Newsletter nº 4 Maio 2016 Serviço de Saúde Ocupacional IPL Fatores de Risco Psicossociais Sabia que, na Europa: O stresse é o 2º problema de saúde mais prevalente; O stresse é responsável por 50% a 60% dos dias de trabalho perdidos; As causas principais prendem-se com a organização de trabalho, a insegurança laboral, e o excesso de horas e da carga de trabalho 40% dos trabalhadores considera existir uma má gestão do stresse no seu local de trabalho. (EU-OSHA 2015; OMS 2010) Editorial Os factores de risco psicossociais e o stresse relacionado com o trabalho são das questões que maiores desafios apresentam em matéria de segurança e saúde no trabalho, com um impacto significativo na saúde de pessoas, organizações e economias nacionais. Decorrem de deficiências na concepção, organização e gestão do trabalho, bem como de um contexto social de trabalho problemático, podendo ter efeitos negativos a nível psicológico, físico e social tais como: stresse relacionado com o trabalho, ansiedade ou depressão (EU-OSHA 2015). Neste âmbito, o Serviço de Saúde Ocupacional-IPL (SSO-IPL) procedeu à identificação e avaliação dos factores de risco psicossociais, junto dos funcionários de todas as Unidades Orgânicas e Serviços do IPL, através da aplicação de um questionário validado para a Ambiente de Trabalho Saudável Fatores de Risco Psicossociais Figura 1: Fatores de Risco Psicossociais. população portuguesa (Copenhagen Psychosocial Questionnaire COPSOQ-II), com o objectivo de determinar a magnitude do problema na Instituição e à posterior gestão do risco. Rita da Silva Pereira (Médica do Trabalho) Quatro áreas chave: Ambiente físico de trabalho; Ambiente psicossocial (Figura 2); Recursos para a saúde; Envolvimento da instituição na comunidade. Figura 2: Ambiente psicossocial de trabalho (OMS 2011).
Serviço de Saúde Ocupacional IPL Avaliação e Gestão dos Fatores de Risco Psicossociais Risk Assessment & Risk Managment Os fatores de risco psicossociais compreendem as características inerentes às condições e organização de trabalho que afetam a saúde dos indivíduos, através de processos psicológicos e fisiológicos, resultando da interação entre o indivíduo, as suas condições de vida e as condições de trabalho. Incluem, designadamente, as exigências laborais (quantitativas, cognitivas, emocionais), a organização do trabalho e o seu conteúdo, as relações sociais e a liderança, a interface trabalho-indivíduo, os valores no local de trabalho, os comportamentos ofensivos, entre outros. O diagnóstico e a gestão dos fatores de risco psicossociais devem obedecer à mesma abordagem sequencial que os demais fatores de risco profissionais (Figura 3). Para a avaliação quantitativa, na Instituição, utilizou-se o questionário COPSOQ-II. Figura 3: Risk Assessment & Risk Managment. Resultados Foram validados 305 questionários, correspondendo a uma taxa de resposta de 33,1%. A maioria dos participantes era do género feminino, e pertencente ao corpo não docente (Figura 4). A Figura 5, ilustra a distribuição pelas diferentes faixas etárias. Verifica-se que 86,55% da amostra, se situa entre os 35 e os 59 anos de idade. Faixas Etárias (anos) Figura 4: Distribuição dos participantes por género e grupo profissional. Figura 5: Distribuição dos participantes por faixas etárias. Página 2
Newsletter nº 4 IPL Perfil dos Fatores de Risco Psicossociais Figura 6: Perfil dos fatores de risco psicossociais no IPL. A Figura 6, apresenta os resultados globais dos diversos fatores de risco psicossociais na Instituição, por nível de risco para a saúde: verde situação favorável; amarelo - risco moderado para a saúde; vermelho - risco severo para a saúde. Observa-se que a maioria dos fatores de risco se apresenta em risco moderado para a saúde. Em situação favorável encontram-se os seguintes fatores de risco psicossociais: possibilidades de desenvolvimento, transparência do papel laboral desempenhado, auto-eficácia, significado do trabalho, saúde no geral, sintomas depressivos e os comportamentos ofensivos. Em risco severo para a saúde, em 9 das 10 Unidades Orgânicas/Serviços do IPL, estão as exigências cognitivas (atenção, inovação e tomada de decisão). Os docentes, comparativamente aos não-docentes, apresentam maior número de facores de risco em Risco Severo para a saúde, designadamente, exigências quantitativas (80,6%; p 0,001), exigências cognitivas (66,7%; p 0,0001), conflito de papéis laborais desempenhados(68,7%; p 0,05 ), possibilidade de desenvolvimento (90,9%; p 0,001), conflito trabalho/família (71,3%; p 0,001). Os resultados obtidos devem ser encarados como oportunidades para, após identificação, melhorar potenciais áreas de risco na organização do trabalho. Exigências Cognitivas em Risco Severo para a Saúde. Página 3
Serviço de Saúde Ocupacional IPL Newsletter nº 4 Gestão do Risco Risk Management Um programa de diagnóstico precoce e intervenção em fatores de risco psicossociais poderá incluir, entre outras acções, a organização de workshops para o desenvolvimento de estratégias de redefinição cognitiva e de tomada de decisão (Figura 7). O sucesso deste tipo de programas implica a participação de todos os intervenientes -funcionários, entidade patronal, e serviços de Saúde Ocupacional, numa abordagem multidisciplinar (Figura 8). A planificação da intervenção na Instituição, incluirá a apresentação de resultados aos dirigentes de cada Unidade Orgânica/Serviço. As intervenções a realizar serão resultado das propostas do SSO IPL consensualizadas com a gestão de topo da Instituição. Figura 7: Potenciais ações a desenvolver. Inteligência emocional capacidade de tomar consciência e expressar emoções, de as compreender e utilizar (ex.: para facilitação do processo de pensamento). A inteligência emocional envolve também a competência para gerir as emoções de modo a promover o desenvolvimento pessoal. Redefinição cognitiva (ou reavaliação cognitiva) - modificação das avaliações /interpretações de acontecimentos ou situações que geram emoções aversivas. Envolve geralmente várias etapas: 1) identificar as interpretações ou pensamentos que desencadeiam estados afectivos desagradáveis ; 2) testar a sua validade/consequências; 3) desenvolver interpretações alternativas e utilizá-las para modificar as próprias emoções. Treino em mindfulness - é trabalhar a capacidade de estar plenamente consciente do que acontece na nossa mente e no nosso corpo, no momento presente sem filtros ou juízos de valor. Pode ajudar a reconhecer os nossos padrões de pensamento habituais e a viver no aqui e agora. Treino de auto-regulação - é trabalhar a capacidade para controlar a própria motivação, a ação e os pensamentos. Implica trabalhar a auto-observação, a auto-avaliação e a auto-reação. Pretende-se compreender a interação dos fatores ambientais, pessoais e comportamentais para a determinação e regulação do comportamento.
Serviço de Saúde Ocupacional IPL Newsletter nº 4 Gestão do Risco Risk Management (cont.) Para criar um ambiente de trabalho saudável, uma empresa precisa considerar as vias ou áreas de influência onde as ações possam melhor ocorrer, bem como os processos mais eficazes pelos quais os empregadores e trabalhadores possam empreender ações. (OMS 2010) Figura 8: Abordagem multidisciplinar. Referências Bibliográficas COPSOQII Copenhagen Psychosocial Questionnaire, Carlos F. Silva, Pedro Bem-Haja & Vânia Amaral (Univ. Aveiro), projeto FCT:PTDC/SAU/ ESA/66163/2006; Campbell Quick, J.&Tetrick E. L (2003) Handbook of Occupational Health Psychology. American Psychological Association. Eurofound & EU-OSHA (2015) Psychosocial risks in Europe: Prevalence and strategies for prevention, Publications Office of the European Union, Luxembourg. Ficha Técnica: N.º 4 Maio 2016 Propriedade: Instituto Politécnico de Lisboa Serviço de Saúde Ocupacional IPL Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa (ESTeSL) Av. D. João II, Lote 4.69.01, 1990-096 Lisboa E-mail: saude.ocupacional@ipl.pt Tel.: 210464732 Conselho de Gestão SSO-IPL Prof. Coord. Manuel Correia Prof. Coord. João Lobato (Presidente ES- TeSL) Prof.ª Carla Viegas (Ensino e Investigação) Dra. Rita da Silva Pereira (Médica do Trabalho) Dra. Ana Delgado (Técnica Superior de Segurança no Trabalho) Elaborado por: Dra. Rita da Silva Pereira (Médica do Trabalho) Dra. Patrícia Ramos (Psicóloga) Prof.ª Graça Andrade (Psicóloga Profª Adjunta da ESTeSL) Com o apoio: Ordem dos Psicólogos Portugueses Contributo: Dra. Ana Delgado (Téc. Superior de Segurança no Trabalho) Dra. Ana Sabino (Téc. Superior de Segurança no Trabalho) Sra. Carla Borges (Secretária Clínica) Dra. Catarina Sardinha (Téc. Cardiopneumologia) Dra. Diana Manita (Téc. Análises Clínicas e Saúde Pública) Enf.ª Elsa Bernardo Dra. Marta Louro (Ortoptista) Engª Vanda Pacheco (Téc. Superior de Segurança no Trabalho)