MÉTODO CONSERVATIVO APLICADO AO ESTUDO DO VAZAMENTO DE FLUIDOS COMPRESSÍVEIS NÃO-ISOTÉRMICOS EM TUBULAÇÕES



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MÉTODO CONSERVATIVO APLICADO AO ESTUDO DO VAZAMENTO DE FLUIDOS COMPRESSÍVEIS NÃO-ISOTÉRMICOS EM TUBULAÇÕES Oldrich J. Romero oldrich@mec.puc-rio.br Angela O. Nieckele nieckele@mec.puc-rio.br Departamento de Engenharia Mecânica, PUC/Rio, CEP 22453-900, RJ, RJ, Brasil Resumo. Apresenta-se a simulação numérica do vazamento de líquidos e gases compressíveis, não-isotérmicos escoando uni-dimensionalmente em regime transiente através de tubulações com paredes não rígidas. O vazamento foi prescrito como sendo proporcional à diferença de pressão entre o fluido e o meio externo. O método dos volumes finitos é utilizado para resolver a forma conservativa das equações que governam o escoamento, as quais são derivadas dos princípios de conservação de massa, quantidade de movimento linear e energia. A influência da perda de massa nos campos de velocidade, pressão e temperatura foi analisada, considerando-se diversos tamanhos de furos e diferentes localizações dos mesmos ao longo de tubulações de diâmetros variados. Como o vazamento introduz perturbações nos campos de velocidade, pressão e temperatura, o instante em que esta perda de fluido ocorre pode ser claramente identificável, mediante um monitoramento continuo destas grandezas em pontos estratégicos ao longo da tubulação. Uma vez que o método é conservativo, é possível localizar o vazamento, realizando-se balanços de massa entre diversos trechos da tubulação. Palavras-chave: vazamento, não-isotérmico, transiente, conservativo, compressível. 1. INTRODUÇÃO O vazamento em linhas de transporte de líquidos ou gases é uma causa de preocupação constante para os operadores. O derramamento do fluido pode causar sérios acidentes e danos consideráveis podem acontecer dependendo da quantidade e do tipo do de produto liberado ao meio ambiente. Isto origina que regulamentos mais rigorosos por parte dos governos sejam emitidos para diminuir estes acidentes (Liou & Tian, 1994). Considerando que são diversas as causas que podem originar o vazamento numa tubulação, por exemplo: corrosão, erosão, falhas em juntas e soldas, fadiga, ruptura, falhas em equipamentos, etc., o monitoramento continuo da linha de transporte mediante instrumentação e softwares adequados é essencial. Diversos métodos foram desenvolvidos para detectar o vazamento. De acordo com Watanabe & Himmelblau (1986), de um modo geral estes podem ser classificados como sendo de dois tipos: diretos e indiretos. Os primeiros são aqueles que se servem da inspeção visual, do cheiro, do som e do estado anormal da vegetação para serem localizados. No caso dos indiretos, a detecção é feita mediante medições de pressão e vazão ao longo da tubulação

e em operação conjunta com softwares desenvolvidos utilizando diversas técnicas computacionais. Whaley & Ellul (1994) apresentam uma importante discussão em relação aos métodos indiretos, classificando-os em: métodos baseados em hardware, sistemas sensíveis ao fluido (Sandberg et el.,1989) e sistemas SCADA, métodos acústicos (Watanabe & Himmelblau, 1986), métodos de reconhecimento padrão e métodos baseados em modelos. Uma outra abordagem apresentada por Iserman (1984), classifica os métodos de detecção como: (i) médio (líquido gás - múltiplas fases), (ii) operação (parado estacionário - pequenas mudanças - não estacionário), (iii) tamanho (grande médio - pequeno), (iv) desenvolvimento do vazamento (abrupto lento - já existente) e (v) monitoramento (contínuo - intermitente). Existem vários trabalhos publicados que estudam o problema do vazamento considerando-o como isotérmico: Romero & Nieckele (1999 e 2000), Liou (1998 e 1990), Liou & Tian (1994), Billmann & Isermann (1987), etc. Poucos são os trabalhos que levam em consideração a variação da temperatura do fluido: Olorunmaiye (1994), Liou (1983). A maioria destes pesquisadores utilizam o método das características, a exceção de Romero & Nieckele, para resolver numericamente o conjunto de equações diferenciais que regem o escoamento. Estas metodologias baseiam-se no fato de que um vazamento existe quando há discrepâncias entre os valores computados pelo modelo (basicamente de pressão e vazão) e os medidos no campo, esta diferença é vista como sendo proporcional ao tamanho do vazamento. Uma ampliação destes conceitos, podem ser encontrados em Whaley et al. (1992). No presente trabalho, o principio de conservação da massa aplicado ao escoamento é utilizado. Se não existir derramamento, um perfeito balanço de massa deve existir dentro da tubulação. Em outras palavras a diferença entre as vazões em massa da saída e entrada da tubulação, deve ser igual à taxa de variação da massa no interior da linha. Romero, O.J. (1999) efetua um desenvolvimento detalhado desta formulação, utilizando o método dos volumes finitos. 2. FORMULAÇÃO MATEMÁTICA As equações de conservação de massa, quantidade de movimento linear e da energia, que governam o escoamento de um fluido com propriedades constantes (com exceção da massa específica) escoando uni-dimensionalmente em um duto de paredes não rígidas, podem ser escritas na forma conservativa, ou divergente (Anderson, 1995), de acordo com o volume de controle elementar ilustrado na Fig. 1, como dx F perda γ A + A d x x g τ s α P V A ρ h q = U G (T -T) V V + d x x Figura 1 - Volume de Controle Elementar.

1 d t A x 1 d ( ρ d ) + ( ρ AV ) + = 0 F perda p f ρ V V d t A x x 2 D ( ρ d ) + ( ρ AVV ) = ρ g sinα (1) (2) d t ( ρ hd ) + ( ρ AVh ) = ( pd ) + ρgvsinα + 1 A A x x h 4UG A x D c p d t h p + V x + V + 2 2 V furo ( h h ) furo + p 2 2 k c f ρ V 2D 3 Fperda d (3) onde V é a velocidade do fluido, p é a pressão, h a entalpia, ρ a massa específica, A é a área da seção transversal ( A=π D 2 /4, sendo D o diâmetro da tubulação), α o ângulo que o eixo faz com a horizontal, f é o fator de atrito, g é a aceleração da gravidade, t o tempo. d = Adx é o volume infinitesimal. F perda representa o vazamento, isto é, vazão em massa de fluido que perde-se para o meio externo. k e c p são a condutividade térmica e calor específico a pressão constante, respectivamente. h e h furo correspondem a entalpia do meio ambiente e a entalpia do fluido que escoa através do furo. V furo é a velocidade do fluido através do furo. U G é o coeficiente global de transferência de calor entre o ambiente à temperatura T e o fluido no interior da tubulação com temperatura T. Considera-se que tanto para gases como líquidos a entalpia é relacionada com a temperatura por h - h ref = c P (T - T ref ) (4) O vazão em massa perdida através do furo, F perda, é considerada como saindo perpendicularmente à parede da tubulação através dos furos localizados na sua superfície. Considera-se ainda como sendo função da diferença de pressão entre a linha e o ambiente, p - p. Fperda ) 2 ( p ) ρ = ρ Cd A furo p / (5) C d A) furo é o produto do coeficiente de descarga através do furo e a área do mesmo. A área pode variar por causa da utilização de tubulações diferentes ou por deformações da tubulação devido à pressão interna, resultando na seguinte dependência do diâmetro com a pressão, a partir de um diâmetro de referência D ref, avaliado a pressão atmosférica p atm. Dref D =, 1 [ C ( p p )] D atm C D 2 ( 1 µ ) Dref = (6) 2eE onde e é a espessura da parede da tubulação, E o módulo de elasticidade de Young e µ coeficiente de Poisson.

Considerou-se a seguinte dependência da massa específica com a pressão para líquidos: ( p p ) ref ρ = onde a = constante (7) 2 a e para gases: p ρ = onde a 2 = z R 2 ref a T, (8) z é o coeficiente de compressibilidade, R a constante do gás, ref indica valores de referência e a é a velocidade do som. O fator de atrito de Darcy f, depende do número de Reynolds, Re = ρ V D/µ fl e da rugosidade relativa da tubulação ε /D, µ fl representa a viscosidade absoluta do fluido, considerada constante. O fator de atrito f é avaliando levando-se me conta se o regime de escoamento é laminar (Re 2300) ou turbulento (Re > 2300), considerando-se o escoamento como hidrodinâmicamente desenvolvido (Fox & McDonald, 1995), 64 f = para Re 2300 e Re f 0 25 ε / D 3, 7 5, 74 Re =, log + 0, 9 2 para Re > 2300 (9) 3. MÉTODO NUMÉRICO Para a discretização das equações (1), (2) e (3), utilizou-se o método dos volumes finitos (Patankar, 1980). A velocidade e a entalpia são localizadas nas faces do volume de controle, enquanto que a pressão foi armazenada no ponto nodal. Utilizou-se integração temporal totalmente implícita, o método Upwind para a integração dos termos espaciais convectivos e diferenças centrais para os outros termos. Para a solução do sistema algébrico resultante utilizou-se um procedimento direto, resolvendo-se a velocidade e pressão com um algoritmo hepta-diagonal, baseado no algoritmo SIMPLER (Patankar, 1980), onde uma equação para a pressão é construída combinando-se a equação de conservação de massa e quantidade de movimento linear, mas como o sistema é não linear, diversas iterações são realizadas até a convergência. Obtidos os campos de velocidade e pressão, resolve-se a equação da energia através do algoritmo direto TDMA (Patankar,1980), já que a forma discretizada da Eq. (3) é um sistema tri-diagonal. Propriedades e parâmetros relevantes são atualizadas a cada passo de tempo. 4. RESULTADOS Resultados obtidos com o código computacional implementado foram comparados com soluções numéricas disponíveis na literatura (Wylie & Streeter, 1978), com outros códigos computacionais e com a solução analítica do problema de Fanno. A concordância foi muito boa. Detalhes destas comparações podem ser encontradas em Romero & Nieckele (1999). Dois casos com vazamento serão apresentados: escoamento de um gás e de um líquido não isotérmicos ao longo de uma tubulação horizontal não rígida com furos, como esquematizado na Fig. 2. Considera-se que a tubulação, de comprimento L e diâmetro D, é composta por quatro trechos e possui cinco estações de monitoramento (E1,..,E5) onde são feitas leituras de vazão, pressão e temperatura. Para efeitos de simulação, furos podem existir ao longo da linha, em

T(t) t(s) m(t) t(s) P(t) E1 E2 E3 E4 E5 t(s) FLUIDO f1 f2 f3 f4 L Figura 2 - Tubulação horizontal com furos. cada um dos trechos. Os furos serão denominados de (f1,..,f4) dependendo do trecho onde estão localizados. Os dados referentes a tubulação válidos para os dois ensaios são: Modulo de Young: E = 2x10 11 Pa; coeficiente de Poisson: µ = 0,3; espessura da parede: e = 2,54 cm; rugosidade: ε = 0,002 mm. Em ambos os testes considerou-se que a pressão é sempre mantida constante na saída, a vazão em massa e a temperatura são prescritas na entrada. Inicialmente o fluido está em repouso e a temperatura ambiente (293 K), com distribuição uniforme de pressão igual ao valor da saída (pressão atmosférica, p atm ). A vazão cresce linearmente até um determinado valor e permanece constante após disso. O objetivo é analisar o comportamento do escoamento quando o vazamento ocorre. Este vazamento é prescrito na simulação via Eq. (5) somente após o regime permanente ter sido atingido. 4.1 Escoamento de um Gás Não Isotérmico numa Tubulação Horizontal com Vazamento Considerou-se um gás ideal não isotérmico escoando através de uma tubulação com L = 5 km e D = 30 cm. As propriedades do gás são: R = 287 N.m/(kg.K); z = 1,04; µ fl = 1,5x10-5 kg/(m.s), calor específico a pressão constante c P = 1004 N.m/(kg.K) e condutividade térmica k = 0,2 W/(m.K). No instante inicial, injeta-se fluido com temperatura de 313 K. A vazão em massa na entrada leva 100 s para atingir o valor constante de 3 kg/s. Considera-se que o fluido troca calor com o ambiente com coeficiente de troca de calor global U G = 10 W/(m 2.K). O vazamento ocorre através do ponto f2 da Fig. 2, com Cd f = 0,5; o tamanho do furo é D f = 10% D = 3,1 cm; o que corresponde a A f =0,0007 m 2 e Cd A) f = 0,000353 m 2. A Figura 3 ilustra a variação temporal da vazão e pressão nos cinco pontos da linha. Observa-se que no instante em que começa o vazamento, ocorre uma sensível diminuição da vazão mássica nas estações a jusante do furo, permanecendo inalteradas as leituras a montante. Com relação a pressão, pode-se identificar o instante em que o incidente ocorre, porém, não é possível identificar o trecho, já que uma leve queda de pressão é detectada em todas as seções. A variação temporal da temperatura é apresentada nas Figs. 4 e 5 para dois valores de tamanho do furo, correspondente a 10% e 1% do diâmetro da tubulação, (D f = 10% D, D f = 1% D = 2,3 mm, que corresponde a A f =7,07x10-6 m 2 e Cd A) f = 3,53x10-6 m 2 ). Inicialmente o fluido está em repouso e a temperatura ambiente. É então, injetado fluido quente na

4 110 E 1 3 90 m (kg/s) 2 D furo2 = 10%D E 1 P man (kpa) 70 50 1 30 10 D furo = 10% D 0 0 500 1000 1500-10 0 500 1000 1500 a) Vazão mássica (b) Pressão Figura 3 - Escoamento de gás na tubulação com vazamento em f2. Variação temporal. 304 297 T ( K ) 301 298 D furo2 = 10%D T ( K ) 296 295 294 D furo2 = 10%D 295 293 292 0 500 1000 1500 Tempo ( s ) 292 600 800 1000 1200 1400 Tempo ( s ) (a) Transiente total (b) Detalhe durante o vazamento Figura 4 Variação temporal da temperatura do gás para vazamento através de f2. D furo2 =10%D tubulação. A temperatura na estação E1 é constante e igual a 313 K e não será apresentada nos gráficos. Observa-se que inicialmente, a medida que a vazão e a pressão vão se elevando até atingirem o valor de regime permanente, a temperatura também vai subindo. Porém, após a vazão e pressão se estabilizarem, o fluido começa a ser mais influenciado pela temperatura do meio ambiente, e a temperatura decai, atingindo um perfil de regime permanente, variando exponencialmente ao longo da tubulação, desde o alto valor da entrada até um valor próximo à temperatura externa. A Fig. 4b ilustra a variação da temperatura após o regime permanente ter sido atingindo, ressaltando o processo durante o vazamento. Observa-se que devido ao

304 301 D furo2 = 1%D T ( K ) 298 295 292 0 500 1000 1500 Tempo ( s ) Figura 5 Variação temporal da temperatura do gás para vazamento através de f2. D furo2 =1%D vazamento ocorre uma queda da temperatura, acompanhando a queda de pressão e massa. Contudo, como fluido quente continua sendo injetado, observa-se uma posterior recuperação da temperatura em todas as estações. No caso de vazamentos através de furos pequenos, a perda de massa praticamente não afeta a distribuição da temperatura dentro da tubulação, como pode ser visto na Fig. 5. 4.2 Escoamento de um Líquido Não Isotérmico numa Tubulação Horizontal com Vazamento Este problema é análogo ao caso anterior, porém o fluido de trabalho é água. O fluido ingressa com uma temperatura constante de 300 K. A vazão em massa na entrada é aumentada lentamente levando 2000 s para atingir o valor constante de 80 kg/s. Na saída da tubulação a pressão é atmosférica. A tubulação tem comprimento L = 5 km e diâmetro D = 85 cm. As propriedades da água são: a = 1200 m/s; µ fl = 10-3 kg/(m.s); c P = 4000 N.m/(kg.K); k = 0,6 W/(m.K). Após 30 000 s considera-se o aparecimento de um vazamento, devido a um furo na superfície da tubulação, localizado em f2. O tamanho do furo é D f = 10% D = 8,5 cm, correspondendo a A f =0,00567 m 2 e Cd A) f = 0,00284 m 2. O coeficiente de troca de calor é U G = 15 W/(m 2.K). A temperatura inicial é igual a do meio ambiente T =293 K. De forma similar ao observado no caso anterior, nota-se na Fig. 6 a presença do vazamento pela variação brusca da vazão e pressão no instante que o vazamento começa. Observa-se que a jusante do furo a vazão é mais baixa, e que após uma queda brusca da pressão em todas as direções, observa-se uma recuperação da mesma, atingindo um novo valor de regime permanente. A variação da temperatura é mostrada na Fig. 7 para dois valores distintos de coeficientes de troca de calor. Observa-se que o vazamento não afetou a distribuição de temperatura em nenhum dos casos. Nota-se ainda na Fig. 7a, que quando a troca de calor com o meio ambiente é mais intensa, a variação de temperatura ao longo da tubulação é quase linear. Já para o caso de um coeficiente de troca de calor bem baixo, Fig. 7b, o fluido é todo aquecido atingindo o valor da temperatura de entrada, observando-se um comportamento do escoamento como se a tubulação estivesse isolada

1.5 80 E 1 1.0 m (kg/s) 60 40 D furo2 =10%D E 1 P man (kpa) 0.5 0.0 20-0.5 D furo2 =10%D 0 0 10000 20000 30000 40000 50000-1.0 0 10000 20000 30000 40000 50000 (a) Vazão mássica (b) Pressão Figura 6 - Escoamento de líquido na tubulação com vazamento em f2. Variação temporal. 302 302 E 1 300 300 T (K) 298 296 T (K) 298 296 294 294 292 0 10000 20000 30000 40000 50000 292 0 10000 20000 30000 40000 50000 (a) U G = 15 W/(m 2.K) (b) U G = 1 W/(m 2.K) Figura 7 Variação temporal da temperatura do líquido para vazamento através de f2.

5. CONCLUSÕES O objetivo de elaborar um modelo com o enfoque conservativo para simular o transiente do vazamento de líquidos e gases foi atingido. A influência da perda de massa nos campos de velocidade, pressão e temperatura foi analisada mediante simulação de diversos tamanhos de furos ao longo de tubulações de diferentes comprimentos e diâmetros, tanto para gases quanto para líquidos. Constatou-se que a presença de vazamentos introduz perturbações na vazão em massa, pressão e temperatura. O instante que começa o vazamento é claramente identificado. No entanto, o monitoramento da pressão ao longo da tubulação não permite identificar a localização do furo, pois uma queda de pressão similar é verificada tanto a montante quanto a jusante do furo. No entanto, no registro continuo da vazão mássica, pode-se observar claramente o trecho da tubulação na qual o vazamento acontece, já que sendo um modelo que conserva massa em cada ponto, a perda através do furo origina um desbalanceamento na massa, a qual é rapidamente captada pelas estações localizadas a jusante do furo. Quanto menor o furo, menor a vazão através dele, menor a queda de pressão e menor a influência no campo da temperatura. Dado que os efeitos de compressibilidade no líquido são pequenos em relação ao gás, a perda de massa numa linha transportando este tipo de fluido é mais fácil de ser detectada, pois a queda de pressão devido ao surgimento do vazamento é mais acentuada do que no caso de gases. Esta caraterística do escoamento com líquidos faz com que vazamentos através de furos pequenos sejam detectáveis, ou o que é equivalente, menores perdas de massa são mais fáceis de serem identificadas para o caso de líquidos. O efeito do vazamento no campo da temperatura no caso de transporte de gás é mais sensível do que no caso de líquidos. No caso de líquido, o campo de temperatura só é afetado se o vazamento for muito elevado. Com 10% de vazamento a influência é muito pequena. Agradecimentos Os autores agradecem ao CNPq pelo apoio recebido durante a realização deste trabalho. REFERÊNCIAS Anderson JR., J.D., 1995, Computational Fluid Dynamics: The Basics with Applications, McGraw-Hill International Editions. Billmann, L. and Isermann, R., 1987, Leak Detection Methods for Pipelines, Automatica, vol. 23, n. 3, pp. 381-385. Buiatti, C.M., Cruz, S.L. e Pereira, J.A.F.R., 1994, Computational Methods for On-line Leak Detection and Location in Liquid Pipelines, 8 o Simpósio Brasileiro Sobre Tubulações e Vasos de Pressão, Gramado, RS, Brasil. Fox, R.W. and McDonald, A.T., 1995, Introdução a Mecânica dos Fluidos. Editora Guanabara S.A., 4 a Edição. Isermann, R., 1984, Process Fault Detection Based on Modeling and Estimation Methods - A Survey, Automatica, vol. 20, n. 4, pp. 387-404. Liou, J.C.P., 1998, Pipeline Leak Detection by Impulse Response Extraction, PD - vol. 60, Pipeline Engineering, pp. 51-58. Liou, J.C.P. and Tian, J. 1994, Leak Detection: A Transient Flow Simulation Approach, PDvol. 60, Pipeline Engineering, pp. 51-58. Liou, J.C.P., 1990, Leak Detection and Location by Transient Flow Simulations, Proceedings of the International Conference on Pipeline Design and Installation, ASCE, Las Vegas, Nevada, pp. 255-269.

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