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O Grupo AfroReggae é uma organização que luta pela transformação social e, através da cultura e da arte, desperta potencialidades artísticas que elevam a autoestima de jovens das camadas populares. Tem por missão promover a inclusão e a justiça social, utilizando a arte, a cultura afro-brasileira e a educação como ferramentas para a criação de pontes que unam as diferenças e sirvam como alicerces para a sustentabilidade e o exercício da cidadania. O InfoReggae é uma publicação semanal e faz parte dos conteúdos desenvolvidos pela Editora AfroReggae. Sede Rio de Janeiro Rua da Lapa, nº 180 Centro Rio de Janeiro (RJ) +55 21 3095.7200 InfoReggae - Edição 64 Exploração Sexual Infantil 11 de Dezembro de 2014 Coordenador Executivo José Júnior Coordenador Geral Adjunto Danilo Costa Gerência de Informação e Monitoramento Thales Santos Assistentes de Pesquisa Nataniel Souza Juliana Paula Mattos Coordenação Editorial Marcelo Reis Garcia Representação São Paulo Rua João Brícola, nº 24 18º andar Centro São Paulo (SP) +55 11 3249.1168 Contatos www.afroreggae.org facebook.com/afroreggaeoficial twitter.com/afroreggae inforeggae@afroreggae.org É permitida a reprodução dos conteúdos desta publicação desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas. Patrocínio Institucional Parceria Apoio
Apresentação A 64ª edição do InfoReggae apresenta e media informações sobre um dos temas mais tristes que enfrentamos no dia-a-dia das contradições sociais brasileiras: a exploração sexual de crianças. A cidade do Rio de Janeiro foi pioneira nos anos de 2006, 2007 e 2008 no mapeamento das áreas apontadas como críticas da cidade, em parceria com o Tribunal de Justiça e o Ministério Público. A publicação e divulgação destes pontos em todos os jornais e outras mídias possíveis desmontavam os esquemas de exploração, mas apenas de forma temporária, pois os grupos que fazem da exploração sexual infantil um comércio conseguiam se reorganizar. A experiência dos mapeamentos nos levou a compreender que, em grande parte dos casos, havia um acordo "comercial" com as famílias. Em 2000, o Brasil organizou seu mais amplo programa de combate ao abuso e exploração sexual de crianças, através do Programa Sentinela. No entanto, ainda estamos distantes de uma política repressiva e de ações protetivas às crianças exploradas. O problema da exploração sexual de crianças não se restringe a estas crianças, mas sim a toda a sociedade que não pode tolerar este tipo de violência social, que deixa marcas no corpo e na alma para toda a vida. Uma mãe que permite que seu filho ou filha seja sexualmente explorado, morre como mãe neste momento. Um pai que organiza espaços de exploração sexual para seus filhos, morre como pai neste momento. Crianças exploradas sexualmente com anuência e apoio da família estão sendo covardemente mortas como crianças. O AfroReggae, mantendo seu compromisso com a igualdade e com oportunidades para todos, defende o mapeamento, mas insiste que é preciso ir fundo na repressão e na punição do comércio nojento que ainda se mostra forte em vários pontos do Brasil. Este InfoReggae marca uma posição, mostra a informação e provoca mais uma vez um debate para gerar ações importantes à erradicação desta prática, que deve ser combatida dia a dia no campo da urgência social. 01
Pontos Vulneráveis à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes A Childhood Brasil, em parceria com o Ministério Público do Trabalho, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e a Organização Internacional do Trabalho elaborou o Relatório 6º Mapeamento de Pontos Vulneráveis à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Federais Brasileiras com informações sobre o mapeamento dos principais pontos em que se identifica exploração sexual de crianças e adolescentes. A exploração sexual infantil é identificada em práticas sexuais pelas quais crianças e adolescentes são usados com a intenção de se obter lucro ou benefício de qualquer espécie. O combate à esta violência se inicia com o mapeamento e identificação dos locais utilizados para a prática do sexo com jovens e crianças. Os dados a seguir demonstram uma dura realidade presente não só nos centros urbanos, mas em todo o Brasil. Gráfico 1: Estradas Brasileiras Vulneráveis à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes 28,7% 27,3% 28,2% 15,7% Pontos Críticos Pontos com Alto Risco Pontos com Médio Risco Pontos com Baixo Risco Fonte: 6º Mapeamento de Pontos Vulneráveis à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Federais Brasileiras. 02
A malha rodoviária federal brasileira é formada por 70 mil quilômetros de rodovias federais, na qual se encontra pontos vulneráveis a exploração sexual de crianças e adolescentes em diversas áreas, de norte a sul do país. É importante destacar que a exploração sexual infantil é um fenômeno multicausal e ocorre em vários contextos e cenários, pode estar vinculado a redes de prostituição, pornografia, redes de tráfico de drogas e pessoas, turismo, grandes obras de infraestrutura, nas tecnologias de informação e comunicação e também nas rodovias brasileiras. Este contexto destaca os locais de maior vulnerabilidade para a exploração sexual, indicando assim onde se deve trabalhar com a prevenção. Gráfico 2: Total de crianças e adolescentes vítimas retirados de situação de risco pela Polícia Rodoviária 502 590 121 188 2005 2009 2013 2014 Parcial Fonte: 6º Mapeamento de Pontos Vulneráveis à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Federais Brasileiras. Em 2013/2014 registrou-se 1.969 pontos de vulnerabilidade, um aumento de 11,0% em relação a 2012. Ainda no relatório de 2013/2014, 566 pontos foram considerados críticos; 538, com alto risco; 555, com médio risco; e, por fim, 310 pontos foram avaliados como de baixo risco para a exploração sexual de crianças e adolescentes. 03
Gráfico 3: Nível de criticidade por região 109 88 172 129 109 120 86 54 149 133 106 106 84 32 32 12 73 162 161 52 Centro-oeste Nordeste Sudeste Norte Sul Crítica Alto Risco Médio Risco Baixo Risco Fonte: 6º Mapeamento de Pontos Vulneráveis à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Federais Brasileiras. Apesar de a região nordeste concentrar a maior quantidade de pontos críticos em relação à exploração sexual, é na região sudeste onde se encontra a maior quantidade de pontos de vulnerabilidade, são ao todo 494. Segundo a pesquisa, identificou-se 470 municípios com vulnerabilidade em relação a exploração sexual, no qual 59 municípios possuem entre 5 e 15 pontos críticos ou de alto risco. É importante destacar que o abuso e a exploração sexual estão enquadrados dentro do conceito de violência sexual. A exploração sexual se estabelece através de uma relação de mercantilização, em que o sexo é fruto de uma troca, seja de favores ou presentes. Regiões pobres estão mais vulneráveis a este fenômeno. 04
MG BA PR GO SC MS RJ PI RS PA MT ES TO PE AL RN SE SP MA CE RO/AC DF AM RR AP PB 46 42 33 29 27 26 23 16 14 13 11 9 7 5 4 84 82 124 112 110 103 179 175 166 216 313 Gráfico 4: Total de Registros de Vulnerabilidade nos Estados entre 2013/2014 Fonte: 6º Mapeamento de Pontos Vulneráveis à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Federais Brasileiras. Em relação a quantidade absoluta de pontos de vulnerabilidade, o estado de Minas Gerais lidera o ranking com todas as unidades federativas, como nos mostra o Gráfico 4. O estado aumentou o índice em 24,2% quando comparado a 2012. O estado da Bahia foi o que mais cresceu neste período, 180,5%. O estado da Paraíba atingiu a metade dos pontos com riscos de abuso sexual contra menores e apresentou apenas 4 pontos com vulnerabilidade, segundo o relatório. Gráfico 5: Regiões Brasileiras Vulneráveis a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes segundo a Área RURAL URBANA 29,3% 70,7% 38,5% 61,5% 71,9% 28,1% 51,0% 49,0% 36,4% 63,6% CENTRO-OESTE NORDESTE NORTE SUDESTE SUL Fonte: 6º Mapeamento de Pontos Vulneráveis à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Federais Brasileiras. 05
Entre 2012 e 2013, as regiões brasileiras observaram um aumento significativo em relação aos pontos de vulnerabilidade à exploração sexual de crianças e jovens, tanto dentro de áreas urbanas como nas rurais. Apesar de a região urbana ser onde mais acontecem estes tipos de riscos, o crescimento maior se deu nas áreas rurais, passando de 758 para 607 entre os anos de 2012 e 2013. Apenas as regiões Norte e Centro-Oeste conseguiram diminuir os pontos de vulnerabilidade absoluta em relação ao ano de 2012. Ainda segundo a pesquisa, os locais mais comuns para ocorrer a exploração sexual são as áreas onde ocorre o comércio de alimentos. Os postos de combustíveis, com 963 pontos vulneráveis, é o segundo espaço em que mais ocorre esta prática. É importante destacar que, entre os postos de gasolina, 408 são críticos ou de alto risco. 06
Um debate a ser feito O trabalho infantil no Brasil é uma prática ainda comum a ser combatida com rigor, pois o lugar de criança é no universo da infância e não em minas de carvão, pedreiras, em sinais de trânsito vendendo bala etc. Mas é preciso dar um passo a frente quando estamos falando de exploração sexual de crianças e afirmar taxativamente que não estamos falando de trabalho infantil, o que já seria grave. Mas de uma barbárie a ser combatida como decisão nacional. As historias sobre exploração sexuais vivenciadas pela equipe de trabalhadores sociais são as mais tristes e repugnantes possíveis. Eu mesmo, em meus 20 anos de carreira, vi, conheci e debati com equipes sociais as mais variáveis formas desta perversa exploração. O mapa mostrado neste InfoReggae deixa evidente que o problema está em todo Brasil, mas não mostra uma questão cruel que a prática e a experiência comprovam: as crianças entregues à exploração sexual são pobres ou miseráveis, usadas pelas famílias para ganhar trocados. A pobreza e a miséria jamais podem explicar a decisão das famílias em matar a infância de crianças, mas não podemos deixar de partir desta questão para entender as mazelas que a miséria cultiva em seu dia a dia. O que fazer a partir dos mapas? 1- Agir para desmontar os pontos e prender os exploradores. 2- Punir o explorador dentro da Lei de Crimes hediondos. 3- Avaliar a situação de cada família e seu envolvimento na exploração. 4- Classificar o envolvimento das famílias em níveis diferenciados. 5- Estruturar, capacitar e apoiar equipes sociais para o combate, prevenção e proteção de crianças e adolescentes explorados. 6- Punir o "comprador" de sexo com crianças dentro da legislação de crimes hediondos. 7- Organizar a Rede de Famílias Acolhedoras para crianças e adolescentes explorados sexualmente. 07
8- Fortalecer os CREAS- Centros de Referencia Especializados da Assistência Social com recursos, equipes e suporte social. 9- Estruturar Rede de Tratamento para crianças e adolescentes vítimas da exploração sexual. 10- Criar fortes campanhas de combate e prevenção à exploração sexual de crianças. 11- Formar e capacitar professores como agentes de prevenção no combate a exploração sexual de crianças. 12- Formar e capacitar trabalhadores em saúde para atuarem com precisão técnica no atendimento de crianças e adolescentes explorados sexualmente. 13- Divulgar ampla e nacionalmente as imagens dos exploradores sexuais de crianças. 14- Combater de forma imperiosa o tráfico interno e internacional de crianças e adolescentes para a exploração sexual. Os desafios são enormes para que este horror, da exploração sexual de crianças, possa ser superado no Brasil e mostrar que, com certeza, o silêncio é sempre o pior caminho que nós temos. E mais do que certezas, temos o compromisso com as crianças e adolescentes que todos os dias vivem o horror da exploração sexual. A defesa de crianças e adolescentes sempre foi e continuará a ser um compromisso do AfroReggae, mas a defesa de crianças e adolescentes exploradas sexualmente é mais que um compromisso, é uma obrigação inadiável. Não podemos, não devemos e não queremos adiar um único minuto esta luta pela vida de cada criança e adolescente que, hoje, estão sendo exploradas sexualmente. Marcelo Reis Garcia Coordenador Editorial do InfoReggae 08
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