MONITORAMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE GOVERNO ELETRÔNICO



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Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília/DF 16, 17 e 18 de abril de 2013 MONITORAMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE GOVERNO ELETRÔNICO Alexandre Fernandes Barbosa Manuella Maia Ribeiro Winston Oyadomari

2 Painel 09/032 Monitoramento de políticas de base digital por indicadores MONITORAMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE GOVERNO ELETRÔNICO Alexandre Fernandes Barbosa Manuella Maia Ribeiro Winston Oyadomari RESUMO O uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) na gestão pública tem chamado a atenção de diversos pesquisadores no Brasil e no mundo, dadas suas implicações econômicas, sociais e políticas tanto na Administração Pública quanto na sociedade. Desde 2003, os relatórios realizados pela Organização das Nações Unidas (ONU)destacam o desenvolvimento e a implantação de programas de governo eletrônico (e-gov) em vários países como uma das consequências mais visíveis da rápida e intensa adoção das TIC; além disso, produzem um impacto significativo na forma de relacionamento entre o governo,cidadãos e empresas. Nesse contexto, surge o debate sobre a importância da mensuração do e-gov para avaliar tais políticas. Dentre as organizações que medem a sociedade da informação no Brasil, o Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC.br) produz, desde 2005, indicadores sobre o uso das TIC no Brasil. Esse artigo ilustra a metodologia proposta pelo CETIC.br para a pesquisa TIC Governo Eletrônico 2013, cujo objetivo é produzir indicadores que permitam compreender a incorporação das TIC nos órgãos governamentais e o seu uso para a oferta de serviços públicos no Brasil. A metodologia definida pelo centro também investigará as iniciativas de uso das novas tecnologias para garantir o acesso à informação pública ea participação da sociedade na Administração Pública. Palavras-chave: TIC. Governo Eletrônico. CETIC.br.

3 1 INTRODUÇÃO As tecnologias da informação e comunicação (TIC) são centrais na sociedade do conhecimento e se tornaram vitais na vida das pessoas e nos processos organizacionais. Entre os agentes que utilizam e são afetados pelas novas tecnologias está o Poder Público. O uso cada vez mais intenso dessas novas tecnologias pelos cidadãos e pelas empresas, a preferência por serviços transacionais online em ambientes virtuais, associada à conveniência desses ambientes, e a universalização da Internet (HOLMES, 2002; O LOONEY, 2002) estão entre as causas determinantes de sua adoção pelos governos. Além disso, a adoção das TIC foi também motivada pelas forças provenientes do próprio movimento de reforma e de modernização da administração pública (FOUNTAIN, 2001; HEEKS, 2002). Como nos demais campos em que ocorre uma adoção intensiva das TIC, o seu uso pelos órgãos governamentais, em especial da Internet, tem provocado mudanças profundas no cenário da gestão pública. Temas como desempenho, eficácia, transparência, mecanismos de controle, qualidade do gasto público e prestação de contas, relacionados ao processo de modernização da gestão pública, associam-se ao processo de uso intensivo das TIC com a expectativa de que tal adoção impulsione a administração pública para novos patamares de eficiência em relação a tais temas, além de ter o potencial de construir um novo padrão de relacionamento entre a sociedade e o governo (GAETANI, 2005; LAIAet al, 2011). Essa adoção tem chamado a atenção de pesquisadores devido aos resultados obtidos com o emprego intensivo das TIC na gestão pública, na oferta de informações e serviços públicos ao cidadão e na criação de mecanismos de participação e acesso à informação pública, especialmente por meio da Internet; por exemplo: o uso de sistemas de compras eletrônicas no Governo Federal aumentou a eficiência de suas aquisições de bens e de serviços, pois gerou no ano de 2011 uma economia 7,53 bilhões de reais aos cofres públicos (BRASIL, 2011). O uso das TIC no âmbito da gestão pública tem sido, geralmente, denominado governo eletrônico (e-gov), cujo conceito pode ser restrito ou amplo (RIBEIRO, 2008). Embora no conceito restrito estejam agrupadas as definições que tratam apenas do uso das TIC para a prestação de serviços ao cidadão,

4 especialmente por meio da Internet, o e-gov não se deve limitar à presença virtual do governo na Internet (BARBOSA, 2008). As TIC aplicadas à oferta de serviços públicos, por exemplo, é uma importante dimensão do e-gov e facilita a criação de pontos físicos de atendimento ao cidadão no conceito de one-stop-shop, por oferecer serviços públicos em um único espaço físico com objetivo explícito de garantir a prestação integrada e eficiente dos diferentes órgãos governamentais. Portanto, o conceito amplo abrange todo o uso das TIC pelas organizações governamentais, incluindo desde o uso das novas tecnologias para os processos internos de governo até o fornecimento de serviços públicos e prestação de contas para a sociedade por meio da Internet. A visão de que o e-gov refere-se ao uso das TIC pela Administração Pública para a realização de suas atividades também é a definição escolhida pelo Centro de Estudos sobre a Tecnologia da Informação e Comunicação (CETIC.br), divisão de pesquisa do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto Br (NIC.br)que realizará a pesquisa TIC Governo Eletrônico no ano de 2013. O CETIC.br produz estatísticas sobre o uso das TIC no Brasil com o objetivo de mediar seu acesso, uso e apropriação pelos diversos segmentos da sociedade. Aspectos relativos ao uso do e-gov pelos cidadãos e empresas brasileiras são medidos desde 2005 em módulos específicos das pesquisas TIC Domicílios e TIC Empresas. Além disso, um estudo voltado exclusivamente para compreender o uso do e-gov no Brasil foi conduzido em 2010, com foco na demanda por serviços públicos eletrônicos. A proposta da TIC Governo Eletrônico 20131 pretende ter outro foco, a fim de abordar o lado da oferta de serviços de e-gov em todos os níveis de governo (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) e esferas de poder (Executivo, Legislativo e Judiciário/Ministério Público). Assim, o projeto tem como objetivo produzir indicadores sobre o uso das TIC pelos órgãos governamentais brasileiros em diversas dimensões. Entre os propósitos da TIC Governo Eletrônico 2013há a criação de um instrumento de mensuração que permita compreender a incorporação das TIC nos órgãos governamentais no Brasil, auxiliando na construção de séries históricas sobre a adoção e uso das TIC pelo Poder Público. 1 A pesquisa TIC Governo Eletrônico será realizada ao longo do ano de 2013, com previsão de divulgação de seus resultados em 2014.

5 Assim, o objetivo deste artigo é apresentar o projeto da pesquisa TIC Governo Eletrônico 2013. Para isso, o método adotado foi a pesquisa bibliográfica. O trabalho divide-se em: a) referencial teórico em que é apresentada a importância dos indicadores para o monitoramento de políticas públicas, com base na teoria denominada evidence-basedpolicymaking; b) revisão dos indicadores produzidos por entidades de pesquisa sobre o uso das TIC por órgãos governamentais. Além disso, será divulgado um resumo das pesquisas sobre E-Gov produzidas pelo CETIC.br e a proposta preliminar da pesquisa a ser realizada em 2013. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Evidence-basedpolicymaking e o uso de estatísticas para o monitoramento de políticas públicas Uma das teorias que apontam o uso de indicadores como possíveis ferramentas para guiarem o processo decisório de políticas públicas é a evidencebasedpolicymaking (Sanderson, 2002; Davies et al, 2000), que trata do uso de uma abordagem sistemática e racional para a análise das evidências disponíveis, baseando o processo de tomada de decisão política nessa análise(australian BUREAU OF STATISTICS, 2010). Dessa forma, as escolhas sobre políticas públicas seriam baseadas em evidências que apontariam qual a melhor solução para determinada situação em que o governo deveria adotar alguma estratégia. De acordo com Davies (2004), esse processo auxilia os tomadores de decisão a fazerem escolhas sobre políticas, programas e projetos, usando como uma de suas principais fontes para evidências as informações e os dados produzidos em centros de pesquisa (DAVIES,apud COURT; SUTCLIFFE, 2005). Segundo Courte Sutcliffe (2005), embora a abordagem de tomada de decisão baseada em evidências não seja uma ideia nova, desde meados da década de 90, época do governo do ex-primeiro ministro Tony Blair no Reino Unido, tal abordagem tem sido enfatizada em políticas de modernização da Administração Pública através do compromisso daquele governo em adotar a escolha das políticas públicas a partir de uma decisão racional. Estes autores discorrem que essa teoria é um discurso ou um conjunto de métodos que auxiliam o processo político através de uma forma racional, rigorosa e sistemática, tendo como premissa a definição das

6 decisões políticas a partir das informações disponíveis e, consequentemente, a apresentação de uma metodologia de análise racional. Desse modo, seriam produzidos melhores resultados. Entre as vantagens da adoção desse modelo, podem ser citados (AUSTRALIAN BUREAU OF STATISTICS, 2010): Garantia de que as políticas públicas respondam as reais necessidades da comunidade; Indicação de problemas que necessitam de atenção imediata por parte dos governos; Compartilhamento de informações entre os membros do setor público em relação às políticas que funcionaram ou não; Redução dos gastos governamentais, pois estes podem ser direcionados para políticas mais efetivas de acordo com as evidências apresentadas. Por outro lado, Courte Sutcliffe(2005) apontam algumas problemáticas no que tange ao uso das pesquisas para tomada de decisão: quais as evidências que devem ser utilizadas pelos gestores públicos ou como podem ser usadas para a tomada de decisão. Além disso, é necessário destacar que as evidências não são o único fator que influenciam a tomada de decisão nas políticas públicas. Nesse sentido, Banks (2009) criou alguns pressupostos para garantir o uso adequado desse método na Administração Pública. Para a tomada de decisão, o órgão governamental deveria: a) definir a metodologia a ser adotada; b) garantir o uso de dados confiáveis; c) divulgar os dados e informações utilizadas para o escrutínio público (transparência); d) considerar o tempo para a construção de evidências; e) garantir a preparação das pessoas para compreenderem e usarem os dados; f) verificar a disposição dos gestores públicos para adotarem esse processo de tomada de decisão. Uma das ferramentas que pode auxiliar na tomada de decisão baseada em evidências é a estatística: Estatísticas são uma fonte vital para evidência por fornecerem de forma clara e objetiva dados numéricos sobre importantes aspectos da sociedade (...) (AUSTRALIAN BUREAU OF STATISTICS, 2010, p. 3). Além disso, tais dados podem ser utilizados em todas as etapas das políticas públicas, desde a sua formulação até o monitoramento das ações governamentais (COURT; SUTCLIFFE, 2005).

7 Neste artigo, cabe destacar o uso de indicadores para o monitoramento. Nesta etapa, as evidências oriundas das pesquisas auxiliam a verificação e a análise do andamento das políticas públicas, ou seja, se as ações do governo estão atingindo os objetivos propostos na sua formulação, e também fornece informações e identificação sobre áreas que necessitam de melhorias (AUSTRALIAN BUREAU OF STATISTICS, 2010). Courte Sutcliffe(2005) sugerem, ainda, que devem ser desenvolvidos e definidos os mecanismos de monitoramento para toda política pública, bem como comunicados os resultados do processo de avaliação. Para Levy e Drago (2005), tornou-se uma necessidade na gestão pública contemporânea a definição de modelos e de ferramentas para a tomada de decisões a partir de indicadores de desempenho associados a objetivos e visão estratégica dos governos. O uso de estatísticas e indicadores pode auxiliar na comparação, inclusive internacional, das atividades do governo e na prestação de contas para a sociedade sobre os resultados das suas políticas (Smaghi; Rugiero, 2006). Para Chahinet al. (2004), a medição de desempenho também é relevante nos programas de e-gov, pois conduz a uma profissionalização da gestão pública, criando responsabilidades nos gestores públicos e aumentando os seus compromissos com a eficiência dos serviços. Klitgaard e Light (2005) apresentam uma série de recomendações com a intenção de transformarem o governo em organizações públicas de alto desempenho, e afirmam que todas as iniciativas de melhoria no setor público, em especial as associadas ao emprego das TIC, requerem obrigatoriamente o monitoramento do seu desempenho. Nas políticas públicas de e-gov, os índices que tratam tanto da comparabilidade entre países quanto do contexto local foram criados para medir a incorporação das TIC nas atividades das organizações governamentais. O próximo tópico, portanto, apresenta algumas possibilidades e dificuldades para a mensuração de políticas de e-gov no contexto internacional.

8 3 INDICADORES DE e-gov Alguns organismos internacionais e entidades no Brasil, como instituições de ensino e governo, realizam há alguns anos pesquisas sobre o uso das TIC pela Administração Pública. O indicador mais conhecido é o realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU). A pesquisa UN E-Government Surveyé realizada desde 2003 para fornecer uma avaliação comparativa dos Estados-membros da ONU sobre sua capacidade de transformar seus governos por meio das TIC.Utiliza-se um questionário, enviado para os governos centrais ou federais dos Estados-membros, a fim de se verificar o uso das TIC em diversas dimensões, desde a infraestrutura, como acesso à computadores e Internet, até indicadores que tratam de temas como oferta de serviços públicos, transparência, prestação de contas e participação (PRADO, 2009). Outros indicadores são focados nos cidadãos e empresas e de que modo utilizam os serviços disponibilizados pelo governo por meio das novas tecnologias. A Comissão Europeia e o Índice de Satisfação dos Consumidores Americanos (ACSI) realizam pesquisas com a sociedade para verificarem a satisfação dos usuários de e-gov. Ambas focam, especialmente, nos serviços públicos online. Cabe ressaltar que cada uma delas possui seus próprios conceitos e dimensões de e-gov.além disso, as pesquisas podem buscar como respondentes para a construção dos indicadores tanto o próprio governo (supply-side) quanto os cidadãos e as empresas (demand-side) que utilizam os serviços de e-gov (PARTNERSHIP ON MEASUREMENT ICT FOR DEVELOPMENT, 2012a). Com o objetivo de padronizar e garantir a comparabilidade entre os países pela mensuração das políticas de e-gov, a iniciativa denominada Partnership on Measurement ICT for Development (Partnership) 2 está empenhada em construir 2 Lançada em 2004, a iniciativa do Partnership on Measurement ICT for Development, decorrente do World Summiton the Information Society, éuma iniciativa colaborativa de uma série deorganizações internacionais. Seus membrosatuais são Eurostat, União Internacional das Telecomunicações,Instituto de Estatística da UNESCO, CEPAL, entre outros organismos internacionais. Seu principal objetivo é desenvolver estatísticas sobre TIC que sejam internacionalmente comparáveis, relevantes e confiáveis para medir a sociedade da informação. O desenvolvimento de indicadores é uma de suas atividades (Partnership on Measurement ICT for Development, 2012b).

9 um arcabouço para que os países usem os indicadores de e-gov de modo a verificar o status dessas políticas tanto no nível local quanto internacional.. Entre os motivos para se medir a adoção de políticas de e-gov, podem ser citados a) os indicadores são úteis para a formulação de estratégias que garantam uma política de e-gov efetiva e b) os países estão em diferentes estágios de uso e adoção das TIC e a mensuração permite demonstrar o nível de e-gov em cada nação (PARTNERSHIP ON MEASUREMENT ICT FOR DEVELOPMENT, 2012b). Para guiar os países que pretendem mensurar seus programas de e-gov, a iniciativa produziu uma série de indicadores básicos e padrões estatísticos para garantir a comparabilidade. Um dos principais desafios para a realização de qualquer pesquisa que tenha um escopo comparativo com outros países é a definição das unidades estatísticas, ou seja, os órgãos governamentais que podem ser respondentes da pesquisa, pois cada governo possui uma estrutura institucional diferente dos demais. Para minimizar essa problemática, os documentos publicados pela iniciativa tentam criar um referencial de entidade único que possa compreender todos os países. Também foram criados indicadores básicos para a mensuração do e-gov. Os indicadores propostos pelo Partnership on Measuring ICT for Development são sete: Proporção de pessoas ocupadas em organizações governamentais que usam computadores rotineiramente; Proporção de pessoas ocupadas em organizações governamentais que usam Internet rotineiramente; Proporção de órgãos governamentais com uma rede de área local (LAN); Proporção de órgãos governamentais com uma intranet; Proporção de órgãos governamentais com acesso à Internet, por tipo de acesso; Proporção de órgãos governamentais com presença na web; Serviços selecionados da Internet disponíveis para o cidadão, por nível de sofisticação do serviço.

10 Assim, a iniciativa pretende incentivar os países a adotarem esses indicadores a fim de demonstrar a situação do e-gov nacional e internacionalmente. Com o objetivo de construir os indicadores de e-gov no Brasil, o CETIC.br planeja a pesquisa TIC Governo Eletrônico 2013, cuja base será fundamentada nas propostas oriundas do Partnership, incluindo a mensuração dos sete indicadores descritos. 3.2.1 O Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e Comunicação (CETIC.br) Como informado, o CETIC.br é o órgão de pesquisa do NIC.br, entidade civil privada e sem fins lucrativos, responsável por implementar as decisões e os projetos do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) 3. Como entidade de pesquisa, o centro tem como objetivo conduzir estudos especializados, produzir e divulgar indicadores, estatísticas e informações estratégicas sobre o desenvolvimento da Internet no Brasil. Atualmente, o CETIC.br realiza diversas pesquisas sobre o uso das TIC no Brasil: TIC Domicílios, TIC Empresas, TIC Microempresas, TIC Crianças, TIC Kids Online, TIC Educação, TIC Saúde, TIC Centros de Acesso Público (Telecentros e Lanhouses), TIC Governo Eletrônico, TIC Organizações Sem Fins Lucrativos e TIC Provedores 4. Desde 2005, o centro realiza pesquisas sobre a interação dos cidadãos e empresas com os governos através das TIC nas pesquisas TIC Domicílios e TIC Empresas 5. Um dos módulos dessas duas pesquisas é denominado Governo Eletrônico (e-gov). Na última edição de pesquisa, foram apresentados os seguintes indicadores: 3 O Comitê Gestor da Internet no Brasil CGI.br, criado pela Portaria Interministerial nº 147 em maio/1995 e alterada pelo Decreto Presidencial nº 4.829 em setembro/2003, tem como missão coordenar e integrar todas as iniciativas de serviços Internet no Brasil, promovendo a qualidade técnica, a inovação e a disseminação dos serviços ofertados. Dentre suas atribuições e responsabilidades, o CGI.br coleta, organiza e dissemina informações, indicadores e estatísticas sobre o uso das TIC no Brasil. 4 Outras informações sobre as pesquisas estão disponíveis em www.cetic.br e www.nic.br. 5 A última edição foi publicada em 2011 e está disponível em: http://www.cetic.br/usuarios/tic/ e http://cetic.br/empresas/2011/index.htm.

11 I Domicílios: Proporção de indivíduos que utilizaram e-gov nos últimos 12 meses; Serviços de e-gov utilizados nos últimos 12 meses; Atividades desenvolvidas na Internet interação com autoridades públicas; Motivos para não usar e-gov nos últimos 12 meses. Empresas: Proporção de empresas que utilizaram e-gov nos últimos 12 meses busca de informações e interações; Proporção de empresas que utilizaram e-gov nos últimos 12 meses interações; Proporção de empresas que utilizaram e-gov nos últimos 12 meses busca de informações. Segundo Cunha (2010), os indicadores apresentados entre 2005 e 2009 na TIC Domicílios apontaram que a população que utiliza e-gov mais que dobrou (de 12,68% em 2005 para 27% 6 em 2009) e que a demanda por serviços eletrônicos tornou-se mais diversificada: os indivíduos passaram a buscar informações sobre expedição e emissão de documentos(consultar o CPF, realizar a declaração de imposto de renda, entre outros). Também mais que dobrou as pessoas nas classes C e DE que usam os serviços eletrônicos(respectivamente, de 12,95% e 3,04% em 2005, para 27% e 6% 7, em 2009). A última edição da TIC Domicílios e TIC Empresas, em 2011, apresentou que 92% das empresas brasileiras já utilizaram serviços de e-gov através da busca de informações e interações com a esfera governamental. As principais informações procuradas por essas empresas são sobre: impostos (72%); consultas ao PIS/PASEP e FGTS da empresa (71%); consulta ao cadastro de inscrição estadual (71%), consulta à situação da dívida ativa (59%), licenças e permissões (49%), entre outros. Enquanto, os principais serviços utilizados são para: fazer pagamentos online (63%); cadastrar a empresa para participar de licitação eletrônica (28%), participar de leilão (10%), entre outros. 6 Sobre o percentual total da população. 7 Sobre o percentual total de usuários de e-gov.

12 Entre os indivíduos, atualmente 31% utilizaram o e-gov nos 12 meses anteriores a pesquisa. Dentre os usuários de e-gov no país, os cinco serviços mais utilizados são: Consultar o Cadastro de Pessoa Física CPF (44%); Buscar informações sobre como emitir documentos (34%); Fazer inscrição em concursos públicos (34%); Buscar informações sobre serviços públicos de educação (32%); Fazer declaração de Imposto de Renda (29%). Das atividades desenvolvidas na interação com autoridades públicas, 23% dos usuários de Internet utilizam as TIC para obter informações sobre as organizações do governo e 11% interagem com as organizações governamentais, como, por exemplo, para fazer pedidos e download de formulários. A pesquisa possui um indicador que aponta os motivos para os indivíduos não utilizarem e-gov: Preferem fazer o contato pessoalmente (69%); Preocupam-se com proteção e seguranças dos dados (16%); O uso da Internet para contato com a administração pública é complicado (11%); Os serviços de que a pessoa necessita são difíceis de encontrar (10%); Os serviços de que a pessoa necessita não estão na Internet (7%); Os serviços de que a pessoa necessita estão na Internet, mas não é possível completar a transação (5%); Dificilmente é recebido, retorna as solicitações feitas (4%); Não sabe/não respondeu (12%). Além do módulo de e-gov na TIC Domicílios e TIC Empresas, em 2010 foi realizada a pesquisa TIC Governo Eletrônico, cujo objetivo foi mensurar o uso de serviços públicos online por cidadãos e empresas no Brasil. A pesquisa abordou o lado da demanda, ou seja, realizou o estudo diretamente com os cidadãos e empresas para verificar suas necessidades quanto ao uso de serviços públicos por meio das TIC. Para isso, foram adotadas duas abordagens metodológicas: uma qualitativa, que utilizou a técnica de grupos focais com cidadãos 8 e entrevistas em profundidade 9 com empresas; e outra quantitativa por meio de pesquisa amostral 10 e de uso de questionários estruturados. 8 10 grupos focais, distribuídos nas cinco regiões do Brasil. 9 12 entrevistas em profundidade.

13 Os principais resultados dessa pesquisa estão sintetizados a seguir (CETIC.br, 2010): A principal forma de acesso aos serviços públicos é a presencial, com a preferência de atendimento presencial por 60% de indivíduos. No entanto, quando o cidadão utiliza a tecnologia como mediadora do acesso aos serviços públicos, 35% citaram a Internet como principal forma de obtenção de algum serviço público, superando o telefone, com 8% dos entrevistados. Entre as empresas, ao contrário do que ocorre entre cidadãos, a Internet predomina como canal de obtenção de serviços públicos: 79% utilizaram ao menos um dos serviços nos últimos 12 meses. O serviço presencial ocorreu em 22% das empresas, e pelo telefone alcançou 11%. O potencial de crescimento efetivo do e-gov no Brasil é promissor: mais da metade da população (56% dos entrevistados) indicou a possibilidade de escolhera Internet para acessar serviços de governo na próxima vez que houver necessidade. Outros 60% dos entrevistados declaram-se propensos a indicar esse tipo de uso para suas redes de contato. Além disso, 91% dos cidadãos usuários de e- Gov declararam estar satisfeitos ou muito satisfeitos em relação aos serviços de governo oferecidos pela Internet. O grau de satisfação com esse tipo de serviço e a predisposição ao seu uso não se refletem efetivamente na utilização de serviços de e- Gov. Entre os cidadãos usuários, é possível perceber que, por meio da Internet, seu uso direciona-se com maior intensidade a buscas de informação sobre serviços governamentais do que para transações: a primeira atividade é quase universal, chegando a 90% das menções, enquanto as transações atingem 61% dos usuários de e-gov. Outro fator que corrobora essa hipótese é que praticamente um terço desses usuários utilizou um único serviço do governo através da Internet nos últimos 12 meses (29%) e 50% utilizou apenas um ou dois serviços. 10 Amostra com 3000 cidadãos através de entrevistas domiciliares; havia 1000 cidadãos usuários de e-gov. 650 empresas foram entrevistadas por telefone.

14 Apesar dos altos índices de satisfação, existem oportunidades de melhoria dos serviços de governo oferecidos pela Internet, tanto na busca dos serviços quanto na facilidade de sua utilização. A dificuldade em encontrar serviços foi uma das principais menções, com 29%; 28% disseram Dificilmente recebo retorno (resposta) às minhas solicitações ; 23% indicaram que Os serviços de que preciso estão disponíveis na Internet, mas não é possível completar a transação ; 21% apontaram que Na Internet, não tenho confirmação de que o pedido chegou e será processado ; por fim, 21% disseram Usar a Internet para contato com o governo é muito complicado. Entre aqueles que declararam haver serviços de governo ainda não oferecidos pela Internet, a maior parte convergiu para a área da saúde. Na fase quantitativa da pesquisa, considerando as respostas abertas e não estimuladas, 34% citaram serviços relacionados à saúde, como o agendamento de consultas pela Internet. Apesar da importância de se verificar no lado da demanda (a sociedade e a empresa) as suas necessidades e barreiras para o uso do e-gov, as organizações da Administração Pública também usam as novas tecnologias e são afetadas por estas. Assim, para a compreensão do uso e da adoção das TIC nas organizações governamentais, será realizada pelo CETIC.br a pesquisa TIC Governo Eletrônico 2013, que se voltará para os entes públicos ou, como tem sido denominado, para o lado da oferta. 4 TIC Governo Eletrônico 2013 A pesquisa TIC Governo Eletrônico 2013 tem como objetivo geral produzir indicadores e estatísticas que permitam compreender a incorporação das TIC nos órgãos governamentais no Brasil e o seu uso na oferta de serviços públicos. Pretende-se, além disso, investigar a existência de iniciativas de acesso à informação pública e participação da sociedade nas atividades públicas por meio das novas tecnologias.

15 Ao contrário das pesquisas citadas, com exceção do ranking da ONU, a proposta do CETIC.br compreende o conceito de e-gov de maneira ampla, visto englobar diversas dimensões do uso das novas tecnologias pelas organizações governamentais, como apresentado em seu conceito: O governo eletrônico pode ser definido como a aplicação das tecnologias da informação e comunicação (TIC) na administração pública e na prestação de informação e serviços públicos. Inclui o uso de TIC em atividades para concretização de objetivos governamentais como aumentar a eficiência do uso dos recursos públicos, promover a transparência da gestão, facilitar a participação dos cidadãos, democratizar o acesso aos serviços e informações públicas, entre outros (CUNHA, 2010). Ao adotar uma abordagem quantitativa por meio da construção de indicadores, o projeto TIC Governo Eletrônico 2013 pretende ampliar o conhecimento sobre o uso das TIC na administração pública do país, permitindo analisar como o Brasil insere-se no contexto global. Para isso, a pesquisa objetiva mensurara incorporação das TIC nos entes federativos (União, Estados, Municípios e Distrito Federal) de todos os poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário/Ministério Público), buscando a comparabilidade com indicadores internacionais. A pesquisa possui como objetivos específicos mapear: 1. A infraestrutura de TIC nos órgãos governamentais; 2. A utilização de TIC para gestão, monitoramento e avaliação nos órgãos governamentais; 3. A oferta de serviços públicos nos meios digitais; 4. O uso das TIC para o acesso à informação pública; 5. O uso das TIC para a participação (e-participação); 6. As motivações e barreiras para a adoção e uso das TIC por servidores públicos. Assim, além de adotar os indicadores propostos pelo Partnershipon Measurement ICT for Development (2012a), a pesquisa brasileira pretende ampliar as dimensões de análise sobre uso das TIC, incluindo o uso das tecnologias para a promoção da transparência e participação. Também serão propostos outros indicadores, além dos sete indicadores sugeridos pela iniciativa internacional. Outra inovação é a proposta de realizar a observação estruturada dos sites governamentais para os objetivos específicos 4 e 5, possibilitando verificar, por exemplo, a proporção de organizações governamentais que possuem acessibilidade

16 em seus portais na Internet. Portanto, são propostas duas metodologias: a) entrevistas com organizações governamentais e pessoas empregadas em órgãos governamentais; e, b) observação estruturada através de visita aos portais governamentais disponíveis na Internet. O recorte da população-alvo do estudo são órgãos governamentais no Brasil dos três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), de todos os entes federativos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) e aspessoas empregadas no Governo Federal dentro do Poder Executivo. As principais dimensões propostas para a pesquisa estão resumidas no quadro 01, Dimensões de pesquisa TIC Governo Eletrônico 2013 por objetivos específicos. Quadro 01. Dimensões de pesquisa TIC Governo Eletrônico 2013 por objetivos específicos Objetivo Específico 1. Infraestrutura de TIC nos órgãos governamentais Dimensões A. Infraestrutura de TIC B. Gestão de TIC C. Software 2. Utilização de sistemas para gestão, monitoramento e avaliação nos órgãos governamentais 3. Oferta de serviços públicos nos meios digitais 4. Uso das TIC para o acesso à informação pública 5. Uso das TIC para a participação (e- Participação) 6. Motivações e barreiras para a adoção e uso das TIC por servidores públicos 11 Elaborado por CETIC.br D. Uso das TIC por pessoas empregadas em órgãos governamentais E. Sistemas F. Interoperabilidade e Segurança G. Informações sobre serviços públicos na Internet H. Prestação de serviços públicos I. Dispositivos Móveis J. Informações disponíveis K. Acessibilidade L. Dados Abertos M. Canais Institucionais de Participação N. Comunicação e Redes Sociais A. Perfil B. Capacidade e habilidades C. Barreiras e Incentivos 11 Refere-se à unidade de investigação as pessoas ocupadas no Poder Executivo Federal.

17 Espera-se que os indicadores possam ser utilizados por gestores públicos, governantes, pesquisadores, organizações da sociedade civil, entre outros interessados, para analisar o uso das TIC por órgãos governamentais no Brasil. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os programas de e-gov inserem-se no contexto da gestão pública contemporânea como fator crítico de sucesso de uma série de transformações pretendidas na Administração Pública e na sociedade pelos gestores públicos (LEVY e DRAGO, 2005). A análise da efetividade desses programas pressupõe a necessidade de serem definidos mecanismos para medir o seu desempenho (KLITGAARD e LIGHT, 2005). Para West (2005), monitorar o desempenho do e-gov permite aos gestores públicos entender o papel das novas tecnologias de informação e comunicação e os seus impactos na melhoria do desempenho do setor público. As informações geradas pelo processo de medição e avaliação de desempenho do e- Gov servem de insumos para o processo de elaboração de políticas públicas e de tomada de decisão pelos gestores e executivos públicos (OECD, 2002). Finalmente, Schedleretal. (2004) afirmam que o e-gov, ao possibilitar a participação democrática dos cidadãos e ao oferecer serviços públicos eletrônicos, torna a avaliação contínua do seu desempenho uma necessidade vital para os governos que o implementam. Portanto, a avaliação e monitoramento contínuo das políticas públicas de e-gov tornou-se uma atividade essencial para os gestores públicos, tendo em vista os desafios para ampliarem a efetividade dessas políticas para a melhoria das ações governamentais, que variam desde o uso das TIC para as suas atividades internas até a prestação de serviços para a sociedade. Nesse contexto, a avaliação por meio de informações e dados que demonstrem como a Administração Pública tem utilizado as TICs para as suas atividades ao longo do tempo deve possibilitar medições de desempenho de acordo com os objetivos das políticas de e-govadotadas pelo órgão governamental. A TIC Governo Eletrônico 2013 pretende, portanto, auxiliar na mensuração de alguns objetivos que costumam ser associados às políticas de e-

18 Gov como: a compra e o uso de equipamentos de TIC; o acesso e o uso da Internet; o uso de sistemas e de softwares para a melhoria das políticas públicas; a oferta de serviços públicos; a divulgação de informações para a sociedade por meio da Internet; a participação por meio das novas tecnologias, entre outros. Os objetivos específicos da pesquisa adotam diversas dimensões para cobrir as várias áreas de atuação das TIC nos órgãos governamentais. Além disso, por ter adotado uma metodologia internacional para a construção dos indicadores de e-gov, o estudo do CETIC.br permitirá comparar as iniciativas brasileiras com outros países, apontando o nível de uso e adoção das novas tecnologias no país em relação às outras nações. 6 REFERÊNCIAS AUSTRALIAN BUREAU OF STATISTICS.A guide for using statistics for evidence based policy. Disponível em: http://www.abs.gov.au/ausstats/abs@.nsf/mf/1500.0. Acessado em: 08. MAR. 2013. BANKS, G. Evidence-based policy making: What is it? How do we get it?.in: Public Lecture Series, 2009. BARBOSA, A.F. Governo Eletrônico: dimensões da avaliação de desempenho na perspectiva do cidadão. São Paulo: FGV-EAESP, 2008 (Tese de doutorado). CENTRO DE ESTUDOS SOBRE AS TECNOLOGIAS DAS INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (Cetic.br). TIC Governo Eletrônico 2010. Disponível em: http://www.cetic.br/tic/egov/2010/index.htm. Acessado em: 08. MAR. 2013.. Sumário Executivo TIC Governo Eletrônico 2013. São Paulo: CETIC.br, 2013 (mimeo). CUNHA, M. A. Governo eletrônico no Brasil: avanços e impactos na sociedade brasileira. In: Pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e comunicação do Brasil: 2005-2009.São Paulo: Comitê Gestor da Internet no Brasil, 2010. COURT, J.; SUTCLIFFE, S. Evidence-based policymaking: What is it? How does it work? What relevance for developing countries? Disponível em: http://www.odi.org.uk/sites/odi.org.uk/files/odi-assets/publications-opinionfiles/3683.pdf. Acessado em: 08. MAR. 2013. DAVIES, H.T.; NUTLEY, S.M.; SMITH, P.C. What Works? Evidence-based Policy and Practice in Public Services. In: Policy Press, Bristol, 2000. FOUNTAIN, J. Building the Virtual State Information Technology and Institutional Change. Harrisonburg: Brooking Institution Press, 2001.

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20 AUTORIA Alexandre Fernandes Barbosa Gerente do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e Comunicação (Cetic.br). Doutor em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EAESP-FGV). Endereço eletrônico: alexandre@nic.br Manuella Maia Ribeiro Analista de Informações do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e Comunicação (Cetic.br). Doutoranda em Administração Pública e Governo pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EAESP-FGV). Endereço eletrônico: manuella@nic.br Winston Oyadomari Analista de Informações do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e Comunicação (Cetic.br). Bacharel em Administração Pública pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EAESP-FGV) Endereço eletrônico: winston@nic.br