Imagem da Semana: Esofagograma com sulfato de bário



Documentos relacionados
Imagem da Semana: Radiografia contrastada

Protocolo Clínico e de Regulação para Disfagia

Afecções do Esôfago e Estômago

Qual é a função do cólon e do reto?

Disfagia. Faculdade de Medicina da Universidade do Porto Cirurgia 4ºano. Turma H Ana Sofia Barroso Sílvia Santos Tatiana Santos.

I INTRODUÇÃO É uma das afecções mais freqüentes que acometem o ser humano Enfermidade mais prevalente do aparelho digestivo Prevalência mundo? Brasil:

Dr. Ruy Emílio Dornelles Dias

Nódulo de Tireoide. Diagnóstico:

ASSISTÊNCIA E FUNCIONAMENTO NA SÍNDROME ESOFÁGICA

SETOR DE ABDOME - JOURNAL CLUB

Imagem da Semana: Radiografia de abdome e enema opaco

Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa 2010/2011. Módulo VII.I Cirurgia I

GASTROENTEROLOGIA ESÔFAGO DOENÇAS QUE SE MANIFESTAM COM DISFAGIA

D.R.G.E. DOENÇA DO REFLUXO GASTRO-ESOFÁGICO. Conceito. MSc. Alberto Bicudo Salomão Universidade Federal do Mato Grosso

REFLUXO GASTROESOFÁGICO

Qual a importância. definição do tipo histológico Carcinoma. vs Adenocarcinoma de

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE MEDICINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CIRÚRGICAS

Fraturas Pro r f Mo M isé s s é Me M n e d n e d s e

Questões comentadas - Disfagia

HPV Vírus Papiloma Humano. Nome: Edilene Lopes Marlene Rezende

Semiologia do esófago

Incontinência urinária e estudos urodinâmicos

Não jogue este impresso em via pública. Preserve o meio ambiente. Universidade Federal do Espírito Santo. Medicina. Centro de Ciências da Saúde

REFLUXO GASTROESOFÁGICO. Nadya Bustani Carneiro

Gaudencio Barbosa R3CCP HUWC

19º Imagem da Semana: Radiografia de Tórax

Síndrome de Guillain-Barré

8º Imagem da Semana: Ressonância Magnética

UNIDADE 2 Alimentação e Digestão

GASTROENTEROLOGIA ESÔFAGO DOENÇAS QUE SE MANIFESTAM COM DISFAGIA

TEORIAS E TÉCNICAS DE MASSAGEM PROF.ª DANIELLA KOCH DE CARVALHO UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA CURSO DE COSMETOLOGIA E ESTÉTICA

PNEUMOLOGIA LINHA DE CUIDADO GERAL EM ASMA E DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC)

Geografia População (Parte 1)

Glaucoma. Juarez Sabino da Silva Junior Técnico de Segurança do Trabalho

Estenose congênita do esôfago por remanescentes traqueobrônquicos

Imagem da Semana: Radiografia de Tórax

Artrose do Ombro ou Artrose Gleno Umeral

PARECER TÉCNICO COREN-MA 19/2015 FISCALIZAÇÃO

DISTÚRBIOS GÁSTRICOS, ESOFÁGICOS E INTESTINAIS TIPOS DE GASTRITE 22/03/2016 ENFERMAGEM SAÚDE DO ADULTO PROFª: FLÁVIA NUNES GASTRITE AGUDA

DIVERTÍCULOS DO ESÔFAGO

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

Medidas Antropométricas em crianças

número 17 - março/2016 RELATÓRIO PARA A SOCIEDADE informações sobre recomendações de incorporação de medicamentos e outras tecnologias no SUS

Diverticulite Resumo de diretriz NHG M99 (setembro 2011)

Diabetes. Hábitos saudáveis para evitar e conviver com ela.

- Descrito na década de 70, mas com aumento constante na incidência desde os anos 90

Análise do perfil da Poliomielite no Brasil nos últimos 10 anos

ALIMENTOS E NUTRIENTES

CIRURGIA PERIODONTAL

Síndrome Metabólica: doença multicausal, multigenética e multiinfluenciada requisita novas atitudes dos profissionais de saúde

Divisões do Sistema Nervoso

Abaixo, reproduzimos de forma sintética as recomendações, facilitando então a leitura e futura procura pela informação.

Geografia População (Parte 2)

FORMULÁRIO TEMPO DE TRÂNSITO COLÔNICO. Para o preparo do exame, é necessário preencher o formulário abaixo :

Prof. Dr. Paulo Evora Ft. Luciana Garros Ferreira DISCIPLINA: PNEUMOLOGIA CLÍNICA E CIRÚRGICA

LUFTAL GEL CAPS BULA DO PACIENTE

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA ESTENOSE ESOFÁGICA PELA VIA ENDOSCÓPICA EM CÃO: RELATO DE CASO

Imagem da Semana: Fotografia. Imagem 01. Fotografia da região lateral esquerda de tronco.

7. Hipertensão Arterial

SAÚDE MENTAL E ATENÇÃO PRIMARIA À SAÚDE NO BRASIL. Dr Alexandre de Araújo Pereira

Sangue Eritrócitos. Fisiologia Molecular BCT 2S/2011. Universidade Federal de São Paulo EPM/UNIFESP

SOCIEDADE informações sobre recomendações de incorporação de medicamentos e outras tecnologias no SUS RELATÓRIO PARA A

INFORME TÉCNICO SEMANAL: DENGUE, CHIKUNGUNYA, ZIKA E MICROCEFALIA RELACIONADA À INFECÇÃO CONGÊNITA

Acre. Tabela 1: Indicadores selecionados: mediana, 1 o e 3 o quartis nos municípios do estado do Acre (1991, 2000 e 2010)

DYSPHAGIA SINTOMA Deglutição & Presbifagia 2013

FUNDAÇÃO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DE BARUERI

Mielomeningocele. Mielomeningocele. Incidência. Etiologia. Profa. Andréa Cristina de Lima. As causas da mielomeningocele são multifatoriais incluindo:

Probabilidade pré-teste de doença arterial coronariana pela idade, sexo e sintomas

MANUAL COLHEITA E REMESSA DE MATERIAL

Imagem da Semana: Ultrassonografia, Tomografia Computadorizada

Sistema Respiratório Humano

U R O L I T Í A S E UNESC - ENFERMAGEM 14/4/2015 CONCEITO. A urolitíase refere-se à presença de pedra (cálculo) no sistema urinário.

Especialização em Fisiologia do Exercício - NOVO

É utilizada há vários séculos e baseia-se na selecção artificial para obter variedades de plantas com características vantajosas.

FLUCOLIC. Kley Hertz Farmacêutica S.A. Cápsulas Gelatinosas 125 mg simeticona

Complicações Otorrinolaringológicas Relacionadas à Doença do Refluxo Gastroesofágico. Regina Helena Garcia Martins. Disciplina de ORL - Botucatu

Quadro 1 Idades e número de pacientes masculinos e femininos que participaram no rastreio da Colgate do Mês da Saúde Oral Todos os grupos Idades

COMISSÃO DE CULTURA E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA CCEX. Av. Dr. Arnaldo, 455 1º andar sala 1301 FORMULÁRIO DE PROGRAMA DE COMPLEMENTAÇÃO ESPECIALIZADA

Exercícios de estrutura da população

SUMÁRIO. Sobre o curso Pág. 3. Etapas do Processo Seletivo. Cronograma de Aulas Pág. 10. Coordenação Programa e metodologia; Investimento.

DENGUE. Jamila Rainha Jamila Rainha é cientista social e consultora de Pesquisa /

Apostila de Física 31 Hidrostática

Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo Coordenação da Atenção Básica ÁREA TÉCNICA DE SAÚDE BUCAL

HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA NÍVEIS DE PREVENÇÃO I - HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA

PROVA DE REDAÇÃO. A partir da leitura dos textos 1 e 2, desenvolva o seguinte tema: A GERAÇÃO NEM-NEM E O FUTURO DO PAÍS

Cardiovascular and Cancer Mortality in Brazil

A realidade do SAB para as crianças e adolescentes de 7 a 14 anos. O acesso à Educação

Réu: Estado de Minas Gerais e Município de Visconde do Rio Branco

FISIOLOGIA ANIMAL - UERJ

HERANÇAS AUTOSSÔMICAS

Pernambuco. Tabela 1: Indicadores selecionados: mediana, 1º e 3º quartis nos municípios do estado de Pernambuco (1991, 2000 e 2010)

Características das Figuras Geométricas Espaciais

UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO HOSPITAL DE CLÍNICAS COMISSÃO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR

Ministério da Saúde esclarece boatos sobre infecção pelo vírus Zika

Profa. Raquel Simões. Índice de massa corpórea (IMC) = peso (kg)/altura (m) 2

SUMÁRIO. Sobre o curso Pág. 3. Etapas do Processo Seletivo. Cronograma de Aulas. Coordenação Programa e metodologia; Investimento.

DOENÇAS INFECCIOSAS DO CORAÇÃO

ANATOMIA DOS. Sistema Nervoso Periférico. Nervos Espinhais PROF. MUSSE JEREISSATI

PREVENINDO PROBLEMAS NA FALA PELO USO ADEQUADO DAS FUNÇÕES ORAIS

Transcrição:

Imagem da Semana: Esofagograma com sulfato de bário Imagem: Esofagograma com sulfato de bário, região toracoabdominal, paciente em posição oblíqua.

De acordo com a história clínica e exame realizado, qual é o diagnóstico mais provável? a) Acalasia de esôfago b) Carcinoma esofágico c) Divertículo de Zenker d) Estenose péptica Análise da Imagem Imagem 1: Esofagograma com sulfato de bário, região toracoabdominal, paciente em posição oblíqua: dilatação do esôfago torácico devido estreitamento da junção esofagogástrica delimitação em vermelho.

Diagnóstico Acalasia é uma doença de etiologia desconhecida, na qual há perda do peristaltismo do esôfago distal e falha no relaxamento do esfíncter esofágico inferior (EEI) na deglutição. De evolução insidiosa, apresenta-se por disfagia e regurgitação alimentar. Ao esofagograma com sulfato de bário pode ser demonstrado estreitamento da junção esofagogástrica, que condiciona dilatação à montante. O carcinoma esofágico é o principal diagnóstico diferencial de acalásia e tem a disfagia como sintoma principal, porém com aparecimento tardio. Considerando o tempo de evolução dos sintomas, este seria um diagnóstico menos provável. Ao esofagograma, geralmente é observado estreitamento assimétrico e irregular da luz do esôfago, podendo estar associado a nodularidades e irregularidades na mucosa local.

Divertículo de Zenker, também denominado divertículo faringoesofágico, ocorre à partir de uma área de fraqueza do músculo cricofaríngeo em situação posterolateral do esôfago cervical. Seus sintomas principais são disfagia orofaríngea (dificuldade em iniciar a deglutição), estase de alimentos, halitose e sensação de corpo estranho em esôfago cervical. O diagnóstico é confirmado por esofagograma, que pode evidenciar a formação sacular na transição cervicotorácica, podendo apresentar nível hidroaéreo. Estenose péptica é uma complicação da doença do refluxo gastroesofágico, resultado da cicatrização de úlceras esofágicas. Ocorre estreitamento segmentar

da junção esofagogástrica, que pode acompanhar-se de saculações, pseudodivertículos regionais e dilatação à montante. Esta estenose pode alcançar até 4,0 cm de extensão longitudinal e reduzir a luz do esôfago para poucos milímetros. Discussão do caso Acalasia é um distúrbio da motilidade do esôfago no qual há uma perda do peristaltismo do esôfago distal e uma falha no relaxamento do EEI. A repercussão clínica é a apresentação clássica de disfagia para sólidos e líquidos associada à regurgitação de alimentos não digeridos ou saliva. Dor torácica

subesternal durante as refeições e perda de peso também estão geralmente presentes. A pirose pode ocorrer, o que muitas vezes leva ao diagnóstico errôneo de doença do refluxo gastroesofágico. A acalasia, ainda que rara, é o distúrbio da motilidade esofágica mais comum, incidindo igualmente em ambos sexos, usualmente na faixa etária entre 25 e 60 anos. É caracterizado pela perda de células ganglionares do plexo de Auerbach (de etiologia predominantemente idiopática no mundo) e/ou do plexo de Meissner (na América Latina é majoritariamente secundária à Doença de Chagas). O diagnóstico pode ser confirmado pela manometria esofágica ou por um esofagograma contrastado com sulfato de bário ou ainda pela pesquisa do trânsito esofágico pelo método cintilográfico. O primeiro evidencia aperistaltismo esofágico, hipertonia do esfíncter esofagiano inferior (P > 35 mmhg) e seu relaxamento insuficiente. O segundo demonstra um esôfago de diâmetro aumentado e abertura mínima do EEI. O diagnóstico pode ser sugerido durante a endoscopia digestiva alta pela retenção de saliva e comida não digerida no esôfago distal e resistência à passagem do endoscópio para o estômago na ausência de tumores. O terceiro evidencia a alteração do trânsito esofágico e do seu peristaltismo. O tratamento de acalasia visa a diminuir a pressão de repouso do EEI para um nível no qual o esfíncter não impeça a passagem do material ingerido. Isto pode ser conseguido por disrupção mecânica das fibras musculares do EEI (por exemplo, por dilatação endoscópica pneumática, miotomia cirúrgica de Heller ou ainda pela miotomia endoscópica) ou por redução bioquímica (por exemplo, injeção de toxina botulínica, nitratos orais, bloqueadores do canal de cálcio). O tratamento definitivo da acalasia é a miotomia, estando as outras opções reservadas aos pacientes que não desejam ou não têm condições de submeter-se a tal procedimento. A estase alimentar, consequente ao esvaziamento esofágico prejudicado, promove inflamação crônica na mucosa, levando a displasia e a um risco maior de desenvolvimento de carcinoma. Apesar desses riscos, não há dados suficientes para apoiar a triagem de rotina para câncer.

Aspectos relevantes - A acalasia é o distúrbio mais comum da motilidade esofágica. - Sua fisiopatologia deve-se ao não relaxamento do EEI e à aperistalse. - Os principais sintomas são disfagia para sólidos e líquidos e regurgitação. - Os exames diagnósticos são esofagograma baritado e manometria esofágica. - O tratamento definitivo é cirúrgico por miotomia do EEI. Referências - Sabinston, DC, Townsend CM. Sabiston Tratado de Cirurgia: a base biológica da prática cirúrgica moderna. 18. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. - Fass R. Overview of dysphagia in adults. UpToDate, 2014. [acesso em setembro de 2014]. Disponível em: http://www.uptodate.com/contents/overview-of-dysphagia-in-adults. - Spechler SJ. Clinical manifestations and diagnosis of achalasia. UpToDate, 2014. [acesso em setembro de 2014]. Disponível em:http://www.uptodate.com/contents/clinical-manifestations-and-diagnosisof-achalasia. - D Ippolito, G, Caldana RP. Gastrointestinal. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. Responsáveis Isabela Alves Campos Lacerda, acadêmica do 9º período da Faculdade de Medicina da UFMG. E-mail: isabela.aclacerda[arroba]gmail.com Isis Miranda Diniz, acadêmica do 9º período da Faculdade de Medicina da UFMG. E-mail: isisvieirabio[arroba]yahoo.com.br

Giane Moreira Praça, acadêmica do 9º período da Faculdade de Medicina da UFMG. E-mail: giane_moreira2[arroba]hotmail.com Thais Salles Araujo, acadêmica do 12º período da Faculdade de Medicina da UFMG. E-mail: thaissalles9[arroba]gmail.com Orientadores Marco Antônio Gonçalves Rodrigues, Professor Associado do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG. E-mail: magro.mg[arroba]terra.com.br José Nelson Mendes Vieira, Professor do Departamento de Anatomia e Imagem da Faculdade de Medicina da UFMG. E-mail: zenelson.vieira[arroba]gmail.com Revisores: Lucas Vieira Rodrigues, Bárbara Queiroz e Bragaglia, André Ribeiro Guimarães, Hercules Hermes Riani Martins Silva, Marina Bernardes Leão and prof. Viviane Santuari Parisotto.