperação do outro, o resultado final será que ambos irão optar por denunciar o colega. 5
Resumo das características das estruturas de mercado Características Concorrência perfeita Monopólio Oligopólio Concorrência monopolística Quanto ao número Muito grande. Só há uma empresa. Pequeno. Grande. de empresas Quanto ao produto Homogêneo. Não Não há substitutos Pode ser homogê- Diferenciado. há quaisquer dife- próximos. neo ou diferenciado. renças. Quanto às barreiras Não há barreiras. Barreiras ao acesso Barreiras ao acesso Não há barreiras. à entrada de novas empresas. de novas empresas. Mochón (2006) observa que, na tentativa de lutar contra as imperfeições do mercado, os governos no mundo todo vêm buscando abrir mercados a empresas nacionais e estrangeiras como forma de incentivar a concorrência. No Brasil, podemos exemplificar o caso das empresas de telefonia, que desde a privatização, na década de 90, estão sendo submetidas a mercados concorrenciais. Por outro lado, em alguns setores é mais difícil promover essa concorrência (caso dos monopólios naturais). Síntese do papel do Estado na defesa da concorrência: Mochón (2006) observa que todas as iniciativas que visam propiciar a concorrência perfeita e alcançar a eficiência econômica têm como objetivo limitar o poder de empresas de setores monopolizados ou oligopolizados, bem como lutar contra as falhas de mercado em que os indivíduos não têm informações suficientes ou a capacidade necessária para se defender. Quando os mercados apresentam falhas, portanto, o Estado exerce seu papel regulador para que a sociedade não seja prejudicada. Segundo a Constituição da República Federativa do Brasil, há duas formas de intervenção do Estado para promover a concorrência em algum setor: a) O Estado disputaria o mercado diretamente com o setor privado, em áreas de relevante interesse público; b) O Estado apenas administraria as condutas referentes à área econômica (concessões e privatizações). Assim o Estado exerce as funções de fiscalização, incentivo e planejamento. 6
De acordo com essa estrutura, pode ser delegada a particulares a prestação dos serviços públicos relacionados às telecomunicações, eletricidade, gás, rodovias, fornecimento de água, esgoto, entre outros. Nesse contexto, surgem as agências reguladoras, cujos objetivos são controlar as tarifas cobradas dos usuários, universalizar o serviço prestado, fomentar a competitividade, fiscalizar o cumprimento dos contratos de concessão ou de permissão e, arbitrar os conflitos entre as partes envolvidas. Dentre os órgaos criados para a defesa da concorrência no Brasil, destaca-se a atuação do CADE: Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Ele tem a finalidade de orientar, fiscalizar, prevenir e apurar abusos de poder econômico, exercendo papel tutelador da prevenção e da repressão a tais abusos. Em outras palavras, o CADE tem a responsabilidade de impedir a concentração econômica e a formação de cartéis e de monopólio, para coibir os danos que tais estruturas causam à concorrência e, consequentemente, à sociedade. Textos-base MOCHÓN, Francisco. Princípios de economia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: Micro e Macro. São Paulo: Atlas, 2009. 7